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Crítica | WandaVision – 1X09: The Series Finale

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

É possível que muita gente acabe se decepcionando com o final de WandaVision e por duas razões principais, ambas baseadas em graus de expectativa provavelmente mais irreais do que a utópica Westview. A primeira delas é simplesmente por esperar algo fora de série, quase que como um literal coelho tirado da cartola e a outra é por não ter quase nada da “ciranda” de teorias realmente materializada no encerramento. No entanto, creio que WandaVision entrega exatamente, sem tirar nem por, o que se propôs a entregar, sem suavizar a tragédia de Wanda Maximoff e do Visão e fazendo o que a Marvel sempre faz, ou seja, deixando as portas abertas não exatamente para uma continuação, mas sim para que a Fase 4 do Universo Cinematográfico Marvel enverede por outros e potencialmente muito interessantes caminhos.

Tenho plena consciência, porém, que The Series Finale é um episódio quase que integralmente focado na ação e que quase inevitavelmente caminha por um lado mais “comum” de séries de TV, algo bem diferente do sensacional início metalinguístico da obra comandada por Jac Schaeffer. Mas isso faz parte. O que realmente importa, como já disse algumas vezes em minhas milhares de críticas, é como o “comum” é executado e o primeiro elemento a se notar e que o episódio faz muito bem é uma regrinha bem simples, mas que muita gente costuma achar um problema: ele não inventa moda. Não há nada que não esperemos no encerramento, nenhuma entidade mística – ou magnética… – surgindo no último minuto, nenhuma reviravolta escalafobética somente para surpreender os que se deixam levar por esse tipo de truque barato e nenhum evento externo que interfira na narrativa substancialmente autocontida da minissérie.

O que o roteiro da showrunner fez foi, pura e simplesmente, amarrar as pontas que precisavam ser amarradas de forma que a história pudesse ser encerrada a contento e isso, diferente do que se pode imaginar, não é nada fácil ou trivial. Afinal, só é realmente possível fazer o que Shakman fez porque o trabalho dela ao longo de toda a minissérie foi exemplar: ela abordou de maneira inteligente uma crise nervosa, uma explosão de tristeza e luto a que qualquer ser humano pode ser vítima. A diferença que é o ser humano, aqui, era Wanda Maximoff, uma super-heroína com poderes que, conforme vamos aos poucos descobrindo, são infinitamente superiores a “lançar raiozinho” com as mãos. Então sim, mesmo inconscientemente, a Feiticeira Escarlate é a vilã em sua própria série, com Agatha Harkness mais parecendo um parasita, um ser oportunístico que tem a função dupla de ser a “vilã da vilã”, por assim dizer, e, ao mesmo tempo, a mentora da vilã que, mesmo por vias transversas, explica a natureza dos poderes e do que aconteceu e deixa entrever algo ainda mais sombrio para o futuro da protagonista.

E sim, o “Pietro” do Universo Cinematográfico Mutante era só mesmo uma brincadeira da produção e sim, as diversas menções ao “diabo” eram apenas isso mesmo, menções sem conotações mesmo indiretas ao tão mencionado Mephisto. E não, com essa minha afirmação anterior não quero de forma alguma dizer que esse Pietro não possa ainda se tornar o Pietro ou afastar a possibilidade de uma entidade cósmica como Mephisto dar as caras por aí, até porque a segunda cena pós-créditos, com Wanda aparentemente na mesma cabana em que Bruce Banner se refugiou para controlar sua persona esmeralda, dá a entender que Billy e Tommy, mesmo com o final trágico do qual Shakman ainda bem não fugiu, ainda estão na jogada e, se algo dos quadrinhos for usado para trazê-los de volta, esse diabo pode sim dar as caras.

Portanto, tudo de grandioso no encerramento funcionou a contento, inclusive o uso de Monica Rambeau – reconfirmando seus poderes de Fóton – e dos gêmeos contra a S.W.O.R.D., além das pontas de Jimmy Woo e Darcy Lewis. Não gostei do quão fácil foi descartar Hayward (ops, ele não era o Mephisto também…) e seus minions, mas o foco verdadeiro ali na pracinha central de Westview foi mesmo o conflito das bruxas, com aquele final maroto que ao mesmo tempo revela que Wanda não é boba e aprendeu a conscientemente usar seus poderes em um nível altíssimo (e, diga-se de passagem, lindamente dentro do que a série estabeleceu) e que deixa aquela assustadora ponta de crueldade na heroína ao criar uma gaiola mental para Agatha Harkness. Também foi exemplar a maneira como a população da cidade foi abordada, sem comemorações por ter sido “libertada”, mas sim, muito ao contrário, com traumas profundos e provavelmente para a vida toda infligidos pela Feiticeira Escarlate, sem estalar de dedos para que tudo fosse resolvido da maneira mais fácil.

Só que o conflito que realmente me prendeu ao sofá foi o do Visão contra o Visão Branco. E nem falo da pancadaria aérea entre eles que foi muito bem feita e coreografada, mas sim do momento filosófico em que o Visão de coração e mente humanos plantou dúvidas no Visão robótico com uma simples questão: se a missão é eliminar o Visão e o Visão não é o Visão, mas sim ele mesmo, não seria o caso de “auto-eliminação”? E a discussão que se segue, com o uso do paradoxo do Navio de Teseu, foi aquela cerejinha existencial nesse belo bolo metalinguístico, com Paul Bettany sendo duplamente eficiente em seus papeis. Foi como ver a convergência dos personagens em uma entidade só, sem que houvesse fusão física (como muita gente também imaginava): de um lado, o Visão criado por Wanda entende perfeitamente sua natureza efêmera e, no frigir dos ovos, perigosa e, de outro, o Visão criado por Hayward enxerga que algo lhe falta, exatamente como o Homem de Lata e o Espantalho em O Mágico de Oz.

WandaVision, portanto, chegou ao seu encerramento da maneira mais… profissional que poderia chegar. Isso. Profissional é a melhor palavra, diria. Jac Schaeffer realmente mostrou que tinha um plano cuidadoso e coeso, sem peças móveis, sem invencionices e sem exageros para os nove episódios (aliás, nada de episódio extra mágico, outra suposição derrubada…) da minissérie com o objetivo de contar uma bela história de fuga da realidade causada por eventos traumáticos que poderia muito bem ser um drama pesado, mas que, por ser revestido da camada super-heróica, não será reconhecido como tal, o que é uma pena. Claro que, como é absolutamente natural e esperado, várias pontas narrativas foram deixadas, uma potencialmente ligando WandaVision com o segundo filme do Doutor Estranho, como Kevin Feige disse que aconteceria e outra conectando Monica Rambeau com a vindoura minissérie Invasão Secreta, agora que “ele” a chamou “lá para cima”, além de deixar o Visão Branco perambulando por aí para, futuramente, retornar de alguma forma, talvez juntando-se a uma nova versão dos Vingadores (talvez até da Costa Oeste, quem sabe). Foi, definitivamente, uma experiência mágica e um incrível começo para a Fase 4 do UCM. Que venham mais séries assim!

WandaVision – 1X09: The Series Finale (EUA, 05 de março de 2021)
Criação: Jac Schaeffer
Direção: Matt Shakman
Roteiro: Jac Schaeffer
Elenco: Elizabeth Olsen, Paul Bettany, Teyonah Parris, Kathryn Hahn, Randall Park, Kat Dennings, Josh Stamberg, Asif Ali, Jett Klyne, Julian Hilliard, Evan Peters
Duração: 50 min.

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