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Crítica | Westworld – Onde Ninguém Tem Alma

por Luiz Santiago
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estrelas 3

Mistura de sci-fi western com ficção científica crítica, ação e thriller, Westworld – Onde Ninguém Tem Alma (1973) é um daqueles filmes-surpresa que chamam a atenção do espectador praticamente durante toda a projeção e o decepciona no final, especialmente pelas más escolhas do diretor e do roteirista (que aqui são a mesma pessoa) sobre o destino dos personagens e a resolução da trama. No entanto, há muita coisa em jogo.

Fica difícil assistirmos a Westworld sem fazermos nenhuma comparação externa, seja por uma escolha proposital da produção, como no caso da aparência do pistoleiro, baseada no personagem de Yul Brynner em Sete Homens e um Destino (1960); seja em referências posteriores, como a forma de andar do protagonista de O Exterminador do Futuro (1984), que teve o pistoleiro como modelo ou em citações inesperadas, como o link feito por Tony Stark ao apelidar Eric Savin de “Westworld” em Homem de Ferro 3 (2013). O fato é que este longa de Michael Crichton tem todos os ingredientes possíveis que justifiquem sua fama e legado, com destaque para a criatividade no trabalho com os “mundos antigos” e sua relação com uma futurística da Terra, onde um parque/resort chamado Delos oferece três opções de “vivência realista” para os hóspedes a mil dólares por dia: o Mundo Romano, o Mundo Medieval e o Mundo do Western.

Já no início temos a atenção capturada pela possibilidade de ver como a recriação dessas sociedades poderiam dar certo com figurantes robôs, perigos reais (inclusive com animais-robôs) e leis bem específicas sobre o bem estar dos hóspedes e a função das máquinas em cuidar bem de si mesmas mas sem ferir qualquer humano, uma alusão sutil às Três Leis da Robótica de Isaac Asimov.

A história se constrói bem no início, com uma reportagem que vende “as férias do futuro… hoje” e deixa as reticências corretas pelo caminho, trabalhando com a curiosidade do público e abrindo espaço para mostrar de maneira progressiva como esse futuro é capaz de fazer parques temáticos realistas com robôs. O espaço de filmagens é, digamos, limitado à sala de controle e aos cenários dos parques, sendo o West World o que ganha maior destaque, seguido do Medieval World e do Roman World. Há um desequilíbrio na forma como os mundos são mostrados, mas isso não atrapalha o filme em geral, uma vez que a abordagem principal está no Velho Oeste e os principais momentos da fita são passados lá.

[SPOILERS!] Richard Benjamin (Peter) e James Brolin (John) são ótimos ao conduzir a história de um início calmo para uma ação meio desesperada ao final. Por terem personalidades bem diferentes, eles conseguem atingir pontos dramáticos distintos sem a necessidade de personagens externos para criar situações-limite. A dinâmica entre os dois é muito boa e talvez por isso o final do longa tenha menos força do que teria, já que a ação solitária de Peter após a morte de John chega às raias do absurdo, mais ou menos na trilha dos filmes de ação/terror onde o inimigo nunca morre, onde as ações estúpidas de seus antagonistas deixam qualquer um com vergonha e onde o final acaba jogando nas mãos do espectador não só o desfecho em si mas o caminho que deveríamos ter para podermos estabelecer, de fato, um final aberto. [SPOILERS!]

No entanto, os problemas de Westworld não estão apenas nas diferenças entre início e desenvolvimento bons (ou pelo menos com poucos grandes erros) e final insatisfatório. Existe também o trabalho de som no filme, que é questionável em todos os seus aspectos, inclusive a trilha sonora completamente perdida de Fred Karlin — ela consegue transformar a desnecessária briga de Saloon em uma sequência ainda pior do que deveria ser — até a irresponsável mixagem de som que fez questão de incluir barulhos de fontes que o espectador se pergunta de onde vem; cenas que certamente ficariam melhores sem eles. O filme, no entanto, possui um ótimo trabalho de produção e, claro, chama a atenção pela curiosa ideia de Michael Crichton para o roteiro. Pena que as coisas não se organizem tão bem da metade para o final.

Westworld ainda se destaca na história do cinema porque foi o primeiro filme comercial a utilizar processamento digital de imagem em termos “significativos”. Lembremos, porém, que esse “processamento” estava ainda em sua fase primária de evolução, e o que temos aqui é um trabalho de “mapa de bits” (raster ou bitmap) para a construção do ponto de vista do Pistoleiro, especialmente a parte infravermelha do final.

Por mais que tenha todo um ar de “domínio das máquinas sobre o homem” e não traga um bom desfecho para os mocinhos da história, o filme nos faz perguntar se esse tipo de entretenimento (os parques realistas) funcionaria em nossa sociedade real, no futuro. Vemos aqui que questões morais e éticas são problematizadas nas entrelinhas através dos casos extraconjugais (seria adultério ter relações com um robô?) e da “licença para matar”. Perceba que, para além de suas falhas narrativas e técnicas, Westworld é um filme que diverte a maior parte do tempo e que criou elementos marcantes dentro de seu gênero principal. Isso é algo que jamais pode ser ignorado.

Westworld – Onde Ninguém Tem Alma (Westworld) — EUA, 1973
Direção: Michael Crichton
Roteiro: Michael Crichton
Elenco: Yul Brynner, Richard Benjamin, James Brolin, Norman Bartold, Alan Oppenheimer, Victoria Shaw, Dick Van Patten, Linda Gaye Scott, Steve Franken, Michael T. Mikler, Terry Wilson, Majel Barrett
Duração: 88 min.

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