- Há spoilers. Leiam, aqui, todas as críticas do Universo Energon.
O nível de qualidade de Void Rivals, que nunca foi particularmente muito alto, sendo bem sincero, felizmente subiu em seu quarto arco, mas por uma razão principal que é ao mesmo tempo boa e ruim, com Robert Kirkman saindo por uma tangente que ninguém realmente poderia imaginar para “engordar” a narrativa e, sob todos os aspectos, enrolar a história central razoavelmente complexa, mas também confusa, sobre um planeta-anel artificial construído para conter um buraco negro, com suas respectivas metades em constante estado de Guerra Fria até que um guerreiro de cada lado inadvertidamente se unem e começam a desencavar segredos sobre suas nações. E que tangente foi essa? Simplesmente o personagem porcino-reptiliano Skuxxoid, aquele mesmo que, ao final do arco anterior, foi cortado ao meio por um assassino de Cobra-La e aparentemente morreu.
Mas, claro, ele não morreu coisa alguma, algo que fica evidente já na primeira edição do arco sob análise – edição essa que poderia ser completamente solta – que conta também com a participação dos mecanoides garis Junkions, que vivem no planetoide de mesmo nome. É lá que descobrimos que cada metade de Skuxxoid regenera a outra metade, o que nos presenteia com dois Skuxxoids, o em tese original diferenciado pelo arranhão que levou na luta contra a equipe de Cobra-La e outro “zero quilômetro” pelo menos da cintura para cima. No entanto, cada um dele se considera o original, partilhando das mesmas memórias, especialmente as de sua esposa e filho, mas, como eles descobrem ao final quando são capturados e enviados até a presença de uma versão maior e mais velha deles que se apresenta como Skuxxoid Alfa, esse sim o primeiro de todo um exército de cópias conscritas à força.
O curioso é que, além de começar o arco dessa maneira, completamente interrompendo o cliffhanger do anterior, o que não é o fim do mundo, vale dizer, Kirkman não se faz de rogado e continua desenvolvendo a linha narrativa de Skuxxoid até o final, criando um drama interessantíssimo sobre identidade, memórias e subjugação que, no conjunto, consegue ser melhor do que a história principal de Solila e Darak no Anel Sagrado. E é exatamente por isso é que, sob certo ponto de vista, a história paralela de Skuxxoid simplesmente não deveria estar aqui e sim ter ganhado um spin-off na forma de uma minissérie ou até mesmo uma HQ mensal se Kirkman tiver tantas ideias assim para o personagem, pois o porcão reptiliano basicamente janta o conflito que deveria ganhar mais destaque. E tem mais: a história de Skuxxoid não acaba nesse arco, com mais situações prometidas com o que acontece com ele ao final, o que significa dizer que o personagem continuará competindo por espaço e, se a carruagem continuar a andar como está andando, ele ganhará, com Void Rivals tendo que trocar o título para Pig Rivals.

Brincadeiras sem graça à parte, admito que o drama de Solila e Darak também melhorou consideravelmente. Agora, os segredos não mais existem e ambos os lados lutam pela união das metades do anel, ainda que de maneiras completamente diferentes, com Solila, a pedido de Darak, usando a diplomacia em Agorria e o Premiê Zalilak, de Zertonia, usando a guerra aberta. A forma como Kirkman lida com os conflitos nos âmbitos micro e no macro funciona bem para adiantar a narrativa, assim como as ponderações de Darak abrem a possiblidade para a discussão sobre a real intenção de Zerta Trion de unir o Anel, ou seja, se ela faz isso para derrotar Goliant e salvar os habitantes do Anel Sagrado ou se seu objetivo é derrotar Goliant a qualquer preço, o que leva Solila a repensar sobre tudo aquilo que ouviu diretamente do gigantesco ser robótico nas profundezas do Anel. As trocas de lado são bem conduzidas, assim como a reviravolta sobre a verdade sobre Zerta Trion ou, pelo menos, a verdade até agora, já que tudo pode mudar novamente.
O que funciona menos, por parecerem apêndices mal desenvolvidos é a presença da equipe de Cobra-La entre os Quintessons. São personagens perdidos, não relacionados com os Transformers diretamente e com os Quintessons, que nem aparecem aqui, permanecendo totalmente nas sombras, sem um real norte que não seja a inevitável chegada deles no Anel Sagrado para usar Goliant como originalmente intencionado, ou seja, com uma arma de destruição em massa de proporções cósmicas. Claro que isso deverá mudar rapidamente considerando o cliffhanger do arco, mas a sensação de perigo e o preço a ser pago não me parecem bem colocados, mais parecendo algo que é tão gigantescamente vasto que não tem chance de criar o tipo de consequência pretendida. Mas veremos, claro.
Além do surpreendente desenvolvimento da história de Skuxxoid, a outra novidade do arco é a saída de Lorenzo de Felici da arte, encerrando uma parceria de 10 anos quase ininterruptos com Kirkman, e a entrada de Connor Hughes em seu lugar. Não conhecia o artista, mas ele parece pegar o material e assumi-lo como se ele sempre tivesse sido dele, mostrando uma excelente capacidade de absorver o estilo de De Felici e imprimir seu próprio, criando desenhos repletos de momentos bombásticos em splash pages e páginas duplas belíssimas que enriqueceram a experiência. O que Void Rivals precisa é de roteiros mais interessantes e coesos, que não se empolguem com personagens que mal coadjuvantes são, catapultando-os do nada ao protagonismo, e que lidem com a história principal com o rigor que ela exige. Kirkman sabe jogar um jogo de longo prazo, todo mundo sabe disso, mas, em Void Rivals, ele tem tido dificuldade de encontrar sua voz. Mas pelo menos, agora, temos Skuxxoid para torcer de verdade!
Void Rivals – Vol. 4 (EUA – 2025)
Contendo: Void Rivals #19 a 24
Roteiro: Robert Kirkman
Arte: Connor Hughes
Cores: Patricio Delpeche
Letras: Rus Wooton
Editoria: Ben Abernathy
Editora original: Skybound (Image Comics)
Data original de publicação: 28 de maio, 25 de junho, 23 de julho, 27 de agosto, 24 de setembro e 19 de novembro de 2025
Páginas: 128
