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Crítica | Yellowstone – 2ª Temporada

Yellowstone sem-lei.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das temporadas anteriores.

Existe um certo aconchego em assistir Yellowstone, como retornar para um lugar que gostamos após passarmos um tempo distante. Inicialmente, me preocupei com essa sensação, imaginando uma possível falta de progresso na série. Talvez uma narrativa repetitiva em sua evidência das contradições do oeste americano e da saga familiar dos Dutton. Mas a proposta cotidiana da obra de Taylor Sheridan é muito bem executada. O roteiro é inteligente ao saber navegar entre conforto e similaridade ao mesmo tempo que gradativamente mostra suas diferenças e evolução dentro do dia-a-dia dos personagens. No entanto, o show flerta bastante com os mesmos tipos de dramas e situações narrativas semelhantes, motivo pelo qual espero sinceramente que a série não se prolongue eternamente sem motivo para além da crescente audiência.

No momento, porém, Yellowstone continua sensacional ao trabalhar o drama do seu vasto elenco. Se na temporada de estreia conhecemos esses personagens complicados e seus modos de vida, o segundo ano é uma extensão orgânica desses arcos. Aprendemos mais sobre o passado de Wheeler, entendemos melhor o efeito da morte da matriarca Dutton nos filhos e na criação dura de John, e assim por diante. Lentamente descobrimos pequenos pedaços da história desses personagens, seus traumas e dores, suas relações conturbadas e conflitos internos, e como continuam sua vida frente a toda a tragédia que circula a vida dura de Montana.

O melhor artifício narrativo de Sheridan para não deixar as coisas recorrentes são suas pequenas mudanças estruturais que nos oferecem novas dinâmicas. Temos, por exemplo, o afastamento entre Kayce e Monica que abre o espaço para a série trabalhar de perto a relação entre pai e filho dos Dutton no rancho, assim como brinda Monica com uma subtrama em sua profissão de professora universitária, onde Sheridan oferece mais algumas cutucadas ao descaso histórico com nativo-americanos. Na segunda metade da temporada, Monica vai para o rancho, onde Sheridan explora a relação entre a personagem e John (um interessante embate de culturas no subtexto), como também com a perturbada Betty, rendendo uma visceral cena sobre preconceito. Nem tudo funciona completamente, como o deslocado núcleo político (e violento) de Jaime, um personagem à parte que é basicamente um cachorro morto para todo mundo bater e chamar de egoísta (acho as cenas de Betty gritando com o irmão bem artificiais) e sem muito desenvolvimento sobre o personagem em si, mas num balanço geral, o saldo é extremamente positivo.

Além disso, ainda há momentos melodramáticos demais para meu gosto, como a gravidez da namorada de Jaime ou algumas discussões matrimoniais (muito mal interpretadas por Luke Grimes, constante elo fraco do elenco), que são um pouco constrangedoras, mas Sheridan tem um ótimo controle dramatúrgico da maioria dos seus personagens principais, especialmente tudo que envolve Kevin Costner e sua constante transição entre homem poderoso e velho vulnerável – as sequências do patriarca com seu neto são as melhores para evidenciar a sensibilidade de John. Reforçar o drama da morte da matriarca familiar também traz algumas camadas para a complexa Betty, com a atriz Kelly Reillly transitando bem entre crueldade e angústia, especialmente em ótimas sequências com Wheeler.

Porém, Yellowstone continua tendo mais sucesso no seu retrato da vida caubói em Montana. Confesso que as divertidas cenas do grupo naquele barracão, suas bebedeiras, jogo de cartas, momentos musicais, a transformação de Jimmy em um peão de rodeio, e tudo mais que engloba seus ofícios e costumes, são para mim mais interessantes que o drama familiar dos Dutton. Existe algo tão natural na forma como Sheridan destaca os caubóis, seja em momentos cômicos como as competições de Jimmy, ou então mesmo em seus dramas, melhor evidenciado pelo ex-presidiário Walker (Ryan Bingham), que tornam a série autêntica e realmente interessante de conhecer e aprender. Senti falta da representação cultural dos nativo-americanos que tivemos na temporada anterior, e consequentemente de mais tempo de tela do fantástico chefe Thomas Rainwater, mas faço as pazes ao entender que Sheridan focou a história mais no rancho e menos nas reservas.

Ademais, a segunda temporada de Yellowstone é mais intensa em sua trama principal sobre a proteção do rancho. Para fazer uma comparação, a temporada de estreia termina com John andando sozinho na sua vasta propriedade, enquanto este ano conclui com uma cena do patriarca chorando de alívio. São cenas que sintetizam as abordagens das temporadas, com a primeira cheia de melancolia, enquanto esta é puro estresse. Há muito mais crime, violência, tiros e mortes com a chegada dos perigosos irmãos Beck em Yellowstone, trazendo a série para um ambiente que lembra faroestes clássicos e suas terras-sem-lei. Novamente, prefiro o dia-a-dia caubói a qualquer sanguinolência, mas Sheridan desenvolve uma narrativa criminosa instigante, digna do seu trabalho na “trilogia da fronteira” – apesar de concluir com uma direção anticlimática num tiroteio mal filmado por Stephen Kay, já que Sheridan infelizmente deixou a cadeira de diretor no programa. No fim, também ficamos aliviados, e novamente instigados a continuar visitando o universo de Montana. Só espero que termine me deixando com um gostinho de quero mais e não com sinais de cansaço.

Yellowstone – 2ª Temporada — EUA, 2019
Criação: Taylor Sheridan, John Linson
Direção: Stephen Kay, Ben Richardson, Guy Ferland, John Dahl, Ed Bianchi
Roteiro: Taylor Sheridan, John Linson
Elenco: Kevin Costner, Luke Grimes, Kelly Reilly, Wes Bentley, Cole Hauser, Kelsey Asbille, Brecken Merrill, Jefferson White, Danny Huston, Gil Birmingham ,Forrie J. Smith, Denim Richards, Ian Bohen, Finn Little, Ryan Bingham
Duração: 10 episódios de aprox. 60 min.

 

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