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Crítica | Westworld 1X03: The Stray

por Luiz Santiago
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estrelas 3,5

Confira as críticas para os outros episódios da série aqui. Os textos possuem spoilers!

Surge aqui um pensamento que, se for confirmado, pode representar um perigo para a série: esse número caótico de elementos dramáticos — caóticos no bom sentido, por serem esteticamente bem realizados, mas já estranhos por não apontarem um caminho sólido para o público — será afunilado para algo único nessa temporada, talvez com o novo programa de Ford, ou essas informações e personagens serão classificados como “podem ou não podem ser relevantes para a série“?

Entendendo as maravilhas e surpresas que um bom roteiro pode trazer, é lícito imaginarmos um cenário positivo em meio a tanta ponta solta, mas três episódios é o bastante para uma indicação mínima do que está acontecendo. E não é isso que temos aqui. Não me entendam mal. É claro que existe todo um plot de consciência dos robôs e a dualidade cyber-filosófica de estarem ou não agindo conforme a programação. Aqui, inclusive, novas cores desse processo foram apresentadas, especialmente no ótimo arco de Dolores, mas… todo mundo sabe que a série é para ser mais que isso. A premissa é só uma desculpa para ago maior, um bom caminho para um bom clímax. Todo esse barulho para ver realizada a premissa de Onde Ninguém Tem Alma na telinha, com elenco diferente e nova tecnologia não é exatamente o que se espera de uma boa série. Tem que haver mais que isso.

Partindo desse ponto, chegamos a um episódio que se sustenta em boa cotação pela (novamente!) excelência técnica e por alguns blocos muito bons em seu interior. Trago à tona o que muitos leitores nossos apontaram nos comentários de The Original e Chestnut, a série é boa, mas falta algo. Neste episódio, o “algo” que falta, se faz ver. Falta um direcionamento. A produção funciona de maneira soberba, o elenco é impecável e as histórias + a premissa são ótimas. A grande questão é: onde tudo isso vai dar? Pra quê tudo isso? O que os produtores pretendem fazer com isso? Ainda é cedo para bater o martelo para qualquer coisa, mas essa dispersão inicial da série certamente contará como algo negativo quando formos avaliar o conjunto da obra, tendo em vista todos os episódios.

A inconstância de algumas situações foi o que mais pesou em The Stray. Peguemos a mais grave delas, a do robô errante. O roteiro ressalta esse comportamento diferente e faz dele um arco interno, com direito a perseguição e tudo. Agora responda: que sentido, imediato, aparente ou sugerido essa caçada teve? Em dado momento sabemos que o errante esculpe e marca em suas obras a Constelação de Órion. Outra expectativa para o que isso pode ser. No final, porém, o robô pega uma pedra e esmaga a própria cabeça. Uh, não é preciso ser um engenheiro de software para entender o significado pontual do ato. Robôs ficam… “loucos”. Mas este não era exatamente o tema trabalhado com o matador incontrolável do Saloon, aquele que só bebia leite? Pois é. Não se trata de obter respostas rápidas. Trata-se de tornar coerente a jornada, mesmo com os mistérios apresentados na mais insana forma (tomem Preacher por exemplo!).

Mas enquanto o foco narrativo da saga permanece fora do eixo, vemos que a série tem feito grandes avanços no desenvolvimento de personagens. Fala-se um pouco sobre o passado do parque, o impessoalismo de Ford e a dor de Bernard. As alterações na linha do tempo de Dolores e os rumos que ela acaba tomando na improvisação do dia também são boas inserções nesse campo. Esqueçam o tiro final. Ele é o equivalente, em clímax cifrado, à mosca que a mesma personagem matou no pescoço, logo no piloto. Não é uma novidade e, conceitualmente, faz todo sentido. Minha suspeita apresentada no episódio anterior se confirma, mas de maneira bem mais curiosa. Há sim uma reação geral à programação. Mas a cada nova experiência fora do roteiro do parque, detalhes antes não presentes são marcados e geram lembranças, mudam ações. Supostos “erros” de conduta. A frase perfeita de Bernard resume toda a ideia: “a evolução forjou toda a vida senciente neste planeta usando uma única ferramenta: o erro“.

Westworld não pode se perder no padrão, no caos e nem na soltura absoluta de suas pistas e de novos personagens. Ainda queremos entender qual o papel de William e Logan nesse meio, que aqui, fizeram apenas figuração de luxo. E daqueles indígenas que lembram os canibais malignos de Bone Tomahawk. O que fica mesmo desse bem realizado, mas narrativamente vago episódio é a seguinte pergunta: seria o MIB de Ed Harris o misterioso Arnold? Isso explicaria tanta coisa…

Westworld 1X03: The Stray (Estados Unidos, 16 de Outubro de 2016)
Direção: Neil Marshall
Roteiro: Lisa Joy, Daniel T. Thomsen
Elenco: Evan Rachel Wood, Thandie Newton, Jeffrey Wright, James Marsden, Ben Barnes, Ingrid Bolsø Berdal, Luke Hemsworth, Tessa Thompson, Sidse Babett Knudsen , Simon Quarterman, Angela Sarafyan, Rodrigo Santoro, Jimmi Simpson, Shannon Woodward, Ed Harris, Anthony Hopkins
Duração: 60 min.

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