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Lista | American Gods – 2ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

por Ritter Fan
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Nota da temporada

A 1ª temporada de American Gods chegou com visual arrebatador, textos ousados e uma história fascinante de conflito entre os Antigos e Novos Deuses. Foi uma temporada próxima da perfeição e que prometia mundos e fundos com a tão mencionada guerra que Mr. Wednesday, mais conhecido como Odin, queria começar. No entanto, os deuses não foram benevolentes com a série e jogaram pragas na produção que levaram à saída dos showrunners originais, a entrada de outro e seu subsequente afastamento não oficial, a saída de nomes importantes do elenco em razão do atraso, roteiros reescritos várias vezes e uma demora de quase dois anos para que a 2ª temporada finalmente visse a luz do dia.

E, como era de se esperar diante de tantos problemas, ela começou de maneira não mais do que mediana, jogando pela janela o visual diferente da temporada inaugural e toda a qualidade dos primeiros roteiros. Até mesmo os prólogos contando as chegadas de deuses antigos ao Novo Mundo rarearam e a série ameaçou tornar-se apenas mais uma em meio a tantas. O ponto mais baixo da temporada veio com o terceiro episódio, Muninn, que introduziu a deusa Nova Mídia, uma personagem tão rasa quanto as mídias sociais que ela tentava representar.

No entanto, os quarto e quinto episódios começaram a esboçar um reerguimento da temporada, mas, infelizmente, lidando com uma subtrama de racismo nos EUA que, apesar de socialmente relevante, permaneceu substancialmente desconectada da história principal. Mas a presença do Sr. Nancy, Sr. Íbis e de Bilquis, formando uma fascinante trinca de deuses africanos, fez valer a experiência a ponto de até mesmo, ao longo das críticas, eu e outros leitores terem cogitado como seria interessante um dia termos um spin-off só com esse grupo de deuses.

Foi apenas em Donar the Great, o sexto episódio, que a série realmente voltou ao que era, enfocando em Thor e o que ele representava para Odin, em uma narrativa pessoal que teve o condão de bem contextualizar o Pai de Todos e sua postura amarga na modernidade. O capítulo seguinte, Treasure of the Sun, foi o ponto alto da temporada, com foco na tragédia de Mad Sweeney que já era um dos mais interessantes personagens da série, mas que ganhou uma riquíssima – e triste – história pregressa. Mesmo com a qualidade, porém, a temporada continuou andando de lado em termos de propulsão narrativa da história principal, algo que só veio meio no derradeiro episódio, Moon Shadown, que foca na identidade do protagonista Shadow, inexplicavelmente arregimentado por Odin para sua guerra. Confuso e apressado, o capítulo infelizmente novamente reduziu a qualidade da temporada.

No final das contas, apesar de todos os pesares, o resultado final da 2ª temporada de American Gods foi levemente acima do mediano, o que, apesar de ser frustrante, ilumina um pouco o proverbial fim do túnel. Agora é esperar para ver se o novo showrunner, Charles “Chic” Eglee, arruma esse panteão de vez e começa a tão prometida guerra.

8º Lugar: Muninn

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Gostaria que esse fosse um comentário metalinguístico no episódio, demonstrado a auto-consciência da produção da temporada sobre sua vertiginosa queda de qualidade, mas não é o que parece. Seria querer demais esperar, a essa altura do campeonato, com três de oito episódios já no ar sem que a série esboce um retorno à forma, que o roteiro de Heather Bellson fosse sagaz o suficiente para lidar com esse aspecto. Claro que permanece o comentário da fugacidade da chamada Nova Mídia em comparação com a mais tradicional “antiga” Mídia, mas mesmo isso é redundante ao extremo em razão do pareamento da nova personagem logo com o  Garoto Técnico, sem que verdadeiramente haja espaço para os dois.

7º Lugar: The Beguiling Man

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E o grande clímax, claro, é o resgate de Shadow no trem com o uso de extrema violência e gore no melhor estilo trash. Sem dúvida é um momento divertido e bem coreografado, com um bom trabalho de direção em espaço confinado por Frederick E.O. Toye, que, porém, poderia ter ocupado mais tempo do episódio, preenchendo-o com algum atrativo significativo. Mas tudo começa e acaba muito rapidamente, sem que o espectador possa saborear um pouco mais de momentos B de qualidade para compensar o relativo marasmo – ou desimportância – do que veio antes.

6º Lugar: House on the Rock

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É no interior estonteante desse local onde os Velhos Deuses se reúnem que o episódio mostra o seu melhor. O cuidado na direção de arte é de se tirar o chapéu, com a literal viagem lisérgica no carrossel, com direito aos Velhos Deuses em suas formas, digamos, mais comumente conhecidas, com direito a Shadow Moon (Ricky Whittle) flertando com uma clara tomada de lado nesse embate, que a nova temporada lembra mais fortemente o charme e a poesia do material que veio antes. É aqui que vislumbramos aquilo que esperávamos de verdade para a série, aquilo que ansiamos e pedimos aos deuses ao longo desse tempo todo em que as notícias dos problemas da produção se amontoavam.

