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Crítica | Young Rock – 1ª Temporada

por Kevin Rick
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Baseado na vida da super estrela Dwayne “The Rock” Johnson, a sitcom Young Rock conta a vida do ator em quatro períodos diferentes: sua infância (10 anos, Adrian Groulx); adolescência (15 anos, Bradley Constant); juventude/adulto (18 anos, Uli Latukefu); e, claro, o próprio The Rock, retratado em 2032. Apesar de se basear em incidentes da vida de Dwayne Johnson, a série parte de uma premissa fictícia: o ator está concorrendo à presidência; com a obra sendo vendida como uma biopic familiar e íntima da estrela de ação. Balela. Assim como The Rock diz ao longo do show, ele está “working the gimmick“, ou seja, criando/trabalhando/mantendo um personagem. Seu personagem.

Acredito que o primeiro pensamento de um brasileiro ao assistir esse show é: Todo Mundo Odeia o Chris. E as semelhanças existem mesmo, especialmente em relação ao princípio da obra sobre a infância de uma figura artística famosa, a narração em off e a diversidade cultural do que normalmente vemos em sitcoms americanas. Mas as comparações param na premissa, pois, se a série do Chris Rock procura caminhos de humor autodepreciativo com o caráter de denúncia em situações de racismo, Young Rock assume um viés mais, digamos, “clássico” de comédia situacional familiar estadunidense.

Vemos essa construção mais habitual do estilo narrativo situacional no humor mais macio, brando e sentimental da obra. Não é uma série de gargalhadas, piadas diversificadas ou ironias, mas utiliza a infância incomum de The Rock como uma colagem de histórias atípicas com as temáticas que o próprio ator personificou na sua carreira artística: família, trabalho duro e carisma. O fato de Dwayne Johnson crescer cercado de estrelas da luta livre e futuros atletas renomados do futebol americano, proporcionam mais uma camada de humor bacana à obra: referências – o episódio My Day with Andre é o melhor nesse sentido, nos dando um olhar íntimo para a vida de André, the Giant (Matthew Willig, na sua melhor interpretação do gigante fofo).

Mas o curioso da obra chefiada por Nahnatchka Khan, criadora da ótima sitcom Fresh Off the Boat, reside na unificação desses elementos estéticos e temáticos na proposta de “personagem” da obra. O quão verdadeiros são os fatos descritos na série realmente não importam, pois a narrativa de Khan é desenvolvida de acordo com a movimentação de trama da campanha da premissa presidencial – na verdade, a série faz isso tão bem que não duvido que The Rock tente ser presidente no futuro. Vemos a publicidade de sua persona como artifício narrativo para humor situacional, enredo coming of age e dramaturgia familiar/cultural que esticam e aprofundam um conteúdo promovido pelo ator em seus filmes, entrevistas e redes sociais.

Fragmentar a história em três períodos + a narração/entrevistas “atuais” funciona organicamente na construção narrativa da sua persona através da diversificação, muito bem trabalhada na montagem que entende qual história merece foco, qual época da sua vida irá evocar melhor tema, de acordo com sua mensagem política. Ele quer ser mais empático, se mostrar como uma pessoa normal? Vamos a seu período adolescente cheio de problemas financeiros e besteiras juvenis. Quer ser mais encantador? Vamos à época infantil, quando seu pai, o lutador Rocky Johnson (Joseph Lee Anderson, um contagiante sorriso ambulante), estava no auge e a vida de Dewey era puro deslumbramento. Quer mostrar seu trabalho duro e as voltas por cima? Vemos seu período colegial cheio de decepções com sua carreira profissional de jogador.

E todas elas na mesma ideia de desenvolver a mística de The Rock. A carta de amor à luta livre, seus altos e baixos, especialmente em relação a seu pai, retratado como um eterno otimista e sonhador, em mais uma característica da persona do ator. Toda a piada com as fotos das suas roupas viram um inteiro núcleo narrativo da série, também com referências. Até suas histórias de desapontamento ganham um viés otimista com a justaposição do sucesso posterior. Apesar de ter esse contexto de intimidade e pessoalidade à vida de Dwayne Johnson, não se enganem, Young Rock se constrói como pura propaganda do personagem artístico que o ator criou ao longo de sua carreira.

E, bem, qual é a maior qualidade do The Rock? Carisma. Assim, toda a série ganha essa carona carismática, gentil, até cafona de um jeito gostoso de assistir com o período oitentista, ainda que tenha seus problemas com a falta de um humor mais inteligente e a inexistência de comprometimento com o drama, extremamente superficial. Contudo, como eu disse, Dwayne Johnson está working the gimmick para seu próximo papel: presidente. Logo, Khan constrói uma comédia comercial, desde as entrevistas divertidas – aliás, o entrevistador, Randall Park (WandaVision), é um gênio de timing cômico -, a montagem de contos morais e familiares em diferentes períodos, o humor autorreferente, o contínuo retrato da cultura samoana que o ator faz no audiovisual (MoanaHobbs e Shaw), até o desfecho sentimental com a ficcionalização da realidade. Em um mundo em que Arnold Schwarzenegger e Donald Trump ganharam eleições, por que não Dwayne Johnson? Ele certamente começou sua campanha.

Young Rock – 1ª Temporada | EUA, 16 de fevereiro a 04 de maio de 2021
Criadores: Nahnatchka Khan, Jeff Chiang
Diretores: Jeffrey Walker, Daina Reid, Nahnatchka Khan
Roteiristas: Nahnatchka Khan, Jeff Chiang, Erik Durbin, Erica Oyama, Jen D’Angwlo, Cindy Fang, Patrick Kang, Michael Levin, David Smithyman
Elenco: Dwayne Johnson, Joseph Lee Anderson, Stacey Leilua, Ana Tuisila, Adrian Groulx, Bradley Constant, Uli Latukefu, Matthew Willig, Brett Azar, Nate Jackson, Kevin Makely, Fasitua Amosa, Wayne Mattei, Lexie Duncan, Bryan Probets, Matthew Farrelly, Emmett Skilton, Rosario Dawson, Randall Park, Kenny Smith
Duração: 234 min. (11 episódios)

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