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Crítica | Um Estudo em Negro e O Monstro da Filadélfia (Zagor #605 e 606)

por Luiz Santiago
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Durante os discursos raivosos de Helligen em A Ressurreição, tivemos uma breve citação a Edgar Allan Poe, a quem Zagor e Chico já haviam encontrado e sabiam ser um dos agentes do Complexo de Altrove. Na presente história, que se passa pouco depois da publicação de A Narrativa de Arthur Gordon Pym (portanto, no segundo semestre de 1838), temos a presença do famoso escritor americano ao lado do protetor de Darkwood e de seu amigo barrigudo, um tipo de aventura bastante incomum para Zagor, dado o ambiente em que ocorre, mudando toda a condução narrativa a que estamos acostumados para o personagem.

O roteiro de Moreno Burattini explora elementos dos contos policiais de Poe (com notas maiores vindas de O Mistério de Marie Rogêt) mas a colocação dos personagens como uma espécie de “coletivo Dupin” não se prende a um único gênero dramático. O horror, o mistério e a atmosfera amedrontadora das histórias envolvendo marinheiros e navios tomam o arco e são engrossadas pelo mistério que ronda Poe e o deixa mais perturbado do que já é, bebendo em demasia e amargando uma culpa que, na verdade, não tem.

O escritor está às voltas com a presença de um serial killer na Filadélfia, alguém que mata suas vítimas e depois devora parte de seus corpos, numa espécie de rito canibal. A ligação com uma parte do livro Arthur Gordon Pym torna a mescla entre ficção e realidade ainda mais interessante, porque Poe revela que esse pedaço específico de seu livro era baseado em uma história real que ele ouvira de um náufrago chamado Reynolds, o homem que o artista suspeita estar matando e devorando pessoas na cidade.

Os desenhos de Fabrizio Russo me fizeram lembrar um pouquinho de Dampyr aqui. A finalização carregada, as sombras, o forte contraste no ambiente da periferia da cidade, a sujeira do lugar e os detalhes macabros dos crimes — e também das memórias ou narrativas no meio da aventura — acrescentam boas pitadas de macabro no enredo, dificultando a investigação e deixando Zagor um tantinho desconfortável, porque esse não é o cenário que ele está acostumado a agir e nem o tipo de problema que ele está acostumado a ajudar resolver.

Um Estudo em Negro e O Monstro da Filadélfia formam um pequeno arco-homenagem de Zagor, mais uma vez ao lado de um dos ícones da literatura americana. É uma história sombria desde a sua origem, no passado dos marinheiros, e que mostra o quanto alguém com um distúrbio mental pode se segurar por bastante tempo, até que finalmente a sua doença venha à tona… e espalhe o horror por onde este alguém passar.

Zagor #605 e 606: Um Estudo em Negro e O Monstro da Filadélfia  (Un Studio in Nero e Il Mostro Di Philadelphia) — Itália, dezembro de 2015 e janeiro de 2016
Roteiro: Moreno Burattini
Arte: Fabrizio Russo
Capas: Gallieno Ferri
155 páginas

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