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Lista | As Nossas Melhores Leituras em 2020: Livros

por Luiz Santiago
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  • ATENÇÃO: As despedidas, votos finais e fofuras de encerramento do ano deixaremos para fazer no tradicional Editorial Plano Crítico, dia 31/12, como de costume.

Esta lista NÃO é apenas de leituras de obras lançadas em 2020, seja no Brasil, seja no exterior. Claro que podem aparecer obras lançadas neste ano, mas a proposta é apenas ranquear as nossas melhores leituras ou releituras de janeiro a dezembro, independente de quando o volume em questão chegou ao mercado.

Cada indicação abaixo usa apenas um parágrafo da respectiva crítica! É só clicar nos links para ler os textos completos! Já deixo também o convite para vocês compartilharem nos comentários as suas listinhas de 10 melhores leituras de livros neste ano! E caso queiram ver as nossas outras listas sobre o tema, clique aqui!

plano critico livros lista de 2018 melhores leituras


LUIZ SANTIAGO

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Este foi um ano em que retornei para a literatura policial, relembrando uma grande paixão da juventude. Quatro indicações dessa lista são suspenses/policiais e provam bem como foi a minha jornada literária neste 2020. Mas acho que a grande diferença que ocorreu neste meu ano de leituras foi embarcar no Universo de Perry Rhodan. Li os 10 primeiros livros da saga e dois deles apareceram aqui na lista. E o melhor de tudo: viciei mais um colega aqui do site! Vejam a lista do Kevin! Hehehehe.

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10º – Ódio Mortal

Ed McBain – EUA, 1956

O ditado popular “as aparências enganam” é um que cai como uma luva em Ódio Mortal. Mesmo se tratando de uma história de procedimento policial é possível ver aqui fortes notas de noir e um encerramento que flerta com a ação da femme fatale, pegando o leitor de surpresa e mostrando como a banalidade do mal age no cotidiano de uma grande cidade. Um baita início para uma série que lidaria com a violência urbana a partir do olhar daqueles profissionais que têm contato com essa realidade todos os dias.
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9º – O Cavalariço da Providence

Georges Simenon – Bélgica, 1931

Quando a revelação acontece, o leitor imagina que a obra começará a cair de qualidade, porque temos ainda algumas páginas pela frente. Mas não é isso que acontece. Tanto a base para o motivo do crime quanto a exploração mais intensa da personalidade do assassino, sua vida e sua visão de mundo são apresentados de maneira hábil por Simenon, fazendo do final da aventura uma espécie de elegia que se costura com solenidade e uma amarga paz ao encerramento das investigações. O Cavalariço da Providence é o tipo de livro policial que bebe muito do melodrama e que não se ressente em expor demais os seus personagens a fraquezas e às coisas mais mundanas possíveis. Um daqueles casos que a gente poderia muito bem ter acesso pelos noticiários ou por fofocas de cidade pequena.
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8º – Tutto Fellini

Sam Stourdzé – França, 2009

Com informações muito valiosas sobre a relação de Fellini como seus roteiristas e parceiros de longa data, com a esposa Giulietta Masina, com o escritor Georges Simenon (temos aqui trechos de cartas escritas por Fellini ao amigo belga — cartas essas compiladas no livro Carissimo Simenon: Mon cher Fellini) e o quadrinista Milo Manara (que trabalhou com Fellini em duas ocasiões: Viagem a Tulum e A Viagem de G. Mastorna, Dito Fernet) e ainda a relação de longa data com Marcello Mastroianni e Anita Ekberg (explorando, inclusive, muitas coisas sobre a produção, legado e interpretações de A Doce Vida e Entrevista) o catálogo serve como uma ótima introdução para qualquer um que queira mergulhar ainda mais no Universo felliniano, e certamente trará, nem que seja na parte imagética, muitos detalhes valiosos sobre a obra do diretor. Um catálogo curto, simples, mas muito valioso.
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7º – A Abóbada Energética

K. H. Scheer – Alemanha, 1961

A Abóbada Energética é um teste de resistência. Um livro sobre uma ação conjunta da humanidade, a primeira sob uma perspectiva de “paz entre os povos“, numa união para destruir um inimigo. É uma ótima forma de mostrar como as coisas se aquietaram e também juntar em um único espaço ou intenção todos os personagens importantes da saga até o momento. Claramente começa o estabelecimento verdadeiro da Terceira Potência e os primeiros passos de uma nova Era de desenvolvimento para os humanos. Da obra, meu único “senão” está no tratamento dado para a primeira comunicação afrontosa de Rhodan com Thora.
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6º – A Cabeça de um Homem

Georges Simenon – Bélgica, 1931

Maigret encontra nessa ocasião um inimigo muitíssimo astuto, e o leitor irá passar por pistas falsas e por narrativas que estão apenas parcialmente relacionadas ao caso principal, o que nos faz perguntar um bom número de coisas, mas mais do que isso, nos faz observar de perto o pensamento e o comportamento de diferentes mentes afiadas trabalhando para diferentes fins. A Cabeça de um Homem é uma história sobre a busca pela justiça de um lado e sobre o exercício da maldade de outro. Um livro sobre um gênio do crime que até à última página consegue entrar na mente do homem da lei e assustá-lo. Uma trama instigante e, pela forma como termina, verdadeiramente assustadora.
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5º – Missão Stardust

K. H. Scheer – Alemanha, 1961

Eu sou o tipo de pessoa que dá bola para indicações. É claro que isso não significa consumo imediato da coisa indicada, mas eu sempre pesquiso sobre as coisas que me indicam. E essa pesquisa serve para eu ver onde a obra indicada se encaixa na minha lista de prioridades de consumo. Se eu realmente me interesso em conferir a indicação (às vezes ela não bate com o santo, acontece), procuro organizar e entender se ela vai para a lista de “um dia eu vejo, mas não sei quando“; se vai para a lista de “verei assim que outras urgências forem zeradas” ou se vai para a lista de “verei imediatamente“, o que é algo raro e só acontece com obras que de imediato me despertam imensa curiosidade. Pois bem, foi exatamente isso que aconteceu quando uma leitora aqui do PC me indicou a leitura de Perry Rhodan.
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4º – O Comprador de Fazendas

