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Crítica | Wolverine – Arma X

por Luiz Santiago
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estrelas 5,0

A história de Wolverine é uma das que se fixaram na lista de “origens e primeiros anos mais obscuros” dos heróis da Marvel. O famoso e adorado personagem teve seu passado visitado diversas vezes por diferentes autores, boa parte deles pouco preocupados com o impacto que suas histórias poderiam causar na timeline do herói. O resultado disso foi uma grande bagunça no cânone do Carcaju: como, de fato, foram os primeiros anos dele? Como ele “conseguiu” o esqueleto de adamantium? O que está por trás da história da Arma X?

A resposta a essa última pergunta pode ser dada de algumas formas diferentes, dependendo de qual leitura você se referir ao respondê-la, mas é quase certo que a maior parte dos fãs usem a saga de Barry Windsor-Smith para dar a resposta.

Wolverine: Arma X foi um arco publicado na Marvel Comics Presents (edições #72 a 84) entre março e setembro de 1991, e que contava de maneira densa, inventiva e belissimamente desenhada a história do baixinho mutante que foi sequestrado por militares envolvidos em um experimento secreto (Projeto X) e passou pelas mais terríveis formas de mutação forçada (leia-se tortura) para ter seu esqueleto revestido por uma liga metálica virtualmente indestrutível e garras implantadas em suas mãos.

Aprendam uma coisa, crianças: nunca digam ao Logan que o cabeleireiro dele não é bom.

Aprendam uma coisa, crianças: nunca digam ao Logan que o cabeleireiro dele não é bom.

Considerando que Logan já era mutante e talvez tenha sido escolhido justamente por esse motivo (ou por suspeitas disso), o roteiro de Windsor-Smith consegue tornar algo que já é estranho/especial – um homem ter a capacidade de curar-se rapidamente de ferimentos – em algo ainda mais estranho/especial, só que atravessando um processo moral e eticamente questionável.

A história se passa nos anos 60 – apesar da aparência “contemporânea” do herói – e entendemos que cronologicamente Wolverine ainda não existia. Na história, ele é tratado como Logan, um fazendeiro durão que sem maiores explicações (já falamos sobre isso algumas linhas acima) é levado à força e a muito custo para fazer parte de um projeto de concepção híbrida, um misto de estatal, militar e iniciativa privada, cujo objetivo era construir uma máquina de matar, um “ser” que pudesse se controlado remotamente e cujo treinamento assassino o impedisse de julgar a legitimidade de seus atos, obedecendo cegamente a todo tipo de ordem dada.

Esse tipo de controle que vemos em Arma X foi posteriormente reaproveitado em outras histórias para explicar algumas ações questionáveis do Wolverine ou criar um ponto de partida para determinadas aventuras. Outro ponto em aberto na história é a colocação de alguém por trás de todo o empreendimento, um alguém a quem o ‘Professor’ teme e por quem é tratado com desprezo. Segundo Windsor-Smith, ele deixou essa reticência no texto após uma conversa com Chris Claremont, que disse a ele ter imaginado, algum dia, colocar o Apocalipse como o alguém por trás de toda a coisa do adamantium. Respeitando a ideia do colega, o autor de Arma X resolveu lançar a deixa para o caso de algum dia Claremont resolver colocar os ‘pingos nos is’ em relação a essa questão.

Horror, sangue e dor: uma arte e um texto lancinantes.

Horror, sangue e dor: uma arte e um texto lancinantes.

Mas além de um texto poderoso e bastante complexo em termos narrativos – leitores distraídos e com pouca experiência em leitura de quadrinhos certamente se sentirão perdidos –, Barry Windsor-Smith nos presenteia com uma arte e uma diagramação gloriosas, com quadros isolados, meias-conversas, flashbacks, integração off e out entre quadros, telefonemas e diálogos (como nas narrações cinematográficas!) e manipulação do tempo entre prólogo, desenvolvimento e epílogo da história.

Com temas artísticos fortes, excelente poder de sugestão e demonstração gráfica da violência, madura e equilibrada construção dramática e finalização que não deixa todo o “destino” dos personagens nas mãos do leitor mas lhe dá a oportunidade de especular um pouco a respeito, Barry Windsor-Smith realiza uma verdadeira obra-prima em Arma X, uma história digna da crueza e força do herói cujo início se propõe narrar.

Wolverine – Arma X (Wolverine: Weapon X) – EUA, 1991
Publicação original: Marvel Comics Presents #72 a 84
Roteiro: Barry Windsor-Smith
Arte: Barry Windsor-Smith
Páginas: 145

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