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Crítica | Zé Carioca: Histórias de Carnaval – Parte 1

Zé Carioca e os seus muitos carnavais...

por Luiz Santiago
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Neste compilado de histórias, trago uma porção de aventuras protagonizadas pelo nosso brasileiríssimo Zé Carioca, todas se passando durante as festividades de Carnaval ou em eventos que simulam o Carnaval. Está presente aqui uma história dos quadrinhos Disney dos Estados Unidos, datada de 1942, e oito histórias dos quadrinhos Disney do Brasil, datadas de 1973 a 1985. E aí, foliões, já leram alguma dessas aventuras do malandro papagaio da Disney? Preferem as aventuras de Carnaval mais antigas ou as mais recentes? Deixe os seus comentários ao final da postagem!

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O Rei do Carnaval

Versão original e versão reformulada e colorida da aventura.

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Toda a malandragem, toda a malemolência, toda a sagacidade do senhor Zé Carioca pode ser vista aqui nesta clássica e curta história publicada originalmente nos Estados Unidos, no ano de 1942. Escrita e desenhada por Carl Buettner, O Rei do Carnaval mostra um “dia comum” na vida do safo papagaio. Ele acorda com um “despertador incomum” e começa o seu dia com um belo banho numa fonte, depois faz um café da manhã caprichado passando a mão em alguns amendoins e lê o jornal de uma maneira bem clandestina. É assim que descobre a chegada da dançarina Lola à cidade do Rio de Janeiro e, com isso, começa a sua saga para encontrar a bela que o encantou.

Toda a trama dialoga com o cotidiano despreocupado (em termos de trabalho), mas bastante agitado do Zé, que vai perseguir uma ideia fixa, tentando entrar de penetra na festa e se metendo em confusões que poderiam ser evitadas se ele ficasse quieto. A comicidade explorada por Buettner está nesse constante movimento do personagem e na ironia quase trágica do final da história. Zé não tem um momento de paz e, quando acontece algo legal em sua vida, ele é forçosamente retirado de cena e perde algo que poderia lhe ajudar por completo dali por diante. Não tem como não ver a cara de inúmeros brasileiros nesse personagem, do “jeitinho” que ele arruma para tudo, à curtição do bailinho de Carnaval, à paixão à flor da pele e ao azar social que parece nunca desencostar dele.

Zé Carioca: O Rei do Carnaval  (The Carnival King) — EUA, dezembro de 1942
Código da História: W WDC  27-15
Publicação original: Walt Disney’s Comics and Stories nº 27
Editora original: Dell
No Brasil: O Pato Donald #8 (Abril, 1951), Almanaque Disney de Carnaval 1 (Abril, 1982), Seleção Disney 33 (Abril, 1991), Zé Carioca 70 Anos 1 (Abril, 2012) e O Melhor da Disney 1 (Abril, 2018).
Roteiro: Carl Buettner
Arte: Carl Buettner
Capa original: Dan Noonan (?)
12 páginas

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Um Paulista na Corte do Rei Momo

Eis aqui outra realidade com a qual é perfeitamente fácil de se identificar. Historinha brasileira de apenas 5 páginas, escrita por Ivan Saidenberg e desenhada por Renato Vinicius Canini, Um Paulista na Corte do Rei Momo fala da chegada de Zé Paulista, primo do Zé Carioca, à cidade do Rio de Janeiro, três dias antes do Carnaval. É uma aventura de adaptação de um visitante a um lugar onde chega (aparentemente) pela primeira vez. O pobre do papagaio paulista é jogado diretamente no agitado ritmo cotidiano do Zé Carioca, de Nestor, de Pedrão e outras figurinhas carimbadas da sempre movimentada Vila Xurupita.

Mas Zé Paulista é esperto e gosta da folia. A maneira como se dedica a aprender o tamborim e integrar o grupo Zé Momo e Seus Tamborins mostra que o desafio para coisas intensas está mesmo no sangue da família. Não gosto muito do final da história —  bem, não tanto quanto gosto de seu desenvolvimento –, mas o que temos nessa parte é algo esperado para esse tipo de trama mais curta. De toda forma, é um final feliz, com o grupo mais humilde vencendo um desafio carnavalesco de peso, tudo no ambiente de Carnaval, o que é ainda mais interessante, colocando o Zé longe da festa mais enlatada, mais corporativa, midiática e embrulhada para exportação. No fim, esta parece uma ode ao bom, velho e humilde Carnaval de rua!

