Criada por Darren Star, Younger é uma série de comédia dramática que perdurou sete divertidas temporadas, somando 84 episódios entre 2015 e 2021, com altos e baixos significativos, mas saldo geral positivo. Parte integrante do feixe de produções que refletem o legado e o impacto cultural de Sex and The City, a produção traz a atriz Sutton Foster como Liza Miller, uma mulher na casa dos quarenta anos que precisa se passar por uma jovem de vinte e poucos. Baseado no romance homônimo de Pamela Redmond, a narrativa nos apresenta os desafios habituais de mulheres que ficaram de fora do mercado formal por um longo tempo, para cuidar da família, mas que diante dos sacolejos da vida, precisa retomar sua posição profissional de antigamente, agora, tendo como obstáculos, as mudanças vertiginosas entre as gerações atuais, dominadas por redes sociais, aplicativos e linguagem completamente diferente do contexto da protagonista. Com Andrew Fleming e Peter Lauer como diretores mais proeminentes ao longo das temporadas, a série acerta no formato de 20 minutos em média na duração dos episódios, não entediando os espectadores e estabelecendo situações comuns não apenas na vida das mulheres, mas de qualquer pessoa que precisa lidar com os tantos preconceitos que estruturam as diversas sociedades ao redor do nosso planeta. Perfeita? Não. Mas diante de sua proposta, a produção alcança aquilo a que se propõe: divertir e ironizar conscientemente os temas que aborda.
Diante do exposto, caro leitor, em Younger, acompanhamos a crise da meia-idade da protagonista Liza e sua busca por relevância na era digital, refletindo as inseguranças de uma geração que sente a pressão de se reinventar constantemente. Liza decide reiniciar sua carreira e se reintegrar ao competitivo mundo da publicação em Nova York, no entanto, enfrenta um obstáculo significativo: sua idade. Para contornar, ela decide mentir sobre sua idade, se apresentando como uma jovem de 26 anos. Essa decisão impulsiona a narrativa, gerando situações cômicas e muitas vezes constrangedoras enquanto Liza tenta equilibrar sua nova vida profissional com suas responsabilidades pessoais. Por meio de diálogos espirituosos e situações muito engraçadas, os textos dramáticos da série conseguem abordar assuntos sérios com leveza, criando um equilíbrio que faz seus espectadores rirem enquanto refletem sobre seus próprios desafios. Essa habilidade de amalgamar o humor com temas mais profundos é uma das características da marca registrada das composições ficcionais assinadas por Darren Star.
O uso de diálogos inteligentes e espirituosos é um elemento que contribuiu para o sucesso dessa série, permitindo identificação com o espectador. As piadas que refletem o contexto contemporâneo são perspicazes e muitas vezes revelam as vulnerabilidades e aspirações dos personagens, em linhas de diálogos que não focam apenas em citar aleatoriamente elementos sociais, políticos e culturais da era em que a série está situada, mas na verdade, utilizar tais elementos para permitir que ação se desenvolva. Mesmo que em alguns momentos as subtramas fiquem emperradas, ou noutros, repetitivas, a série oferece um olhar intrigante sobre as pressões sociais que valorizam a juventude, enquanto também aborda temas como a identidade, amor, amizade e o papel das mulheres na sociedade contemporânea. Ao mesmo tempo, a jornada de Liza é marcada por autodescoberta, uma situação comum para muitos adultos que sentem que perderam o controle sobre suas vidas e ambições. O enredo de Liza simboliza a luta de muitos que se sentem presos em suas vidas e buscam uma reinvenção em busca de felicidade e realização, mas no processo, enfrentam consideráveis dificuldades.
Ademais, Younger aborda a dinâmica entre personagens jovens e mais velhos nos ambientes de trabalho, explorando como a competência e a criatividade não estão necessariamente ligadas à idade, o que nos leva ao painel dos personagens de maior destaque, além da protagonista. Na dinâmica sentimental, Liza é colocada para tomar decisões importantes entre dois homens. De um lado, temos Josh (Nico Tortorella), um tatuador mais jovem que se torna o interesse amoroso de Liza após um encontro em um bar. Representando um contraste direto com os homens da vida anterior dela, Josh traz um toque de leveza e espontaneidade a sua vida. A relação deles é um dos principais pontos de tensão da série, pois Liza precisa administrar a diferença de idade cheia de segredos. Na esteira dessa competição amorosa, temos Charles Brooks (Peter Hermann), o chefe de Liza, um homem sofisticado e maduro que representa uma nova possibilidade de amor para ela. Ele é um dos poucos que, eventualmente, começa a questionar a verdadeira idade de Liza, adicionando camadas interessantes ao conflito interno que ela enfrenta. Charles encapsula a ideia de que a maturidade não se relaciona necessariamente à idade, mas à experiência e à visão de mundo. Ele é charmoso, mas também cheio de problemas com o divórcio e a família. Ao longo das duas últimas temporadas, somos colocados para adivinhar com quem finalmente a protagonista vai dar continuidade aos eventos de sua vida pessoal.