 Monteiro Lobato – Brasil, 1917

Junto de UrupêsO Comprador de Fazendas está entre as produções mais famosas de Monteiro Lobato (fora suas obras infantojuvenis), seguindo aquela linha de olhar crítico, admoestador e birrento que ele tinha para com o homem do campo. O conto, no entanto, é uma deliciosa comédia com toques não tão divertidos de realismo, pois a inspiração em diversos casos reais mostra que a atitude do falso comprador de fazendas já deixou muitos fazendeiros (também malandros) de cabelo em pé e em situação financeira ainda pior.
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3º – Harakashy e as Escolas de Java

Lima Barreto – Brasil, 1920

Se em O Homem Que Sabia Javanês Lima Barreto soltou o verbo em torno da hipocrisia dos laureados e louvados sem merecimento, aqui em Harakashy e as Escolas de Java, escrito 9 anos depois, ele volta ao tema ainda com mais força, genialidade e veneno. Harakashy, amigo do narrador, só aparece mesmo no final. A obra, pois, consiste em um relato que atravessa diversos estágios emocionais e aborda o peculiar método educacional de Java, que bem pode ser qualquer lugar do mundo onde um diploma, mesmo para aqueles que se formam sem saber nada, vale muito mais do que qualquer conhecimento de fato.
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2º – Testemunha de Acusação

Agatha Christie – Reino Unido, 1925

Testemunha de Acusação é certamente um dos contos mais conhecidos de Agatha Christie (e cuja fama seria engordada pela adaptação que a própria autora faria dele para o teatro). A obra foi publicada originalmente em uma revista, nos Estados Unidos (sob o título Traitor’s Hands), em janeiro de 1925, e foi um grande sucesso. Sua publicação no Reino Unido aconteceria apenas em 1933, na coletânea de contos O Cão da Morte.
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1º – O Chamado Selvagem

Jack London – EUA, 1903

O final do livro é de cortar o coração, mas também traz uma alegria difícil de exprimir. Buck completa a sua jornada de cão civilizado para um cão primitivo, que está profundamente conectado com a floresta e que dela tira não apenas o seu alimento, a sua água, a sua diversão, mas também o verdadeiro sentido de sua existência. Um sentido mascarado pela domesticação e só após muito sangue, porretes, machados, presas e dores é que foi descortinado nele. As visões ancestrais podem incomodar alguns leitores, mas para a proposta do livro, faz o mais absoluto sentido delas existirem. Buck agora tinha voltado para casa de corpo e alma. Ele atendeu ao chamado selvagem. E se tornou uma lenda.

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RITTER FAN

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2020 foi, obviamente, um ano estranho pacas. Assustador, na verdade. E eu poderia ter me esforçado mais, considerando a quarentena, para ler uma penca extraordinária de livros. Infelizmente, porém, li apenas a quantidade usual que, já há alguns anos, oscila entre 20 e 30 (não contando com livros profissionais de meu trabalho da “vida real”, claro). Mas, como eu quebrei meu próprio tabu que me impedia de reler livros quando reli toda a hexalogia Duna para escrever as críticas para o site, continuei por esse caminho com alguns livros que somente havia lido com tenra idade, preferindo, porém, citar apenas dois na lista abaixo.

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10º – Tolos & Mortais

Bernard Cornwell – Reino Unido, 2017

É impressionante como Bernard Cornwell é um escritor prolífico, não só conhecido por ficções baseadas em contextos históricos da Inglaterra, com também por praticamente não conseguir escrever um volume apenas de cada ideia que tem, criando verdadeiras e às vezes intermináveis franquias literárias como As Aventuras de Sharpe (ou, mais precisamente, As Aventuras de um Soldado nas Guerras Napoleônicas), Crônicas Saxônicas e assim por diante, normalmente contendo guerras e batalhas que marcaram a história de seu país e outros da Europa em diversas épocas diferentes. É portanto raro quando o autor dedica seu tempo a uma história auto-contida como Tolos & Mortais, especialmente considerando que a temática abordada – o teatro elisabetano – é bem diferente daquela que os leitores usuais dele se acostumaram ao longo das décadas.
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9º – Jurassic Park [releitura]

Michael Crichton – EUA, – 1990

A leitura de Jurassic Park hoje, décadas depois de seu lançamento, talvez não tenha o mesmo efeito original. Afinal, não só uma bilionária franquia cinematográfica originária do livro tornou os dinossauros figurinhas fáceis nas telonas e telinhas, como trouxeram as gigantescas criaturas de volta ao imaginário popular. Tive a oportunidade de ler a obra de Michael Crichton pela primeira vez no ano de seu lançamento nos EUA, 1990, muito antes de qualquer conversa sobre eventual adaptação e lembro-me vividamente da fascinação que senti, mesmo já adulto, pelo material que o então já consagrado produtor, roteirista e romancista americano colocou nas prateleiras das livrarias (ele também era diretor, mas, nesse caso, o adjetivo “consagrado” não se aplica).
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8º – O Irlandês

Charles Brandt – EUA, 2004

Qual é o verdadeiro valor de uma confissão? Sob o ponto de vista jurídico, uma confissão não pode ter valor absoluto e, desacompanhada de elementos que a corroborem, não prova absolutamente nada, até porque ela pode ser, como muitas vezes é, utilizada para justamente desviar uma investigação da verdade ou pode ter sido obtida por meios ilegais, como a tortura. Por outro lado, sob o ponto de vista pessoal e/ou espiritual, uma confissão, sozinha, pode ser de extrema serventia, tirando do peito do confitente a pressão da culpa que o martela. O Irlandês, obra de Charles Brandt originalmente publicada sob o título I Heard You Paint Houses (ou “Ouvi Dizer que Você Pinta Casas“) é o resultado de anos de um minucioso trabalho do autor para extrair um sem-número de confissões de Francis Joseph Sheeran, braço direito, por décadas, de um dos mais renomados mafiosos com atividade nos EUA, Russell Bufalino.
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7º – A Odisseia de Penélope

Margaret Atwood – Canadá, 2005

A Canongate Myth Series foi criada em 1999 por iniciativa do editor britânico Jamie Byng com o objetivo de reunir histórias em formato de novelas – ou contos mais alongados – que reformulam lendas e mitos das mais diversas nacionalidades e pelos mais diversos autores. Foram necessários seis anos para os primeiros títulos serem finalmente publicados, mas eles os foram com toda a pompa e circunstância, com três lançamentos simultâneos em 33 países e 28 línguas, um feito que, sozinho, já chama atenção de quem quer que seja. Infelizmente, apesar de o projeto inicialmente ter anunciado que o objeto era chegar a ter mais de 100 títulos, essa meta ainda está longe de ser alcançada, com apenas 18 publicados até 2013, quando a série parou.
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6º – O Voluntário de Auschwitz

Jack Fairweather – Reino Unido, 2019

No começo do ano, antes do mundo ser fechado, tive oportunidade de levar minhas filhas para conhecer Auschwitz. Sei que não é um destino agradável para férias, mas ele é necessário para quem puder. Já havia ido uma vez antes e prometido nunca mais voltar, mas resolvi fazer o sacrifício para que minhas filhas tivessem seus olhos abertos. Foi eficiente, diria, mas saí de lá exatamente da mesma maneira que na primeira vez: infeliz pacas. Mas o “passeio” me levou também a conhecer o livro de Jack Fairweather sobre a história real, mas pouquíssimo conhecida de Witold Pilecki, um soldado da resistência polonesa que se voluntariou para ser preso em Auschwitz de forma a espionar o local. Como a visita ao local, foi uma leitura difícil e angustiante, mas que recomendo a todos.
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5º – Viagem ao Centro da Terra [releitura]

Jules Verne – França, 1867

Minha leitura de ficção favorita de quando era criança. Sem dúvida alguma, Jules Verne foi um escritor muito além do seu tempo, literalmente pavimentado o caminho para a literatura fantástica e de ficção científica. Viagem ao Centro da Terra é um marco e uma obra extremamente divertida que se mantém de pé mesmo mais de 150 anos depois de sua primeira publicação.
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4º – Um Estranho Numa Terra Estranha

Robert A. Heinlein – EUA, 1961

Quem conhece Robert A. Heinlein apenas por sua potencialmente mais famosa obra, Tropas Estelares, não conhece realmente o autor e possivelmente já o classificou como militarista e, pior ainda, fascista. Se de fato o livro de ficção científica que explora um futuro em que a Terra entra em conflito com insetos espaciais pode passar essa impressão, ela não deve ser monolítica e imutável, especialmente quando consideramos a bibliografia de Heinlein como um todo, notadamente o livro seguinte, Um Estranho Numa Terra Estranha.
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3º – Comentários sobre a Guerra Gálica

Júlio César – Roma, c. 50 a.C.

Leio Asterix desde pequeno, por influência de meu pai e ele sempre me contou sobre o livro que o próprio Júlio César escreveu sobre sua campanha pela Gália. Demorou décadas e décadas, mas, influenciado pelo Especial Asterix que recomecei com força total em 2020, finalmente consegui ler esse relato histórico escrito enquanto a História acontecia, mas, claro, com a visão do vitorioso, pois o bom e velho J.C. jamais falaria de suas derrotas ou verdadeiras intenções, não é mesmo?
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2º – Submarino

Lothar-Günther Buchheim – Alemanha, 1973

O livro que deu base ao excepcional Das Boot, de Wolfgang Petersen, é uma obra-prima por seus próprios méritos, ainda que sua leitura não seja fácil em razão da enorme quantidade de termos náuticos que exige a constante consulta ao glossário ao final e, em alguns casos, até uma pesquisa usando a boa e velha internet. Depois dessa leitura, você se pega não só tendo outro entendimento sobre a profissão de marinheiros de submarino, como também, surpreendentemente, torcendo por nazistas.
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1º – Coração das Trevas

Joseph Conrad – Reino Unido, 1899/1902

Coração das Trevas é provavelmente mais conhecido como sendo a inspiração para a obra-prima cinematográfica Apocalypse Now, mas a novela do polonês radicado na Inglaterra Józef Teodor Konrad Korzeniowski, nom de plume Joseph Conrad, publicada originalmente em três capítulos na Blackwood’s Magazine em 1899 e, como livro, em 1902, é uma instigante e polêmica leitura parte baseada em experiências próprias do autor, parte na sua visão ampla do ambiente geopolítico da época, que é um dos primeiros exemplos de visão crítica ao colonialismo europeu na África em particular, mas com comentários e conceitos perfeitamente aplicáveis a todo e qualquer colonialismo, notadamente o de exploração. Enganosamente uma leitura rápida por seu tamanho acanhado, Coração das Trevas é complexo de várias maneiras.

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FERNANDO JG

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Esse ano fui atraído muito fortemente pelos enredos de introspecção, o que me levou a ler dezenas de outras coisas também, que não fossem só literatura. Mas como a literatura está sempre muito avançada em relação às outras artes, e também às outras ciências, e já disse muita coisa, já apontou muitos lugares que só iriam ser teorizados depois, vou ficar só com ela, já que também só tenho dez lugares.

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10º – Moby Dick

Herman Melville – EUA, 1851

Enigmática, a baleia surge como representação dos desafios dos seres humanos diante das forças da natureza, metáforas para os esquemas culturais que oprimiam e construíam uma sociedade cada vez mais hegemônica no que tange aos meandros do estabelecimento da indústria como forma de manutenção da sobrevivência.
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9º – Eragon

Christopher Paolini – EUA, 2002

O livro mais bonito que eu li em 2020 conta a história de Eragon, um menino que encontra um ovo de dragão no meio da floresta, até que esse ovo estoura e nasce Saphira, sua eterna companheira. E aí ele tem de escondê-la porque no passado os Cavaleiros de Dragão tinham desaparecido com a grande guerra, mas agora Eragon parece reviver essa tradição, causando uma dezena de problemas e inimizades. 

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8º –  O Retrato de Dorian Gray

Oscar Wilde – Reino Unido, 1890

Também bastante autobiográfico, o livro sofreu censuras por conta do seu conteúdo que flerta com a homossexualidade, e feria, até então, a moral pública na Inglaterra vitoriana. Tratando do tema do duplo e do pacto, o romance é um complexo pensar sobre o hedonismo e o humano enquanto natureza. 