Zé Carioca: Um Paulista na Corte do Rei Momo — Brasil, 23 de fevereiro de 1973
Código da História: B 72090
Publicação original: Zé Carioca #1111 (posteriormente publicada nas seguintes edições: Edição Extra 139, Edição Extra 178, Zé Carioca 2276, Disney Big 3 e Disney de Luxo 9)
Editora original: Editora Abril
Roteiro: Ivan Saidenberg
Arte: Renato Vinicius Canini
Capa original: Waldyr Igayara de Souza
5 páginas

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Alegria de Carnaval

Essa história me enganou bastante, logo no comecinho. Quando o Zé Carioca aparece na porta da Maga Patalójika para pedir uma ajudinha mágica, meu sensor de alerta e animação foi ligado no máximo. Afinal, uma trama de Carnaval com Zé e sua turma em Patópolis, desfilando contra uns tais de ‘Acadêmicos Pernetas’ me pareceu algo interessante e imperdível. A ajuda pedida pelo Zé, nesse caso, era uma resposta à sacanagem feita pelos ‘Acadêmicos’, que contrataram a bruxa Madame Min para fazer com que eles vencessem o desfile, um evento que contaria com a ilustre presença do Tio Patinhas. Ou seja, muita coisa interessante numa história de folia, o que poderia gerar boas confusões e boas interações entre esses personagens que não se encontram assim tão facilmente! Pena que tudo ficou mesmo na vontade…

Confesso que foi divertido ver a preparação para o desfile e a feitura da poção de Patalójika, assim como a interação que ela teve com Min. Porém, o foco da narração foi alterado para a execução do sonho da Maga em pegar a moedinha número um do bolso de Patinhas, ou seja, o desfile — que deveria ser a coisa mais importante da trama –, acabou sendo apenas uma exposição de piadinhas fracas no final da narrativa. A fixação de Patalójika entrou em cena com o autor resolvendo a trama com a ideia de “feitiço virando contra o feiticeiro”… ou algo perto disso. Não acho que foi um final exatamente ruim, mas com certeza foi bem abaixo do que a própria história se organizou para entregar. Uma pena.

Zé Carioca: Alegria de Carnaval — Brasil, 22 de fevereiro de 1974
Código da História: B 73282
Publicação original: Zé Carioca #1163 (posteriormente publicada nas seguintes edições: Almanaque Disney de Carnaval 1, Zé Carioca 2356, Disney de Luxo 16)
Editora original: Editora Abril
Roteiro: Júlio de Andrade
Arte: Renato Vinicius Canini e Sérgio Lima (apenas os patos)
Capa original: ?
8 páginas

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O Roubo da Coroa do Rei

É claro que não poderia faltar uma história de superação entre essas aventuras do anos 1970, não é mesmo? Com um roteiro simpático, escrito por Ivan Saidenberg, O Roubo da Coroa do Rei mostra um pouquinho do submundo de Vila Xurupita, contando a história de como a coroa de latão que seria utilizada por Pedrão foi roubada… poucas horas antes de o desfile de Carnaval acontecer. A notícia pegou todo mundo de surpresa e entristeceu o grupo, que não tinha mais tempo para moldar uma nova coroa — e a comissão não aceitaria coroas de papelão. Quem traz uma ótima ideia para a resolução do caso é Rosinha, pensando em uma armadilha para pegar os gatunos que, na verdade, roubaram a coroa para favorecer um candidato próprio ao posto de Rei Momo do bairro.

É impressionante como em histórias bem simples, como esta, o texto consegue nos engajar a tal ponto que a gente passa a torcer fervorosamente pelos personagens. Ficamos tensos quando Jair está construindo a coroa; odiamos o Ratão pelo que ele está fazendo ao grupo do Zé Carioca e comemoramos o resultado final da porradaria, quando o plano de Rosinha se mostra certeiro. Aliás, o uso da coroa amassada e das roupas esfarrapadas para a criação de um original ‘Rei Momo da Sucata’ foi uma ótima ideia. Como sempre, nas histórias do Zé, a gente começa a fazer comparações com coisas relacionadas ao Brasil, e não dá para evitar de pensar que isso também tenha passado na cabeça do roteirista. A colocação de ingredientes da resiliência brasileira (na verdade, vejo esse tipo de postura em qualquer povo subjugado, pelo mundo afora!), o flerte com um povo que consegue fazer coisas novas, interessantes e transformadoras com sobras, reforçam a ideia geral de narrativa de superação e tornam o final da história até emocionante, em certa medida.

