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Crítica | xXx: Reativado

por Guilherme Coral
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estrelas 0,5

É bastante fácil enxergar o que há de errado com Hollywood quando algum estúdio decide reviver a franquia Triplo X morta e enterrada em 2005, que sequer obteve sucesso comercial em sua segunda entrada. Com isso, a inevitável pergunta vem à cabeça: por que não criar um filme do zero simplesmente? Não é como se estivéssemos diante de um personagem icônico ou uma série de filmes com uma linguagem própria, estamos falando de ação para lá de genérica e não um marco do gênero como Rambo ou Duro de Matar. Mas é claro que muitos roteiristas preferem não ter trabalho algum e é muito mais fácil utilizar um personagem pronto, o que é bastante irônico, considerando que todos os interpretados por Vin Diesel (à exceção de Groot) são a mesma pessoa, basta trocar skates por carros ou naves (não esqueci de A Batalha de Riddick).

Depois de matar Xander Cage (Vin Diesel) em Triplo X: Estado de Emergência, através de um diálogo, o roteiro de F. Scott Frazier decide reviver o personagem. Dessa vez, o motivo para a consternação é o roubo, realizado por Xiang (Donnie Yen) e sua equipe de uma arma chamada Caixa de Pandora, que tem o poder de controlar satélites militares, podendo causar terríveis estragos. Dessa vez, contudo, não é Augustus Gibbons (Samuel L. Jackson) que tira Xander de seu autoexílio, visto que esse foi supostamente morto, de novo, na queda de um satélite (antes da arma ser roubada, pasmem), junto de Neymar (ele mesmo), que tantava recrutar para o programa xXx somente por ele jogar futebol. Quem recruta o protagonista é ninguém menos que Jane Marke (Toni Collette), de quem nunca ouvimos falar até então, mas que faz parte da CIA.

O que já nos começa a alertar da qualidade duvidosa de xXx: Reativado são as cartelas aos moldes de Esquadrão Suicida que aparecem na frente da imagem para nos apresentar os personagens – convenhamos, copiar elementos de um filme terrível, provavelmente não é uma boa ideia. O segundo alerta vem logo em seguida, quando Neymar impede um assalto chutando um porta guardanapos na cabeça do criminoso. Nesse ponto chegamos em um momento crucial da projeção, aquele no qual ou o espectador continua na sala, ou se prepara para a longa e inevitável tortura dos minutos posteriores (já devem imaginar a triste opção por mim escolhida). Passada essa desnecessária e tenebrosa introdução, as coisas ficam ainda piores, com cortes e mais cortes que fazem nossos olhos pedirem arrego, skates que andam a toda velocidade sem precisarem de impulso, balas que acertam todos menos o vilão e o protagonista, dentre outros absurdos típicos dos filmes de ação aos quais estamos acostumados hoje em dia.

O que salva, ou melhor, torna tudo um pouco menos insuportável, é Donnie Yen, que, como sempre, interpreta seu personagem de forma extremamente carismática e chega a nos divertir com suas brigas, que, é claro, não chegam aos pés daquelas vistas em Ip-Man (vulgo propaganda chinesa divertida). Por outro lado, a direção de D.J. Caruso, responsável por obras-primas da sétima arte, como Eu Sou o Número QuatroA Ilha da Aventura, torna tudo quase intragável através dos já mencionados cortes e uma câmera que parece não se decidir entre aproveitar os atores ou simplesmente esperar para que a pós-produção resolva tudo, inserindo efeitos especiais até onde não precisa.

Do outro lado, temos Diesel, que vem como um poço de não-atuação, interpretando o mesmo personagem há mais de dez anos, cujo nome da vez só lembramos por começar com X. O ator conta com zero carisma e tenta passar a imagem de macho alfa irresistível, quando, na realidade, tudo o que enxergamos é um homem com seus quase cinquenta anos tentando ser um James Bond careca e com tatuagens. Tudo piora, é claro, quando todas as mulheres do filme abaixo de sua idade parecem querer cair em seu colo, o que chega a ser bastante irônico se levarmos em consideração a recente polêmica com o ator, que parece acreditar que mulheres são como em seus filmes e não pessoas normais, com o direito de se sentirem incomodadas se alguém simplesmente ignora seu trabalho para tecer “elogios”.

Polêmicas à parte, parece ser difícil entender que, como ator, Diesel só cumpre seu papel dentro de um carro (com o vidro fechado, preferencialmente) ou dublando uma fala apenas. O que não acontece aqui, evidentemente, mesmo com sua idade avançada (que já o torna elegível para o próximo Mercenários), o vemos pulando de montanhas para esquiar em sua encosta, andando de skate como um bad boy de dezoito anos, dentre outras mentiradas que nos remetem aos filmes de 007 interpretados por Pierce Brosnan – uma dessas mentiradas em especial é de fazer gargalhar, mas não irei estragar a surpresa dos corajosos que decidirem encarar essa pérola nos cinemas.

xXx: Reativado é um daqueles filmes nos quais passamos a projeção inteira pensando nas coisas melhores que poderíamos ter feito ao invés de decidir adentrar a sala do cinema. Uma verdadeira bagunça, cujo único mérito é o carisma de Donnie Yen e nada mais. Mas, convenhamos, com Neymar na capa, não esperávamos algo mais que isso, não é? Definitivamente, Xander Cage deveria ter permanecido morto, junto com essa franquia, que jamais chegou a ser algo relevante dentro do gênero e cuja reativação apenas denuncia tudo o que há de errado com Hollywood nos dias de hoje.

xXx: Reativado (xXx: The Return of Xander Cage) — EUA, 2017
Direção:
 D.J. Caruso
Roteiro: F. Scott Frazier
Elenco: Vin Diesel, Donnie Yen, Deepika Padukone, Kris Wu, Ruby Rose,  Tony Jaa, Nina Dobrev, Rory McCann, Toni Collette, Samuel L. Jackson, Neymar
Duração: 107 min.

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