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7º – Drácula 

Bram Stoker – Reino Unido, 1897

Creio que o excesso de vampiros na cultura da mídia diminui o exercício diletante ao ler o romance de Stoker. No entanto, aos interessados em conhecimento e aprofundamento na mitologia do personagem, a leitura vai além do mero entretenimento, tornando-se um manual de análise de um complexo contexto histórico, politicamente e socialmente tensos e agitados. Drácula, de Bram Stoker, flerta com o imperialismo que dominou as nações industrializadas ao longo do século XIX, com o ódio ao estrangeiro, as novas doenças, além de retratar a luta patriarcal pela manutenção das mulheres em seus “devidos” lugares, haja vista os primeiros passos de emancipação feminina que se delinearam em alguns pontos da Europa.

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6º – Os Sofrimentos do Jovem Werther

Johann Wolfgang von Goethe – Alemanha, 1774

Um romance epistolar, com traços autobiográficos, Werther é um queridinho do romantismo alemão e uma das obras centrais da literatura que trata desse tipo de alma mais soturna e melancólica.  O livro, que fez uma centena de jovens se suicidarem, lançou as bases para o romantismo mais espiritual e sensível, que influenciaria, por exemplo, a Escola de Morrer Moço, uma categoria do romantismo brasileiro em que Álvares de Azevedo é o exemplo desse marasmo do Mal do Século. 

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5º – Amar, Verbo Intransitivo

Mário de Andrade – Brasil, 1927

Carlos passa a ter aulas com Fraulein, uma governanta contratada para isso, mas não só, os pais de Carlos têm a intenção de tê-la para iniciar a vida sexual do menino, na tentativa de evitar que o filho caia nas mãos das mulheres da vida futuramente, e por isso se contrata uma governanta para ensiná-lo. Mas tudo começa a ter uma carga dramática quando Carlos e Fraulein desenvolvem um afeto, seguido de uma ruptura brusca e dolorosa, causando uma ferida no processo de construção de afeto de Carlos. Um livro de estética experimental na linguagem, Mário de Andrade pensa e cutuca os dilemas morais da burguesia paulistana na década de 20. 

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4º – Carta ao Pai

Franz Kafka – Alemanha, 1919

Carta ao Pai é uma obra epistolar do Kafka. Na verdade, é uma carta que nunca foi enviada ao seu pai, e anos depois da sua morte foi publicada. Dolorida, ressentida, com muita culpa e medo, Kafka escreve uma carta em que descarrega todos os erros da sua formação, e fala sobre a figura opressiva do pai. A partir desse relato é possível tentar compreender os aspectos labirínticos e sufocantes da sua obra, que reflete sua experiência de vida. Carta ao Pai é um início para quem quer conhecer mais Franz Kafka e os problemas narrativos da sua literatura, que é sempre obscura e dificultosa. 

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3º – Tonio Kröger [releitura]

Thomas Mann – Alemanha, 1903

Tonio Kröger é uma novela de Thomas Mann, que vem junto de Morte em Veneza. Talvez essa seja uma das minhas obras favoritas do Mann, e acho que ele é muito sensível na sua literatura, além de um senso estético maravilhoso. Tonio Kröger é a história dele mesmo, e acompanhamos a passagem da sua vida escolar para a vida adulta, quando ele se torna um artista. Junto disso, somos expostos aos conflitos mais pessoais desse personagem singular, que atravessa íntimos dilemas amorosos, familiares e da sua própria personalidade. Uma obra em que o tema do artista é essencial, o livro é recheado de diálogos que são mais filosofia e meditação sobre os lugares indeterminados de si, do que conversas soltas para encher enredo. Kröger é, na verdade, um burguês perdido no mundo. É uma novela autobiográfica, então é sempre um diálogo intertextual entre a literatura e a biografia do próprio Thomas Mann. 

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2º – Dublinenses

James Joyce – Irlanda, 1917

O livro que coloca James Joyce na cena literária, Dublinenses é um punhado de 15 contos sobre Dublin, seus locais, sua população e a vida na cidade. Cada narrativa é única, mas no todo resulta em uma experiência imersiva na cultura dublinense, retratando os mais variados aspectos e tipos de pessoas. Apesar desse descritivismo, Joyce reflete muito bem sobre a vida como um todo, e isso me agrada muito. Os contos todos são ótimos, mas os meus favoritos são Graça, que é a história da redenção de um homem, no qual Joyce vai discutir os contrapontos religiosos que permeiam a vida dublinense, entre católicos e protestantes; além deste, Um caso doloroso, que é um momento de encontro de almas, em que Joyce pensa os encontros e desencontros, a felicidade e a efemeridade das coisas, das relações e da vida. Dublinenses é essencial para quem quer entrar em Joyce, já que, depois disso, os romances abrem campo para uma outra experiência na obra do autor.

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1º – Perto do Coração Selvagem  

Clarice Lispector – Brasil, 1943

No momento em que o romance é publicado, Antonio Candido dedica um ensaio só a ela “No Raiar de Clarice Lispector“. Foi essa a recepção da Clarice na literatura no momento em que ela dá o ar da graça, causando um incômodo gigantesco e desmanchando tudo que, até então, era sólido. No melhor livro do meu ano, a gente acompanha a história de Joana, uma mulher que nasce e cresce sob o signo da falta e da ausência, e vive como se inadequada e errante num lugar em que até o amor lhe é negado. Um mergulho introspectivo, aprofundado até o limite pelo fluxo de consciência, Perto do Coração Selvagem, o livro de estreia da Clarice, é intragável pela forma que fala sobre os sentimentos mais estranhos e familiares da intimidade.

plano critico livros lista de 2018 melhores leituras

GABRIEL ZUPIROLI

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Estudar letras, ao contrário do que pode se pensar, é um enorme contraponto na hora de se ler livros inteiros. Acaba-se por ler muitos trechos, fragmentos e capítulos, ao invés de se debruçar em uma obra integralmente. É por isso que se torna difícil fazer uma lista como essa quando se lê apenas vinte livros inteiros em um ano. Mas não impossível. Outro ponto negativo é que, no fim, lê-se muito de uma mesma área. E é por isso que o leitor vai encontrar, na lista, ao menos três autores latino-americanos (um deles repetido, inclusive). Porém como fazer listas é algo que sempre me instigou, vamos às leituras abaixo.

