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Fora de Plano #55 | Queremos! Festival 2019

por Handerson Ornelas
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O site que surgiu como uma plataforma inovadora para conectar fãs e artistas promovendo e atraindo shows para lugares cresceu e ganhou até seu próprio festival. O Queremos! era um projeto que atraía bastante atenção dos obcecados por música, como este que vos escreve, principalmente por se dedicar a estreitar relações tanto com artistas nacionais quanto artistas indie internacionais que não recebem devida atenção de grandes curadores.

Agora em sua segunda edição, o Queremos! Festival se prova um evento que só tende a crescer cada vez mais. Quase como um Pitchfork Festival, inicialmente realizado em Chicago e hoje escalonado a até edições européias, tudo com uma identidade um tanto similar à do Queremos aqui, com bastante base em artistas alternativos e revelações da esfera indie.

No lineup, um time brilhante de artistas nacionais, tanto alguns já consagrados quanto elogiadas revelações da música brasileira. Ainda tinha espaço para algumas atrações internacionais, entre elas o pop eletrônico de Allie X, o jazz excelente do Hypnotic Brass Ensemble e os experimentos instrumentais de Nu Guinea. Preciso admitir que senti falta de uma atração internacional de maior peso, como Father John Misty e Animal Collective na edição de 2018. Mas os artistas em questão provaram sua competência, embora de longe o que realmente tenha motivado o público a ida ao festival tenha sido seu cardápio excelente de artistas nacionais.

A abertura já havia sido grandiosa. A Petrobrás Sinfônica, que vem crescendo absurdamente em popularidade nos últimos anos com seus espetáculos, abriu o evento com uma homenagem ao Queen e ao filme Bohemian Rapsody. Não há muito o que escrever aqui, é unanimidade o impacto e excelência do grupo em questão, aqui atingindo catarses com versões bombásticas das canções de Fred Mercury.

Já em seguida e no outro palco, o Carne Doce fez aquela que eu diria ser concorrente a melhor show do dia. Salma Jô, vocalista do grupo goiano, é simplesmente hipnotizante com seu sorriso, efervescência e rebolado no palco. Uma grandiosa frontwoman e uma das maiores cantoras da atual música brasileira em uma das melhores bandas dessa geração. A banda, com sua psicodelia extremamente instigante, fez um som que beirava a catarse sonora com longas sequências instrumentais no qual Salma desfilava sua gigantesca presença de palco.

Jade Baraldo, anunciada tardiamente no lineup – assim como o Hypnotic Brass Ensemble – de forma a tapar o buraco do cancelamento de Sofi Tukker, sofreu com problemas técnicos de luz e som em sua apresentação, infelizmente. Ainda assim e mesmo em um show um tanto cru, demonstrou o enorme carisma que tem pra se tornar uma artista pop brasileira mainstream.

Já Duda Beat – mesmo com problemas na garganta, como a mesma comentou – provou ser o fenômeno do pop nacional que vem crescendo vertiginosamente em 2019. Foi com certeza uma das atrações que mais levou pessoas ao festival, era notória a enorme interação do público com a mesma, vibrando a cada canção. A cantora esbanjava espontaneidade em meio a suas excelentes canções, que misturam um amálgama da música brega nordestina com o indie pop, tudo sendo executado com maestria por sua ótima banda de apoio.

Gal Costa mostrou que, mesmo com seus 73 anos, permanece com bastante força e vivacidade para fazer shows. É verdade que permanecia imóvel no centro do palco tal como Milton Nascimento, mas fazia dancinhas moderadas maravilhosas, cantava e interpretava as canções brilhantemente como uma verdadeira gigante da música brasileira. Apresentou tanto clássicos quanto canções do seu mais recente álbum. Pra encerrar, fechou com um clima misto de carnaval e festa junina que simplesmente dominou a plateia.

Criolo fez do palco um verdadeiro templo, transformando seu show em uma apresentação por vezes espiritual, por vezes enérgica. Um grande culto, em momentos visando a celebração da vida, em outros criticando os diversos problemas sociais do país. Instigava o público a todo instante, misturando ótimos discursos políticos em meio a seus versos ácidos e sua banda afinadíssima. Não parava quieto e insistia em manter o público em nível de conexão pleno consigo próprio. Um show excelente.

No ápice do evento –  antes show do Nu Guinea e da festa noite adentro do Forró Red Light – teve o show do Baco Exu do Blues. E nele ficou clara a razão do fenômeno repentino que Baco se tornou na música nacional em 2018. Direto, claro e sem firulas ou preciosismos, o rapper fez um show magnífico em que exigia e domava com tranquilidade a participação do público mostrando o ótimo catálogo de canções de seus dois álbuns, tudo com uma produção e banda de grande eficiência. Diria que foi a melhor apresentação do festival.

O Queremos! Festival fechou sua segunda edição com alguns problemas pontuais de organização, mas com um resultado bastante positivo e a promessa de um festival que tende a crescer cada vez mais. Com direito a uma vista exuberante do Rio de Janeiro, interessantes artistas internacionais e o melhor da música brasileira, o grupo Queremos! atinge mais uma conquista.

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