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Crítica | What If…? – 1X02: What If… T’Challa Became a Star-Lord?

por Luiz Santiago
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  • Há SPOILERS! Leia aqui as críticas dos outros episódios. E leia aqui as críticas para a série em quadrinhos O Que Aconteceria Se…?

Através dos muitos comentários que recebemos na crítica de What If… Captain Carter Were the First Avenger?, eu percebi que havia um interesse muito grande dos espectadores em deparar-se com uma abordagem mais “livre do cânone“, diferente da que tivemos no capítulo de abertura da série. Há duas maneiras de olhar para essa questão. A primeira delas, contextualizando o show (adaptação de um famoso título publicado pela Marvel Comics) e atentando para sua proposta, especialmente quando se trata de coisas grandes. Ao falar de algo tão importante como a origem, em linha alternativa, de uma equivalente do Capitão América, seria até bastante ingênuo achar que criariam algo 100% diferente do que conhecemos. Em outras palavras, a produção jogou na retranca: mudou algumas coisas conjunturais (pois é, diferente do que muita gente berrou, NÃO “foi tudo igual ao original“) mas manteve grande parte da famosa estrutura, trocando o gênero de quem protagonizava. Não há nenhum problema nisso. Aí está a base de What If…? nos quadrinhos ou na própria série; e como qualquer coisa, em qualquer área, tempo e lugar… tem quem goste e tem quem não goste. Ficou, então, a pergunta: teríamos uma realidade onde as mudanças se afastariam muito da versão da Terra-616? Aqui no segundo episódio, encontramos a resposta para esta indagação.

What If… T’Challa Became a Star-Lord? não se contenta com a base narrativa familiar, mas arrisca bastante, justamente porque não está tocando em um evento absurdamente notável e amplamente famoso da Marvel, em amplas frentes. E que evento é esse? A abdução de Peter Quill por Yondu (Michael Rooker está excelente!). Aqui, a mando do ladrão azul, Taserface e um parceiro são atraídos até os limites de Wakanda, onde encontram T’Challa ainda criança. Por acharem que “todos os humanos se parecem“, a dupla abduz o futuro Pantera Negra em vez do verdadeiro filho de Ego, sendo este o evento que mudaria, para sempre, essa realidade. O primeiro choque nos vem já na sequência de abertura. O roteiro é capaz de jogar a grande mudança na nossa cara e criar uma baita impressão cômica quando Korath (conseguimos sentir a grande alegria de Djimon Hounsou interpretando essa versão do personagem) reconhece o Star-Lord e passa a enfrentá-lo com uma espécie de admiração e adoração que nos arranca boas risadas.

Um outro elemento de diferença narrativa é a maneira como o Universo do T’Challa Star-Lord nos é entregue com a mesma atmosfera despreocupada e caótica que temos nos filmes dos Guardiões da Galáxia. O enredo é uma aventura mista de suspense, com uma premissa que me agradou muitíssimo: mesmo os personagens que são transformados, devido ao seu contato e convivência com T’Challa (Thanos com cara de bebê e Yondu, são os maiores exemplos), ainda guardam traços típicos de sua personalidade conhecida na nossa realidade heroica: Yondu mente para T’Challa sobre Wakanda e sobre sua família; e Thanos ainda acha que sua ideia de exterminar metade da população era válida e eficiente.

Aqui é possível uma reflexão sobre essa mudança de pensamento. O que Thanos encontra no discurso do herdeiro de T’Chaka é justamente aquilo que muitos de nós apontamos como falha prática (não apenas ética e moral) do plano genocida do roxão. Se considerarmos a presença em cena de algo como Embers of Genesis (na certa, esse nutriente cósmico não foi colocado na missão à toa), vemos que esse próprio Universo possui um recurso capaz de produzir e distribuir provisões em massa para as populações, não havendo, pois, a necessidade de um genocídio.

Assistir a este episódio nos traz uma grande felicidade e ao mesmo tempo uma tristeza profunda. Estamos diante do último trabalho realizado por Chadwick Boseman, que infelizmente nos deixou muito cedo. O ator está claramente à vontade com a dublagem e faz um fantástico trabalho no ajuste do sotaque de T’Challa para esta versão, além de um bom trabalho com seu magnetismo, inteligência e porte majestoso, tornando essa versão do Star-Lord inesquecível desde os seus primeiros minutos. Diferente de Quill, T’Challa foi educado para a liderança, de modo que não é nada espantoso que ele consiga transformar a sua dor (a mentira de Youndu sobre a destruição de Wakanda) em uma missão galáctica de salvar mundos e povos prestes a serem destruídos, além de adotar para si o lema de Robin Hood, roubando dos ricos para dar aos pobres. O cuidado do roteiro aqui não foi apenas na composição dos personagens e de suas ações, mas também na sua forma de pensar, de fazer comércio, de aceitar missões e de falar com as pessoas. Thanos que o diga.

O fato de ainda termos destaque para Cosmo, o Cão Espacial e para Howard, o Pato, adiciona uma dose ainda mais forte de divertimento e fofura ao capítulo. A maneira como a missão se encadeia é bem pensada — embora eu ache que as decisões de escape seguiram uma questionável linha elíptica, com fatos importantes realizados fora da tela — e mesmo não gostado muito do Colecionador dessa linha do tempo (nem do personagem e nem da dublagem de Benicio Del Toro), posso dizer que me diverti muito ao longo de todo o capítulo. E penso que a variedade de lugares visitados, a variedade de personagens em cena e o predomínio de uma paleta de cores frias tornou a animação aqui um pouco mais interessante do que foi no episódio passado, mantendo a exceção: quando temos planos de destaque e/ou frontais dos personagens falando. Essas bocas-bolha e essas faces dialogando com proto-expressões depõem bastante contra o projeto. Mas isso não impede que a gente aproveite a jornada.

Na outra ponta da linha, descobrimos o lado negativo de T’Challa ter virado Star-Lord: Ego não desistiu de encontrar o seu filho. E Peter, sem ter a trajetória que modificou o seu modo de pensar, claramente se aliará ao pai. É como  O Vigia diz, no final: esse encontro representará o fim do mundo. Não tem como alguma coisa ser totalmente modificado para o lado do bem e tudo “ficar por isso mesmo“. Em algum lugar o Universo vai encontrar o seu contrapeso negativo para compensar.

Em tempo: eu estava com um sorriso bobo no rosto quando o episódio acabou, e rapidamente fui tomado por uma sensação de tristeza pela perda de um homem como Chadwick Boseman. Que legado lindo ele deixou para a arte! E que incrível terem feito jus à sua memória como artista! Uma merecida homenagem ao nosso eterno e querido Pantera Negra.

What If…? – 1X02: What If… T’Challa Became a Star-Lord? (EUA, 18 de agosto de 2021)
Direção: Bryan Andrews
Roteiro: Matthew Chauncey
Elenco: Jeffrey Wright, Chadwick Boseman, Karen Gillan, Michael Rooker, Djimon Hounsou, John Kani, Josh Brolin, Benicio Del Toro, Kurt Russell, Sean Gunn, Chris Sullivan, Seth Green, Danai Gurira, Ophelia Lovibond, Carrie Coon, Tom Vaughan-Lawlor, Fred Tatasciore, Maddix Robinson, Brian T. Delaney, Tanya Wheelock
Duração: 31 min.

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