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10º – Ruído Branco

Don DeLillo – EUA, 1985

Sempre quis adentrar mais profundamente nos autores contemporâneos dos Estados Unidos. Aqueles que falam da contracultura, do estado mental associado ao capitalismo frenético, da alienação da própria identidade do sujeito. Ruído branco é um desses livros. Apesar de se alongar demais na mesma estrutura, temos aqui toda uma estrutura exposta do sentimento de paranóia oriundo dessa civilização contemporânea. Resultando, é claro, em um belo aprofundamento do medo da morte. Não recomendo aos paranóicos com a constante diluição do capitalismo tardio. Aos outros, leiam com vontade.
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9º – A Literatura Nazista na América

Roberto Bolaño – Chile, 1996

Roberto Bolaño é meu autor favorito, e isso por si só implica em sua presença nesta lista. Diferentemente de seus outros trabalhos – mas igual na engenhosidade -, A literatura nazista na América se apresenta como uma enciclopédia biográfica de autores latino-americanos fictícios de aspiração fascista. Trata-se de uma exposição visceral e engraçada das veias conservadoras que percorrem o sangue latino. E se você fizer a ligação com Noturno do Chile, do mesmo autor, entenderá que a literatura nem sempre é uma arma de libertação: está a serviço da ideologia.
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8º – Bonsai

Alejandro Zambra – Chile, 2006

Com outro chileno na lista, já é possível perceber minhas preferências. Porém aqui, ao contrário de Bolaño e seu estudo da literatura como violência, encontramos uma história de literatura, romance e desilusão da maneira mais Alejandro González Iñárritu possível. Um livro curto, porém que bebe no seio do amor e da própria literatura, criando uma história dura e com momentos muito belos. Pra mim, uma das melhores introduções à literatura hispano-americana contemporânea. Assim como a obra anterior, prato cheio aos amantes da metaliteratura.
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7º – Os Próprios Deuses

Isaac Asimov – EUA, 1972

Uma das melhores ficções especulativas por aí. A forma como Asimov estrutura um universo paralelo que parte de uma percepção ontológica e epistemológica radicalmente diferente da nossa para, em seguida, aproximá-la é um primor. Com esse livro, entende-se a importância do autor nascido na Rússia para a história da ficção científica.
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6º – Respiração Artificial

Ricardo Piglia – Argentina, 1980

Um romance que se envereda pela história da ditadura argentina, pela identidade entre autor e obra, pela própria escrita. A obra de Piglia, no geral, possui um diálogo muito forte com o próprio fazer literário. Mas nesse romance eletrizante, a investigação percorre outras densidades. Desde a anedota entre Kafka e Hitler se conhecendo, até o filósofo polonês amigo do pai do protagonista, Emilio Renzi, alter ego do autor. Uma das obras mais importantes da literatura latino-americana contemporânea.
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5º – Contra Amazon e Outros Ensaios

Sobre a Humanidade dos Livros

Jorge Carrión – Espanha, 2019

Quando comprei este livro, imaginei que seria uma obra totalmente crítica e política acerca da gigante empresarial. No entanto, trata-se de uma coletânea de belíssimos ensaios resgatando a magia dos livros físicos, das livrarias pequenas e da figura do livreiro. Escrito com paixão, o livro tem o poder de mostrar ao mundo que a leitura é algo muito mais complexo do que simplesmente entender caracteres dispostos em uma tela.
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4º – Anos de Formação: Os Diários de Emilio Renzi

Ricardo Piglia – Argentina, 2015

Piglia novamente, Emilio Renzi novamente. Dessa vez, os diários do autor ficcionalizados e passados a seu alter ego/protagonista. As fronteiras entre a escrita e a vida cada vez mais escancaradas na rotina de um jovem aspirante a escritor e seus desejos. Esta obra máxima do autor condensa todos seus escritos anteriores e lhes dá diversas chaves de leitura. A subjetividade, a experiência e a leitura andam aqui de braços dados rumo ao infinito da própria obra literária.
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3º – O Castelo

Franz Kafka – Alemanha, República Tcheca, 1926

De toda a obra kafkiana, este romance incompleto é o que eleva ao grau máximo toda sua construção de universo. A ambientação estranha característica de Kafka é aqui potencializada ao extremo (quase ao absurdo), adentrando de maneira profunda seu estilo narrativo inconfundível e único. Kafka constrói uma narrativa incomparável e suga o leitor em meio ao tornado que constrói. Visceral.
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2º – Ficções

Jorge Luís Borges – Argentina, 1944

O maior narrador da América Latina condensa aqui uma sequência de contos quase perfeita. Misturando filosofias diversas (Leibniz, Descartes, Hume) à própria forma narrativa, Borges criou uma das maiores coletâneas do século XX. Sua maestria na forma de contar as histórias, aliada à própria filosofia aplicada à forma fazem com que Ficções seja uma obra inigualável no campo dos contos.
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1º – O Som e a Fúria

William Faulkner – EUA, 1929

Uma história de som, de fúria, de focos narrativos distintos, de psicologias familiares esmiuçadas perfeitamente. Faulkner entrelaça quatro diferentes narrativas de uma decadente família abastada do Sul dos EUA em vias de fazer um retrato desta mesma região e época. Um dos melhores romances que já li, fica a minha recomendação de uma obra experimental densa, violenta, extremamente moderna e que se impõe como um gigante em meio ao mar de tédio que surge das outras literaturas ao redor.

plano critico livros lista de 2018 melhores leituras

RODRIGO PEREIRA

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Para mim, assim como acredito muitas outras pessoas, 2020 tornou-se o pior ano de minha vida até então. A pandemia de covid-19, obviamente, foi a principal responsável por isso. Para não perder o foco do texto, falarei brevemente sobre o impacto que tive no tema desta publicação: livros. Este ano conseguiu quase acabar com meu hábito de leitura. Se terminei 2019 com algumas dezenas de livros lidos e empolgado para superar essa marca no ano seguinte, precisei de um “leve” esforço para atingir o mínimo e participar da lista. Felizmente, o pouco contato literário que tive foi, majoritariamente, excelente e segue logo abaixo. Espero que consiga recuperar o tempo e as leituras perdidas em 2021 (e que esse maldito vírus, finalmente, seja derrotado).

