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Crítica | Você Pode Ser o Assassino

Mistério resolvido.

por Felipe Oliveira
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Abram os portões, pois o slasher está de volta no acampamento de verão… mas bem, essa não seria uma investida inédita do cinema em homenagear o subgênero através da nostalgia. Em 2015, por exemplo, tivemos o delicioso Terror nos Bastidores, prestigiando a era oitentista, a era de ouro do subgênero com sua mistura de horror, comédia e metalinguagem. Não muito diferente dele, foi a vez de Você Pode Ser o Assassino prestar a sua homenagem com a desconstrução metalinguística da fórmula slasher.

Escrito pelos estreantes Thomas P. Vitale, Covis Berzoyne ao lado de Brett Simmons, a síntese que movimentava o longa lançado em 2018 certamente veio da mente de Simmons (que também dirigiu), visto o seu contato anterior com o exercício meta no curta-metragem The Action Hero’s Guide to Saving Lives, projeto que satirizava os tropos dos filmes de ação hollywoodianos encabeçados pelos brucutus dispostos a salvar o dia. Pelo viés da comédia, o curta lançava uma dinâmica divertida contrapondo a tradição de narrativas do tipo. Dessa forma, o trio juntou forças para levar esse argumento para o slasher.

O título logo sugeria a base que faria o mistério da trama, ao apontar para alguém com potencial de ser o assassino. Como tradição de verão, o instrutor e coordenador do acampamento Sam (Fran Franz) segue a todo vapor para trazer diversão para as crianças e para isso conta com a ajuda da confiável equipe de conselheiros. Quando de repente, Sam se vê fugindo de um assassino e, em meio a blackouts de suas memórias, invoca a ajuda da amiga — e não da polícia — Chuck (Alyson Hannigan) para desvendar quem está por trás dos assassinatos. O “chocante” é chegarem a conclusão de que talvez Sam seja o verdadeiro culpado.

Até para quem caiu de paraquedas no longa não deve demorar a perceber o cenário que o roteiro mexe ao cutucar o que deveria ser o enigma tradicional dos slashers: a revelação do killer, porém, há um certo potencial nessa dinâmica a medida que a suposta incógnita fica evidente, mostrando que a grande sacada não estaria na ideia de desvendar um provável mistério resolvido. 

Seguindo a vibe cômica, a esperada reverência para com as películas oitentistas do slasher é muito bem explorada através de Chuck e o seu conhecimento com as regras da categoria. Logo, trocadilhos repletos de spoilers de grandes clássicos se tornam interessantes e envolventes, graças ao senso cínico em que a dupla de amigos é colocada a dialogar, enquanto Sam é tomado pelo desespero. Indo mais a fundo e adquirindo aspectos marcantes (a trilha sonora, a locadora de vídeo, o telefone e o risco iminente do assassino) o filme vai aplicando sua estética para a era de ouro do subgênero.

Invertendo o processo tradicional, o ponto alto do longa se encontra exatamente no fato de que o assassino se torna o protagonista. Mas ora, ideia nada nova para um vilão, certo? Mas nesse caso, não acompanhamos a perspectiva dos personagens de encontro com a morte e depois descobrindo como saírem vivos, e sim o carrasco mascarado obtendo o conhecimento do universo que rege o slasher que assim como ele e de onde várias figuras fizeram parte e se tornaram memoráveis para o subgênero.

Superando as limitações da previsibilidade, Simmons faz de You Might Be the Killer um excelente exemplar de quando um gênero pode ser desconstruído. Diferente de seguirmos a típica história de personagens fazendo coisas estúpidas e que ironicamente atraem suas mortes, o roteiro propôs uma narrativa eficaz: pausar, confundir as ordens dos assassinatos, brincar com as lembranças de Sam promoveram uma narrativa descontraída e engraçada, tirando a temática de um lugar comum e fazendo o óbvio não ser tão ruim quanto indicava, contudo divertido.

Sem dúvidas, Simmons fez um filme bastante moderado quando o horror precisava tomar forma (até mesmo brutal) e intermediar com a comédia sem nenhuma dificuldade, e depois de tantas investidas duvidosas do diretor com o terror, com Você Pode Ser um Assassino tivemos um produto certeiro e com finalidade fechadinha, sem pretensões de estender uma boa fórmula em sequências repetitivas. 

No entanto, tal fórmula apresentava um desgaste depois que o convecionalismo dava as caras, mesmo para uma produção que se preocupava em subverter as regras e lógicas que consistem em seu histórico. Nisso, depois de tanto esforço para lapidar a história e conduzi-la à base da genialidade e originalidade, acabou dando um tiro no pé e vestindo a boa ideia que arriscou por caminhos bem pensados com a carcaça da predição.

You Might Be the Killer pode não ser o filme que fez barulho por ser diferente, mas vale a pena por oferecer uma perspectiva distinta e ousada para um gênero que não cansa de repetir. Não se deixe frustrar pelo “talvez” do título, pois é tudo verdade, porém, a graça está em não ter mistério.

Você Pode Ser o Assassino (You Might Be the Killer – EUA, 2018)
Direção: Brett Simmons
Roteiro: Thomas P. Vitale, Covis Berzoyne, Brett Simmons
Elenco: Fran Franz, Alyson Hannigan, Brittany S. Hall, Jenna Harvey, Patrick R. Walker
Duração: 92 minutos

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