Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: The Sensorites (Arco #7)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: The Sensorites (Arco #7)

por Luiz Santiago
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Equipe: 1º Doutor, Susan, Ian e Barbara
Espaço-tempo: Nave espacial terráquea/Sense Sphere, c. 2764

Assim como a Esfera Ood, a Esfera dos Sentidos está localizada na Nebulosa Cabeça de Cavalo (que existe de verdade!), ou seja, são nossos vizinhos de galáxia, embora estejam a cerca de 1500 anos-luz da Terra. Assim como os Oods, os Sensorites também possuem um método interessantíssimo de comunicação, e como o próprio nome da espécie sugere, são sensíveis a diversas manifestações, tais como sons, escuridão e pensamentos (engraçado que seus conterrâneos de Nebulosa, os Oods, também são telepatas).

Quando o Doutor parte da civilização asteca, a TARDIS pousa em algum lugar, mas as leituras do painel indicam que eles continuam em movimento. A descoberta de que estão dentro de uma nave terráquea na órbita da Sense Esphere é explicada já no início do episódio Strangers in Space, e cria-se então um panorama geral sobre os inimigos à solta. O que nos chama a atenção nesse episódio é que tanto o Doutor quanto Susan e Barbra, geralmente muito solícitas e sensíveis aos dissabores dos outros, concordam em partir imediatamente, a pedido dos dois tripulantes da nave encontrados num estranho estágio de sono provocado pelos Sensorites. As intenções do grupo da TARDIS mudam quando percebem que a fechadura da nave foi roubada, o que os obriga a permanecer no local e tentar reaver o objeto para poder partir.

Peter R. Newman escreveu uma história atemporal ao abordar o sentimento xenófobo de alguns Sensorites e opor esse sentimento à ameaça justificada que os seres humanos representavam para o a Sense Sphere – ameaça permanente e comprovada ao descobrirmos quem, na verdade, estava envenenando a água de alguns distritos do planeta. Se por um lado vemos com maus olhos a postura do Administrador da Cidade e futuro Segundo Sábio, somos obrigados a concordar que a própria humanidade tornou justificável esse medo, manifestando seu interesse em explorar o molibdênio do planeta. O próprio John*, que iria se aliar ao Doutor após a cura, fora, em algum momento do passado, um dos interessados em ganhar dinheiro com a extração do metal em abundância naquela esfera.

Há uma clara exploração de elementos morais e éticos, mas o arco não perde o seu caráter de entretenimento ou se entrega a pontificar conceitos, deixando o andamento da história chato e sem sentido. Digo isso porque alguns roteiristas acham que a diversão jamais deve conviver com uma atividade racional, questionadora, crítica. Assim, as obras produzidas por esses escritores tendem a dissecar teorias e situações filosóficas da maneira mais insuportável possível, forçando o que quer que seja a se encaixar nessa forma textual específica, quando na verdade deveria ser o contrário. Newman, ao contrário de tudo isso, consegue criar uma situação de teor social, político e diplomático sem obrigar a série a se encaixar nessas categorias, mas encontrando na própria mitologia de Doctor Who, um modo de colocá-las adequadamente.

Em Os Astecas, eu havia comentado o quão incríveis foram os trabalhos com os efeitos, cenários e caracterização das personagens, elogio que repito aqui. É claro que não temos uma visão exterior do Palácio em The Sensorites, mas há uma ótima construção de ambientes internos, salas de controle, laboratório e subsolo, lugar onde os terráqueos do INNER (INterstellar Navigation, Exploration and Research) viviam, ainda crentes de que estavam em uma guerra contra os Sensorites e ansiosos por começar a explorar o tão cobiçado metal molibdênio.

The Sensorites é um arco com a história mais conceitualmente crítica da primeira temporada de Doctor Who e com certeza um dos mais interessantes dessa fase inicial do Primeiro Doutor. Os Sensorites, assim como os Oods, não são criaturas más, embora possuam, assim como nós, indivíduos maus. No caso dos Oods, há uma justificativa para alguns serem maus: eles nasceram para servir, logo, acabam adotando algumas características medonhas, dependendo da pessoa a quem servem. Já no caso dos Sensorites, temos um povo pacífico que na situação observada por nós fazem o que qualquer povo faria para se defender de invasores e possíveis assassinos, não apenas por medo, mas por ter experiências ruins de um encontro anterior (nesse caso, a expedição INNER).

A título de curiosidade, vale dizer que a Sense Sphere foi dominada pelo opressivo Império Terráqueo no século 30, dois séculos após essa aventura do Doutor com Ian, Susan e Barbara. Para os interessados, essa história pode ser lida no livro Original Sin, de Andy Lane, originalmente publicado e 1995.

* Inicialmente eu não iria citar John como um aliado, primeiro porque ele inicia o arco doente, dominado pelos Sensorites, o que o tornava perigoso, de alguma forma. Depois, porque ele passa a maior parte do tempo se recuperando, e só em A Desperate Venture ele age como um verdadeiro aliado do Doutor. Mesmo assim, não podemos esquecer o motivo pelo qual ele ficou doente: sua intenção era explorar o molibdênio dos Sensorites. Mas como sua posição final é de fato a de ajudar o Doutor, decidi incluí-lo como aliado, mas achei por bem relativizar a sua condição, principalmente se o compararmos com os outros dois tripulantes da nave terráquea, que de fato ajudam o Time Lord e seus companheiros a maior parte do tempo.

The Sensorites (Arco #7) – 1ª Temporada

Roteiro: Peter Richard Newman
Direção: Frank Cox, Mervyn Pinfield
Elenco principal: William Hartnell, Carole Ann Ford, Jacqueline Hill, William Russell, John Bailey, Lorne Cossette, Stephen Dartnell, Eric Francis, Peter Glaze, Joe Greig, Ilona Rogers, Ken Tyllson

Audiência média: 6,92 milhões

6 Episódios (exibidos entre 20 de junho e 01 de agosto de 1964):
1. – Strangers in Space
2. – The Unwilling Warriors
3. – Hidden Danger
4. – A Race against Death
5. – Kidnap
6. – A Desperate Venture

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