A sensação em terminar Wicked era de ter assistido a algo mágico pela maneira apaixonante com a qual Jon M. Chu encerrou a primeira parte do longa, com a promessa de que em breve nos encontraríamos para o desfecho épico dessa história. O fato desse encontro ser nas telonas faz de Wicked: Parte II um evento — marcado há um ano atrás — para ser apreciado pelos fãs do musical. Aliás, desde que os estúdios adotaram a estratégia de dividir um filme em duas partes, as expectativas é que adiar uma estreia seja para entregar um resultado nada menos que épico. Enquanto a primeira parte da adaptação nos fazia acreditar no maravilhoso mundo de Oz, Wicked: For Good deixa o encanto de lado e foca no impacto, em deixar uma marca e lembrete de que, embora o fabuloso Oz tenha ficado no imaginário da cultura pop assim como a figura de Dorothy, agora veremos a história da amizade entre a Bruxa Má do Oeste e da Bruxa Boa do Sul.
Nesse caminho de se criar um efeito impactante, M. Chu faz de For Good um retrocesso em relação ao capítulo anterior. Temos uma sequência cuja duração é menor, porém, com muitos arcos que se estendem numa narrativa arrastada. Embora tivesse quase três horas em seu corte final, Wicked teve mais tempo para trabalhar a sua proposta de introduzir o público ao universo de Oz e seus personagens pela perspectiva de Elphaba (Cynthia Erivo) e Glinda (Ariana Grande), enquanto aqui perde-se o encanto em detrimento da sequência que “precisa ser maior e mais tocante”. As cores lavadas e aspecto unidimensional agora ganharam traços e tons mais sombrios, na tentativa do visual do longa acompanhar a jornada da Bruxa Má do Oeste que não vê mais motivos para fazer o bem e sim ser a versão “malvada” que todos falam.
Tal escolha se justifica no fato do longa adotar um tom de urgência à medida que se despede das nuances leves que marcaram a primeira parte. Um exemplo dessa mudança de tom é quando Elphaba impede a instalação da estrada de tijolos e chega ao anúncio do casamento de Glinda e Fiyero. As cenas são rápidas, genéricas e com cortes, tudo para sintetizar os últimos momentos leves para a sequência que pretende ter maior em tudo: mais caótica, mais sombria, um filme que em qualquer número quer entregar sinônimo de grandeza, algo expressivo, marcante. Nessa linha de oferecer um desfecho épico como uma segunda parte, For Good se contenta em ser uma sequência do tipo que não consegue justificar a sua existência, ou ao menos convencer. O longa inicia dando continuidade ao anterior sem propor uma nova ideia que reconecte a emoção do público a esse universo.
Para além dos fãs que contam com adaptação do segundo ato de um musical, Wicked: Parte II sofre com a tendência dos estúdios de fazer uma sequência. Diferente do encanto de ser introduzido ao universo da versão cinematográfica da Broadway, M. Chu comanda o filme no modo automático, com uma direção cômoda e que pouco se arrisca para trazer emoção ao voltar para Oz. Contudo, é possível reconhecer como o cineasta de ascendência chinesa defende sua visão pela forma que insere os personagens clássicos da história com descrição, como se fosse uma participação especial sem assumir o protagonismo ou desviar a atenção para a promessa de produções futuras — a exemplo da intérprete de Dorothy nunca ter o rosto mostrado.
Por mais que o filme falhe por não conseguir sustentar a demanda do estúdio em dividir em duas partes, Erivo e Grande mostram o porquê foram a escolha perfeita para viverem as personagens nas telonas: é como se fosse um evento à parte, mesmo dentro de uma narrativa confusa e de escolhas. A facilidade com a qual elas interpretam é o que faz For Good valer a pena dentro da sua busca de oferecer um desfecho épico em uma lógica limitada. É graça a detalhes como o sorriso de canto que Erivo empresta a sua Elphaba ou no cinismo e futilidade que Grande compõe a sua Galinda que Wicked Parte II tem a experiência de retornar para Oz tocante, uma vez que seu objeto é ter um impacto emocionante sobre a amizade da bruxa má e a bruxa boa.
Wicked: Parte II (Wicked: For Good – EUA, 2025)
Direção: Jon M. Chu
Roteiro: Dana Fox (baseado no livro de Gregory Maguire, no livreto de Winnie Holzman e musical de Stephen Schwartz)
Elenco: Cynthia Erivo, Ariana Grande, Jeff Goldblum, Michelle Yeoh, Jonathan Bailey, Ethan Slater, Marissa Bode, Peter Dinklage, Andy Nyman, Bowen Yang, Bronwyn James, Colman Domingo, Adam James, Scarlett Spears, Alice Fearn, Bethany Weaver
Duração: 138 min