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10º – Os Assassinatos da Rua Morgue

Edgar Allan Poe – EUA, 1841

O começo do conto (juntamente com algumas particularidades muito… humanas dadas ao assassino, na reta final da obra) é a única coisa da qual eu não gosto muito em Os Assassinatos na Rua Morgue. O narrador não nomeado, amigo de ocasião e depois colega de quarto do estranho C. Auguste Dupin faz uma introdução que, para mim, foi longa e enfadonha sobre uma questão metodológica que conheceremos na prática à medida que avançamos na história. O fato, porém, é que a escrita de Poe consegue ser muito bem amarrada quando a olhamos de corpo completo e, mesmo que algumas passagens não entrem exatamente no nosso gosto ou que, em nosso julgamento, não pareçam bem ajustadas na trama, certamente entrarão em nosso entendimento do por quê o autor as colocou ali.
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9º – Linha Reta e Linha Curva

Machado de Assis – Brasil, 1870

Então, a trama começa a focar nessa disputa particular dos dois, algo que, apesar de realmente fazer com que queiramos saber o desenrolar do confronto, muda completamente o protagonismo inicialmente apresentado. Lembro que o autor introduz o casal Azevedo e Adelaide como protagonista no início da obra, fazendo com ambos percam muito espaço ao longo do conto. Da mesma forma, o final traz um desfecho menos impactante do que a interessante disputa entre Emília e Tito. Apesar disso, a história não deixa de ser satisfatória justamente pelo tempo empreendido nos encontros dos dois, com pequenas tramóias que trazem um ar divertido à acidez das discussões. Longe dos melhores trabalhos machadianos, mas, ainda assim, uma leitura muito boa.
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8º – Sobre a Comuna de Paris

Karl Marx e Friedrich Engels – França, 1871

O texto de Marx sobre a Comuna de Paris é muito interessante tanto do ponto de vista histórico quanto teórico. O autor traz a situação da concepção do considerado primeiro governo popular da história, analisando suas ações, e, ao mesmo tempo, temos contato com suas ideias acerca de temas como Estado, polícia, burocracia, clero, exército e magistratura. Uma obra breve, mas capaz de despertar interesse acerca desses e demais temas políticos e filosóficos.
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7º – O Homem de Areia

Lars Kepler – Suécia, 2012

Assim como o doutor canibal, Walter é frio, calculista e parece sempre estar, pelo menos, alguns passos à frente de tudo e todos. Mesmo a situação aparentemente mais desfavorável parece estar totalmente sob seu controle. O que os difere, e muito, é a forma como seus planos são executados. Ao contrário do requinte e sofisticação de Lecter, Walter é muito mais brutal, resistente e, quando necessário, vai para o combate direto, mostrando-se uma verdadeira arma letal em corpo humano. Sua presença povoa nosso imaginário de maneira tão intensa que não paramos de pensar em sua figura em momento algum. Mesmo quando outros núcleos da narrativa são explorados, achamos que ele aparecerá a qualquer momento (provando a qualidade de Kepler na construção do suspense).
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6º – Deuses Caídos

Gabriel Tennyson – Brasil, 2018

Conforme avançamos na história, somos apresentados a figuras que povoam nosso imaginário através da mitologia, magia, religião ou com alguma ligação com o sombrio e sobrenatural. Exemplos não faltam: vampiros, sacis, gárgulas, súcubos, dragões, golens, orixás, etc. Tudo com descrições quase sempre bizarras e com uma riqueza de detalhes tremenda, um grande mérito do escritor. Outro mérito que deve ser destacado é a forma como Tennyson faz referências a cultura pop de maneira orgânica e criativa, fazendo comparações entre seres reais e as personagens de sua história, o que traz ares cômicos que casam muito bem com a personalidade de Cipriano e outros. Isso acontece intercaladamente com uma escrita mais séria e detalhada dos fatos, algo que ajuda na fluidez da narrativa sem tornar-se entediante em momento algum.
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5º – Frei Simão

Machado de Assis – Brasil, 1870

Frei Simão é um conto que integra a fase romântica de Machado de Assis, trazendo o amor como centro da narrativa dessa curta obra que encerra o livro Contos Fluminenses do autor. Não somente este tema, porém, mas também a loucura, o egoísmo, os interesses e a religião. Inclusive, é delicioso perceber como o escritor consegue abordar todos esses temas de maneira profunda e tocante mesmo em número tão restrito de páginas.
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4º – Sem Ana, Blues

Caio Fernando Abreu – Brasil, 1988

Este conto de Caio Fernando Abreu foi uma indicação do querido Luiz Santiago (vulgo Santigado) e uma das minhas últimas leituras de 2020. Eu adoro textos curtos donos de uma potência similar a de uma supernova, é como um encontro condensado da genialidade de um autor conosco e costuma abalar nossas estruturas. Sem Ana, Blues é exatamente assim. A dor, a dependência, a autodestruição, a superação, as lembranças, tudo isso e a não identificação do protagonista possibilitam a identificação com a personagem para qualquer ser humano com o mínimo de empatia. E depois de se identificar, é se preparar para a força imensurável contida na obra.
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3º – Noites Brancas

Fiódor Dostoiévski – Rússia, 1848

A edição que li de Noites Brancas traz a informação de que esta obra compõe o grupo de escritos do gênio russo após uma forte desilusão amorosa. Isso explica tanto o vazio na vida pessoal do protagonista quanto a tragédia vivida por ele na obra. Dostoiévski conta sua história sempre nas noites geladas de São Petersburgo, criando uma frieza e melancolia arrebatadoras para todo canto que olhemos em busca de abrigo. O resultado é terminar o livro triste e compadecido com seu protagonista sem nome, fato que nos leva a pensar ainda mais se o autor não escreveu imaginando ser o homem da história.
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2º – O Homem Que Sabia Javanês

