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Crítica | Westworld – 3X08: Crisis Theory

por Luiz Santiago
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  • Há SPOILERS do episódio e da série. Leia, aquias críticas dos outros episódios.

Ata. Tendi. Ahã.

Ata. Tendi. Ahã” foi a simpática reação que eu tive após o término de Crisis Theory, o chocho, enigmático, um tanto perdido e negativamente misterioso Finale da 3ª Temporada de Westworld. E isso vindo de mim, o maior passador de pano para esta temporada, significa muita coisa…

A reação, no entanto, tem um princípio objetivo. Se você me acompanha desde o começo da temporada ou de outras séries por aqui, sabe que eu sou ‘A Paciência’ encarnada quando se trata de esperar para ver o “plano geral” dos showrunners se concretizar. Evidente que o desenvolvimento pode ser problemático ou não funcionar a contento, mas em geral, se a questão principal é apenas “busca por resposta“, eu não me avexo. Eu espero. No presente caso, contudo, chego ao final de uma temporada e vejo que essa espera pode ser classificada em uma frase simples (preparados para o hate?): perda de tempo.

Ao contrário de uma parcela de vocês, eu não vi problema algum na mudança de perspectiva da série. A vinda para o “mundo dos humanos” foi um interessante anúncio no final da temporada passada e uma proposta curiosa para essa temporada. Pois bem, o que se espera de cada temporada de uma série, principalmente quando há mudança de perspectiva narrativa? Sentido. Como é o básico de qualquer roteiro para TV, o texto precisa fazer sentido em duas camadas: em si mesmo (no episódio, como unidade) e em conjunto (no escopo da temporada, como produto). Na primeira camada, perguntas sem resposta e mistérios são perfeitamente aceitos. Claro que ninguém é obrigado a gostar de tudo, mas esses mistérios são necessários para abastecer a temporada de possibilidades, através das quais vemos os personagens mudarem, talvez amadurecerem e trazerem surpresas para o espectador. Tudo isso para que, ao final da segunda camada, haja coerência em toda a jornada e a série então evolua.

E não, isso não significa “resposta para tudo“. Ficção que dá resposta para tudo é má ficção, daquelas que se querem espertas, mas veem em tão baixa conta os seus espectadores que entregam tudo mastigado. Caminhos dúbios, perguntas e mistérios são necessários até no encerramento de uma série. Agora, mudar de perspectiva, renovar toda uma estrutura de dramatização, afastar os personagens do seu habitat e criar uma realidade com uma promessa de revolução, para no final, não se chegar a lugar nenhum é de um desalinho gritante, não é mesmo? Dolores passou oito episódios estruturando uma jornada, rondando Caleb e colocando-se como opositora de Serac para que mesmo? Mais dúvidas desnecessárias sobre a motivação da personagem? Caros leitores, em que cenário é aceitável apresentar motivação justamente no final?

Aí também grita o duplo caminho de ações que basicamente brotam da “revolução do mundo livre” — uma revolução que já havíamos visto com Dolores revelando as projeções para todos os humanos. Sem contar o fim patético de Serac e a rebelião de Charlotte, que ensaiou ser algo interessante, apresentou um encerramento que chama a atenção mas que está aqui mal encaixada, parecendo não pertencer a esse ambiente, deslocada de propósito e sugerindo uma dominação que, ao menos por agora, dá a impressão de insistir no erro: a dominação do mundo e mais um plano que se pretende épico. Quanto ao duplo caminho, temos o bizarro mistério diante de Bernard (a surpresa sobre ele ter a chave foi muito boa, mas o que foi feito com isso — ou seja, nada — foi um desrespeito enorme para com os fãs); e a reticência anticlimática entre Maeve e Caleb caminhando e cantando e seguindo a canção

A apresentação de um novo Parque sem quê nem porquê (eu comecei a rir na hora em que aquilo apareceu na tela), repetição e sobreposição de conceitos referentes ao passado de Caleb e uma proposta de “vários recomeços” para a 4ª Temporada são baldes de água fria que fecham os ciclos dramáticos da temporada atual. Embora tenha tido capítulos excelentes em seu desenvolvimento (aquela primeira camada que comentei antes), o final não foi capaz de criar um produto com sentido e objetivo satisfatórios, simplesmente porque prometeu demais e entregou de menos. E isso inclusive nos faz questionar: se era para correr atrás do próprio rabo, por que sair de Westworld? Que essas revoluções pela liberdade de araque, então, fossem feitas de forma indireta, com montagem paralela e ações contrapostas! Depois da 2ª Temporada a gente sabe que isso era possível! Mas não… precisávamos contar com um ano do tipo “muito barulho por nada“.

Mesmo com um baita elenco, melhor luta entre Dolores e Maeve aqui, boa direção e ótimo exercício dos setores técnicos dos episódios, chegamos ao fim do 3º ano de Westworld como mortos na praia. E pelo menos eu, passo a temer pelo que vem a seguir. Era só o que faltava…

Westworld – 3X08: Crisis Theory (EUA, 3 de maio de 2020)
Direção: Jennifer Getzinger
Roteiro: Denise Thé, Jonathan Nolan
Elenco: Evan Rachel Wood, Thandie Newton, Jeffrey Wright, Tessa Thompson, Aaron Paul, Luke Hemsworth, Tao Okamoto, Ed Harris, Lena Waithe, Marshawn Lynch, Tyler Quinlan Abbott, Subhah Agarwal, Austin Bachlor, Maynard Bagang, Shay Bella
Duração: 62 min.

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