Home Colunas Entenda Melhor | A 1ª Era Davies: Os Companions Além da TARDIS

Entenda Melhor | A 1ª Era Davies: Os Companions Além da TARDIS

O Doutor em boa companhia.

por Rafael Lima
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Ao viajarem com o Doutor, os companions são muitas vezes os representantes do público, expressando as impressões  sobre o mundo do show, fazendo as perguntas que gostaríamos de fazer. Ainda que tenha contado com companheiros brilhantes, na Série Clássica, o desenvolvimento deles foi tratado quase sempre de forma periférica. Nas duas temporadas finais, porém, isso mudou, com a chegada de Ace (Sophie Aldred). O desenvolvimento de Ace e sua relação com o 7º Doutor tornaram-se centrais para a narrativa do programa, com o passado da jovem guiando muito dos arcos finais dos anos 80. A Nova Série se inspiraria nessa abordagem, levando-a um passo adiante. Russell T. Davies seguiu uma estrutura quase sem desvios com seus times da TARDIS, onde o Doutor viajava com uma única Companion a maior parte do tempo, excetuando as passagens do Capitão Jack Harkness (John Barrowman) e Mickey Smith (Noel Clarke) pela tripulação. Mas ainda que tenham trazido uma importante representatividade, sendo respectivamente o primeiro Companion abertamente LGBTQIA+ e o primeiro Companion negro da história do programa na TV, suas passagens pela TARDIS foram breves, e a função deles foi secundária na dinâmica da equipe, servindo mais para tensionar a relação do Doutor com Rose. Jack seria mais desenvolvido em seu próprio Spin-Off, enquanto a maior parte do arco de Mickey antecede o seu tempo como Companion, quando ele era apenas parte do núcleo doméstico de Rose.

Jack, o Doutor e Martha.

Davies trouxe três companions principais;  Rose, Martha Jones (Freema Agyeman) e Donna Noble (Catherine Tate). Algo que se destaca nas companheiras da Era Davies é como as suas famílias são importantes em sua construção. Rose, Martha e Donna abandonam suas vidas normais para viajar na TARDIS, mas os laços com essa vida não desaparecem. Não por coincidência, os Companions passam a ganhar não apenas a chave da TARDIS, mas também um upgrade em seus celulares, que permite que eles entrem em contato com suas famílias de qualquer lugar no tempo e espaço. Na Era Davies, quando o Doutor aceita que uma Companion entre em sua vida, ele também está deixando os seus parentes entrarem. O Showrunner passou a desenvolver curiosos episódios de prestação de contas, como Aliens Of London e The Lazarus Experiment, onde o Doutor e as Companions devem visitar as famílias delas para explicar o que andam fazendo pelo cosmos, gerando inclusive a piada recorrente do Time Lord sendo esbofeteado pelas mães de suas amigas. As famílias passam a ter papel fundamental nas jornadas das duplas da TARDIS, vide o apoio que a mãe de Rose, Jackie Tyler (Camille Coduri) e Mickey fornecem para a transformação da garota na entidade Bad Wolf; ou a amizade entre o avô de Donna, Wilfred (Bernard Cribbins) e o 10º Doutor, que leva à regeneração do Senhor do Tempo, ao se sacrificar pelo amigo.

O Doutor e a família Noble.

A importância dos Companions para que o Doutor seja uma força do bem era sugerida na Série Clássica, mas é escancarada por Davies. Eles são a consciência do Doutor, impedindo que suas emoções mais mesquinhas o dominem, dando a ele a perspectiva micro que às vezes lhe escapa. Em Dalek, por exemplo, Rose impede que o 9º Doutor assassine o Dalek a sangue frio, enquanto Donna em The Runaway Bride apontaria a importância de o Doutor ter alguém para detê-lo de vez em quando. De fato, episódios como Midnight e Turn Left defendem que o Doutor não sobreviveria muito tempo sem a ajuda de um Companion. 

Mas se os Companios aproximam o Doutor dos dramas humanos, ele os afasta desses dramas. Isso fica claro pelos papéis centrais que os Companions desenvolvem em pontos chave da Era Davies. The Parting of The Ways vê Rose se tornar uma deusa do tempo; enquanto em The Last Of The Time Lords, Martha se torna a líder da resistência humana contra o regime tirânico do Mestre (John Simm). O show aponta que embora o Doutor ajude seus companheiros a atingirem o seu potencial, ele também os torna incapazes de ter uma vida normal, De fato, todos os Companions de Davies se tornaram aventureiros combatentes após viajar com o Doutor, menos Donna, já que o Doutor foi forçado a apagar as memórias dela de seu tempo juntos para salvá-la ao fim de The Journey’s End. Mesmo o retorno da Companion da Série Clássica Sarah Jane Smith (Elisabeth Sladen) em School Reunion aponta para essa ideia, com a jornalista sendo retratada como alguém que nunca realmente conseguiu superar o fim de seu tempo na TARDIS.

Rose e Sarah.

Davies acredita tanto na força dos Companions que, diferente da Série Clássica, se recusa a esquecê-los após suas partidas. Rose se tornaria o maior exemplo, com a 3ª Temporada girando em boa parte em torno do luto de sua ausência (o que inclusive atrapalhou o desenvolvimento de Martha), e a 4ª temporada tendo a iminência de seu retorno como chamariz. Entretanto, esse apego não seria limitado a Rose, com todos os Companions da Era Davies tendo retornado mais de uma vez à série após as suas partidas, até serem todos reunidos no arco The Stolen Earth/The Journey’s End. Esse é um ponto característico de Davies, já que seus sucessores se mostraram bem mais dispostos a seguir em frente com novos Companions após a partida dos antigos.  

Davies redefiniu a forma como o show trabalhou os Companions, com uma abordagem que seria usada como base por seus sucessores. A Rose Tyler de Piper estabeleceu o perfil das Companions da Nova Série, como uma garota britânica contemporânea da classe trabalhadora, entregando um carisma que combinou perfeitamente com os Doutores com quem contracenou, exalando uma tensão romântica amada por uns e odiada por outros. A Martha de Agyeman, embora tenha sofrido por ter sido a sucessora de Rose, que para muitos era a única companheira que conheciam, retroativamente ganhou o respeito que merecia, mostrando-se uma Companion mais madura que sua antecessora. Por fim, com a Donna de Catherine Tate, Davies entregou uma dinâmica de amizade mais descompromissada com o Doutor, e uma Companion mais disposta a confrontar o 10º Doutor. E ainda que desempenhando papéis secundários na dinâmica da TARDIS, Mickey, e principalmente o Capitão Jack deixaram a sua marca em Doctor Who.

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