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Entrevista | Leonardo Campos fala sobre o livro “Madonna Múltipla” (2015)

por Luiz Santiago
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  • Entrevista publicada no Plano Crítico na ocasião do lançamento oficial do livro.

No dia 15 de janeiro de 2015 você já tem compromisso firmado com a cultura. Venha prestigiar o lançamento do livro Madonna Múltipla do especialista em Cinema e Audiovisual pela UNIJORGE, Leonardo Campos. Crítico de cinema, o autor atua no conceituado portal Plano Crítico e também ministra palestras, minicursos e oficinas. Leonardo provoca reflexões sobre literatura, cinema, videoclipe, educação, mídia, dentre outros temas.

O livro Madonna Múltipla pode ser considerado uma autobiografia que norteia uma análise criativa e curiosa sobre alguns videoclipes e canções da artista. Madonna estabelece a paródia, e, concomitantemente, a metalinguagem, reinterpreta mitos e vanguardas cinematográficas, bem como instiga a sociedade a refletir questões de gênero, bem como a cultura homossexual, política e, principalmente, religião.

1. Como surgiu a inspiração para produção do livro Madonna Múltipla? Por que a Madonna?

Acho que vou responder primeiro a sua segunda pergunta. Madonna é uma artista múltipla, como afirmo no título do meu livro. Melhor cantora? Não. Melhor atriz? Não. Mas mesmo sem alcançar essa “perfeição”, a artista conseguiu manter-se firme no efêmero jogo do pop, um estilo conhecido pelo prosaico, pela banalidade, além de um modelo de “cultura menor”. São trinta anos de carreira e produções, além de um discurso coeso. Comparando com o cinema, considero Madonna um personagem que evolui dentro de uma narrativa. E sobre como surgiu a inspiração… acho que desde 2011, depois que apresentei uma palestra num evento sobre produções midiáticas. Madonna passou de escapismo e momentos de lazer para uma análise acadêmica. Aliás, para as duas coisas.
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2. Sabemos que a artista tem uma carreira marcada mais pelo seu trabalho como cantora, no entanto, ela também é compositora, atriz, dançarina, empresária e produtora musical e cinematográfica. Em virtude dessa multiplicidade de atuações você criou o título?

Sim. Madonna foi para Nova York nos anos 1980 interessada em ser atriz. Fez testes para filmes como Footlose, mas teve mesmo que começar como cantora. Estourou em Procura-se Susan Desesperadamente, filme que assinou contrato para ser coadjuvante, mas por causa do fenômeno Like a Virgin, acabou tornando-se a protagonista da mídia na época. A mutiplicidade vem da seguinte observação: mesmo tendo uma equipe de empresários competentes, Madonna é uma leitora voraz, pesquisadora de culturas variadas, conhecedora de música clássica, dentre outros estilos além do pop. Já escreveu livros infantis, atua como empresária na linha de frente das suas turnês e possui um texto muito rico. Assistir a um show de Madonna é como ver um filme: há uma linha narrativa que conduz o público. Minha adolescência foi marcada pelo auge de Britney Spears e cantoras do mesmo quilate, por isso posso falar com mais firmeza que o trabalho de Madonna é mais coeso e complexo do que imaginamos à primeira vista.
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3. Qual o objetivo da obra? Uma análise com foco acadêmico?

Deslindar o texto rico da artista na cultura pop. Geralmente atrelada a “cultura das celebridades”, uma estratégia de Madonna para, digamos, “vender as suas ideias”, os videoclipes e canções possuem críticas sociais, debates políticos, questões relacionadas aos direitos humanos e uma das expressões mais debatidas nos últimos tempos (séculos, décadas, anos): a liberdade de expressão, de cunho religioso, político ou sexual. O objetivo da obra é mostrar que o trabalho de Madonna vai além das banalidades da cultura das celebridades e das afetações do mundo pop. Para ilustrar estas afirmações, utilizo o lado cinéfilo de Madonna, pois os videoclipes analisados são todos inspirados em filmes ou vanguardas cinematográficas. Para adentrar nas malhas acadêmicas, foi preciso investigação teórica na área do audiovisual, da crítica biográfica, dentre outros setores acadêmicos.
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4. Quanto tempo foi necessário para produção e execução desse trabalho? Qual foi o momento mais delicado?

È um trabalho em constante devir. Minha conclusão intitula-se Vou encerrar, mas volto em breve, tudo bem? Leio e apresento palestras, minicursos sobre a história e a linguagem do videoclipe, tendo como foco as produções de Madonna, desde 2011, mas escrevi o texto em janeiro de 2014. Foram 30 dias para 134 páginas, que diagramadas, alcançaram uma média de 180. Acho que o momento mais delicado é a construção teórica, as dúvidas em relação ao que se afirma, bem como a aplicação de algumas teorias, se ainda são válidas ou já não atendem ao que se pede. Acho que esse talvez tenha sido o momento “delicado”. Falar sobre Madonna e os seus videoclipes cinéfilos não foi dificil, afinal, as biografias autorizadas e não-autorizadas, bem como os documentários ajudaram bastante no processo investigativo.
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5. Para qual público-alvo foi pensado direcionar esse tipo de leitura? Qual contribuição espera-se alcançar?
Além da óbvia satisfação pessoal, pois desde criança, sempre admirei o trabalho de pessoas que escreviam livros, jornalistas, etc, espero contribuir para um projeto que já desenvolvo em paralelo a este: a crítica cinematográfica. Analisar os videoclipes de Madonna e apresentar interpretações faz parte do que chamo de “aguçar o senso crítico”. Já trabalhei com este material no ensino Médio, na universidade, no senso comum, e, em todas as instâncias, os resultados foram positivos.
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6. Ao final desse trabalho, qual o significado da pesquisa e escrita? Livro finalizado, missão cumprida?

Como disse anteriormente, cumprida não. Madonna Múltipla: cinefilia e videoclipe é apenas um feixe do projeto completo. Madonna lancará em março seu novo àlbum, e provavelmente uma turnê. A pesquisa significa, ao meu ver, o esforço e o sucesso de um trabalho analítico carregado de preconceitos, afinal, trabalhar na universidade com Madonna, principalmente um pesquisador do campo das Letras, território múltiplo e cheio de possibilidades para os mais variados campos do saber, mas também, um ambiente feudal cheio de preconceitos e cânones já estabelecidos, é para os “fortes”, como diz a expressão popular. Não estou querendo dar uma de heroi, mas é preciso ter garra para desenvolver projetos como esse. Nem todo mundo está aberto para as interpretações. Vejamos o que Ariano Suassuna disse uma vez sobre Michael Jackson e Madonna: lixos culturais. Lixo? Vogue e o movimento social gay na época do auge da AIDS, Bad Girl e o cinema Noir, Material Girl e as ironias do capitalismo, Hollywood e a bem humorada paródia da indústria estadunidense do cinema. Enfim, é preciso estar mais atento e valorizar determinados fenômenos culturais, definindo-os, se é que isso seja possível, com segurança e discurso coerente.

  • Serviço

Lançamento do livro MADONNA MÚLTIPLA
Quando: 15 de janeiro 2015 (Quinta-feira)
Onde: Espaço Itaú – Cine Glauber Rocha
Horário: 18 às 21 horas

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