Zé Carioca: O Roubo da Coroa do Rei — Brasil, 4 de fevereiro de 1977
Código da História: B 760293
Publicação original: Zé Carioca 1317 (posteriormente publicada nas seguintes edições: Almanaque Disney de Carnaval 1, Zé Carioca 2356, Disney de Luxo 9)
Editora original: Editora Abril
Roteiro: Ivan Saidenberg
Arte: Renato Vinicius Canini
Cores: Noriko Asoo
Letras: José Luiz T. Pinto
Capa original: ?
7 páginas

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O Sucessor

Frases como “Roma não foi engordada em um dia” e “acho que ele não sabe ser gordo!” são coisas simples que me arrancaram boas risadas nessa história brasileira lançada em 1979. Não temos um crédito para o roteiro, mas a arte é de Carlos Edgard Herrero, e seus traços arredondados combinam muitíssimo bem com o objetivo central dessa aventura, que tem seu problema inicial apresentado quando Pedrão afirma que não poderá participar do desfile do ano, porque terá que fazer uma visita inadiável a uma tia. Isso deixa todo mundo preocupado, mas a turma passa a buscar um substituto para o Pedrão. E a conclusão a que chegam vai ser ao mesmo tempo engraçada e inesperada. Na falta de encontrar alguém do grupo que fosse gordo o bastante para fazer o papel de Rei Momo, Zé Carioca se oferece para engordar e assumir o posto.

Fico imaginando uma história dessas nas mãos de uma pessoa problematizadora bem chata. O fato de ter gente gorda no enredo, de ter um verdadeiro “regime de engorda” e a caracterização de um personagem carnavalesco que precisa ser gordo pode gerar certas discussões desnecessárias. E não, eu não estou negando em momento algum que existam, de fato, preconceitos relacionados às pessoas gordas e que, diante do padrão de beleza de nossa sociedade, há muito mais questões ligadas a esse tipo de corpo grande que devem ser discutidas — mas dentro de um contexto sociológico, de saúde alimentar e de saúde pessoal que lhe faça sentido. Ocorre que, para algumas pessoas, qualquer menção à óbvia constituição física gorda de alguém já é interpretada como gordofobia e afins. Por isso disse que, uma história dessas nas mãos de gente que simplesmente ficou louca na problematização, pode gerar altos discursos. A história, no entanto, é muito engraçada, especialmente no final, quando o Zé não consegue nem andar, com suas perninhas gordas que se movem mas não o tiram do lugar. Eu gargalhei. Um perfeito Rei Momo!

Zé Carioca: O Sucessor — Brasil, 16 de fevereiro de 1979
Código da História: B 770264
Publicação original: Zé Carioca 1423 (posteriormente publicada nas seguintes edições: Almanaque do Zé Carioca – 1ª Série)
Editora original: Editora Abril
Roteiro: ?
Arte: Carlos Edgard Herrero
Capa original: ?
7 páginas

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Carnaval em Patópolis

Uma das melhores histórias escritas por Ivan Saidenberg e uma das melhores do Zé Carioca no meio da folia, Carnaval em Patópolis reúne um número enorme de personagens centrais da Disney que estão simplesmente brincando Carnaval, curtindo o baile a fantasia, aproveitando a festa financiada pelo Tio Patinhas do Pratinhas Hotel. Nessa história, o quaquilionário dá uma tarefa muito importante para Donald e Peninha: eles precisam encontrar alguém que entenda muito de Carnaval para fazer a melhor e maior festa de Patópolis. Isso tudo porque Patacôncio desafiou Patinhas para ver quem daria o melhor baile carnavalesco da cidade, e o famoso ricaço não quer ficar para trás. Há quem possa reclamar que a participação do Zé Carioca e amigos aqui não seja tão grande, mas convenhamos que todos os personagens nessa história têm o seu espaço em cena.

O Zé atua aqui como conselheiro e, desde o momento em que chega a Patópolis, aparece fazendo alguma, às vezes com muitos diálogos, outras vezes com poucas observações. Acredito que o autor conseguiu equilibrar muito bem toda essa gente e, ainda por cima, conseguiu fazer uma ótima história detetivesca, com o chatão do Mickey indo à festa apenas porque achava (com razão, aliás) que o Mancha Negra estaria lá para roubar joias. O momento de revelação, a confusão de personagens com suas fantasias similares (a dos Irmãos Metralha foi maravilhosamente irônica e me fez rir bastante) e a ideia de ciclo, com Donald e Peninha trabalhando como fotógrafos enquanto todo mundo se esbaldava no baile, são detalhes que merecem destaque. Tirando uma correria no final e uma forma bobinha de apresentar as vencedoras do concurso de fantasias, como um “caminho para o encerramento” do enredo, temos aqui uma trama azeitada e muito divertida de se ler.

