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Entenda Melhor | Homem Aranha – Parte 3

por Plano Crítico
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O ano de 1990 marcou um passo interessante para o Aranha. O lançamento da Spider-Man de Todd McFarlane, em agosto, foi um sucesso estrondoso, e também o prenúncio de uma briga editorial que viria em breve. O fato é que McFarlane queria uma revista para um personagem seu, e com a recusa da Marvel, o artista se demitiu junto com alguns amigos, e juntos fundaram a Image Comics. A última edição assinada e desenhada por McFarlane foi a nº16 da Spider-Man (novembro, 1991), uma excelente história com uma gama de heróis coadjuvantes.

Um destaque desse início de década pode ser dado ao arco A Criança Interior, da revista Spectacular Spider-Man. O roteiro de J.M. DeMatteis e os desenhos de Sal Buscema criaram uma maravilhosa sequência de histórias com forte apelo psicológico e a polêmica revelação de abuso sexual na infância que um dos vilões sofrera. O modo como o roteirista expõe uma questão tabu sem deixar de lado a função de entretenimento da revista é um feito raro nos quadrinhos e digno de nota.

A partir de 1992, sabe-se lá por qual alinhamento de funestos astros e profecias, os textos de David Michelinie começaram a perder qualidade, e ele começou a escrever histórias cada vez mais absurdas, estranhas, desconexas e odiadas pelo público. A criação do vilão Carnage (um tipo de Venom, só que mais malvado) e o “arco das bestialidades”, Maximum Carnage, é uma verdadeira convenção de situações forçadas. O novo desenhista da revista, Mark Bagley, encontrou um momento horrível para mostrar seu talento. Pena que, aliado aos textos cada vez mais fracos de Michelinie, ele não é lembrado com muita simpatia.

O último trabalho de David Michelinie à frente da ASM foi na Edição nº388 (abril, 1994), numa história que eu considero até interessante, uma revista dupla, com os contos The Sadness of Truth e The Lost Days. Depois de 7 anos escrevendo para a revista, era de se esperar que a saída de Michelinie fosse em grande estilo. Isso não aconteceu, mas ele pode ser lembrado pelo período em que salvou a revista e pelas suas ótimas histórias pré anos 90.

Michelinie foi substituído por J.M. DeMatteis, que vinha da Spectacular Spider-Man, como vimos acima. Sua passagem pela ASM não foi brilhante, exceto pela edição nº400 da revista, uma emocionante e triste história onde Tia May Parker morre.

A Saga Insana II

Responsáveis pela Web of Spider-Man em meados dos anos 1990, Terry Kavanagh (roteiro) e Steven Butler (arte) começaram as sementes de uma história que em breve deixaria os fãs do Homem-Aranha possessos. A aventura, que foi transformada na segunda Saga do Clone, acabou aparecendo em todas as revistas do herói e só trouxe discórdia por onde passou. No final da farra, a Marvel tinha um belo abacaxi de má qualidade para descascar e tentar trazer de volta as boas críticas e o apreço dos leitores.

Antes de falarmos dessa ofensa que a Marvel teve a coragem de fazer aos seus leitores, quero deixar uma nota de defesa aos artistas. Em grandíssima parte, a culpa é menos deles e mais da diretoria da editora que a partir de 1995, começou a pensar unicamente nas vendas e no que poderia elevar os valores do faturamento anual. A extinção do cargo de Editor-chefe e a reunião de uma diretoria para discutir os problemas imediatos das vendas que caíam a olhos vistos são os principais fatores que permitiram o surgimento de uma saga como essa Clone II. Não digo que ela não tenha um ou outro momento bom, mas trata-se de uma bobagem sem tamanho, sem bom gosto de sem noção alguma.

Sem muita liberdade artística e tendo que fazer crossovers entre as revistas da editora o máximo que pudessem, os artistas foram obrigados a mergulhar de cabeça na insanidade da diretoria. Após dois anos de besteiras em sequência, a saga do clone que era o clone que não sabia que era o clone que achou que o clone não era o clone que era o clone que o público achou que era o clone mas que não era o clone depois do clone antes do clone ser o clone terminou da pior maneira possível e teve a maior avalanche de Deus ex machinas até então conhecidos. Uma série de substituições e alterações de equipe acontecem nas revistas do Homem-Aranha até o final da segunda Saga do Clone (final de 1996), e como se não bastasse, traria outra maldição imperdoável e ridícula para os quadrinhos: a ressurreição dos mortos.

Depois do clone, do clone, do clone…

Além de ser péssima, a segunda Saga do Clone deixou muita coisa sem resposta e a diretoria (que havia começado a besteira) impediu que os roteiristas fizessem uso direto das tramas dessa saga, mesmo que fosse para explicá-las, como é o caso da filhe de Peter Parker e Mary Jane, a pequena May Parker que de fato não ficou bem definido se ela foi morta ou só raptada. O fato de ela ter desaparecido das histórias levou à conclusão comum de que tenha sido morta. Em 1998, num Universo Paralelo da Marvel, ela apareceria como a Spider-Girl e ganharia uma revista muito boa, que teve 100 edições publicadas.