Lima Barreto – Brasil, 1911

Enganando a máquina estatal e ganhando dinheiro e fama ilegitimamente, Castelo encarna a realidade de tantas figuras brasileiras adoradas por aparentemente fazerem algo muito bem ou terem o conhecimento de alguma coisa, quando na verdade não sabem nada, não são sequer parecidos com a figura que vendem para seus adoradores. Como o conto abraça as largas veias das repartições públicas, é possível entender a intenção do autor ao fazer esta crítica, especialmente porque o suposto sabedor de javanês ganha poder por meios informais, através de contatos que não questionam se ele é realmente capaz de ocupar um importante cargo público. Apenas olham para o homem, assumem o que ele diz como verdade, e está feito. Isso basta para que se crie um herói nacional que segue carregado de elogios numa função que exerce à base de um crime. A ironia maior é que o Estado brasileiro e outras muitas instituições nacionais estão cheios de sabedores de javanês ainda hoje: do maior ao menor cargo da República. Mas não se preocupem. Este é o “país do futuro“. Tudo vai bem.
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1º – Duna

Frank Herbert – Estados Unidos, 1965

Ousaria dizer que Duna é a amálgama deferente dos clássicos literários de ficção científica que vieram antes dele, mas que estabelece roupagem e voz próprias e, por isso, passaria a ser, por sua vez, a base literária para um outro sem-número de obras futuras do gênero nas mais variadas mídias. Star Wars não seria Star Wars sem Duna (Tatooine não é um planeta desértico à toa) e a própria grandeza do universo de George Lucas é algo sugado diretamente do tamanho do que Herbert cria nesse primeiro livro e expande nos cinco seguintes (ignorarei os que seu filho Brian Herbert escreveu após a morte de seu pai). Duna é, para a ficção científica, em muitos aspectos, o que a Odisseia significou e significa para a literatura épica ocidental.

plano critico livros lista de 2018 melhores leituras

KEVIN RICK

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Infelizmente, neste ano eu não pude conferir tantos livros como normalmente faço. Um pouco foi uma certa obsessão com releituras de HQs e mangás, e um pouco foi preguiça mesmo para ser completamente sincero. Ainda assim, consegui ler em torno de 15 obras literárias, mas pelo menos metade da minha lista é composta por livros que não entram nem em um top 50 da vida. Dito isso, todas são leituras que indico sem medo para qualquer pessoa. Vamos lá!

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10º – O Ventre do Atlântico

Fatou Diome – Senegal, França. 2003

O Ventre do Atlântico é uma multifacetada, reflexiva e, honestamente, surra emocional do drama deste povo ainda acorrentado mentalmente pelo preconceito, seja ele advindo de fora ou de dentro. Minha única ressalva ao livro é a falta de fluidez na escrita de Diome que dificulta um pouco a leitura, em muitos momentos se tornando didática além da conta, mas nada que danifique o estudo de pertencimento cultural senegalês. Um livro praticamente obrigatório para o entendimento intrínseco do que a escravidão fez e ainda faz, e como a Europa, mais especificamente a França, mantém a mesma divisão racial, ainda que digam ser desenvolvidos. A distância marítima parece pequena ao olharmos o afastamento humano.
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9º – A Revolução dos Bichos

George Orwell – Reino Unido, 1945

Décadas atrás, escrever algo sobre A Revolução dos Bichos que demonstrasse qualquer espécie de brevidade ou sintetismo seria inevitavelmente ignóbil, ou ao menos visto como uma imperdoável inexpressividade. Hoje, porém, muito já foi dito, por pessoas mais diletas do que eu, sobre o contido relato político para o qual Orwell prestou-se, a fim de expressar sua indignação com a descaracterização do socialismo russo. Por isso, estender-me em esforços hermenêuticos seria completamente dispensável. Devo, portanto, me ater a uma análise puramente estrutural, e contentar-me em somente abordar esporadicamente a erudição crua que o autor transportou para o livro. Tarefa ingrata, sobretudo porque trata-se da característica mais encantadora e inebriante de sua prosa.
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8º – Missão Stardust

K. H. Scheer – Alemanha, 1961

A abordagem política aqui é sólida e crítica, recebendo uma boa ligação com a própria política de conquista, leis e caminhos de sobrevivência dos alienígenas, dando para o leitor, já na reta final, uma das falas mais inspiradas de Perry Rhodan, referindo-se à divisão do planeta em fronteiras de uma forma que o coloca como um “cidadão do mundo” e mostra o quão diferente é a sua percepção para a sociedade em que vivia, para a conquista da paz mundial e união entre os povos. O desfecho é um dos melhores que eu já li. É verdade que abre a janela para a continuação da saga, mas entrega tudo o que o leitor precisa saber sobre este “começo de nova Era para a Terra” e deixa muito claro o desafio que Perry Rhodan faz aos Estados Unidos (seu país natal), para evitar que Crest caia nas mãos de alguma das potências em disputa naquele período. Um final que nos deixa extremamente ansiosos para saber o que aconteceu com os tripulantes e como de fato ocorreu o início desse novo momento de nossa História. O início da Terceira Potência.
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7º – Nós

Yevgeny Zamyatin – URSS, 1921

Uma leitura que se iniciou como curiosidade pela semelhança alardeada pelo público com 1984, de George Orwell. Na verdade, o próprio autor já afirmou ter lido esta obra antes de escrever seu próprio livro sobre uma sociedade distópica. Por fim, terminei por gostar mais do trabalho de Yevgeny, que expõe os futuros problemas de nações socialistas, especialmente a União Soviética.
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6° – O Instituto

Stephen King – EUA, 2019

Conhecido por suas clássicas obras literárias e adaptações cinematográficas, Stephen King às vezes sofre com suas obras modernas pelo fato do sucesso inicial ser relembrado constantemente, tornando-o maior que qualquer novo romance lançado. O Instituto se enquadra em um dos melhores trabalhos do escritor, mas provavelmente nunca será lembrado como tal. O romance é extremamente familiar para aqueles acostumados com a escrita do ícone do terror, mas, aqui, todas as qualidades de suspense e construção macabra do autor atingem seu ápice na história do jovem Luke, que foi capturado pelo terrível Instituto.
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5º – O Problema dos Três Corpos

