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Entenda Melhor | Jake Bugg

por Karam
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I – Treasures From Engand

A Inglaterra não se cansa de presentear o mundo da música com novos/surpreendentes talentos. O país da rainha nos deu os Beatles e os Rolling Stones. Claro: não podemos nos esquecer do Led Zeppelin. The Who! Deep Purple! The Smiths!

Na década de 90, foram os ingleses que ousaram peitar o grunge americano e, assim, revolucionaram o rock com o chamado “britpop”: Oasis, Blur, Pulp… Ah, não custa lembrar do Radiohead, essa banda maravilhosa que dispensa comentários e também é de lá, da Inglaterra. E os Arctic Monkeys. Pois é.

Mas não é só de rock que os ingleses entendem: com a chegada de Joss Stone e, logo em seguida Amy Winehouse ao cenário musical, ficou claro que o jazz/soul americano foi assimilado e absorvido com perfeição por essas vozes de accent requintado – vozes de ouro. E a tal da Adele, sucesso absoluto e merecido, que mudou a cara do pop sem precisar se esforçar muito?

… Recentemente, o folk e o rock indie ganharam um porta-voz de pouca idade, baixa estatura, aparência frágil; autor de canções grandiosas, dignas dos clássicos: Jake Bugg.

II – O Ataque Hipster

Sobre Jake Bugg, um garoto próximo da minha idade comentou o seguinte:

“Saudades de quando cantores de folk eram poetas das ruas e não hipsters do instagram.”

Eu, sarcástico que sou, lhe respondi assim:

“Saudade de quando essa moda de chamar todo som alternativo que faz sucesso de hipster ainda não existia.”

E ele logo atacou com:

“Classic hipster denial.”

Foi então que eu me senti obrigado a combater tal injustiça para com o pobre Bugg. Não conseguiria dormir sem fazer a minha parte. E mandei o seguinte:

“Os tempos mudam, logo o contexto social/musical também. Bob Dylan e os ‘poetas das ruas’ são reflexos de seus tempos, isto é óbvio. Os tais ‘hipsters do instagram’ que você cita de forma pejorativa podem sim ser excelentes músicos que, à sua maneira, traduzem em arte o zeitgeist do tempo atual. Isto é evolução, meu caro. Acho que o verdadeiro ‘denial’ tá aí: você, que aparentemente faz parte desta mesma geração que critica, não aceitar o fato de que há potencial nas letras e nas canções de jovens pertencentes ao mundo do face, insta, twitter. O pior de tudo é que ainda não te vi argumentar para fazer valer suas ideias. Assim, a impressão que eu tenho é que você conserva em si um saudosismo barato, sem fundamento – que, bem sabemos, não leva a nada. É o tipo de coisa que só traz atraso: sempre lembro da dificuldade que o GÊNIO Ray Charles enfrentou no início da carreira quando, ao mesclar o Rhythm & Blues com o Gospel, sofreu duras críticas por estar ‘indo contra os princípios dos estilos musicais em questão’.

Lembro também do Eminem, e aquele filme 8 Mile, no qual é exposto todo o drama que o cara teve que passar simplesmente por ser um rapper branco. E existem outros incontáveis exemplos semelhantes.

Um ‘molequinho de instagram’ tocar folk… não pode? Ah, pena que o guri tem talento…

A questão é a seguinte: o mundo teve que ralar demais para que as ‘menininhas brancas que deveriam cantar suave’ pudessem agir como ‘mulheronas negras com vozes cheias de vigor’, vide essas competições como American Idol em que a impressão que temos é a de que toda nova cantora traz consigo uma baita herança da Aretha Franklin. Essa ‘inversão de papéis’ é fundamental para que ocorra a desconstrução do pensamento comum, entende? Cada vez mais a tal linha que separa o branco do negro desaparece, e isso é ótimo. O apartheid social/musical que fique lá pra trás! Da mesma forma, creio que a tendência é que, através do talento dos músicos, o estigma de ‘hipster do instagram’ se perca por aí, e fique apenas a obra. É isso que acontece. Não adianta. Essa ‘pureza’ dos ‘poetas das ruas’ não existe mais, o tempo passou. O negócio é aceitar o artista em sua condição atual. E viva a pluralidade! É isso.”

