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Entenda Melhor | “The Rise and Fall of Ziggy Stardust” – David Bowie

por Handerson Ornelas
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No início de nossa cobertura do Especial Ficção Científica fui abordado por nosso imperador Luiz Santiago para um possível texto sobre The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars, o clássico álbum de David Bowie. Bem, vendo a possibilidade de falar sobre um dos melhores discos da história do rock, aqui estamos em mais um Entenda Melhor de um clássico da música, na linha do que fizemos para The Dark Side Of The Moon do Pink Floyd.
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O disco e sua história

The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars é um disco conceitual lançado em 6 de junho de 1974, quinto disco de David Bowie. O álbum conta a história de Ziggy Stardust, um alien superstar do rock que junto de sua banda, The Spiders From Mars, são responsáveis por trazer esperança a humanidade através de sua música. Bowie, então, incorpora a figura de Ziggy Stardust para falar em suas músicas sobre política, drogas e orientação sexual. David assumiu o bissexualismo, vestiu e obrigou sua banda a vestir roupas bizarras no melhor estilo sci-fi brega da época e adotou uma das posições mais rockeiras da história. Iggy Pop (zIGGY), Lou Reed e Jimmi Hendrix (canhoto, como Ziggy) são algumas das possíveis influências de Bowie para a criação do personagem, mas o único que o cantor realmente cita como influência é Vince Taylor, um cantor louco inglês, famoso na década de 60, que levou seu lado “rockstar” ao extremo se chamando de Son Of God (filho de Deus). Bowie conheceu Taylor em 1966 e aproveitou pra pegar muitas das características do cantor para construir seu personagem.

Five Years, a porta de entrada da história de Ziggy, traz a mensagem apocalíptica: a Terra, agora em crise e sem esperança, possui apenas mais 5 anos de existência. A progressão lenta, o clima acústico e a presença do piano serve de plano de fundo para contextualizar tal drama. Bowie lamenta em desespero ao fim da faixa: “We’ve got five years, that’s all we’ve got”. Em seguida, Soul Love carrega um arranjo impecável que mistura o soul e o jazz ao rock’ n roll e passa uma típica mensagem hippie falando sobre amor. No contexto do disco é Ziggy passando uma mensagem de esperança para os humanos, assumindo uma figura de profeta e salvador. Moonage Dream é um rock personificado em belos riffs de guitarra que trazem um âmbito espacial e psicodélico a faixa, não é a toa que foi muito bem inserido na trilha de Guardiões da Galáxia. O cantor sintetiza a faixa em um verso: “I’m the space invader, I’ll be a rock ‘n’ rollin’ bitch for you”. Starman é sobre “O Homem Estelar”, uma entidade em que as esperanças seriam depositadas, a figura que Ziggy profetiza que viria salvar o planeta. It Ain’t Easy amplia o cenário de tragédia da Terra e mostra como o processo para salvar a Terra será difícil, enquanto Lady Stardust parece ser Ziggy cantando sobre si mesmo, sobre sua androgenia, seu bissexualismo e sua caracterização (“People stared at the makeup on his face”). 

O trio Star, Hang On To Yourself e Ziggy Stardust são enérgicas, personificam o poder de transformação do rock n’ roll, é Ziggy Stardust junto do The Spiders From Mars chegando ao clímax da carreira de um rockstar, fazendo turnês e passando sua palavra. A faixa Ziggy Stardust sintetiza bem a obra e particularmente é a preferida desse que aqui escreve. A faixa começa e termina com a mesma frase: “Ziggy played guitar”. Em sua metade volta a repetir “He took it all too far but boy could he play guitar” (Ele levou tudo muito longe, mas ele podia tocar guitarra). É como se Bowie tivesse gritando o poder que a música e o rock tem na vida das pessoas. Weird and Gilly, citados na faixa, seriam o baixista Trevor Bolder e o baterista Woody Woodmansey do Spiders From Mars. Suffragette City é Ziggy cantando aufórico uma balada animada com uma guitarra bem alinhada ao piano, lembrando o soft rock de Elton John. Finalmente, Rock N’ Roll Suicide é onde tudo termina. É Ziggy Stardust cometendo suicídio no palco, é o infinito absorvendo a forma humana do alien estrela do rock. É o clássico final clichê que teve tantos artistas do rock.

