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Crítica | Juventude Transviada

por Leonardo Campos
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Juventude Transviada é um clássico do cinema e isso é uma obviedade, certo? A imagem do herói pop rebelde, bonitão e questionador dos órgãos que regem a sociedade disciplinar talvez nunca tenha encontrado tamanha força como neste filme. Muitas outras versões de “rebeldia” foram encenadas depois, mas James Dean e a sua jaqueta vermelha se tornaram uma referência eterna para a história do cinema. A produção que mostrava a classe média estadunidense como uma bomba relógio estreou em 27 de outubro de 1955 e tornou-se um prelúdio dos movimentos culturais que iam sacudir o planeta na década seguinte.

Em Juventude Transviada, James Dean é Jimmy, um jovem “problemático” responsável por fazer os pais mudarem de residência constantemente. Quando se estabelecem em Los Angeles, Jimmy arranja uma confusão na rua. É levado para a delegacia e lá conhece mais dois jovens inconformados: Judy (Natalie Wood) e Platão (Sal Mileo). A moça tem problemas de relacionamento com o pai, já o rapaz foi pego atirando em alguns cães na rua.

Ao sair da cadeia, Jimmy se percebe interessado por Judy, mas esse interesse vai trazer problemas para os jovens, pois Buzzy (Corey Allen) não fica nada satisfeito com a situação. Líder de uma gangue da escola, o rapaz vai entrar numa disputa territorial com o seu “concorrente”. Resultado? Brigas, confusões, disputas de poder envolvendo corridas com os melhores carros da época, bem como os figurinos mais ultrajantes. Com requintes da tragédia clássica, a rivalidade entre os rapazes vai gerar, no final da trama, uma sinuosa curva dramática, bem como um efeito catártico que mexe com todos, dentro e fora da encenação, personagens e nós, espectadores.

A produção parece ter sido feita para James Dean: um ator que detestava festas e carregava uma forte dose de carência emocional. Sem mãe desde os nove anos de idade, Dean foi enviado pelo pai para morar com os tios numa fazenda em Indiana, o que se configurou como abandono paterno, lembranças que de alguma forma desaguaram na atuação visceral que parecia uma encenação da sua própria condição. O filme é um caso raro de cooperação entre direção e ator, com Dean simbolizando a rebeldia insaciável em seu teor máximo.

Dentre os trunfos técnicos, o uso das cores (a jaqueta vermelha e a representação do estado emocional do personagem de James Dean é marcante), a fotografia de Ernest Hallerr e a montagem de William Ziegler dialogam muito bem, além dos belos e cuidadosos enquadramentos e movimentos de câmera. A cenografia é outro ponto alto do filme: a cena final, como apontado anteriormente, nos remete aos momentos catárticos das boas tragédias gregas, narrados numa dinâmica surpreendente.

O sucesso de Juventude Transviada deve ser atribuído ao excelente trabalho de direção exercido por Nicholas Ray, mas James Dean sem sombra de dúvida é o ponto de encontro entre o lançamento do filme e os ecos com a contemporaneidade, tamanha a força mitológica. Pintado por Andy Warhol através de reprodução serial, ovacionado por Madonna em um trecho sobre os mitos hollywoodianos na canção Vogue e figura emblemática copiada à exaustão em novelas, filmes, peças teatrais, obras literárias e demais manifestações artísticas da sociedade, o ator ocupa, ao lado de Elvis Presley, Marilyn Monroe e Marlon Brandon, um lugar “eterno” e excêntrico na memória do cinema e da cultura pop.

Juventude Transviada (Rebel Without a Cause – Estados Unidos, 1955)
Direção: Nicholas Ray
Roteiro: Stewart Stern e Irving Shulman
Elenco: James Dean, Natalie Wood, Sal Mileo, Jim Backus, Ann Doran, Rochelle Hudson, Dennis Hopper, Corey Allen, William Hopper.
Duração: 111 minutos.

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