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Crítica | Zoolander 2

por Guilherme Coral
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estrelas 3

Quinze anos após o lançamento de Zoolander, recebemos sua continuação, o modelo mais estúpido da história está de volta às telonas, mas terá sido essa uma boa escolha? Reviver um personagem que grande parcela das gerações mais novas talvez não conheçam? Justamente com essa questão em mente, Ben Stiller reintroduz Derek Zoolander em um cenário de conflito de gerações, colocando o “velho mundo” contra o novo, alterando o foco de sua sátira da indústria da moda para as manias e hábitos dos jovens de hoje em dia – indo da necessidade absurda de tirar selfies até a moda hipster exagerada.

Os primeiros minutos do longa nos dão a clara impressão de que entramos na sala errada do cinema. Uma perseguição está em curso, uma figura desconhecida, com consideráveis habilidades acrobáticas é perseguida por um grupo de motoqueiros de preto. Após deixar um sinal seguimos para uma série de notícias, nas quais descobrimos que Derek (Ben Stiller) está vivendo em reclusão após um terrível acidente que destruiu seu centro de aprendizado, construído ao fim do filme anterior – dois dias após a inauguração – ter sido a causa da morte de sua esposa. Seu auto-exílio, contudo, é interrompido quando o ex-modelo é chamado novamente para as passarelas.

O que talvez seja mais interessante em Zoolander 2 é a forma como o caráter de continuação não é forçado dentro da narrativa. Sentimos efetivamente como se esse fosse um novo capítulo da vida do protagonista, há uma continuidade orgânica que torna fácil de acreditar que não se trata apenas de uma obra visando apenas o lucro. O roteiro ainda sabe aproveitar as vigentes ondas cinematográficas, roubando elementos dos filmes de super-herói – a própria aposentadoria e retorno de Derek parece ter sido tirado das páginas de O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller. A clássica narrativa do “escolhido” também se faz presente e garante um tom mágico à obra que somente fora aproveitado nos minutos finais de seu predecessor.

Esse caráter fantasioso aos poucos vai ganhando mais espaço dentro do filme, como se o roteiro aos poucos fosse se dando mais liberdade. O que inicia como uma conspiração se torna uma total e completa viagem alucinante, a comédia do absurdo adquire um novo nível, ao ponto de nos deixar sem saber o que achar da obra ao término da sessão. Apesar de sabermos que Stiller fora um pouco longe demais, não podemos deixar de reconhecer um dos maiores trunfos desta continuação: ela é essencialmente diferente do original, conta com identidade própria e não é apenas uma repetição do que já vimos. Algumas piadas, sim, referenciam situações do primeiro, mas isso é feito de forma bastante bem humorada, construindo novas risadas e não trazendo de volta as antigas.

Daquilo que é trazido de volta, contudo, aquilo que mais continua a ser um ponto alto do filme é a química entre Stiller e Wilson, que conseguem nos passar a nítida impressão que são amigos de longa data (naturalmente, a amizade dos dois fora das telas ajuda consideravelmente). Além disso, assim como o original, Zoolander 2 conta com inúmeras pontas, algumas das quais criarão risadas certeiras no espectador, especialmente a aparição de dois astros do rock.

Nem tudo, porém, são flores. Alguns dos defeitos mais gritantes do primeiro permanecem aqui na continuação, especialmente a forma como retrata as mulheres. As piadas envolvendo Penelope Cruz geram uma forte vergonha alheia e a personagem não é nem um pouco construída ao longo da narrativa. Enquanto isso, felizmente, Hansel (Owen Wilson) ganha um arco pessoal nada menos que hilário e surreal, que consegue ser até mesmo mais engajante que a trama principal, mais uma vez, graças a uma das pontas presentes nele.

Do lado da fotografia, Zoolander 2 acaba perdendo muito em relação ao original em virtude da ausência de inúmeras características que garantiam a sátira ao mundo da moda. Refiro-me, naturalmente, aos filtros televisivos que deixaram de ser utilizados e os ângulos de câmera típicos da telinha. Enquanto na maior parte da obra não faria sentido tal utilização, algumas cenas claramente se beneficiariam de tais recursos. Aqui a criação de uma identidade diferente para a sequência atua contra ela própria.

No fim, Zoolander 2 acaba se mantendo no mesmo nível de seu antecessor. A crítica social se transforma na crítica comportamental, questionando os hábitos das gerações mais novas que tanto querem ser diferentes, mas que acabam formando uma grande massa sem identidade própria. Derek, Hansel e Mugatu, dentro desse novo mundo, conseguem ainda chamar a atenção – está longe de ser a perfeita comédia, mas consegue se diferenciar da grande maioria do que assistimos na atualidade, graças à sua identidade própria.

Zoolander 2 (idem – EUA, 2016)
Direção:
Ben Stiller
Roteiro: Justin Theroux, Ben Stiller, Nicholas Stoller, John Hamburg
Elenco: Ben Stiller, Owen Wilson, Penélope Cruz,  Will Ferrell, Justin Theroux, Kiefer Sutherland, Justin Bieber
Duração: 102 min.

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