Zé Carioca: Carnaval em Patópolis — Brasil, fevereiro de 1982 (criada em setembro de 1981)
Código da História: B 810236
Publicação original: Almanaque Disney de Carnaval 1 (posteriormente publicada nas seguintes edições: Seleção Disney 11, Superalmanaque Disney 27)
Editora original: Editora Abril
Roteiro: Ivan Saidenberg
Arte: Euclides K. Miyaura, Roberto O. Fukue
Capa original: Napoleão Figueiredo (arte-final)
15 páginas

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Viva Eu, Viva O Entrudo!

Aqui vale um pouquinho de contexto histórico para começar. O “entrudo” do título é um termo que designa o antigo Carnaval de rua no Brasil. Eram festas e brincadeiras de rua, protagonizadas pelos escravos, que ocorreram aqui no Brasil a partir da década de 1640, na cidade do Rio de Janeiro. Trata-se, portanto, de uma prática originalmente portuguesa (no formato que conhecemos, claro), datada mais ou menos dos anos 1200 e que flertava com comemorações ainda mais antigas (do paganismo romano), e era realizado nos três dias anteriores à Quaresma. Nessa festa, segundo definição enciclopédica, “os foliões arremessavam baldes de água, limões de cheiro, ovos, tangerinas, pastelões, luvas cheias de areia, golpeavam-se com vassouras e colheres de pau e se sujavam com farinha, gesso, lama, urina, etc.“. Basicamente uma abertura de alas para o que viria ser o Carnaval.

E Ivan Saidenberg acerta mais uma vez, aliás, com uma ideia sensacional para uma história de Carnaval! Ele não só resgata essa histórica festividade luso-brasileira, como também faz uma excelente retratação dela, considerando o tipo de história que ele precisava contar e o tipo de personagem que tinha para viver as situações do Entrudo. Zé Carioca está fugindo de seus cobradores de dívidas, e toda a marcha do quarteto da ANACOZECA (Associação Nacional dos Cobradores do Zé Carioca) em busca do pobre papagaio se dá com base em trechos de marchinhas e músicas conhecidas de Carnaval, mas com algumas palavras trocadas para algo relacionado à questão monetária. Novamente temos algumas rusgas na reta final, mas tudo aqui é tão charmoso e divertido (como se esquecer do Zé disfarçado de baiana e correndo levantando o vestido?), com um uso tão bem pensado da música a favor da missão dos cobradores, que dá facilmente para passar por cima dos probleminhas de resolução e curtir o final.

Zé Carioca: Viva Eu, Viva O Entrudo! — Brasil, 4 de fevereiro de 1983 (criada em março de 1982)
Código da História: B 820124
Publicação original: Zé Carioca 1631 (posteriormente publicada nas seguintes edições: Edição Extra 178, Zé Carioca 2441)
Editora original: Editora Abril
Roteiro: Ivan Saidenberg
Arte: Roberto O. Fukue
Capa original: Napoleão Figueiredo (arte-final)
8 páginas

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O Baile de Carnaval

Quero começar dizendo que eu gosto muito dos desenhos de Euclides K. Miyaura e que, nessa historinha, o estilo deu uma cara toda especial ao que se está narrando. Nesse compilado, já tivemos uma outra participação desse artista (em Carnaval em Patópolis), mas o fato de dividir a arte com Roberto O. Fukue (que tem um estilo bem diferente) acabou gerando um resultado híbrido. Bom, é verdade. Mas não tanto quanto a arte solo desses dois artistas, especialmente Miyaura. Ele destaca bem o lado humilde do Zé Carioca, com quadros que exibem onde o papagaio está e, a partir dessas referências visuais, reforçando o fato que gera o conflito dessa aventura: ele não tem nenhum dinheiro, mas quer muito ir para um baile de Carnaval.

Dá para fazer uma leitura bem legal sobre as relações de amizade entre Zé e Pedrão, assim como a ética deste último, que mesmo sendo amigo do papagaio espertalhão, cumpre seu dever e não o deixa entrar sem convite. Essa, na verdade, é parte da ótima briguinha que acontece entre os dois, pois o verdinho utiliza dos meios mais distrativos para conseguir enganar o amigo e entrar no baile, mas é barrado… até que uma ideia final o coloca para dentro do recinto. É uma história bastante simples, com uma sequência de ação e correrias de Zé Carioca e um encerramento que mostra que quem “apanha” nunca esquece.

