- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo X-Men.
É interessante como a segunda parte de Tolerance Is Extinction, um arco, em tese, sobre uma Guerra Evolucionária entre os mutantes e a humanidade, acaba sendo uma luta entre uma única espécie. Sempre gostei de como a metáfora dos X-Men sobre minorias tem esse twist por eles serem geneticamente superiores, o que torna suas ações, de certa forma, misericordiosas. O início do episódio até tem uma montagem de “caça às bruxas” com seres humanos atacando os mutantes por conta do ato apocalíptico de Magneto, mas nada além disso. Como frisei na crítica da semana passada, o foco aqui é a batalha ideológica de Xavier e Magnus, algo que ganha ênfase quando o time é fraturado no ato final do episódio.
Tudo aqui tem um ar clássico aconchegante e de qualidade, passando pelos uniformes antigos, os acenos para os times Blue e Gold – um conceito que, felizmente, tem sido revivido em HQs recentes, dando espaço para mais histórias mutantes – e, claro, a tradicional narrativa de divisão dos X-Men. Sem querer ser repetitivo, ainda sinto o roteiro apressado, seja na forma que reintroduz Xavier à história com pouco conflito para além de umas cenas com Scott, na maneira súbita que o Mancha Solar troca de lado ou principalmente no jeito que a trama sobre Bastion e os sentinelas se tornou praticamente subsidiária, mas a proposta de Magneto é a culminação de bons arcos ao longo da temporada.
A tentativa de reformulação do anti-herói terminando nessa tragédia é pessimista ao mesmo tempo que é dramaticamente impactante e tematicamente inteligente. Ao invés de colocar o personagem como um simples vilão, a temporada gradualmente o reformou para quebrá-lo novamente, ao ponto de seus atos soarem quase… justificados, ou no mínimo compreensíveis após o evento de Genosha e o ataque dos sentinelas. Da mesma forma, o Xavier ideológico aqui é contestado, falho e seu sonho está fraturado, ao ponto de seu retorno soar tardio e inconsequente em razão de sua “traição”, no mesmo passo que o texto descontrói essa ideia de culpa no seu diálogo com Scott sobre o fardo e o sacrifício da causa. Não é fácil quando ícones mostram um pouquinho de egoísmo.
Mesmo que de maneira corrida, a temporada fez um excelente trabalho em colocar Xavier e Magneto nos mesmos papéis que esperamos, mas fugindo de qualquer tipo de maniqueísmo ou facilidades narrativas. Tudo aqui é confuso, tênue e nenhum lado está exatamente certo ou errado, por mais que genocídio nunca seja a escolha ética a ser feita. O ataque psíquico de Xavier é um exemplo de como a moral não está na mesa. E que bacana como a narrativa pega esse momento climático e mistura-o com a trama dos Summers e do Sr. Sinistro quando Scott precisa atacar o Professor para salvar Jean e Nathan. Os membros do elenco que ganharam mais holofotes durante a temporada recebem bons momentos, com destaque para o arco de Vampira, claramente afetada pelo que ocorreu em Genosha, e até Tempestade, que rouba cenas com seus discursos afáveis sobre família e fraternidade.
Parte do grupo continua escanteada – o Fera e o Morfo são praticamente figurantes hahaha -, mas Wolverine, nos acréscimos da temporada, obtém o auge da produção com seu ataque à Magneto e sua frase bárbara sobre a guerra, ao passo que o contra-ataque é ainda mais visceral e deixa o público com mais uma grande gancho. O momento simboliza a qualidade de mais um episódio dinâmico e tenso em termos de ação e entretenimento, passando pela aparição do “Hulk”, mais lutas divertidas com os Sentinelas e também Bastion, e, claro, o embate intenso com Magneto. No fim, só não considero o episódio excelente principalmente pela maneira um tanto estranha que o ataque de Bastion se tornou secundário à batalha com Magneto, mas tudo aqui funciona, dos diálogos, a animação, as culminações de arcos e, especialmente, o tratamento inteligente para uma clássica trama dos X-Men. É muito bom quando nostalgia e resgate de histórias tradicionais não se resumem a fan-service. Que venha o desfecho da temporada!
X-Men ’97 – 1X09: Tolerance Is Extinction – Part 2 (EUA, 07 de maio de 2024)
Desenvolvimento: Beau DeMayo
Direção: Emi-Emmett Yonemura
Roteiro: Anthony Sellitti
Elenco: Ray Chase, Jennifer Hale, Alison Sealy-Smith, Cal Dodd, J. P. Karliak, Lenore Zann, George Buza, A. J. LoCascio, Holly Chou, Isaac Robinson-Smith, Matthew Waterson, Adrian Hough
Duração: 31 min.
