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Entenda Melhor | Aranhas: Monstros Icônicos do Cinema

por Leonardo Campos
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Falamos muito em aracnídeos em filmes de terror, mas vocês se recordam que na divertida comédia Esqueceram de Mim, uma aranha domesticada protagoniza uma cena peculiar quando um dos invasores da casa de Macaulay Culkin é “atacado” pela criatura? Na aventura épica O Senhor dos Anéis, Frodo precisa lidar com a grandiosa Shelob, tanto no primeiro quanto no desfecho da trilogia, o suntuoso O Retorno do Rei. Ainda na linha fantástica, Harry Potter e a Câmara Secreta também traz um desses indesejados bichos de oito patas, a aranha Aragogue, ser que habita a uma floresta proibida. Peter Parker, para se tornar um habilidoso super-herói, salvar a cidade e conquistar Mary Jane, precisou ser picado por uma aranha geneticamente modificada. São muitos os casos, mas de fato, o terreno profícuo das aranhas é o terror. No cinema brasileiro por exemplo, José Mojica Marins, nosso saudoso Zé do Caixão, trabalhou o nosso medo atávico das aranhas em vários de seus filmes. Em 1976, um clássico cult bizarro, intitulado O Beijo da Tarântula, apresentou uma trama peculiar sobre uma adolescente com gravíssimos problemas de interação social que utiliza as suas aranhas de estimação contra todos os seus inimigos. É o equivalente aos aracnídeos do que Stanley e A Vingança de Willard fez com as serpentes e os ratos, respectivamente, criaturas manipuladas por algum humano para ceifar vidas.

Anterior ao período, temos os clássicos Tarântula, A Maldição da Aranha, O Incrível Homem que Encolheu, base para o boom dos animais assassinos da década de 1970: Tarântulas – A Carga Mortal, A Maldição das Aranhas, A Invasão das Aranhas Gigantes, dentre outros, esquecidos durante os anos 1980 e retomadas no excelente Aracnofobia, horror ecológico de classe, dirigido por Frank Marshall e coproduzido por Steven Spielberg, lançado em 1990. Ainda é a maior referência mais recente no subgênero quando o assunto a criatura em questão, ser distribuído naturalmente por todos os continentes, monstro para alguns, criatura indiferente para outros. Com as suas oito patas, ausência de antenas, sistema nervoso mais bem desenvolvido entre os artrópodes e subdividida entre cerca de 40 mil espécies e 100 famílias. Apenas 30 do número total representa perigo mortal aos seres humanos, algo que contraria a lógica da ficção e dos documentários ambientais sensacionalistas. Dispersas em áreas urbanas e com características sinantrópicas, isto é, adaptadas ao convívio com os humanos sem alteração significativa em seus padrões, as aranhas são também conhecidas por sua beleza, força e elasticidade da teia que chega a ser superior aos materiais sintéticos. A resposta para os nossos medos, material de base para os diversos filmes com aranhas assassinas, pode ser encontrada quando buscamos entender a escala evolutiva da humanidade e seus mecanismos de defesa, transmitidos entre gerações.

Medo de Aranha: Potência Para Empreender no Cinema de Horror

Para alguns cientistas, o medo é proveniente dos processos adaptativos dos seres humanos. Quando temos um familiar que tem medo de um inseto, por exemplo, torna-se natural que isso seja transmitido para outros membros. Veja o caso: a sua mãe faz escândalo com o surgimento de uma barata no apartamento. Você já chega aqui ao nascer com isso e acompanha durante o crescimento. Acredito nesta tese. Sou parte dela. Importante compreender que também é tudo muito cultural. Enquanto alguns reverenciam, outros tem pavor. Em algumas sociedades, as aranhas representam a criação e a beleza. No Egito Antigo, possuía status de deusa. Na Índia, símbolo da ordem cósmica. Na China, representa sorte. Na riqueza mitológica do território africano, representa inteligência, inclusive, é parte de uma lenda de Mali, sobre uma aranha conselheira do criador de todas as coisas, alegoria da diligência e da sabedoria. Com suas características predadoras, as aranhas simbolizam o perigo, a nossa obsessão pelo “centro”, até mesmo o narcisismo, pontos analisados pelo viés da psicanálise.

No terreno da interpretação dos sonhos, as aranhas indicam o reconhecimento de um trabalho realizado, haja vista o seu ato constante de tecer. Em algumas análises de Jung, as aranhas transmitem a inteligência criativa e o predatismo numa mesma simbologia. De volta aos sonhos, a presença da aranha pode simbolizar uma luta que estamos ainda batalhando, travada entre o aceitar ou criar o seu destino. Representa também o velho, o abandonado, para isso, basta olhar os filmes com casas assombradas. É teia de aranha para todo lado. Mas, afinal, e os filmes bizarros do segmento aranhas assassinas, foco da nossa reflexão? Brevemente expostos no formato panorama no próximo tópico, os filmes selecionados são aqueles que não me dediquei ao texto exclusivo para cada produção. Preferi junta-los todos e organizar uma leitura mais geral, haja vista a falta de qualidade de praticamente todos, analisados pela abordagem das aranhas e com foco na direção, no roteiro e nos efeitos visuais. É o mesmo padrão adotado para os artigos com filmes da linha exploitation, “protagonizados” por insetos, ratos, tubarões e outros monstros marinhos, etc.

