11 de junho de 2025. Esse será marcado como o dia que perdemos Brian Wilson, aos 82 anos. O compositor californiano cocriador dos Beach Boys é, colocando de forma simples, responsável pela forma como conhecemos música nos dias de hoje. Sua contribuição para a história da música moderna seria o equivalente ao que foi Einstein para a ciência contemporânea. Embora esse reconhecimento fique muito mais reservado à comunidade aficionada por música, enquanto seu arquirrival – Paul McCartney – tenha conseguido colher os louros do mainstream global, seu impacto é inegável para qualquer fanático por música.
Brian foi o grande gênio por trás de Pet Sounds (1966), álbum dito por muitos como ‘o melhor da história’. Desde seu lançamento, a indústria da música nunca mais seria a mesma. E como as grandes obras da história, grande parte da crítica e do público estranharam o que estavam ouvindo naquele momento. Totalmente fora dos padrões radiofônicos que os Beach Boys estavam acostumados. Brian insistia em fundir música clássica com rock, o infantil com o adulto, o pop com o clássico. O compositor chamou um time de músicos inigualáveis para gravar o álbum, hoje chamados de “Wrecking Ball”. Um misto de orquestra e banda, o disco possui riqueza harmônica e melódica tão elevada quanto a quantidade de instrumentos presentes. Isso sem contar as loucuras psicodélicas de Brian, que inseriu até animais no estúdio. Embora comercialmente um fracasso em seu tempo, o disco viraria um dos pilares do pop e rock modernos.
Embora muitos resumam seu impacto ao Pet Sounds, é negligente esquecer seu trabalho brilhante na discografia dos Beach Boys nos anos 60 e 70. Como outro ápice vale citar a prometida “sequência espiritual” de Pet Sounds – o icônico Smile. O período criativo do álbum viria a destruir o artista de forma que ele nunca mais seria o mesmo: recluso, fazendo abuso de substâncias e com sérios problemas psicológicos. Smile acabou virando uma lenda do mundo da música, já que nunca era finalizado. Várias de suas músicas acabaram sucateadas em uma variedade de discos subsequentes dos Beach Boys – ótimos, por sinal. A versão definitiva do álbum só sairia em 2004, como um álbum solo de Brian. A despeito do contexto do álbum, Smile é uma obra pop psicodélica absolutamente perfeita. Jamais saberemos o impacto que seu lançamento “completo” poderia trazer nos anos 60, nem como afetaria a famosa rivalidade criativa com os Beatles.
Ademais, se você está lendo esse texto, bem provável que já tenha consciência do impacto de Brian. Se não, vale se aprofundar em suas principais obras e assistir sua excelente cinebiografia, Love & Mercy (2014). Mas a real intenção desse artigo, muito mais do que servir como um memorial, é exorcizar meus sentimentos sobre um dos meus artistas preferidos.
Muito mais do que impactar a indústria da música, Brian Wilson impactou a minha vida. Talvez a sua também, já que lê esse texto. Aos 17 anos, ouvi Pet Sounds e nunca mais fui o mesmo. Eu moldei todo meu repertório e fixação musical em cima desta e várias outras de suas obras. God Only Knows, Good Vibrations, Surf’s Up, Wouldn’t It Be Nice e tantas outras estão entre minhas canções preferidas. Não importa quantas vezes eu ouça, a catarse é uma certeza. Hoje, em especial, ela vem com algumas lágrimas. Em suma, eu devo a Brian Wilson minha paixão à música. E música é minha vida – então, de certa forma, ele me salvou.
O mais irônico é que, em troca de tamanho impacto mundial, Brian precisou se entregar completamente à música. Ao ponto dela mesma o destruir. Diagnosticado com depressão e esquizofrenia, soube converter suas inseguranças e medos em pura liberdade artística. O compositor viria a sofrer com essas doenças por toda sua vida, passando inclusive por abusos na própria indústria que ele influenciou. Dificilmente haverá outro artista de tamanho impacto na música como ele. Parafraseando o mesmo naquela que é dita a música preferida de Paul McCartney: só Deus sabe o que seríamos sem você.