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Crítica | Wet Hot American Summer: First Day of Camp

por Ritter Fan
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estrelas 4

Uma idiotice total. Isso é Wet Hot American Summer: First Day of Camp, aposta besteirol do Netflix baseada na comédia cult de 2001 Mais um Verão Americano, com um elenco que, ao longo dos anos, tornar-se-ia famoso em vários graus (Bradley Cooper, Paul Rudd, Amy Poehler, Elizabeth Banks, só para citar os mais óbvios).

Mas, atenção: ao classificar a série de “idiotice total” não quis dizer que ela é ruim. Aliás, longe disso. Há idiotices benignas e divertidas e, se o espectador estiver com o espírito correto, sairá de alma lavada dessa pândega que é esse prelúdio do filme de Michael Showalter e David Wain, então egressos da série The State, da MTV. Na verdade, todos os problemas que apontei na obra cinematográfica inexistem nessa série, pois é justamente o formato episódico e de esquetes que funciona tão bem aqui e que funcionou tão mal no formato de longa metragem.

Enquanto o filme abordava o último dia de um acampamento de verão em 1981, a série trata do primeiro dia desse mesmo acampamento. Assim, atores 15 anos mais velhos, fazem exatamente os mesmos papeis que antes. Como pode isso? Simplesmente não só não escondendo esse aspecto como tornando-o uma piada recorrente ao longo de toda a narrativa. São incontáveis as vezes em que os personagens, hoje vividos por atores por volta dos 40 anos, afirmam, com todas as letras, que “têm apenas 16 anos”, como um momento em que a orientadora de teatro Susie (Poehler) usa isso para se esquivar dos avanços do ator/diretor da Broadway Claude Dumet, vivido sensacionalmente por John Slattery.

E assim a série vai, intensificando e não reduzindo o impacto do tempo, voltando algumas semanas no passado em relação ao filme e inventando loucuras atrás de loucuras das mais absurdas possíveis para abordar nas poucas horas em que a história se passa. De uma pequena história originalmente confinada à um acampamento de verão, vemos improváveis, mas hilários desdobramentos, como a existência de um acampamento rival de almofadinhas, um embate advocatício com direito a julgamento, uma repórter disfarçada, uma conspiração governamental, mutações estranhíssimas e por aí vai.

Se estou sendo misterioso nas descrições é que não quero estragar as surpresas para ninguém já que uma boa parte da graça da série é ser jogado de uma linha narrativa insana para outra mais estapafúrdia ainda, com as resoluções mais sem pé nem cabeça possíveis. Outro aspecto exploratório imperdível é achar os mais inusitados atores em meio ao gigantesco elenco. Não só temos a volta da integralidade – mesmo! – dos atores e atrizes do filme original, pouco importa se mais ou menos conhecidos, como somos brindados, ainda, com uma enorme quantidade de outros atores nos papeis dos mais hilários. Esperem só para descobrir quem faz “O Falcão” ou o advogado do acampamento Firewood ou um pseudo-Jim Morrison… (e faça um favor a você mesmo e veja a série sem ler a ficha técnica abaixo ou pesquisar por aí).

No entanto, se mesmo assim você estiver buscando mais razões ainda para assistir à mais essa produção do Netflix, saiba que elas existem. Assim como no filme que inacreditavelmente deu origem à série, seu tom é fortemente satírico, tendo a mira voltada para as comédias besteirol dos anos 80. É o besteirol do besteirol, de certa forma e, apesar do longa ser falho, a série corrige os problemas ao trabalhar as gags e esquetes dentro de curtos episódios de menos de 30 minutos, tornando a estrutura mais ágil e o roteiro bem menos repetitivo e cansativo, ainda que, em alguns momentos, a fadiga apareça. E os atores estão todos completamente à vontade, visivelmente se divertindo com a quantidade de baboseiras que falam e com as caras e bocas que fazem, além dos figurinos para lá de ridículos que usam (afinal de contas, se a década de 80 tem um defeito, esse é a moda…).

E, se o leitor estiver se perguntando se é necessário ver o filme antes de assistir a série, a resposta é muito claramente um “não”. A série vive perfeitamente bem sozinha, mas é lógico que ver o filme ajuda a entender determinadas brincadeiras, como a do menino do rádio ou a que envolve Christopher Meloni, no papel do cozinheiro do acampamento e a ter uma nova “compreensão” sobre a “lata de vegetais”. Além disso, é chocante ver a mudança física de alguns dos atores (e a completa manutenção da forma física de outros), o que acaba aprofundando ainda mais o senso de série amalucada que Showalter e Wain quiseram impor.

Como disse, Wet Hot American Summer: First Day of Camp é uma idiotice total, mas uma idiotice que desopila o fígado se o espectador estiver imbuído do espírito necessário. É uma bobagem que realmente diverte e, diria, surpreende até os mais céticos.

Wet Hot American Summer: First Day of Camp (Idem, EUA – 2015)
Criadores: David Wain, Michael Showalter
Direção: David Wain
Roteiro: Michael Showalter, David Wain, Christina Lee
Elenco: Elizabeth Banks, H. Jon Benjamin, Michael Ian Black, Bradley Cooper, Judah Friedlander, Janeane Garofalo, Nina Hellman, Joe Lo Truglio, Ken Marino, Christopher Meloni, A. D. Miles, Marguerite Moreau, Zak Orth, David Hyde Pierce, Amy Poehler, Paul Rudd, Marisa Ryan, Molly Shannon, Michael Showalter, Kevin Sussman, Jason Schwartzman, Chris Pine, Jon Hamm, Kristen Wiig, Josh Charles, John Slattery, Michael Cera, David Wain, “Weird Al” Yankovic
Duração: 28 a 29 min. cada episódio (oito episódios no total)

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