Obviamente, o ser em questão não ousou responder. E eu fiquei feliz, com a sensação de missão cumprida. Delícia de vida.

– Aqui segue “Fire”, gravada por Jake em seu Iphone (é muito hipster mesmo, esse menino). Ficou simples e lindo. Fecha o primeira álbum – na minha opinião, uma obra-prima – com um toque nostálgico, super condizente com a essência do trabalho do britânico:

III – Os Álbuns & As canções próprias

O primeiro álbum é uma coleção de grandes – ainda que simples – canções. O segundo, mais ousado, é cheio de experimentações que apontam para um caminho ainda mais interessante a ser trilhado pelo músico britânico nos próximos anos.

Jake Bugg (2012)

O que há pra se dizer:

* Um disco de delicadeza ímpar. Simples, direto, cru. Irretocável do início ao fim.

* A voz diferenciada de Jake já chama a nossa atenção logo de cara.

* A profunda melancolia que emana de baladas como “Broken” é de partir o coração de qualquer um.

* É no equilíbrio entre a voz da inocência (que fala diretamente ao coração) e o som do passado (que evoca o peso do tempo sobre o jovem artista) que reside o sucesso do disco.

Shangri-La (2013)

O que há pra se dizer:

* Trata-se de um disco muito diferente do primeiro. Mais ousado. Menos uniforme.

* Uma sonoridade marcante, com guitarras poderosas e alguns elementos de Jazz.

* Em “Me And You”, belíssima canção, Jake fala sobre as dificuldades de se ter um relacionamento quando se é uma pessoa pública. Podemos identificar claramente uma maturidade em relação à ingenuidade de “Someone Told Me”, por exemplo, presente no álbum de estreia.

* “A Song About Love” é coisa de gente grande. Sua melodia lembra algumas das mais belas canções que Lennon & McCartney compuseram para o catálogo dos Beatles.

(…)

Eis aqui uma listinha contendo 5 músicas compostas por Jake Bugg que você precisa ouvir:

  1. “Broken”, de Jake Bugg – Primeiro Álbum (2012):

 

  1. “Taste It”, de Jake Bugg – Primeiro Álbum (2012):

 

  1. “Slumville Sunrise”, de Shangri-La – Segundo Álbum (2013):

 

  1. “A Song About Love”, de Shangri-La – Segundo Álbum (2013):

 

  1. “Friends”, não lançada oficialmente:

 

IV – Os covers de destaque

Uma das coisas que mais chamam atenção em Jake Bugg é a sua versatilidade – e o seu conhecimento musical, apesar da pouca idade. Com uma vasta gama de referências, que inclui nomes como Neil Young, Don McLean, Jimi Hendrix e Oasis, o menino de Nottingham está constantemente experimentando em cima dos palcos. E não tem dificuldades em conferir a cada canção que interpreta, a sua própria personalidade:

  1. “What Is A Youth”, de Nino Rota:

 

  1. “Like Dreamers Do”, dos The Beatles:

 

V – O Show em POA

Sobre o show do Jake Bugg em POA (25 de novembro de 2014) – que tive o privilégio de assistir bem de pertinho –, escrevi o seguinte:

Uma breve resenha do show, escrita no “calor do momento”: os primórdios do rock estão de volta, muito bem representados por este “gnomo mal-humorado” que tanto me orgulha. Com “Trouble Town”, foi agitação. Com “Simple Pleasures”, comoção. E com “Broken”… uma experiência única, algo muito especial, mesmo. Meio inexplicável, meio… espiritual.
Ele não se mexe muito no palco. Mal fala. Mas toca. E canta. E é tudo uma maravilha. Atinge em cheio, sem se esforçar muito, a alma do público. Objetivo, direto, certeiro. E lindo: “Simple as This”.

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