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Crítica | Voldemort: Origins of the Heir (2018)

por Luiz Santiago
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  • Assista ao filme na íntegra no final da crítica!

Com um orçamento de 15 mil euros, contando com uma parte de arrecadação online feita para apoiadores do projeto, e autorização da Warner para que fosse realizado — desde que deixassem claro o tempo inteiro que é uma iniciativa não oficial e sem envolvimento com J.K. Rowling –, este fan film serve como explicação para um “pequeno grande momento” do Universo Harry Potter, um momento que o título original da obra nos revela de imediato e nos deixa, como não podia deixar de ser, temendo pelo que virá: Voldemort: Origens do Herdeiro.

As perguntas que a produção do média-metragem nos fizeram desde meados de 2017, quando o primeiro teaser da película foi lançado na internet, ajudam a contextualizar a obra, que tem como foco principal o último ano de Tom Riddle em Hogwarts e alguns dos caminhos que ele seguiu ao se formar; caminhos estes que não demoraram para mostrar a fome de poder e glória que o bruxo alimentava cada vez mais. O filme traz estes aspectos para a nossa consideração: “o que fez Tom Riddle tornar-se Voldemort? O que aconteceu naqueles anos e o que realmente se passou em Hogwarts quando ele retornou? […] Esta é a história que queremos contar: a ascensão do Lorde das Trevas antes de Harry Potter e de sua primeira morte.

Como conceito, a iniciativa de Gianmaria Pezzato e do produtor Stefano Prestia é aplaudível. A ideia de trazer para as telas um filme que explora as motivações de um grande e infame bruxo como Voldemort por si só já tem bastante peso para o público, ainda mais se bem feita. E apesar de todos os problemas que o filme tem e sobre os quais falarei adiante, nada disso tira o fato de o projeto ter um enorme valor e que com certeza precisa ser apoiado e festejado, para que tenhamos, talvez no futuro, muito mais propostas como esta, fora das garras do estúdio (que querendo ou não tem sua cartilha de milhões de dólares para arrecadar, logo, muita coisa sombria relacionada a este mundo JAMAIS será mostrada em um filme oficial).

Um dos grandes tropeços em produções de baixo orçamento é que o tempo de gravação precisa ser curto e os atores ou não possuem muita experiência ou não tem tanto tempo para ensaiar, impasses que também afetam a direção, especialmente no caso de um marinheiro de primeira viagem como Gianmaria Pezzato. Do elenco, apenas os atores Stefano Rossi (que começou a carreira no cinema com chave de ouro, no excelente Os Campos Voltarão), no papel de Tom Marvolo Riddle e Andrea Baglio, no papel de Wiglaf Sigurdsson são os que realmente possuem experiência na indústria. O resultado disso é a artificialidade com que determinados diálogos são realizados (fato potencialmente piorado pela dublagem de alguns atores — lembrando que este é um filme italiano e o elenco também, precisando haver dublagem para o inglês) e os desandes da edição, que não faz os cortes no momento preciso, deixando espaços mortos e silenciosos ou onomatopeias desnecessárias na fala dos personagens.

O curioso é que a obra começa muitíssimo bem. Tirando a introdução confusa com Grisha McLaggen (vejam novamente como o encadeamento do roteiro e a montagem não se harmonizam, pois a oposição de tempos aqui, apesar de ser imediatamente percebida pelo espectador, confunde quanto a sua intenção. Tivesse a obra uma montagem objetiva, os planos seriam organizado em montagem de atrações, o que geraria expectativa e ligaria as cenas dramaticamente), temos um bom momento de enfrentamento entre os herdeiros da casa de Lufa-Lufa (Hufflepuff) e Corvinal (Ravenclaw), sendo observados por uma amiga manipuladora da Grifinória (Gryffindor). A decisão de não ouvirmos os nomes dos feitiços no início me pareceu estranha, mas é algo com o qual me acostumei. E é importante dizer que isso não foi uma decisão do estúdio, já que os produtores de Origins of the Heir receberam carta branca para uso de nomes, lugares e personagens do Universo mágico de J.K.

Os flashbacks como um grande motor de revelações foi uma escolha interessante, mas o uso depois de um tempo descamba para o desmedido. É perfeitamente compreensível a motivação textual para isso, já que esse tipo de narração ajuda a economizar cenas e, por tabela, dinheiro, mas no todo, não funciona bem. O mesmo podemos dizer da decisão de usar o Veritaserum o tempo inteiro e também da revelação final, que não encontra indícios anteriores no roteiro, ficando apenas um momento de grandioso esforço mágico em transfiguração. Falta suporte dramático para que algo assim tão importante aconteça. Vejam, por exemplo, uma sequência que, mesmo com seus problemas, consegue exatamente o efeito de impactar o espectador: a visita de Tom a Hepzibah Smith. Encontramos significado em todos os elementos expostos na sequência. O roteiro nos preparou para elas e, mesmo com a surpresa (o medalhão de Slytherin), não sentimos falta de uma ponte ou de informações que contextualizem aquele encontro. Justamente isso que faltou ao roteiro na parte final.

Mas Pezzato também acerta em cheio no estabelecimento desse Universo de ascensão de Voldemort. A ambientação visual e simbólica (direção de arte, figurinos e fotografia aqui merecem todos os aplausos possíveis), a citação de momentos icônicos que sabemos dos livros e a maldade que o filme consegue nos fazer perceber das ações de Riddle são impagáveis. Quanto aos efeitos, a única coisa que me incomodou foram os closes no olho do General Makarov que, a partir de um determinado momento, nos fazia ver o contorno da íris. Já os efeitos para os feitiços são excelentes, não devendo em nada às produções oficiais. O filme se beneficiaria se os nomes desses feitiços fossem pronunciados com mais frequência, mas isso não é exatamente algo que atrapalha a experiência.

A primeira grande iniciativa não oficial, e em vídeo, de acrescentar algo ao Universo Harry Potter ganha vida e o resultado é satisfatório. A obra tem muitos problemas, mas não é ruim. Ela consegue nos deixar esperançosos para projetos futuros, de preferência melhor produzidos. Quem sabe alguma outra mágica não possa acontecer?


Voldemort: Origins of the Heir (Itália, 13 de janeiro de 2018)
Direção: Gianmaria Pezzato
Roteiro: Gianmaria Pezzato (baseado na obra de J.K. Rowling)
Elenco: Stefano Rossi, Davide Ellena, Rorie Stockton, Aurora Moroni, Andrea Baglio, Mitchell Thornton, Maddalena Orcali, Daniele Decarli, Gelsomina Bassetti, Andrea Bonfanti, Alessio Dalla Costa, Andrea Deanesi, Stefan Chanyaem, Margaret Ashley, Rasmus Bækgaard, Amy Davies, Biscarte Hazencruz
Duração: 53 minutos

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