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Entenda Melhor | Papai Noel: Um Personagem de Cinema

Um panorama de narrativas cinematográficas protagonizadas pelo bom velhinho.

por Leonardo Campos
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Antes de começar a nossa trajetória pela representação do Papai Noel no cinema, um questionamento de ordem dramática: o que compõe a edificação de um personagem no bojo de uma narrativa ficcional? Em linhas gerais, as suas dimensões físicas, psicológicas e sociais. Ao falarmos do bom velhinho, tais pontos podem ser facilmente destacados, haja vista a ampla presença desta figura do nosso imaginário como elemento ficcional de numerosas narrativas, não esgotadas aqui por uma questão editorial, mas apresentado por meio de um panorama que se estabeleceu por meio da disponibilidade e interesse do autor, quem vos escreve, na seleção das histórias que retratam tal personagem padronizado dentro de perspectivas e situações relativamente distintas. Aos interesses em pormenores adicionais sobre o Papai Noel e sua trajetória biográfica, indico a leitura da análise do livro de Gerry Bowler, intitulada Papai Noel: Uma Biografia, texto veiculado num dos especiais natalinos do site numa ocasião anterior.

Agora, um punhado de história. Preparados para o percurso?

As versões são múltiplas, afinal, são séculos de transformações que adaptaram a estrutura do mito para as diversas culturas na qual o Papai Noel encontra-se enraizado. Em geral, como já mencionado, a figura de silhueta obesa, longas barbas brancas, um trenó e muitos presentes para distribuição. Ele representada, genuinamente, harmonia, solidariedade e fraternidade. Desce pelas chaminés e deixa para as crianças os presentes tão almejados. Um dos pontos propagadores de sua mitologia é São Nicolau, um renomado clérigo católico, arcebispo de Mira, cidade hoje que representa o território da Turquia. De boa índole e conhecido por agradar as pessoas carentes, deixava moedas de ouro nas chaminés das casas de pessoas socialmente desprivilegiadas. A sua ação era noturna, pois não pretendia ser visto no ato de caridade. Foi desse ponto de partida que o personagem teve o legado importado para a Alemanha e depois dispersado culturalmente por tantas outras localidades, repletas de suas peculiaridades culturais.

Conta-se que em janeiro do ano 400 d.C., o bispo Astério de Amaneia fez um sermão em que criticou os cristãos e os presentes fornecidos no natal. São dados que constam em Papai Noel: Uma Biografia, de Gerry Bowler, trecho do livro que relata a indignação do representante religioso ao alegar que a festa às vezes incita as crianças ingênuas e inocentes a se tornarem pessoas excessivamente gananciosas. É uma forma de impressão na criança daquilo que é comercial e sórdido. O material valioso levanta questões interessantes, algumas delas, desenvolvidas nos filmes selecionados para esta abordagem panorâmica. Uma das mais importantes é a seguinte: com os presentes, os pais podem manter a ordem ao longo do ano ou nas proximidades? Essa parece ser uma das lógicas do período natalino na contemporaneidade, reversão do que chamaríamos de “essência” deturpada das origens do Papai Noel. Para os europeus, ele vive solitariamente no Extremo Norte, para os estadunidenses, convive com a também bondosa Mamãe Noel e trabalha anualmente em prol da distribuição de presentes, sendo associado, com o passar dos anos, ao nascimento de Cristo, tornando-se uma referência para os dias 24 e 25/12.

Em alguns países protestantes, onde as religiões deste tipo são dominantes, por isso, a presença do natal se tornou ameaçada, algo mais grave que fornicação. Basicamente, o Papai Noel é um personagem construído com base em múltiplas versões na formação de sua mitologia. Uma delas é a já mencionada história de São Nicolau, ao descobrir a história de um pai incapaz de prover o básico para as filhas, entregando-as para a prostituição. A vida escrava é modificada quando o patriarca encontra o ouro necessário para se manter. A história do pai que salvou as filhas da vergonha se espalhou, tal como a versão sobre São Nicolau idoso, ao parar numa hospedaria onde o estaleiro assassinou três jovens estudantes, esquartejando-os. Além de ressuscitar os jovens, ele dá perdão ao estaleiro. Solidariedade, perdão e amor são os valores que envolvem as bases do chamado bom velhinho, distribuidor de bençãos e presentes, como poderemos contemplar nas narrativas cinematográficas do próximo tópico.

