- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e do filme.
É muito fácil concluir que Beyond the Shattered Sea é um sensacional episódio de Willow. Muito fácil mesmo. Há fotografia épica, montagens de treinamentos (sim, são dois!), fuga de vilões, uma criatura estranha, mas simpática, a revelação de que há mais um manipulador de magia no seio do grupo do protagonista e toda uma ambientação lindamente vazia no tal Pélago Partido, que, juntamente com o arco narrativo de Airk na também deserta Cidade Imemorável, emprestam aquela camada clássica de Jornada do Herói que poucas vezes a série soube capturar de verdade.
Mas, talvez por não conseguir ver em Willow nada além do que uma série correta, mas que não consegue empolgar em momento algum – o único ponto fora da curva até agora e, mesmo assim por pouco, foi Prisoners of Skellin -, eu tenha achado Beyond the Shattered Sea um episódio que, muito diferente de ser épico como ele parece ser, está mais para quase uma hora da famosa “encheção de linguiça”. Tudo o que vi na fotografia em tese esplendorosa foram sequências extremamente artificiais que são tão bonitas quanto vazias; a fuga de vilões foi mais do mesmo (ou será que deveria dizer “menos do mesmo”?); a revelação de que Graydon saber usar magia com sua flauta não foi exatamente uma revelação, mas sim, apenas, uma confirmação para quem estava prestando um mínimo de atenção; o Pélago Partido que nada mais é do que um mar rasinho existe somente para economizar no orçamento e, finalmente, o arco de Airk que o faz cair na armadilha da jovem que, se não for mais uma minion da Megera é a própria megera foi tão movimentado quanto ver tinta secar.
Ou seja, retornamos ao padrão da série em que tudo até é muito bonito e formalmente competente, mas sem qualquer brilho, sem qualquer novidade realmente interessante que destaque esta alta fantasia de tantas outras que aparecem por aí no vasto mundo do streaming. É como ver uma história que repete tudo aquilo que vimos antes, inclusive o longa-metragem de 1988, mas feito por uma inteligência artificial (que está na moda) não muito inteligente, mas bastante artificial. Fica evidente que Jonathan Kasdan recebeu algum mandamento da produtora em manter a história geral a mais palatável possível, mas ele confundiu palatável com cansativa e modorrenta que mais anda de lado do que realmente de frente.
A única realmente novidade positiva em Beyond the Shattered Sea é que o personagem em tese protagonista, Willow Ufgood, finalmente ganha algum destaque, desta vez como efetivo mentor de Elora Danan em seu treinamento que mais parece uma competição para ver quem faz os fogos de artifício mais bonitos. O problema é que, mesmo nesse aspecto, o roteiro falha na simplificação das coisas, com Willow sequer parecendo que está ensinando algo, mas sim, apenas, repetindo frases feitas no automático, quase como aquele professor de escola ou de faculdade que entra em sala toda a semana visivelmente por pura obrigação, sem demonstrar o menor prazer no que faz.
Eu até gostaria de dizer que o veterano Julian Glover como o ermitão Zeb foi uma participação especial bacana, mas a grande verdade é que se vê tão pouco dele e sua função dentro do episódio é tão limitada, que ele está muito mais para as lenhadoras na floresta de The Battle of the Slaughtered Lamb do que para o Allagash de Christian Slater no episódio anterior, ou seja, mais uma vez a série descarta uma escalação e um personagem potencialmente interessante que poderia ser mais do que alguém que existe para desaparecer alguns minutos depois. Aliás, curiosamente, até a lamandra que Graydon batiza como Kennerh de repente é defenestrada, tornando sua existência – e, por tabela a de Zeb – uma completa inutilidade.
Confesso que, a essa altura do campeonato, faltando apenas mais um episódio para a temporada acabar e com Beyond the Shattered Sea sendo aquela beleza visual básica para esconder o quanto é raso, gostaria que a série se tornasse uma minissérie e acabasse de vez em mais uma semana com um embate entre Elora e seus amigos e a Megera. Mas dificilmente isso acontecerá e teremos um final aberto cujo real encerramento em temporadas futuras eu já não sei se quero realmente ver se o nível de qualidade da série for esse meia-boca apresentado até agora…
Willow – 1X07: Beyond the Shattered Sea (EUA, 04 de janeiro de 2023)
Desenvolvimento: Jonathan Kasdan
Direção:Jamie Childs
Roteiro: Julia Cooperman, Bob Dolman, Jonathan Kasdan
Elenco: Warwick Davis, Ellie Bamber, Ruby Cruz, Erin Kellyman, Tony Revolori, Amar Chadha-Patel, Dempsey Bryk, Rosabell Laurenti Sellers, Julian Glover
Duração: 59 min.
