Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Zaratustra: O Mensageiro de Deus da Antiga Pérsia

Crítica | Zaratustra: O Mensageiro de Deus da Antiga Pérsia

O caminho da obediência e da luz.

por Luiz Santiago
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O Zoroastrismo (ou Masdeísmo) considera Ahura Mazda como seu deus único e supremo, o grande criador e o guia da batalha constante contra a entidade maléfica Ahriman (ou Angra Mainyu), um espírito destrutivo e caído, sem luz, desde o início dos tempos. Ahura Mazda conta com a ajuda de suas criações, os imortais sagrados chamados Amesha Spenta, que são seis espíritos divinos. Um sétimo Ser, chamado Spenta Mainyu, é um representante da vontade de Ahura Mazda, o seu “Espírito Santo”. A dualidade entre o bem e o mal, o uso do livre arbítrio, das boas ações para a conquista de um Paraíso e a existência de um Juízo Final são alguns dos elementos dessa religião, que é uma das crenças monoteístas de caráter ético mais antigas do mundo, tendo surgido por volta de 1400 a 1200 a.C. na Pérsia, atual Irã.

A editora indiana Amar Chitra Katha publica desde os anos 1960 quadrinhos baseados em histórias de deuses, de personagens ou personalidades indianas e asiáticas e de eventos históricos ou lendas e mitos da cultura hindu. Foi diante dessa proposta que, em 1974, produziram essa HQ sobre Zoroastro (ou Zaratustra, como acabou sendo bem mais conhecido, especialmente após o lançamento de Assim Falava Zaratustra, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche), o criador dessa religião. É interessante notar que existe uma relação histórica entre o Zoroastrismo e alguns braços de religiões hindus. Aliás, o estabelecimento de populações na região da Pérsia e outras partes da Mesopotâmia, assim como costumes e crenças de povos dessa região derivam de grupos que vieram da Índia e que, com aquela região, mantiveram contato por muito tempo.

O roteiro de Bachi Karkaria é bastante didático na forma como narra a vida desse líder religioso. A primeira parte do quadrinho é dedicada a um contexto histórico, falando das guerras que tomaram conta da Pérsia por muitos anos e como o nascimento de Zaratustra veio como um marco, separando esta Era de uma outra que estava por vir, a partir das luzes do bem, lançadas pela palavra e preceitos recebidos de Ahura Mazda. Em todos os sentidos, trata-se de um quadrinho didático, portanto, acaba não sendo muito diferente de obras como A Bíblia Kingstone: O Princípio ou Gênesis de Robert Crumb, só para citar dois exemplos de abordagem religiosa similar nessa mídia. Nesses casos, o texto não se afasta muito daquilo que o público conhece da História ou das escrituras da religião retratada. É diferente, por exemplo, de um quadrinho como Noé (2014), que se permite interpretações, uso de metáforas e escolhas inesperadas na maneira como retrata determinado contexto ou conceito sagrado.

O bom é que se trata de um quadrinho muito rápido de ler e com uma linguagem bastante acessível. O autor coloca um pouco de intriga palaciana para tornar a vida de Zaratustra mais interessante, inclusive mostrando alguns milagres inesperados que ele acabou fazendo quando era bebê, livrando-se da ira e inveja de um sacerdote-feiticeiro local, que via naquela criança, que já nasceu com uma promessa de grandeza, uma verdadeira ameaça. A arte de Ram Waeerkar não é nada que chame a atenção ou mereça qualquer tipo de destaque por grande qualidade estética, mas é boa o bastante para demonstrar de forma aceitável a jornada desse indivíduo misterioso sobre o qual ainda hoje se especula muito.

Para quem não conhece muito sobre o Zoroastrismo e tem preguiça de começar uma pesquisa a respeito, este é um quadrinho que pode servir de porta de entrada, porque fala tanto da vida pessoal do fundador como de algumas ideias centrais da religião. A forma como os autores resolveram finalizar a obra, infelizmente, acabou não sendo das melhores. Ela não contribui para formar uma boa impressão geral a respeito da revista. Ao retratar o assassinato de Zaratustra, aos 77 anos (vejam que é uma idade bastante simbólica), o texto simplesmente acaba, sem nenhum tipo de elegância ou senso de continuidade para “acalmar” a atmosfera narrativa após um ponto tão importante como este. Zaratustra: O Mensageiro de Deus da Antiga Pérsia é um quadrinho que serve como apresentação simples e genérica de uma religião e de um personagem histórico, mas que evidentemente tem seus problemas de concepção.

Zaratustra – O Mensageiro de Deus da Pérsia Antiga (Zarathushtra – God’s Messenger from Ancient Persia) — Índia, 1974
Editora original:
Amar Chitra Katha
Roteiro: Bachi Karkaria
Arte: Ram Waeerkar
Editoria: Anant Pai
35 páginas

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