5º Lugar: The Greatest Story Ever Told

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Outro ponto positivo do roteiro é o espaço dado aos deuses africanos, Bast, Bilquis, Toth (Sr. Íbis) e Anansi (Sr. Nancy). Ainda que Bast (Sana Asad – é a mesma deusa, aliás, que protege Wakanda) seja relegada a uma cena de sexo com Shadow Moon em que ela aproveita para curar suas feridas como Odin mencionara no encerramento de Muninn, para depois voltar à sua forma felina, aquela estética da temporada anterior volta a ser vislumbrada. Claro que a calorosa discussão entre os outros três é que chama a atenção, notadamente o discurso do Sr. Nancy sobre o sofrimento dos negros nos EUA, com diversas menções diretas a acontecimentos atualíssimos. Novamente, é um texto carregado de didatismo como no preâmbulo, mas Orlando Jones está simplesmente bom demais nesse papel para não dominar completamente a cena que, por também se passar na funerária do Sr. Íbis (aliás, por onde anda Mr. Jacquel, ou Anúbis?), toda a ambientação é primorosa.

4º Lugar: Moon Shadow

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O conceito trabalhado no episódio, portanto, não só é atual, como extremamente interessante. O problema é que tudo é abordado com correria e sofreguidão, sem um minuto sequer para um desenvolvimento mais comedido e estruturado. De certa forma, os dois ótimos episódios anteriores foram em grande parte fillers e eles poderiam ter sido usados para também trabalhar a continuidade do plano de Mr. World para derrotar Odin e seu grupo. Mas não. Os Novos Deuses, muito ao contrário, foram escanteados completamente para que o foco fosse voltado aos Antigos Deuses e, com isso, em apenas 51 minutos, o episódio dirigido por Christopher J. Byrne, responsável por House on the Rock, precisa apresentar o plano, colocá-lo em execução e trazer algum tipo de resolução para ele. Sem dúvida alguma, um tarefa indigesta, especialmente se levarmos em consideração que essa linha narrativa gravita ao redor de Shadow lidando com seus problemas e com a revelação de quem é.

3º Lugar: The Ways of the Dead

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E, no lugar de tratar esse aspecto de maneira um pouco mais estanque, o roteiro de Rodney Barnes, em The Ways of the Dead, usa justamente esse aspecto para empregar grande parte do tempo do episódio para desenvolvê-lo, trazendo, por assim dizer, imagens gráficas e pesadas para ilustrar o discurso de Anansi, como que para reiterar o que ele dissera. Aqui, portanto, entra o aspecto de reconstrução histórica que a primeira temporada mostrou-se pródiga. Na verdade, reconstrução mitológica era a especialidade da “era” Bryan Fuller. O que vemos, aqui, é a primeira reconstrução histórica da série, que nos conta, por intermédio de pesadelos e alucinações de Shadow, o terrível linchamento e assassinato de William “Froggy” James, acusado e julgado, sem quaisquer resquícios de provas, pelo “povo” de Cairo, em Illinois, em 1909, pelo assassinato de uma mulher branca.

2º Lugar: Donar the Great

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Essas tensões e dúvidas são muito bem trabalhadas ao longo do texto de Adria Lang, que consegue, de quebra, inserir subtextos lidando com os supremacistas brancos, a guerra, o preconceito e, claro, a relação sempre conturbada entre pai e filho. É justamente nesse aspecto que Donar the Great se diferencia do que veio antes na temporada. Aqui, o roteiro é cuidadoso, delicado, lida com questões difíceis sem escancará-las, sem didatismo. Não temos discursos como o de Anansi em The Greatest Story Ever Told ou narrativas desconectadas da trama principal como em The Ways of the Dead. Por mais socialmente relevantes que tenham sido os dois episódios anteriores, esses aspectos tiveram um fim em si mesmo e não conversaram com a narrativa macro sem que fosse necessário um esforço bastante razoável de abstração narrativa e um ou dois encaixes de peças quadradas em espaços redondos. O roteiro de Donar the Great serve à história sem deixar de abordar elementos que a transcendem, exatamente como na primeira temporada da série. De quebra, ainda temos esse olhar mas íntimo para Odin, trazendo um momento crucial em sua vida e, de certa forma, colocando-o no caminho em que o encontramos no começo da série, um tanto quanto depauperado e entristecido.

1º Lugar: Treasure of the Sun

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E, como se não bastasse cada momento com Sweeney ter sido precioso como suas moedas, Bellson é ainda capaz de inserir uma sequência incrivelmente profana e ousada, com Bilquis iniciando o episódio com sua “missa católica” que ela perverte sexualmente de maneira a gerar adoração por ela, a devoradora de homens (e de mulheres), em uma manipulação fascinante do texto bíblico e que também aproveita para comentar sobre sua capacidade de adaptação (e tambem das religiões em geral, inclusive a católica, com diversas festas ditas pagãs sendo absorvidas à mitologia) algo que falta a Sweeney. As duas mais largamente difundidas religiões do mundo moderno são os alvos constantes e naturais em American Gods, com a muçulmana sendo brindada com personagens fixos gays cuja mera existência é um claro “tapa na cara” dos radicais. A religião católica já havia sido focada outras vezes, em especial com os diversos “tipos” de Jesus na festa da Páscoa em Come to Jesus, mas, aqui, American Gods chegou a outro nível de crítica, o que pode até mesmo ofender os mais sensíveis.

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