A primeira aparição de Bowie como Ziggy Stardust foi em um bairro pequeno de Tolworth em 10 de fevereiro de 1972. Sua última foi em um popular show no London’s Hammersmith Odeon Theatre em 3 de julho de 1973. Bowie antes de cantar a derradeira música disse o clássico pronunciamento: “Of all the shows on the tour this particular show will remain with us the longest, because not only is it the last show of the tour, it’s the last show we’ll ever do” (De todos os shows da turnê esse permanecerá conosco como o mais longo, pois não é o último da turnê, mas o último show que faremos). Claro que o desespero foi geral, mas Bowie não falava por ele. Falava por Ziggy. Desde então o cantor não assumiu mais a figura do alien rockstar. Esse show virou o álbum Ziggy Stardust: The Motion Picture lançado em 1983.

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As influências na indústria da música

Uma das tantas influências que David Bowie, ou melhor, Ziggy Stardust, cravou na história da música foi a solidificação do Art Rock ou, se preferir, toda a concepção artística que se vê hoje em dia por trás de tantos artistas. Novos e diferentes temas, androgenia, figurino, turnês conceituais, elementos de sci-fi e tantos outros aspectos artísticos criados por Bowie na divulgação do álbum foram responsáveis por todo o conceito artístico e bizarro que se vê hoje em dia principalmente em cantoras pop como Lady Gaga e Sia, isso sem mencionar os robôs do Daft Punk, os mascarados do Slipknot e mais uma infinidade de artistas. Ziggy Stardust começou tudo isso. E claro, a turnê temática do disco viria a inspirar várias turnês conceituais que surgiram com o tempo.

The Rise And Fall of Ziggy Stardust And The Spider From Mars ajudou também a impulsionar o Glam Rock e até mesmo o movimento punk. Embora não seja um disco punk, muitas características do movimento estão inseridas alí: a rebeldia de David Bowie notada em sua androgenia (Bowie já provocava polêmicos comentários desde que se travestiu na capa de The Man Who Sold The World), toda a ideia do Faça Você Mesmo (Do It Yourself) e do Sexo, Drogas e Rock N’ Roll incorporada nas atitudes do cantor, além de canções como Hang On To Yourself que flertam bastante com o estilo do The Clash e do Sex Pistols. Através de Soul Love, David Bowie também começava a inserir o Soul e o R&B no rock britânico. Esse seria o primeiro sinal da transformação do cantor alguns anos depois, onde lançaria álbuns inteiramente dedicados ao Soul como Young Americans e Diamond Dogs.

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Covers brasileiros?

É claro que era de se esperar que a repercussão e o amor dos fãs de música por The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars geraria diferentes versões de canções consagradas pelo álbum. O interessante é principalmente as versões brasileiras dessas faixas, que se tornaram bastante populares por aqui. A mais conhecida provavelmente é Astronauta de Mármore do Nenhum de Nós, que virou hit nos anos 80 e traz uma bela reinvenção de Starman em nossa língua. Infelizmente, muita gente conhece a versão do Nenhum de Nós e não a original de David Bowie…

Outra são os vários covers de canções de Bowie feitos por Seu Jorge em seu álbum Life Aquatic Studio Sessions. Seu Jorge fez nesse disco novas interpretações para clássicos como Ziggy Stardust, Rock N’ Roll Suicide e Five Years. Por mais que tenha certos problemas, como a desafinação do cantor em certas faixas (a faixa Ziggy Stardust, por exemplo, não consegue ser adaptada ao timbre do cantor) e problemas de métrica quando se tentou traduzir literalmente a canção (a versão de Rock N’ Roll Suicide sofre com isso), o disco se mostra bastante interessante. Claro que tem fã que reclama das versões do cantor, que fez questão de “abrasileirar” as faixas (Eu não vou mudar/ Vou ficar com meu time/ Não vou me estourar/ Cachaça e café/ Só pra te agradar). Pois saibam apenas uma coisa: o trabalho recebeu elogios do próprio Bowie.

Você pode conferir esse clássico do rock remasterizado no Spotify:

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