Nossa Senhora do CGI, Rogai Por Nós!

Vamos começar com o filme mais clean da listagem. As aranhas não são monstruosas na versão 2001 de A Maldição da Aranha, dirigido por Scott Ziehl e escrito por Chuck Konzelman, trama de 90 minutos sobre um jovem segurança muito tímido, fascinado pelo universo das HQs. Certo dia, ele decide injetar um soro experimental do laboratório onde trabalha. Em sua transformação, tal como o Homem-Aranha, ele se torna um ser com poderes e habilidades bem especiais. A figura da aranha é explorada, mas não exatamente da mesma forma tosca e ceifadora como Aranhas Assassinas, realizado no ano anterior. Com direção de Gary Jones e roteiro assinado por Stephen David Brooks, a aventura de horror nos apresenta o projeto governamental com aranhas que dá errado e transforma a vida de todos que gravitam próximos aos acontecimentos num festival de mortes e teias. O ataque no interior de uma nave destrói os projetos da tripulação e uma jornalista é a protagonista dos registros envolvendo a queda e o horror proveniente da chegada dos escombros na superfície terrestre. A continuação veio no ano seguinte, Aranhas Assassinas 2, supervisionado por Scott Coulter no setor dos efeitos visuais das criaturas nada atraentes. Sob a direção de Sam Firstenberg, cineasta baseado no texto de Stephen D. Brooks, roteirista do antecessor, a trama nos faz acompanhar dois náufragos que conseguem ajuda de um navio cargueiro com um comandante supostamente simpático, sem saber que o local possui um laboratório para experiências com aranhas, tarefa que dá errado e faz surgir monstros.

No geral, todos esses filmes marginalizados pelo mainstream são muito ruins, tecnicamente e dramaticamente, em especial, no desenvolvimento de personagens e de seus diálogos. Somado ao desempenho dos elencos, o festival de horror vai além das aranhas, algumas vezes tão excessivas ou ausentes que nem assustam ou causam asco para que é acometido pelo medo atávico de aranhas, próprio dos seres humanos. Por falar no tema, Aranhas Assassinas se chama Aracnofobia 2 em alguns países, acredita? Pura falta de ética dos realizadores. Mas de tão ruins, apenas a existência de muitos desses filmes já é uma ofensa digna de inserção de processo nos meandros do Direito do Consumidor. Desta franquia, ambos os filmes possuem duração média de 90 minutos, o limite do suportável para o espectador menos exigente. Os mais preocupados correm o risco de avançar a narrativa ou desistir apenas pelo preâmbulo da história que parece ser a mesma sempre. Igualmente abaixo da média é Na Teia do Terror, de 2003, trama de 84 minutos sobre eletricistas atacados depois que vão investigar um problema na transmissão de energia num local abandonado e acabam dentro de um laboratório que é parte de um universo paralelo, reinado por uma perigosa aranha e suas súditas assassinas. Tosco, o horror foi dirigido por David Wu e roteirizado por Greenville Case, com efeitos visuais de Allan Magled para os monstros que não causam impacto algum e entendiam. Se pelo menos fosse humorado, não é mesmo?

Um ataque dos aracnídeos numa zona gélida do planeta é o mote de Ice Spiders – Assassinas do Gelo, dirigido por Tibor Takács e escrito por Eric Miller. Na trama, uma equipe olímpica de esquiadores precisa reajustar as suas estratégias diletantes depois que as experiências de uma especialista que pesquisa aranhas num laboratório nas montanhas de Utah luta para descobrir como enfrentar a mutação de uma aranha iraquiana com a estrutura dos aracnídeos contemporâneos. Em seus 90 minutos, o filme é diversão pura, com sangue em CGI sendo explorada a cada cena, com aranhas toscas, mas até suficientes para a qualidade dramática do enredo, elaboradas pela equipe de efeitos visuais supervisionada por Steven M. Blasini. Lançado no mesmo ano, isto é, em 2007, Aranhas Assassinas, comandado por Terry Winsor e escrito por Gary Dauberman abordou, em seus 90 minutos, o ataque de uma espécie de aranha boliviana, responsável por transformar a vida de turistas na Índia num verdadeiro espetáculo de horror. Elaboradas pelo CGI da equipe de Neil Cunningham, o filme tem espaço para um culto de adoradores de aracnídeos que fazem sacrifícios com humanos incautos, geralmente estrangeiros desavisados. Como as aranhas sul-americanas foram parar lá? Acredite, não importa.