Num considerável salto temporal, chegamos em 1999. Neste ano, o cidadão Robert William Handley, morador do condado de Franklyn, em Ohio, foi aos tribunais para brigar por seu posto de Papai Noel. A sua façanha, guiada por um potencial cinematográfica, nos permite lembrar algumas cenas de Meu Papai É Noel, com Tim Allen em apuros na tentativa de provar ao mundo que se tornou o substituto do “bom velhinho”. Handley apareceu com os seus óculos de aro de metal, alegando ser tal personagem que habita o nosso imaginário há eras. Especialistas julgaram que a sua postura não deveria ser levada em consideração, pois ao morrer ou agir ilegalmente, colocaria em xeque o legado de uma das representações mais poderosas do Natal, a festa do amor e da família, mas também do capitalismo que ferve em nossa sociedade de consumo. Assim, diante do exposto, vamos agora contemplar a presença deste personagem de grande força em nosso imaginário, anualmente atribulado, pois o número de produções voltadas ao seu mito é grandioso. Leia, anote os títulos, assista o que for possível e volte para comentar.

Para começar, vamos aos clássicos, para logo depois, traçar um grande salto temporal, combinado? Um dos filmes na temática mais conhecidos é Milagre na Rua 34, produção que ganhou uma refilmagem em 1994. Na versão de 1947, dirigida por George Seaton, também responsável pelo roteiro, inspirado num conto de Valentine Davies, acompanhamos a dinâmica de uma loja de departamento chamada Marcy’s. Eles precisam contratar um Papai Noel e, por acaso, acabam encontrando o verdadeiro bonachão sábio por acaso. Não demora para o personagem cativar a todos, demonstrando altruísmo, respeito, dentre outras características que demarcam a sua personalidade. Com foco no debate sobre fé e busca pelo sentido do Natal, o filme emociona, mas também não deixa de reforçar, mesmo que discretamente, os valores associados ao que chamamos de lógica mercadológica natalina. Não chega a ser escancarado e vulgar como outras narrativas do tipo, mas a pulsão está lá. De Ilusão Também Se Vive é outro título fornecido ao filme, uma das maiores referências do Papai Noel no cinema.

No humorado, mas mediano Você Conhece Papai Noel, de 2005, Harvey Frost assume o roteiro de Pamela Wallace para nos apresentar a seguinte trama: uma mulher se casa com um homem que assumiu o posto do bom velhinho no último dia 26 de dezembro. Com o casamento marcado para a véspera do Natal, ela se encontra bastante ocupada com as funções de Sra. Noel. Por isso, precisará chamar a sua mãe, uma pessoa com quem guarda sérios conflitos e se mantém afastada, para ajuda-la na organização do evento. Segredos de família, noivo desconhecido e muitas confusões envolvem esta narrativa que reforça o perdão como uma das estratégias da magia natalina e sua inserção modificadora em nossas vidas. Em Como Papai Virou Noel, de 2007, o texto de Martin Olson é assumido por Davi Kim, realizador que nos apresenta uma animação sobre os enfrentamentos de bom velhinho durante o período natalino. Os mares próximos ao Polo Norte são atacados por Dingle, irmão de Noel, sequestrador dos duendes que auxiliam o presenteador de Natal, colocando os festejos em risco. Será preciso uma grandiosa missão para colocar as coisas de volta no lugar, numa narrativa divertida, mas dramaticamente razoável, sem grandes momentos inspiradores.

No desenvolvimento de Procura-se Papai Noel Desesperadamente, lançado em 2011, Craig Pryce se direciona pelo roteiro de Michael J. Murray para contar aos espectadores a história de uma executiva ambiciosa, responsável pela administração de um shopping. Certo dia, ela precisa contratar um Papai Noel para o empreendimento. A chegada de um médico que passa por algumas crises pessoais faz a magia natalina acontecer, abrindo espaço para a paixão entre a profissional e o sensual e sedutor jovem que se torna o seu interesse amoroso. Com ritmo dinâmico e desenvolvimento autêntico, Papai Noel às Avessas é uma narrativa bastante divertida e inteligente, com sacadas reflexivas interessantes, indo além dos clichês sentimentalistas e hipocrisias habituais do período natalino. Lançado em 2003, o filme nos apresenta Willie, interpretado pelo constantemente ótimo Billy Bob Thorton, um homem que ganha a vida disfarçado de Papai Noel para assaltar lojas em pleno Natal. Ele está sempre acompanhado de um anão disfarçado de elfo, sempre prontos para fazer a festa do surrupio. As coisas mudam, por sua vez, quando um menino lhe causa encantamento e demonstra a “verdadeira” essência natalina. De grosso e impaciente com os pedidos das crianças, o ladrão de senhas e cofres vai ter uma nova experiência em sua vida. Dirigido por Terry Zwigoff, realizador guiado pelo roteiro de Glenn Ficarra e John Requa, o filme ganhou continuação em 2016, também protagonizado pelo mesmo ator, agora com o foco num golpe contra uma instituição de caridade localizada em Chicago. Leia-se: muitas confusões e reversões do mito do bom velhinho.

