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Entenda Melhor | “The Dark Side Of The Moon”

por Handerson Ornelas
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There is no dark side of the moon really, as a matter of fact it’s all dark.

Pink Floyd

Em 1973 era lançado um certo álbum com um prisma na capa, me pergunto se os primeiros a escutarem a obra imaginavam que aquela imagem ia ser usada pelo resto da história. Aquilo viria a ser um símbolo não só do rock, mas da música.

The Dark Side Of The Moon foi responsável por mudar os parâmetros da música, alguns foram influenciados diretamente, outros indiretamente. Se for comparada com clássicos do cinema possivelmente suas melodias e arranjos seriam relacionados com o excelente roteiro de O Poderoso Chefão, enquanto sua temática com a complexidade de 2001 – Uma Odisséia no Espaço. Todo mundo sabe que a música é uma das maiores expressões artísticas, mas as melodias, letras e ambições daquele álbum não se limitavam à música. “O Lado Oculto da Lua”: o nome tinha uma justificativa. A obra nasceu com um tema sólido: o ser humano. O Pink Floyd queria falar da vida nas suas mais míseras partes. Queria falar dos problemas que persistem – e alguns que sempre vão persistir – na vida humana.

Inspirados no seu ex-vocalista, Syd Barret, que teve sua saúde mental abalada devido a drogas, a banda embarcou sério na mente humana. Os temas mais controversos estavam no The Dark Side Of The Moon. Os conceitos que escravizam e definem o ser humano: o tempo, o dinheiro, a cobiça; além de temas como a loucura e as drogas. A banda pegou a sociedade inglesa e mostrou seus podres como forma de exemplificar os podres do ser humano, estavam gritando a berros a forma de vida medíocre da sociedade.

A introdução com máquinas de escrever, risadas e barulhos aleatórios de Speak To Me chamam você para a loucura do disco. No entanto, tudo aquilo muda para a melancolia de Breathe, faixa que funciona quase como um poema sobre a miséria humana. A grande prova de como cada integrante era essencial para as composições, a excelente letra foi criada com a participação de quase todos os membros (assim como Time). O tema sobre o efeito da loucura e das drogas chega, seja em forma de efeitos eletrônicos ou de guitarras psicodélicas, em faixas como On The Run e Any Colour You Like.

Time é um dos maiores destaques do Pink Floyd, o clima tenso de sua introdução acumula até certo ponto e desaba em letra e melodia bem fortes. A faixa fala sobre o tempo, desde o simples ato de envelhecer evidenciado em versos como And you run and run/ To catch up with the sun/ But it’s sinking (E você corre e corre/ Pra alcançar o sol/ Mas ele está se pondo) até o medo da morte em versos como But you are older/ And shorter of breath/ And one day closer to death (Mas você está mais velho/ E com menos fôlego/ E a cada dia mais próximo da morte).

A capa virou um símbolo da arte e passou a ser representado de diversas formas.

The Great Gig In The Sky é uma metáfora para o desespero que se pode ter frente aos temas citados no disco, Clare Torry brilha com sua voz e sabe os momentos certos de causar desespero e de acalmar. O clima de melancolia é quebrado quando entra Money. Afinal, é preciso um clima animado pra falar do dinheiro e de todo seu poder, seja usando o excelente saxofonista, Dick Parry, ou com o solo espetacular de David Gilmour.

Us And Them sabe transpor o tema da solidão totalmente para a melodia. Difícil descrever o brilhante arranjo da canção, talvez, só afirmando que é uma melhores canções que a banda já fez. Nela tem tudo, Dick com sua extrema competência no saxofone, brilhantes notas ao piano, coral afinado e a calma essencial na voz de Gilmour e Wright. Brain Damage se caracteriza pelo tom apropriado pra falar de Syd Barret, as drogas e a loucura são o tema central aqui. Roger Waters parece escrever diretamente para seu amigo: “I will see you on the dark side of the moon”.

O fim de Brain Damage emenda na poesia chamada Eclipse. Digo isso pois é isso que ela é, claramente escrita com a métrica de uma poesia. Um resumo das ideias colocadas no disco, simplifica o ser humano com atos e metáforas em um arranjo que parece de fim de espetáculo. Até hoje, não achei uma faixa que terminasse um álbum tão bem quanto essa. Ainda procuro.

P.S.: Você está proibido de escutar o álbum no aleatório! A ordem possui toda uma importância nesse álbum.
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A Capa

Provavelmente a capa mais famosa da história, junto da capa de Abbey Road dos The Beatles. A arte de um disco muitas vezes pode até ser isenta de significado, no entanto, não é o caso desse álbum. A arte criada pelo designer Storm Thorgerson foi feita pra corresponder completamente às ideias da banda para o álbum. Storm e a banda chegaram a visitar o Egito em busca de ideias para a capa. Eis que ela surge: um feixe de luz transpassando um prisma e se decompondo em um espectro de cores. Uma metáfora, não só para as dúvidas que a humanidade possui, mas para a própria humanidade. Todos sabemos que a ciência diz que a lua tem um lado oculto que ninguém foi capaz de ver. O título relaciona esse “lado oculto da lua” como o lado que todo ser humano possui e tenta esconder, nosso lado repleto de falhas, mas o mais humano. Além das inúmeras filosofias que você pode fazer, um mais simples e citada por Thorgerson é de como aquele simples som – representado pelo feixe – poderia significar uma complexidade de coisas que a banda queria tratar.
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Onde, quando e porquê