O consumo de tomate é incentivado em Maldita Aranha Gigante, haja vista a necessidade de alimentar as criaturas bizarras construídas pela equipe de efeitos visuais supervisionada por Mohammad Bilal, parte integrante do filme de horror cômico dirigido por Mike Mendez em 2013. Guiado pelo texto de Gregory Gieras, o fio de narrativa nos apresenta uma aranha gigantesca, criatura que após escapar de um laboratório militar, toma conta de uma cidade e ataca tudo que encontra pela frente, inclusive um aparentemente suntuoso arranha-céu. Quando as forças armadas não conseguem dar conta do monstro, civis entram em ação para despachar o monstro e trazer a paz mais uma vez para a sua cidade. São 80 minutos de risadas involuntárias, haja vista a história “pecaminosa de tão ruim” e a falta de criatividade dos realizadores, algo semelhante ao excessivo Aranhas 3D, produção que lembra muito a estrutura narrativa de Mutação, horror ecológico sobre o projeto Judas e as baratas assassinas, dirigido por Guillermo del Toro, em 1997. O nível do filme comandado pelo mexicano, no entanto, é outro. Não apenas orçamentário, mas em termos conteudistas e melhor aproveitamento da temática “experiência que deu errado”. Ao longo dos 89 minutos da trama com as aranhas em terceira dimensão, Tibor Takács, o mestre do bizarro, comanda o seu próprio texto, escrito em parceria com Joseph Farruggia, trama sobre a queda de uma estação soviética em um túnel do metrô, com destroços que revelam uma nova espécie de aranha, veloz, mortal e perigosa. Elas sofrem mutação e destroem tudo que encontram pela frente, numa trama horrorosa dramaticamente, mas muito dinâmica e divertida.

Um ano antes, Griff Furst comandou o roteiro de Paul A. Birkett sobre um terremoto em Nova Orleans que provoca o despertar de uma aranha gigante que retoma o território da superfície e detona com toda manifestação humana que é encontrada. É outro exemplar bizarro, mas muito divertido, sem o tom maçante ou interesse de se levar à sério, grande problema de muitos filmes do estilo. Nos efeitos visuais, Blane Granstaff cumpre o que é possível com o orçamento e a história, com aranhas que lembram montagens vulgares de trabalhos audiovisuais amadores. Ah, importante: o nome do filme é Terremoto Aracnídeo, uma trama de 86 minutos que ainda brinca com o uso desmedido de petróleo pelas indústrias e traz para a trama aranhas albinas. Nos anos seguintes, as aranhas não ficaram sem emprego. Lavalântula, em 2015, flertou com um antigo vulcão situado nas montanhas da região de Santa Mônica, nos Estados Unidos. Ao entrar em erupção, tarântulas gigantescas são literalmente arremessadas na cidade. Para piorar, elas cospem lava e promovem a destruição em Los Angeles. Dirigido por Mike Mendez, também colaborador do roteiro, escrito em parceria com Neil Elman, o filme contou com os efeitos visuais de Peter Hyoguchi, trabalho que diante de suas limitações e da história mencionada, dispensa comentários, combinado? O filme de 83 minutos ganhou sequência em 2016, Lavalântula 2, com ação na Flórida e voltado ao processo de sobrevivência de um novo grupo de possíveis vítimas.

Em 2016, Noomi Rapace enfrentou os seus piores medos em Rupture – Superando o Medo, filme de Steven Shainberg, escrito numa parceria com Brian Nelson. As aranhas aqui fazem uma breve participação, mas permeiam o filme todo por ser parte da necessidade dramática da protagonista que tem medo de aracnídeos. Na trama de 102 minutos, menos empolgante do que o esperado, uma mulher é sequestrada por uma organização misteriosa, logo depois de cumprir uma das principais missões de seu dia: deixar o filho na escola. Reclusa e ameaçada, ela é submetida aos testes mais estranhos para testar os seus medos, trama com um tom “conceitual”, tipo Itsy Ibsy, de 2019, terror dirigido por Micah Gallo, cineasta baseado num texto assinado com Bryan Dick. Apoiados pelos efeitos visuais de Ron Hurley, a produção acompanha a trajetória de uma família que se muda para uma mansão antiga, ao estilo isolamento típico de filmes de assombração. Lá, ao longo dos 94 minutos da narrativa, eles são perseguidos por uma entidade que assume a forma de uma aterrorizante e demoníaca aranha, tão assustadora quanto os monstros gigantescos do subgênero horror ecológico. É uma das realizações mais recentes com a presença de um aracnídeo a representar a chegada da morte para os personagens de uma história sombria.

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