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Crítica | Yves Saint Laurent

por Gabriela Miranda
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O filme começa com ares de nostalgia com uma cor empalidecida e romântica. Entramos no quarto do estilista e vemos os croquís pregados por toda a parte. Yves é um rapaz gentil de fala mansa, que se mostra ágil e determinado quando se trata de idealizar uma roupa. A sexualidade dele é bastante abordada e consequentemente os relacionamentos amorosos dele vão, de certa forma, afetar o decorrer das fases artísticas dele.

Eu já acompanho a carreira de Pierre Niney desde Românticos Anônimos e sem dúvida essa é a melhor atuação dele até hoje. Ele tem formação em comédia e se você sabe fazer comédia sabe fazer drama como ninguém. No elenco, Guillaume Gallienne também possui formação na escola francesa de comédia. Ambos estão caracterizados física e gestualmente de maneira impecável, até mesmo a modulação da voz guarda semelhança crível. Não reconhecemos os atores, vemos os personagens. Isso é muito difícil quando se trata de incorporar trejeitos de figuras públicas.

Um filme não tem a pretensão de condensar uma vida inteira em 106 minutos, mas essa biografia contada a partir dos olhos do amante e sócio de Laurent consegue pontuar bem os altos e baixos dessa personalidde da moda francesa, assim como retratar a contextualização dos bastidores para as criações YSL.

Ainda sob a tutela de Dior ele segue a vertente romântica e clássica associadas à demarcação de silhuetas ditando o tom de forma de ampulheta feminina. Logo adiante quando assume a marca mantém esse adequamento ao estilo da grife Dior, já alguma neutralidade de cores, mas nada que simulasse o próximo passo quando inaugura o próprio atelier. Nesse momento ele ainda vive um dilema com a sexualidade.

Com uma narrativa bem poética, os diálogos são substanciais e presentes quando necessário. Mas algumas das cenas mais impactantes são aquelas em que o silêncio assume a forma de comunicação mais sutil. Pela troca de olhares percebemos o vínculo que se formou entre Yves e Pierre Bergé, nenhum contato físico foi preciso para apontar a aproximação deles na cena da piscina, a cumplicidade estava no olhar e o mergulho simboliza a oficialidade da relação, a entrega.

O diagnóstico de maníco-depressão é um turning point do filme. Ele parte para uma segunda fase artística, a primeira verdadeiramente autoral, que ressignificou o senso de sofisticação e elegância. Ele se afasta do mentor e cria a própria marca, com Pierre à frente da parte administrativa. Nesse contexto, Yves é tomado por incertezas e as fragilidades são acentuadas.

A próxima criação destacada no filme é a coleção Mondrian, um novo ponto de ruptura, a década do amor livre, das drogas. Uma busca desenfreada por compensar o tempo de dedicação à moda desengata em um Yves descompensado,e essa é a fase mais intensa da interpretação de Pierre Niney. É quando identificamos visivelmente um paralelo entre onde ele partiu e aonde chegou no desenvolvimento do personagem. E o choque entre os dois causa a ebulição de cenas com ritmo mais acelerado e ações mais espontâneas. Cores mais escuras e brilhantes tomam a tela.

 Advém disso o início da moda como atitude social política, Yves antes tímido começa a se posicionar ativamente e isso transborda para o trabalho de YSL. O tempo todo no filme são feitas referências culturais e artísticas, uma simbiose que toma conta do que é produzir arte e impossibilita separar em moda, pintura, música. Da mesma forma, existe uma conexão ininterrupta entre a vivência pessoal do artista design e a obra dele.

Yves Saint Lourent (França, 2014)
Diretor: Jalil Lespert
Roteiro:  Jalil Lespert, Marie-Pierre Huster, Jérémie Guez, Jacques Fieschi, Laurence Benaim
Elenco: Pierre Niney, Guillaume Gallienne, Charlotte Le Bon, Laura Smet, Nikolai Kinski
Duração: 106 min.

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