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Crítica | WeCrashed (2022)

Modesta, mas instigante.

por Felipe Oliveira
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Olhando para produções recentes como Super Pumped: The Battle for Uber, The Dropout, e então, WeCrashed, é notória uma tendência de retratar as origens e controvérsias de empresários bilionários. Enquanto a primeira seguirá em formato de antologia sobre empresas do Vale do Silício, as outras se contentaram com minisséries. Certamente, o que chamou atenção na aposta da Apple Studios na história da polêmica WeWork, foi por escalar Jared Leto e Anne Hathaway nos papéis principais. O ponto de sua abordagem, é sinalizado logo no slogan da atração: “Uma história de amor que vale $47 bilhões“.

Fazendo sua estreia na TV e também como roteirista e showrunner, Drew Crevello se juntou a Lee Eisenberg (conhecido pela versão americana de The Office e pelo filme Professora Sem Classe) na criação da série limitada que explorou a chocante ascensão e ruína da startup avaliada em U$ 47 bilhões. Mas indo na contramão de concepções semelhantes, de acompanhar o passo a passo da empresa, o enfoque de WeCrashed se volta para os pilares que movimentaram esta roda: Adam (Leto) e Rebekah Neumann (Hathaway). Então, o que impulsiona o programa de oito episódios, é ver como duas personalidades vaidosas e narcisistas moldaram a controversa organização que ficou conhecida pelas práticas inusitadas e tóxicas de Adam, o CEO.

Foi em 2010 quando Adam e Miguel McKelvey (Kyle Marvin) conceberam a WeWork como uma empresa voltada para a criação do espaço personalizado e flexível de trabalho, as chamadas coworking, e não demorou muito para que a súbita ideia conseguisse ampliar seu conceito pelo mundo e ser tida como uma empresa unicórnio. Porém, em 2019, quando a startup estava a caminho de entrar para as bolsas de valores de Nova York, um artigo divulgado pelo Wall Street Journal polemizou ao detalhar o estilo de vida que Adam seguia, abuso de poder e exigências contratuais. Também nesse episódio a crise da empresa foi instaurada, mas o que Crevello e Eisenberg fizeram foi pegar a parte mais curiosa dos relatos, fazendo um show atraente e descabido do casal Neumann.

Como de costume em seus papéis, Leto se comprometeu com uma transformação física acompanhada da atuação afetada e agora um sotaque israelense na pele do exótico CEO. Além das próteses faciais, dentárias, lentes para escurecer os olhos, e peruca, o ator contou em entrevista que foi exaustivo encarnar Adam, já que após a interpretação que contava também com uma postura e jeito de andar dedicado, sentia dores. Já com Hathaway, ingressar nas aulas de ioga foi fundamental para se conectar com Rebekah, que, além de instrutora, atriz e empresária e sua atuação como diretora de marca da WeWork, ela também fundou uma escola infantil atrelada à companhia.

De fato, o que mais ressai na série foi a escolha certeira de Eisenberg e Crevello de focar a narrativa no casal e não no surgimento e derrocada de uma empresa, elementos esses presentes mas não colocados em prioridade. Mas com isso não é como se WeCrashed funcionasse tão bem considerando que sua premissa voltada para os Neumann é o que de melhor se extrai na abordagem que poderia cair num caminho comum, não. A coisa toda encontra sorte nas performances de Hathaway e Leto em exalar a sinergia persuasiva, incomoda, carismática, sedutora e desconcertantes de personagens que, ao idealizarem a corporação, agiam e se comunicavam como se fossem o remédio para o mundo; que a forma que falavam, o que imaginavam e suas crenças estava além do que já foi feito.

Ao investir nessa formulação para a série, os criadores evitaram produzir um produto a serviço de respostas ou que mostrasse o impacto de uma empresa que surgiu do nada e crescia mundialmente, mas deixou para experiência do público ver e questionar como foi possível, como alguém caiu no papo a ponto de serem conduzidos cegamente por um líder manipulador; como ninguém percebeu os sinais depois de quase 10 anos de atuação. Os Neumann não seriam os primeiros a ascenderem com um negócio vendido como único e um discurso poderoso convencendo vários da potencialidade, e WeCrashed não os trata de tal forma, mas sintetiza e diverte com um fascínio alienado que o casal ostentava sempre que se expressava.

Embora Leto faça a média por sua caracterização, Hathaway facilmente rouba a cena ao encarnar com brilhantismo a manipulação moldada a uma positividade espiritual banal que Rebekah tanto propagava, como se estivesse constantemente em um plano superior nas relações humanas. A fonte que a dupla bebia, era o famoso “finja até conseguir”, afirmando e reafirmando suas ideologias e convenções para atrair investidores para isso. Como uma empresa de coworking conduziria a consciência mundial, ou o que tem a ver uma escola com a proposta de um espaço de trabalho compartilhado?

Ainda que transmita a sensação de familiaridade, WeCrashed consegue divertir ao manter a fidelidade dos fatos e usar de uma liberdade criativa que favorece muito bem a forma em que Adam e Rebekah são retratados. Um exemplo disso, foi a breve participação de America Ferrera ao qual sua personagem além de carregar um carisma contagiante, serviu como ponte para o show definir um desenvolvimento mais proveitoso de Hathaway como Rebekah, que estava sendo posta à sombra do Método enfadonho de Leto como Adam.  Sem compor de algum grande momento que a faça tão especial, a série acerta por suas performances que contam essa história insana sobre egocentrismo e manipulação. 

WeCrashed (EUA, 18 de março a 22 de abril de 2022)
Criação: Drew Crevello, Lee Eisenberg
Roteiro: Eleanor Burgess, Drew Crevello, Lee Eisenberg, Zenzele Price, Eva Anderson, Elissa Karasik, Mark Stasenko
Direção: Glenn Ficarra, John Requa, Cory Finley, Tinge Krishnan, Shari Springer Berman, Robert Pulcini
Elenco: Jared Leto, Anne Hathaway, Kyle Marvin, America Ferrera, Anthony Edwards, Andrew Burnap, Cricket Brown, Troy Iwata, Mallori Johnson
Duração: 427 min. (oito episódios)

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