Apesar de a jornada pessoal ser um elemento bastante presente em Younger, a maioria de suas cenas se passa nas dinâmicas corporativas de Liza. Por um lado, temos Diana Trout (Miriam Shor), chefe que lhe concede a oportunidade de trabalhar na empresa, uma mulher que passa confiança e poder em sua postura rígida e exigente, mas também tem seus próprios desafios em um ambiente profissional dominado por homens, além de inseguranças na seara amorosa. A dinâmica entre ela e Liza evolui ao longo da série, mostrando a tensão entre ambição e autenticidade. Ao estilo O Diabo Veste Prada, as personagens protagonizam alguns dos melhores momentos no decorrer das temporadas. Para suavizar sua jornada, a heroína conta com a amizade de Kelsey Peters (Hilary Duff), uma jovem determinada, ambiciosa diante da possibilidade de ter uma carreira de sucesso na área editorial e, embora inexperiente, tem um bom instinto para o mundo dos negócios. A amizade entre Kelsey e Liza é uma parte vital da narrativa, pois reflete o apoio mútuo e a vulnerabilidade que as mulheres enfrentam em suas ambições. Tanto com Kelsey quanto com Diana, a protagonista lida com a sororidade como bálsamo em alguns dos momentos mais difíceis de sua empreitada, afinal, até que ponto a mentira inicial vai perdurar? Ainda sobre as personagens femininas, grande parte do cotidiano de Liza é a amizade com Maggie (Debi Mazar), catalisadora de numerosas situações cômicas ao longo dos episódios da produção.
No geral, por meio do riso, a série trata da reinserção das mulheres acima dos 40 anos no mercado de trabalho, um tema que vem ganhando destaque nas discussões sobre emprego e igualdade de gênero. Historicamente, as mulheres enfrentaram diversos desafios dentro do ambiente profissional, e essa situação se agrava à medida que atingem idades mais avançadas. A pressão para retornar ao mercado de trabalho, após anos dedicados à família ou a outras atividades, é uma realidade que muitas dessas mulheres enfrentam. Um dos principais fatores que contribuem para essa pressão é o impacto da maternidade nas carreiras femininas. Muitas mulheres optam por se dedicar a filhos e à administração da casa, acreditando que esse é um papel importante e digno. Entretanto, como ocorre com Liza, essa escolha, muitas vezes, resulta na interrupção involuntária de suas carreiras, dificultando as suas chances de retorno em um mundo dominado por tecnologias que avançam vertiginosamente. Ao retornarem ao mercado de trabalho, elas se deparam com desafios significativos, como a falta de atualizações nas suas habilidades e a desatualização em relação às novas tecnologias, que muitas vezes são exigidas. Depois de tanta dedicação ao casamento, a protagonista descobre uma traição, o vício do marido por jogos, concomitante ao gasto das economias da faculdade da filha na entoca, dentre outras decepções que a fazem se questionar se a dedicação ao lar foi a sua melhor escolha.
Dito isso, temos sete temporadas ao estilo Darren Star: um showrunner influente e bastante reconhecido na televisão contemporânea, notório por sua capacidade de criar dramas e comédias que tratam das complexidades das relações humanas, particularmente dentro do contexto urbano. Um dos traços mais marcantes do estilo de Star é sua capacidade de desenvolver protagonistas femininas fortes e complexas. Em Sex and the City, por exemplo, Carrie Bradshaw, interpretada por Sarah Jessica Parker, é uma colunista que navega pelas tumultuadas águas do amor e da amizade na cidade de Nova York. A representação de mulheres independentes e suas experiências pessoais – incluindo sexo, carreira e amizade – não apenas revolucionou a narrativa da televisão nos anos 1990 e 2000, mas também proporcionou uma voz autêntica e relevante a um público que se via refletido em suas histórias. E como dito, não apenas mulheres, mas outros múltiplos públicos. Esse enfoque em personagens femininas profundas é uma marca registrada do trabalho de Star, que frequentemente desafia estereótipos e explora a complexidade da experiência feminina. Ademais, as produções do realizador e criador também flertam com uma estética visual que desempenha papel fundamental na experiência do espectador. Star tem um gosto definido pela moda e pela produção visual elegante, muitas vezes incorporando cenários urbanos que servem como personagens em suas narrativas.
Younger: A Série Completa (Idem/EUA, 2015-2021)
Criação: Darren Star
Direção: Linda Mendoza, Stacey Muhammad, Shea William Vanderpoort
Roteiro: Tracy Oliver, Jessica Watson, Aeryn Michelle Williams, Alisha Cowan
Elenco: Sutton Foster, Debi Mazar, Hilary Duff, Miriam Shor, Nico Tortorella, Molly Bernard, Peter Hermann, Charles Michael Davis, Dan Amboyer, Thorbjørn Harr, Paul Fitzgerald, Mather Zickel
Duração: 84 episódios (25 minutos)