Zé Carioca: O Baile de Carnaval — Brasil, 17 de fevereiro de 1984
Código da História: B 770253
Publicação original: Zé Carioca 1685 (posteriormente publicada nas seguintes edições: Zé Carioca 1847, Zé Carioca 2332)
Editora original: Editora Abril
Roteiro: ?
Arte: Euclides K. Miyaura
Capa original: ?
6 páginas

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Delícia de Carnaval

Pegando uma ideia básica e fazendo algo no ramo da “comédia dos erros”, Gérson Luiz Borlotti Teixeira consegue um elogiável resultado com essa história, onde Zé Carioca e Nestor se metem em uma situação cada vez mais difícil de sair, e tudo para conseguirem um Carnaval livre dos caras da ANACOZECA (de novo!). De todo o compilado, esta é a única história em que realmente não há uma folia de Carnaval em cena, mas trata-se, sim, de uma história de Carnaval, pois a festividade está acontecendo na avenida e tudo o que Zé e Nestor fazem é para conseguir curtir a festa sem anacozecos atrapalhando. No início, o papagaio caloteiro irrita o amigo Nestor porque está indo para um acampamento na praia, em plena festividade de Carnaval. Eu confesso que também estranhei isso, até que o espertalhão revelou o plano e tentou fazer com que desse certo… o que obviamente não acontece.

Se em Viva Eu, Viva O Entrudo! tivemos uma constante troca de identidades e se em Carnaval em Patópolis a confusão das fantasias geraram ótimas cenas cômicas, aqui em Delícia de Carnaval o autor coloca essa variação de personalidade na dupla protagonista, que precisa se vestir de mulher para fugir dos cobradores, e passam mais da metade da história trocando perucas e nomes, gerando situações muito boas. Nesse ano da história, infelizmente, os dois amigos não conseguem chegar a tempo de pular carnaval, e esse parece o “troco” que recebem do Universo por todos os calotes e correrias que deram nos últimos anos. Uma história de Carnaval diferente e muito bem construída, mostrando que um dia também é o dia do caçador. Dessa vez, o azar falou mais alto para o Zé Carioca.

Zé Carioca: Delícia de Carnaval — Brasil, fevereiro de 1985
Código da História: B 830189
Publicação original: Edição Extra 163
Editora original: Editora Abril
Roteiro: Gérson Luiz Borlotti Teixeira
Arte: Roberto O. Fukue
Capa original: Napoleão Figueiredo (?)
8 páginas

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Doutor em Folia

Tem um ditado popular bastante interessante que diz: “quando a esmola é grande, o cego desconfia“. No caso dessa história, originalmente publicada em 1985, a “esmola” é uma nota de dinheiro que o vento traz para o Zé Carioca justamente no momento em que ele reclamava que não tinha dinheiro nenhum. O desenvolvimento da trama irá fazer com que o personagem questione a procedência dessa grana, e inclusive a chame de “dinheiro de encruzilhada” (vale aqui uma necessária contextualização para o Brasil dos anos 1980. Note que, nessa mesma trama, Nestor diz ao Zé que “a coisa está presta“, ou seja, são usos de termos e vocábulos amplamente utilizados e nunca questionados à época. Pelo menos não questionados de maneira aberta, crítica e com um chamado à reflexão, como é feito hoje). O fato é que o breve momento de sorte, ao “achar” a nota, termina trazendo dor de cabeça para o personagem.

É muito engraçado ver Nestor “fazendo as contas” para ver quantos avôs e quantas histórias de origem o Zé conta sobre sua família. É o típico comportamento do malandro e mentiroso papagaio, que está sempre procurando um caminho para justificar esta ou aquela ação, e isso sempre é acompanhado de um novo contexto, conforme vem à sua mente. Lembremos que a memória do personagem não é lá essas coisas. Em Delícia de Carnaval, também lançada em 1985, ele inventou um nome para ele e Nestor, quando se disfarçaram de mulher, e depois não conseguiu se lembrar dos nomes. O mesmo aconteceu com a cor das perucas. Ou seja, o papagaio vai jogando conforme o vento lhe traz inspiração, o que sempre gera brigas e confusões ao seu redor. O roteiro aqui também é sagaz ao fazer uma confusão de intenção diante da frase “isso é um assalto!“, arrumando as coisas temporariamente para, logo em seguida, trazer ainda mais azar para a dupla, no ensaio de uma escola de samba. Pois é… nem sempre o dinheiro traz felicidade.

Zé Carioca: Doutor em Folia — Brasil, fevereiro de 1985
Código da História: B 820176
Publicação original: Edição Extra 163 (posteriormente publicada em: Zé Carioca 2251)
Editora original: Editora Abril
Roteiro: ?
Arte: Ernesto Y. Miyaura (?)
Capa original: Napoleão Figueiredo (?)
8 páginas

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