Home Colunas Fora de Plano #91 | Jardinagem Empática

Fora de Plano #91 | Jardinagem Empática

Cuidar das plantas é importante.

por Luiz Santiago
160 views

Além da ansiedade e dos ataques de pânico, a pandemia me trouxe um vício, basicamente uma forma de lidar com toda a situação e que acabou se tornando um bom hábito: ter plantas em casa. Não que isso fosse algo estranho para mim. Minha mãe é uma jardineira amadora, prática que trouxe de minha avó, então o cerco à botânica já corre há muito na família. Mas até 2020, EU não tinha despertado para esse Universo de folhas e raízes, inclusive ria da recorrência com que ouvia minha mãe falar as palavras “muda” e “mudinha“. No fim, porém, o esporo me contaminou. E embora eu não tenha virado algo que os xófens de hoje denominam como “pai de planta” — um tipo ainda mais alternativo que o “pai de pet” –, tenho cá os meus vasos com cactos, suculentas, yuka, zamioculca, rosa do deserto e… É complicado.

Em conversa recente com minha mãe, cujo tema era um acidente envolvendo uma escada e, adivinhem, uma planta, eu fui lembrado de algo que, por algum motivo, havia me escapado da memória. Ao que parece, desde cedo eu tive a veia saltada da jardinagem em mim, lá pelos seis, sete anos de idade. Bons tempos. Nos anos 1990, os invernos em São Paulo eram realmente muito frios. Ou pelo menos muito mais frios do que são hoje, ao menos segundo minha percepção comparativa de quando era criança. Minha mãe, como sempre, tinha um quintal repleto de vasos de plantas que, nas manhãs mais frias, eu acordava diligentemente para colocar-lhes água quente, com a justificativa de que elas “estavam com frio“.

A memória não foi completamente destravada, mas eu acredito ter flashes desse momento. Uma criança gordinha acordando às 7h e colocando um bule com água para ferver, saindo no quintal de casa, olhando para a névoa da manhã, o céu coberto de nuvens brancas e cinzentas, e vertendo água quente para aquecer “as bichinhas“. Consta que fui descoberto por um tio. Foi então que minha entendeu porque suas plantas morriam em julho (justamente o mês em que eu estava de férias da escola), e porque a sua Dama-da-noite nunca vivia, não importava quantas mudas minha avó desse a ela.

Os tempos de jardinagem empática passaram. Hoje, meus males botânicos são de outra ordem. Já apodreci cactos por excesso de água, já perdi uma porrada de plantas por excesso de adubagem e algumas poucas por infestação de cochonilhas. Outros tempos, outras tragédias com a flora. Mas desde que a minha memória foi destravada, eu não consigo evitar o riso quando, pela manhã, acordo e vejo pela janela uma camada de névoa no horizonte e, bem ao lado, alguns dos meus vasos de plantas. O Luizinho dentro de mim se inquieta. Parece querer pular para uma rega a temperaturas elevadas. É como dizem por aí: uma vez jardineiro empático… sempre um jardineiro empático.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais