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Crítica | Yellowstone – 1ª Temporada

Um território desejado.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das temporadas anteriores.

A 1ª temporada de Yellowstone termina com o patriarca John Dutton (Kevin Costner), caminhando sozinho no seu grande rancho que dá título a série. É um momento visualmente belíssimo com a paisagem montanhosa e a planície verdejante, mérito da caprichada fotografia da série. Mas também há um sentimento desolador com a sequência; uma pacificidade solitária que acompanha os passos de Costner. Os eventos narrativos que antecedem essa situação dão significado à imagem. Dutton está caminhando na sua herança, no seu trabalho e suor, e especialmente no seu legado. Mas ele está sozinho. É um homem tentando manter seu poder à medida que o progresso invade e ameaça seu império conservador, mas sem ninguém para “passar o bastão”.

Rebobinando um pouco, Yellowstone nos apresenta a disfuncional família Dutton, chefiada pelo duro John Dutton, junto de seus quatro filhos: Kayce Dutton (Luke Grimes), Jamie Dutton (Wes Bentley), Beth Dutton (Kelly Reilly) e Lee Dutton (Dave Annable). A família tem uma fazenda do tamanho de pequenos países no estado de Montana, além de ter os dedos no comércio e política local. Para manter o controle dos vastos acres de terra que possui, John burla regras, quebra leis, coloca todos no bolso e usa seu vasto capital e influência para certificar que seu império continue no ramo familiar, agora que empresários milionários, como Dan Jenkins (Danny Huston) e os membros da reserva indígena, representados pelo chefe Thomas Rainwater (Gil Birmingham), ameaçam tomar sua terra. Mas, como o primeiro parágrafo da crítica indica, a tarefa do patriarca não é fácil. 

As maquinações entre John e seus adversários dão o impulso narrativo e os conflitos necessários para a série fluir, oferecendo uma boa dose de intrigas políticas e empresariais, carregadas de um discurso crítico em relação ao exacerbado poder de Dutton e ao descaso com o povo indígena em reservas (difícil não lembrar de Reservation Dogs nesses momentos), representando mais um canto da “américa real” tão distante da propaganda ideal do Tio Sam. Além disso, a obra se comporta como uma narrativa de crime em dadas situações, principalmente quando envolve Rip Wheeler (Cole Hauser), o cara que faz o trabalho sujo de John. Em harmonia com esse “jogo” de sobrevivência da premissa, temos um drama familiar como cerne narrativo, com Dutton lutando para deixar uma herança, ao mesmo tempo que manipula e traumatiza seus filhos a assumirem seus “papeis” na linha de sucessão. Para o patriarca, eles precisam estar prontos, mesmo que seja a ferro e fogo.

Existe uma linha melodramática na maneira que o showrunner Taylor Sheridan desenha sua saga familiar, com temas batidos e diálogos um tantinho clichês, mas há um nível de autenticidade também, considerando a simplicidade cotidiana e a sinceridade descortês da cultura caubói. Nesse sentido, a série também consegue ser íntima em seu realismo, fazendo uma dieta de planos aproximados e momentos prosaicos. Nessas situações, Costner é simplesmente fantástico como a figura autoritária da série. Sua presença é dominante e sua aura permeia até mesmo os momentos que está fora de cena. O ator é robusto, duro e áspero quando precisa, mas há uma camada de vulnerabilidade em sua atuação. Uma sensibilidade que veio com a passagem do tempo e a aproximação da morte. E Costner sabe como transitar entre a lenda viva e o homem frágil com extrema facilidade. Ele é um lutador, mas também parece cansado. E seus filhos (também com boas performances, ainda que Luke Grimes seja ralo em alguns momentos), sabem disso; eles enxergam a vulnerabilidade, mas ainda estão com medo.

Para além da narrativa macro e o drama familiar, acredito que o ponto forte de Yellowstone seja o retrato deste mundo que estamos visitando a cada episódio. Sheridan tece uma costura extremamente natural no desenrolar dos dias selvagens em Montana. Há pausas para rituais tribais e circunstâncias ordinárias dos caubóis. Lições de história em salas de aula e do lado de fogueiras. Composição entre progresso e passado em uma cultura ainda borrada em termos de transição. Em suma, vemos a reprodução do modo de vida desses personagens de forma genuína, sejam nas belas sequências panorâmicas da vastidão do oeste americano ao som de country, sejam em circunstâncias íntimas, pequenas derrotas e vitórias diárias. Assim como o “aprendiz a peão” Jimmy (Jefferson White) e o próprio Kayce nas reservas, nós não fazemos parte desse mundo, mas estamos aprendendo sobre ele, descobrindo sua beleza e corrupção. Às vezes até parece que há uma falta de continuidade no enredo ou transições estranhas em suas várias subtramas, mas Sheridan está na verdade criando um belo mosaico do dia-a-dia em Yellowstone, onde a violência está sempre à espreita e a relação com esses personagens só aumenta.

Yellowstone – 1ª Temporada — EUA, 2018
Criação: Taylor Sheridan, John Linson
Direção: Taylor Sheridan
Roteiro: Taylor Sheridan, John Linson
Elenco: Kevin Costner, Luke Grimes, Kelly Reilly, Wes Bentley, Cole Hauser, Kelsey Asbille, Brecken Merrill, Jefferson White, Danny Huston, Gil Birmingham ,Forrie J. Smith, Denim Richards, Ian Bohen, Finn Little, Ryan Bingham
Duração: 09 episódios de aprox. 60 min.

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