Home Colunas Fora de Plano #96 | Mostra de Curtas Gaúchos II (Festival de Gramado 2023)

Fora de Plano #96 | Mostra de Curtas Gaúchos II (Festival de Gramado 2023)

Uma nova rodada de curtas no Festival de Gramado.

por Frederico Franco
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Na gelada tarde de dia dos pais, 13 de agosto de 2023, ocorreu a segunda parte da Mostra de Curtas-Metragens Gaúchos. A seleção de hoje apresentou onze filmes realizados ao redor do estado do Rio Grande do Sul. A sessão, que durou das 13h às 16h40, contou com filmes de todos os tipos: documentários, filmes-ensaios e até mesmo ficção científica. Ainda no domingo, a partir das 22h30, será anunciada a premiação dos curtas-metragens. Seguem, agora, sucintos comentários daqueles que filmes que foram destaque do dia treze de agosto de dois mil e vinte e três

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Paranoia e suspense 

O primeiro filme aqui trazido é Nau (dir. Renata de Lélis), talvez meu favorito até aqui. Nele, uma mulher em um aparente transe que envolve sua própria pele, dialoga ao longe com as ondas do rio. Com uma construção lynchesca a direção do filme prende o espectador em sua narrativa nada linear. O suspense digno de David Lynch, através de um perdido jazz que marca a trajetória da protagonista, é um filme intimista, porém cruel: o que vemos é um sofrimento interminável da personagem principal. Encontros com personagens que tange o realismo mágico, um trompetista de jazz e uma cartomante, dão ao filme um quê das fantasias de Haruki Murakami. A construção corporal da mulher, colocada entre peixes vivos e mortos, tem um impacto similar a um body horror – se Cronenberg usa máquina, Renata de Lélis vai ao reino animal para isso.

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Sobre artes e artistas

Dois filmes que lidam diretamente com arte foram destaque do dia. Começo por Eu, Tibano (dir. Diego Tafarel e Zé Corrêa), que apresenta ao público o artista Tibano, que trabalha com grafite na cidade de Santa Cruz do Sul. O filme conta um pouco da trajetória do artista, que conta que foi descobrindo sua arte ao longo de sua experiência prática. O carisma do protagonista do documentário é tanto que faz os vinte minutos de filme passarem como se fossem meros cinco minutos. Tibano nos faz ver que, ao mesmo tempo em que descobre sua própria poética, também encontra no próprio espaço público uma força artística inata à construção arquitetônica da cidade.

Meu nome é Leco (dir. Diana Mesquita e Marina Falkembach) conta a trajetória do multi artista gaúcho Leco Alves. Mostrando sua trajetória desde a infância, sua paixão pela arte o fez mover montanhas para encontrar seu lugar. O filme, no entanto, difere um pouco de Eu, Tibano: aqui, vemos como a arte de Leco influenciou as pessoas ao seu redor, seja sua família, amigos e o próprio público de suas apresentações. 

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Relatos mais do que selvagens

O que um trabalhador vestido de Batman que planeja se vingar contra seu chefe, um padre que questiona a própria fé e uma estudante sofrendo de burnout tem em comum? Em Combustão espontânea (dir. João Werlang e Pedro Bournoukian) esses personagens têm muito em comum. O filme parece emular uma lógica semelhante à de Relatos Selvagens, de Szifrón: pequenos problemas cotidianos que levam a consequências gigantes e inimagináveis. O caso do curta-metragem está levemente mais inclinado ao cômico. Sobre o primeiro personagem, ao se vestir como o super-herói, ganha coragem e mata a tiros seu chefe assediador moral; o homem de deus, ao duvidar de sua fé, decide se amarrar a balões e ir viajando em direção ao céu; por fim, a estudante colegial literalmente leva sua casa abaixo depois de não conseguir expulsar uma mosca de seu apartamento.

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Ficção científica e inclusão

Rasgão (dir. Victor Di Marco e Márcio Picoli) é uma alegoria distópica no qual seres alienígenas vêm ao Planeta Terra e sofrem por não conseguir uma comunicação direta com os seres humanos. O trunfo encontrado pelos diretores é de invenção ímpar: transformam agentes da inclusão (como braile, libras e legendas) como parte da linguagem cinematográfica que compõem a diegese do filme. O filme é uma clara forma de protesto contra as políticas anti-inclusão que permeiam a história do Brasil. Aqui, vemos uma narrativa que fala sobre a vida nua, como diria Agamben, aquela que é deixada de lado pelo governo e pelo soberano. O discurso emocionante do diretor Victor Di Marco sobre a questão dos PCDs no país também ficou como destaque deste domingo de mostra. 

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