No relativamente interessante Santa Girl, de 2019, acompanhamos a filha do Papai Noel numa nova perspectiva de vida. Ela ingressou na faculdade no “mundo real” e agora vive diante de outros valores. Dirigido por Cassie Claus e roteirizado por Blayne Weaver e Patrícia Harrigton, o filme traz muitas reviravoltas fora do lugar e design de produção extremamente básico para a temática natalina. É uma história básica que nos apresenta os dilemas da garota entre estudar e ter que cumprir as obrigações oriundas de sua origem familiar. Antes, em 2005, A Filha de Noel teve um desempenho um pouco melhor. Regido por Ron Underwood, cineasta baseado no texto de Garret Frawley e Brian Turner, acompanhamos a trajetória de uma renomada executiva e seu ousado projeto para tornar o acesso ao shopping diferenciado, num empreendimento que promete mudar o cenário de consumo de sua região, mas infelizmente, os planos mudam quando o seu pai sofre um infarto. Ela precisará reajustar a sua vida, principalmente pelo fato de o pai ser ninguém menos que Noel. Falta apenas um mês para o Natal e a personagem precisa correr contra o tempo para dar conta da empreitada de organização e entrega dos presentes.

Um ano antes, o cineasta Robert Zemeckis emocionou o público com as belas imagens de O Expresso Polar, narrativa escrita em parceria com William Broyles, ambos inspirados na história de Chris Van Allsburg. Na trama, um menino tomado pelas dúvidas acerca da magia natalina pega uma carona considerada extraordinária para o Polo Norte e embarca numa jornada de autodescobrimento que o faz rever alguns conceitos de sua vida ainda incipiente. Ele não acredita em Papai Noel e numa situação inusitada, tem a sua existência modificada para sempre. Belo e ousado, o filme com presença de Tom Hanks é uma animação sofisticada que nos ilustra o lado misterioso, bondoso e acolhedor de Noel e do Natal. Caso tivesse o tempo de duração um pouco menor, cumpriria a sua função narrativa sem deixar espaço para algumas falhas dramáticas, bobas, mas perceptíveis. Alguns anos antes, em 1989, A Verdadeira História do Papai Noel conta a história de um mestre em fazer brinquedos, instalado no Polo Norte, prejudicado por causa de uma revolta de seus elfos, direcionados ao trabalho para um magnata que pretende dominar o Natal. No processo, será preciso uma batalha para salvar os festejos natalinos. Concebida por Jeannot Szwarc e escrito por David Newman e Leslie N, a produção diverte e propõe reflexões.

No humorado Um Papai Noel em Apuros, de 2016, Ken Feinberg rege o roteiro de Kelly Nettles e Craig Tollis para nos contar a saga de Papai Noel diante de uma greve de duendes que põe em risco a produção anual de presentes. As criaturas em questão estão sem entusiasmo, pois consideram que as crianças estão muito ingratas e sem educação, o que depõe contra a entrega de presentes realmente merecidos. Assim, com toda sua benevolência, Noel leva seis jovens para o seu campo de treinamento, tendo em vista ensinar a arte de fazer brinquedos. A decisão acaba dando errado, o bom velhinho se decepciona e com a sua desistência, os duendes e as crianças convidas resolvem retomar o projeto de Papai Noel e salvar o Natal. Divertido e inofensivo, a comédia para toda a família reforça o legado mercadológico dos valores mais recentes deste personagem. Tudo discretamente, tal como O Melhor Amigo do Papai Noel, de 2010, dirigido por Robert Vince, também responsável pelo texto, ao lado de Paul Tamasy e Anna McRoberts. Na trama, a magia natalina não pode se perder e Papai Noel, juntamente com seu cachorro fofo, Santa Paws, precisam convencer um benfeitor que é proprietário de uma loja de brinquedos a continuar a suas boas ações natalinas.

No também humorado Papai Noel & Cia, dirigido e escrito por Alain Chabat, em 2017, os duendes também perdem o impacto de produção, pois ficam doentes. Assim, o personagem precisa sair em busca de um medicamento que salve não apenas os seus ajudantes, mas também o período natalino com seu habitual ritual de entrega de presentes. Trapalhadas também dominam O Papai Noel Trapalhão, lançado em 2000, protagonizado pelo mestre do histrionismo, Leslie Nielsen. Na trama, o ícone natalino despenca na Terra depois de um acidente e perde a memória. Um astuto repórter que detesta o Natal o encontra e o leva para um shopping, tendo em vista coloca-lo no lugar do Papai Noel que atenderá aos pedidos da criançada. Seu faro jornalístico, no entanto, permitirá que ele invista numa pesquisa apurada e acabe descobrindo a verdadeira origem do homem acidentado, modificando, neste processo, a sua vida e fé nas coisas. Dirigido por William Dear e escrito por Debra Frank, Steve L. Mayes e Chad Hoffman, o filme traz o padrão Leslie Nielsen de qualidade, com excessos e situações burlescas. Sendo Natal, as confusões ficam ainda mais esfuziantes e engraçadas, sem grandes preocupações além do entretenimento.

Estruturado pelo texto de James Robert Johnston e Bennett Yellin, O Ajudante de Papai Noel também enfoca na magia natalina como elemento de modificação na vida das pessoas. Na trama dirigida por Gil Junger, um executivo perde o emprego e recebe a chance que mudará a sua concepção de valores: ser o ajudante de Papai Noel. Nesta aventura, lançada em 2015, a vaga é cobiçada e ele terá de batalhar com um elfo ardiloso, interessado há tempos no posto. Substituições também direcionam a narrativa de O Reserva de Noel, de 1999, produção que nos conta a trajetória de um homem que enfrenta problemas de todo tipo para ser o substituto de Noel, afinal, o seu foco é reconquistar o amor e a confiança da filha. Escrito e regido por Douglas Bowie, o filme é uma diversão tocante, amena, simplória, focado, tal como os demais, no perdão e na solidariedade como direcionamentos para o período natalino. Será possível perdoar e esquecer? É o que o leitor saberá ao conferir o desenvolvimento desta narrativa acima da média.

Rever valores e conseguir reconquistar a confiança também é algo presente na Trilogia Meu Papai é Noel, com Tim Allen, clássico das Sessões da Tarde e do Cinema em Casa na era do auge de filmes contemplados na TV aberta. O primeiro da franquia, dirigido por John Pasquin e escrito por Steve Rudnick e Leon Benvenuti, traz Papai Noel se acidentando na casa do protagonista ao entregar os presentes natalinos na vizinhança. Com isso, o Scott de Allen terá de assumir o posto e se organizar para manter a chama capitalista do Natal acesa e operante. Logo depois, tivemos Meu Papai é Noel 2, focado na retirada do nome do filho de Scott da lista de presentes do período em questão, pois uma decisão arbitrária do novo Noel rever o que é boa educação e comportamento, colocando o personagem do primeiro filme em ação para reverter as coisas, gás que precisa ser continuado em Meu Papai é Noel 3, batalha do bom velhinho no enfrentamento de Jack Frost, criatura maligna que pretende sabotar a fábrica de brinquedos e dominar o Polo Norte.

Em 2018, a Netflix lançou Crônicas de Natal, comédia natalina com Kurt Russell, dirigida por Clay Kaytis e escrita por Matt Lieberman, dramaturgo baseado no texto de David Guggenheim. Na história, duas crianças notam o Papai Noel em sua casa, durante uma visita para a habitual entrega de presentes. Curiosas, elas adentram no trenó já pronto para a partida com as renas e acabam embarcando numa viagem que seria fantástica, caso a condução de Noel apresentasse bom funcionamento, o que não acontece. Com a necessidade de continuidade na distribuição dos presentes, a dupla se une ao ícone natalino para resolver a situação e manter a missão devidamente ordenada. Com uma continuação menos empolgante lançada posteriormente, já se discute a possibilidade de mais um filme para compor o que agora é uma franquia. De volta aos anos 1970, temos outro obstáculo para o personagem em O Ano Sem Papai Noel, escrito por Phyllis McGinley e William J. Keenan, projeto assumido pela dupla Jules Bass e Arthur Rankin Jr. Na animação, Papai Noel se sente doente e indesejado, frustrado com as circunstâncias pessoais e do mundo, postura que o faz desistir da entrega de presentes. Quando os elfos mostram todos os brinquedos preparados ao longo do ano, a alegria retoma a vida deste brilhante personagem e o Natal de “todas” as crianças está mais que garantido. Divertido, simplório e inofensivo.