The Dark Side Of The Moon foi o oitavo disco do Pink Floyd, lançado em 24 de março de 1973, correspondeu a uma pequena e importante mudança no som da banda, se caracterizou pela diminuição na duração das canções e a adaptação para uma sonoridade um pouco mais direta e com mensagens mais claras. O álbum, inicialmente, ia ser chamado de Eclipse, uma ideia que até combinaria com o disco, além de relacionar com a excelente faixa que fecha o disco. Gravado no lendário estúdio Abbey Road, em Londres, no período de junho de 1972 até janeiro de 1973, o álbum teve supervisão de mixagem de Chris Thomas e do excelente engenheiro de som, Alan Parsons. Apesar de não contar com o ex-vocalista, Syd Barret, este se mostra um personagem essencial para o disco. Syd saiu da banda devido a problemas graves com drogas. Só pra ter uma ideia do fundo do poço para Barret: a banda conta que, nas gravações de Wish You Were Here, o ex-membro apareceu nas gravações todo maltrapilho, gordo e com a aparência acabada. Apenas depois de algumas horas os integrantes o reconheceram.

O ex-vocalista foi a principal inspiração de Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright para o disco. Um ser humano falho e cheio de problemas, foi o plot twist para a banda falar do que mais queriam: o ser humano. Syd e seus problemas inspiraram o grupo, principalmente no que se refere à loucura, o obscuro, o lado falho e humano que é escondido dentro de cada um de nós. O famoso “lado escuro da lua”.

O álbum entrou pra história com títulos de causar inveja a muita gente:

  • Vendeu mais de quinze milhões de cópias, considerado o terceiro álbum mais vendido do mundo.
  • Segundo estatísticas, um em cada cinco lares em Londres possui o álbum.
  • É o único disco a constar no The Guiness Book of World Records como o álbum na indústria fonográfica a ficar por 591 semanas (11 anos e 4 meses) ininterruptos na lista dos 200 mais vendidos da revista Billboard, além de 741 semanas (15 anos e 4 meses) que passou oscilando entre entradas e saídas dessa lista.
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The Dark Side Of The Rainbow – O álbum e O Mágico de Oz

Está aí uma das histórias mais bizarras do mundo da música. The Dark Side Of The Rainbow é o nome que se refere ao efeito de tocar The Dark Side Of The Moon com o filme de 1939, O Mágico de Oz. Se ligar o disco do Pink Floyd exatamente após o terceiro rugido do leão da MGM, a sincronia entre filme e álbum será incrivelmente quase perfeita. A sincronia vai desde as melodias – que se encaixam muito bem nas cenas, parecendo trilha sonora – até frases que combinam com o que está acontecendo no filme. Esse efeito é realmente espetacular, e o pior é que a banda insiste que isso não foi proposital e que não passa de uma coincidência! Se o que eles dizem é verdade, essa é uma das maiores coincidências do universo. Existem muitos detalhes que podem ser observados, confira abaixo uma pequena amostra sobre esse efeito.

  • A duração da maioria das canções coincide exatamente com a duração das cenas no filme. O tom de suspense de On The Run começa exatamente quando Dorothy cai do cercado; a tensão de The Great Gig In The Sky termina assim que o furacão cessa, e quando inicia Money – a canção mais animada do álbum – aparece a primeira visão colorida do filme (Dorothy chega em Oz).
  • Quando Dorothy está na fazenda, ela olha para o céu no mesmo momento que toca um barulho de avião.
  • Os gritos e o clima de desespero de The Great Gig In The Sky (o nome da faixa também se encaixa com o fato) se sincronizam com os efeitos do tornado no filme.
  • No exato momento que surge a bruxa má do oeste, é cantado “Black!” em Us And Them.
  • Dorothy encontra o Espantalho quando toca Brain Damage. As coincidências aí são gigantescas. O que o espantalho queria? Um cérebro (Brain). Os versos “The lunatic is on the grass” (o lunático está no gramado) são cantados e adivinhe onde o espantalho lunático está? Além de tudo, os solos psicodélicos de Any Colour You Like formam a trilha sonora perfeita para o jeito desengonçado de andar e dançar do personagem.
  • Quando certa personagem aparece de bicicleta, começam os sinos de Time, barulho muito similar a de campainhas de bicicletas.
  • Quando Dorothy coloca o ouvido no peito do homem de lata, há uma ligação perfeita com a batida de coração no fim de Eclipse.
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As frases ao fundo

A obra possui alguns momentos um tanto obscuros, se aprofundando no conceito de loucura (inspirada nos devaneios e situações de Syd) que o álbum tenta tocar. Durante quase todas as faixas podem ser ouvidas conversas e frases ao fundo, são vozes de pessoas selecionadas pela equipe de gravação, foram gravadas de forma descontraída, como se não soubessem que estavam a ser gravadas. Algumas vozes incluem risadas um tanto assustadoras, além de frases aleatórias.

