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Crítica | Westworld – 4X02: Well Enough Alone

Surge um novo parque.

por Luiz Santiago
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  • Há SPOILERS do episódio e da série. Leia, aquias críticas dos outros episódios.

Well Enough Alone é tudo o que a estreia desta 4ª Temporada de Westworld não foi. Em primeiro lugar, trata-se de um episódio que utiliza a curiosidade do espectador, junto ao mistério da temporada, em uma base de coisas conhecidas, mas claramente modificadas para esta nova jornada. A introdução realizada em The Auguries apenas sugeria, apontava para infortúnios que qualquer espectador da série sabia que viriam. Aqui, porém, todos esses infortúnios se levantam, e o fazem com a maior elegância e força narrativa possível, tanto no mundo real quanto no novo parque que vemos ser inaugurado ao final do capítulo, o parque da “Era de Ouro”. Em termos cronológicos, há duas possibilidades aqui. A primeira, é que a fala de William seja realmente levada ao pé da letra. Nesse caso, estamos falando dos anos 1920. Se ele está falando num sentido figurado, aí teremos uma ambientação puxando para a década de 1930, a era dos gângsters e das máfias que proliferaram no país após a Crise de 1929. E sim: haviam gângsters e máfias antes, até porque a Lei Seca, criada em 1920, deu espaço fértil para isso. Mas esses dois grupos estão em muito mais quantidade e agindo com muito mais intensidade na década seguinte, pelo motivo histórico já citado.   

Uma das melhores coisas que temos como consequência de uma boa direção aliada a um bom roteiro é que normalmente cada aspecto do episódio é ainda mais valorizado, mostrando-se bem e agindo em benefício da trama. Dentre as muitas coisas incríveis que podemos apontar aqui, certamente as atuações são o elemento mais forte. Westworld sempre teve um elenco recorrente de primeiríssima linha, e em capítulos como este nós somos lembrados, a cada novo frame, do quão bons são esses profissionais. Até mesmo Aaron Paul, que não está no mesmo nível dos colegas (nem em sonho!), consegue mostrar algo realmente bom com o seu personagem, e tenho certeza que isso será intensificado agora que ele e Maeve chegaram em um novo parque… por puro acidente.

Esse lado da trama é um dos mistérios mais confortáveis da temporada. A gente ainda não sabe que papel maior ou que grande evento se dará nessa nova realidade (ou de que forma ela irá se conectar ao mundo real), mas como se trata de um parque, nos sentimos em casa com tudo o que está acontecendo aqui. Apesar do tempo e do espaço serem diferentes daqueles que já conhecemos no show, a dinâmica permanece a mesma e não perdeu a sua força, ao contrário: quando o anfitrião William acendeu as luzes a anunciou a abertura desse novo mundo de sonhos, eu senti o mesmo impacto recebido em outras ocasiões. Aliás, o uso da trilha sonora nesse momento foi milimetricamente brilhante: sem exagero no jazz, sem muita aceleração no andamento e sem muita melancolia. A perfeita escolha para introduzir um novo mistério.

Aliado a uma fotografia noturna cheia de belos contrastes, lembrando as produções antecessoras do alto cinema de gângster de Hollywood (e só para deixar claro: está errado falar de “estética noir” aqui, como algumas pessoas estão fazendo. Nem cronológica, nem estética e nem tematicamente essa comparação faz sentido), o episódio termina com uma promessa instigante. Já do outro lado dessa realidade, temos Christina procurando respostas e encontrando ainda mais perguntas. Ela começa a ver algumas contradições em seu mundo e questiona a sua própria sanidade, processo que a gente já sabe aonde vai dar. Como esta realidade passa por uma reformulação arquitetada por Charlotte Hale (é incrível o direcionamento da personagem nesse quarto ano), o despertar de Christina irá coincidir com algumas alterações muito intensas no mundo. Com certeza um enfrentamento está por vir.

Fiquei bastante feliz e ao mesmo tempo impressionado com o fato de Hale indicar qual é o seu plano geral. Nos 6 episódios restantes da temporada teremos o desenvolvimento dessa reformulação da série e, quem sabe, a indicação de uma continuação, caso o plano seja vitorioso. Ou, como parece ser a maldição em torno da batalha entre anfitriões e humanos, a possibilidade de começar tudo de novo, sob uma nova perspectiva, novos sonhos, novas propostas. É tudo uma narrativa de poder, controle e imposição de uma visão de mundo, não é? Seja nos parques, seja na realidade. E só de pensar nesses termos, a velha pergunta sobre a questão do livre-arbítrio volta à tona. Estamos, quem diria, em um labirinto ético-moral. 

Westworld – 4X02: Well Enough Alone (EUA, 03 de julho de 2022)
Direção: Craig William Macneill
Roteiro: Christina Ham
Elenco: Evan Rachel Wood, Thandiwe Newton, Tessa Thompson, Aaron Paul, Angela Sarafyan, Ed Harris, Gabriel Bonilla, Jack Coleman, Ariana DeBose, Masashi Ishizuka, Natalia Lazarus, Michael Malarkey, James Marsden, Manny Montana, Ted Monte, Josh Randall, Aaron Stanford
Duração: 54 min.

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