A “volta dos mortos” é uma tática que inicialmente salva a Amazing Spider-Man do pequeno número de vendas, trazendo Norman Osborn (o primeiro Duende Verde) com uma explicação para lá de impossível. Nesse período, Roger Stern volta à Marvel depois de alguns anos na DC e consegue publicar sua versão original da identidade do Duende Macabro. Embora a revelação não tenha sido tão importante quanto seria 11 anos antes, a história é realmente muito boa, e animou uma boa parcela de fãs que estavam órfãos de ótimas histórias do lançador de teias.

No final dos anos 1990, a Marvel vinha em uma sequência de histórias entre medianas e boas sobre o Homem-Aranha, mas as vendas (sempre as vendas!) não iam nada bem. A alternativa encontrada foi a do reboot, que acabou levando o cancelamento da Spectacular Spider-Man na Edição nº263, numa história escrita por Howard Mackie e desenhada por Luke Ross; e da Sensasional Spider-Man na Edição nº33, numa história escrita por Todd DeZago e desenhada por Joe Bennett (ambos os cancelamentos em novembro de 1998).

Na ASM e na Peter Parker: Spider-Man temos o Capítulo Final, outra história que os fãs não gostaram porque dá uma explicação enlouquecida (e simples até demais) para Tia May estar viva (na verdade quem morreu foi uma atriz, não a Tia May original!!!) e mais maluquices envolvendo o Duende Verde ressuscitado.

Segue-se a publicação da série de doze edições Chapter One, totalmente escrita e desenhada por John Byrne, e recontando as primeiras histórias do Homem-Aranha, trazendo algumas modificações para se encaixar melhor à época e o estabelecimento de algumas relações e parentescos que não agradaram aos fãs. A série termina em outubro de 1999, com o lançamento da 12ª Edição. É do mesmo período os reboots da Amazing e da Peter Parker: Spider-Man.

Mas o reboot e as mudanças dignas e nota só viriam em 2001, com Joe Quesada apoiando-as na diretoria. Das mãos de J.M. Straczynski (roteiro) e John Romita Jr. (arte), viriam as primeiras e inspiradoras histórias do novo século. Entre ícones místicos e totêmicos o Homem-Aranha sofre interessantes mudanças. Com a reformulação da editora entre 2004 e 2005 e a criação dos Novos Vingadores (dentre os quais constaria o Homem-Aranha), mais novidades apareceriam. A editora também voltaria à contagem original das edições da ASM (que havia sido zerada com os reboots de 1999). Dessa forma, a edição que seria a 58 desse “volume 2”, convertida para a contagem original, tornou-se a edição nº 499.

Mas dentre as boas ideias sempre aparecem as clássicas forçadas de barra. Começaram a aparecer revisões muito polêmicas, incluindo a já polêmica história de Gwen Stacy. A revelação de Peter Parker de sua identidade secreta na saga da Guerra Civil é também um dos elementos polêmicos e vistos com pouca simpatia, sem contar as incursões de elementos adaptados dos filmes, que fizeram muito sucesso entre os fãs e que nas revistas tornaram-se motivos bastante absurdos para algumas tramas individuais.

Em 2007 veio a One More Day, uma empreitada que acabou sendo um tiro no pé e decretaria a saída de Straczynski da Marvel, agravada pela briga pública que travou com Quesada, acusando-o de ter modificado o final da história (que desfazia o casamento de Peter Parker e Mary Jane, mas por outro lado, desfazia sua declaração pública de identidade).

No arco Um Novo Dia (Brand New Day), iniciado fevereiro de 2008, a Marvel se aproveita dos elementos deixados por Straczynski e reformula completamente a história do HA, modificando quem estava vivo e quem não estava, quem sabia da identidade de quem e quem não sabia de nada, assim por diante. A Amazing voltou a ser uma revista de destaque na editora, e as histórias, a despeito das polêmicas e frequentes modificações da estrutura original, ganharam novo peso e qualidade. Em 2011, a revista passa a ser publicada duas vezes ao mês e com um roteirista único: Dan Slott. Arcos do momento como Big Times e Ilha Aranha são destaques interessantes.

Eu poderia falar do Universo Ultimate, do qual o Homem-Aranha faz parte desde 2000, e no qual o filme desse ano se inspira artisticamente, mas não encontro energia nem simpatia o bastante para fazê-lo. Aqui, me despeço dos leitores. Agradeço ao Luiz pelo convite para participar do Entenda Melhor sobre o Homem-Aranha, meu super-herói favorito. Foi uma experiência muito divertida. Espero que tenham gostado.

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Por Guilherme e Luiz Santiago

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