Speak To Me
I’ve been mad for fucking years, absolutely years, been over the edge of yonks, been working me buns off for bands…
(Eu tenho estado louco por malditos anos, um longo tempo, tenho estado no limite, tenho trabalhado muito por bandas…)
I’ve always been mad, I know I’ve been mad, like the most of us… very hard to explain why you’re mad, even if you are not mad…
(Eu sei que fui louco, eu sempre fui louco, como a maioria de nós… muito difícil de explicar porque você está com raiva, mesmo se você não é louco…)

On The Run
Live for today, gone tomorrow, that’s me!
(Vive pra hoje, se vai amanhã, esse sou eu!)

Great Gig In The Sky
I never said I was frightened of dying.
(Eu nunca disse que estava com medo de morrer.)

Us And Them
I haven’t had a good thump in years, absolutely years.
(Eu não tive um bom baque em anos, absolutamente em anos.)

I don’t know! I was really drunk at the time.
(Eu não sei! Eu estava muito bêbado na hora.)

Brain Damage
I can’t think of anything to say except… ahahahahahaha! I think it’s marvellous!
(Eu não consigo pensar em nada, exceto… ahahahahahaha! Eu acho maravilhoso!)

Eclipse
There is no dark side of the moon, really… as a matter of fact it’s all dark.
(Não há lado escuro da lua, na verdade… ela é toda escura.)
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Álbuns cover (tributos ao disco)

Como dito, o disco influenciou e revolucionou, o que levou a muitos artistas e bandas a criarem álbuns tributo ao disco, fazendo suas próprias versões e adaptações da obra. Confira a seguir, um pouco sobre alguns discos que prestaram homenagem ao The Dark Side of The Moon.

The Flaming Lips and Stardeath and White Dwarfs with Henry Rollins and Peaches Doing The Dark Side of the Moon

Provavelmente um dos álbuns de maior nome que existe. O The Flaming Lips e toda essa galera resolveu fazer um álbum tributo ao disco do Pink Floyd, mas o resultado foi bastante fraco. Apesar do rock psicodélico ser uma característica muito presente em The Dark Side Of The Moon, o The Flaming Lips pegou isso e elevou à estratosfera. O álbum é extremamente psicodélico e experimental e, nesse caso, isso não é um elogio. O disco fiou cru, tirou todas as boas melodias do trabalho original, além de soar como um disco preocupado apenas com a sonoridade e não com a temática. Ainda que cheio de defeitos, ele possui algumas boas surpresas, como as versões de Any Colour You Like – um ótimo rock psicodélico – e Eclipse, que ficou com uma boa cara de rock alternativo.
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Easy Star All Stars – “The Dub Side Of The Moon”

Esse é um dos covers mais inovadores e sensacionais. Easy Star All Stars é uma banda de reggae que faz tributo a discos clássicos, um dos álbuns que eles lançaram se chama The Dub Side Of The Moon. Bem, acho que não preciso dizer a qual álbum era esse tributo. O fato é que se você é um cara preconceituoso com outros estilos de música, não vai gostar dessa obra. No entanto, se você tem a mente aberta e gosta de reggae, vai amar esse álbum. A banda já mostrou em sua discografia que é bastante competente, vale dizer que os grandes acertos do álbum são: manter uma aparente temática do original, além de manter as ótimas melodias, agora inseridas de uma forma diferente, em instrumentos característicos do reggae. É incrível como a versão de Money tira todo o elemento rock, substituindo pelo reggae, e ainda soa como a mesma canção. O álbum inteiro é excelente, mas as versões de Time e Us and Them são de explodir a cabeça de muita gente. Fantástico!
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Dream Theater – “The Dark Side Of The Moon”

A maior banda de metal progressivo tem o Pink Floyd como uma de suas bandas preferidas, assim, não é surpresa ter um álbum cover do “Lado Escuro da Lua”. O álbum é ótimo, mas peca por não ser muito inovador, apresenta ser apenas um cover bem executado. Esse trabalho é o The Dark Side Of The Moon tocado com riffs de guitarra mais pesados, nada muito além disso. O respeito que se teve com as músicas originais, assim como a destreza com que os integrantes tocaram (o solo de Money que já era mítico, se tornou uma verdadeira lenda nessa versão) são qualidades que fazem dele um bom álbum.

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As histórias sobre o álbum são quase infinitas, tamanho são os enigmas que o disco possui. E você? Conhece outras histórias desse álbum misterioso? Sinta-se livre para comentar. Caso não conheça o disco, espero que esse texto tenha te convencido a escutá-lo. Afinal, você está perdendo um dos maiores clássicos da música.

The Dark Side Of The Moon
Artista: Pink Floyd
País: Inglaterra
Lançamento: 23 de março de 1973
Gravadora: Harvest Records (UK) e Capitol Records (USA)
Estilo: Rock Progressivo, Rock Psicodélico

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