Já no bizarro Papai Noel Vigarista, a cineasta Melissa Joan Hart comanda a história escrita por David Breckman, nos contando a saga de um vigarista que trabalha como Noel numa loja de departamentos, focado apenas em seus interesses pessoais e na esperteza, postura modificada quando conhece uma criança e decide ajudar o pequeno na missão de reunir novamente os seus pais nos laços matrimoniais. Lançada em 2014, esta comédia é delicada, divertida, mas sem grandes momentos memoráveis, apenas entretenimento mais ligeiro, com algumas lições moralistas cabíveis ao período em questão. Constantemente focado em si, agora o malandro precisará tirar um pouco de tempo para pensar no “outro”. Por fim, ao passo que flertarmos com tom maligno do ambicioso Jack Frost e uma versão ordinária do ícone natalino, é preciso destacar que não é apenas de comédia que se faz a presença do Papai Noel no cinema. O bom velhinho já foi antagonista de numerosas produções de puro horror.

Natal Sangrento, de 1984, de Charles E. Sellier, duas crianças viajam com os pais na noite de Natal e são interpelados por um homem que pede ajuda com o carro na estrada deserta. O problema é que a abordagem era um assalto e a figura trajada de Papai Noel assassina os pais e deixa as crianças traumatizadas, agora enclausuradas num orfanato regido por uma madre rigorosa. Lá, um deles vai crescer angustiado e se tornar um psicopata monstruoso, a ceifar vidas durante a noite natalina, após ter um surto ao ser obrigado a se vestir de Noel na loja de departamento onde trabalha. Em Natal Sangrento 2: Retorno Macabro, de 1987, de Lee Harry, temos uma curiosa jornada que aproveita mais de 50 minutos de cenas do filme anterior para mostrar, agora, a postura do irmão mais novo da produção de 1984. Ele se tornou um maníaco e tem como meta, destroçar vidas incautas durante a noite de Natal. Não sobra espaço para piedade e nem mesmo as pessoas boazinhas são poupadas da morte. Natal Sangrento, de 2012, refilmagem de Steve C. Miller, também retoma o clássico polêmico para recontar a história, agora mais sádica e irônica, com participação de elenco renomado, narrativa que engloba Malcolm McDowell e Jamie King. É aquele tipo de retomada tosca, mas bastante divertida. Natal Sangrento, de 2017, de Reinet Kill, traz a mesma estrutura dos anteriores. Um homem com graves questões psiquiátricas se veste de Papai Noel para colecionar vítimas, numa noite natalina, tal como prega a cartilha slasher. Além disso, tem Natal Diabólico, de 1980, sombria e bizarra história de uma criança que testemunhou os seus pais se relacionando sexualmente no passado e com isso, tornou-se um psicopata perigoso que aniquila as suas vítimas, trajado de Papai Noel.

O que podemos refletir ao final deste panorama? Basicamente, o Papai Noel é um personagem que representa valores que remontam aos meandros de suas origens, isto é solidariedade, amor, fraternidade, respeito, fé, dentre outras coisas “sublimes”. No entanto, a figura também se tornou associada ao processo de lógica mercadológica de consumo, em especial, no último século, transformando-se num ícone da Publicidade e Propaganda para disseminar o ideal de felicidade associado ao momento de entrega de presentes. As suas cores, conhecidas atualmente, possuem relações com o imaginário associativo do bom velhinho com a imperiosa Coca-Cola, numa imagem que se tornou obrigatória em campanhas e nas decorações dos lares nos quatro cantos do planeta. Levado para o contexto sombrio, Noel também ganhou versões que ironizam a sua presença no bojo da cultura, apresentado em algumas narrativas como a figura ideal para inspirar visualmente psicopatas insanos em seus ataques, geralmente, na noite de Natal. Com vasta presença na cultura pop, tal como dito anteriormente, não pretendi esgotar a presença do bom velhinho por aqui, mas iluminar as vias por onde este icônico personagem já caminhou, dentro de uma perspectiva cinematográfica, deixando espaço para que você, caro leitor, dinamize a sua leitura e encontre outras opções, combinado?

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