Cixin Liu – China, 2007

O Problema dos Três Corpos é uma das mais aclamadas obras literárias de ficção científica moderna. O romance de Cixin Liu falha na caracterização e desenvolvimento de personagens, mas é uma obra fenomenal no que se propõe a fazer, que é a discussão da natureza humana, sociedade chinesa e a religião, dentro do conceito científico hardcore e absurdo da autora.
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4º – O Nome do Vento

Patrick Rothfuss – 

Minha experiência com ela foi uma montanha-russa, desde o completo esquecimento da sua primeira aparição, até uma entediante e longa introdução para seu novo surgimento na trama, e, por fim, a vejo como a melhor personagem secundária desenvolvida narrativamente do romance, em toda sua imperfeição e luta para sobrevivência num mundo machista e sem oportunidades. O Nome do Vento tem sim alguns problemas, e ficará aquém de quem espera um super épico de fantasia ou uma experiência medieval elaborada com vários núcleos, já que, a obra é uma leitura de metaficção fantasiosa agradável, que pega clichês do gênero, misturando-os com um teor mais sombrio, e uma escrita poética, propondo uma prazerosa e sentimental jornada do herói, com um pouquinho de petulância no meio.
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3º – It – A Coisa

Stephen King – EUA, 1986

It – A Coisa tem palhaço assassino, sem dúvida. Mas tem muito mais do que isso. A leitura dessa grande obra de Stephen King – quiçá sua melhor – é mais do que recomendada, pois o tempo empregado nela será recompensado com muitas reflexões boas, mas também ruins, sobre passado, presente e futuro. Pennywise assusta, sem dúvida, mas a vida pode assustar ainda mais, ao mesmo que mostra como ela é bela.
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2º – Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?

Philip K. Dick – EUA, 1968

A leitura do razoavelmente breve Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? é uma obrigação para os fãs de ficção-científica em geral e de Blade Runner em particular. Ao fechar o livro, as colocações e indagações de PKD continuarão fervilhando na mente do leitor que poderá apreciar ainda mais o filme e talvez até ampliar seu conceito do que é a Humanidade.
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1º – Nas Montanhas da Loucura

H.P. Lovecraft – EUA, 1936

E, de fato, Nas Montanhas da Loucura é o tipo de obra que não dá para simplesmente ler com calma, ao longo de dias. A absorção é completa. O desespero é crescente. A cada página virada, os mistérios se avolumam e o suspense se torna mais claustrofóbico mesmo que pouco do que Lovecraft descreva seja gráfico, já que seu propósito é realmente nos deixar na dúvida, aguçando nossa curiosidade até o clímax “ensurdecedor” como o coração batendo na mente do narrador no citado conto de Poe.

LEONARDO CAMPOS

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Um ano de poucas exceções em meu direcionamento temático na literatura. Como crítico de cinema formado em Letras, isto é, também professor de Língua e Linguagens, a linguagem literária é parte de meu cotidiano profissional, além dos momentos diletantes. 2020 foi uma travessia bastante peculiar. Além do vibrante e esplêndido Never Sleep Again – A Hora do Pesadelo, crítica genética de Thommy Huston sobre os bastidores e o legado da franquia de Freddy Krueger, cria de Wes Craven, o ano foi exclusivamente dedicado ao encerramento de um ciclo de análises na seara do Horror Ecológico, subgênero do cinema e da literatura que tenho trabalhado há alguns anos no Plano Crítico. Ao atravessar o atual cenário pandêmico, me encontrei com leões, tigres, aves, serpentes, ratos, aranhas, dentre outras criaturas da natureza, responsáveis por momentos de diversão, reflexão e alegorias. Essa é a minha lista das melhores leituras de 2020. Dois, por sinal, são releituras.
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10º – A Isca – Uma História Real 

João Pedro Portinari Leão – Brasil, 2020

Histórias de superação tendem a dividir as pessoas que possuem uma cultura literária vasta. É um tipo de texto que pode cair no dramalhão e reverter a ideia aristotélica de catarse, transformando o relato num lacrimejante texto mais ao estilo do jornalismo sensacionalista ou, numa linha paralela e com bastante contraste em relação ao tipo mencionado, apresentar a história pretendida com a firmeza de alguém que venceu as questões retratadas sem apelar para um festival de lágrimas e pedidos de piedade. A Isca – Uma História Real, lançado em 2019, publicado por João Pedro Portinari, está longe do primeiro tipo e para fins de definição, fica posicionado em algum lugar no segundo tipo de produção literária. Com uma história de sobrevivência forte e guiado pelas memórias diante do acontecimento que marcou para sempre a sua vida, isto é, um incidente com um tubarão-branco nos anos 1990, o autor traduz a sua trajetória para o formato texto literário, um relato humorado e cheio de curiosidades, pecaminoso apenas pela falta de emoção.
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9º – Aranhas

Carlos Schroeder – Brasil, 2020

Embates entre seres humanos, conflitos psicológicos, histórias curtíssimas e situações bastante peculiares. Esse é o mote de Aranhas, do escritor brasileiro Carlos Henrique Schroeder, uma coletânea de 32 contos que tem como direcionamento, alegorias com os mais diversos aracnídeos. Jamais diria que o livro não é bom. Não é trabalho da crítica dizer que uma narrativa presta ou não, tampouco afirmar que uma obra literária deva ou não ser consumida ou anulada, talvez cancelada, para utilizar a nomenclatura mais usualmente contemporânea. Lido vorazmente desde que a publicação chegou em minhas mãos, a decepção tomou-me por completo, mas não por falta de qualidade do material. O problema foi de quem vos escreve. Sem atender aos meus anseios contemplados apenas na sinopse, Aranhas é um excelente exercício da estética literária, conjunto de textos que chamaria de “conceitual”, mas que infelizmente não funcionou em minha busca por metáforas aracnídeas embebidas no mais puro horror e altas doses de crítica social.
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8º – Os Pássaros 

Frank Baker – Reino Unido, 1936

É um livro para deixar qualquer colecionador encantado, algo que não podemos dizer exatamente de seu conteúdo. Enquanto narrativa literária, Os Pássaros peca por digressões vertiginosas, com exceção de algumas passagens brilhantemente apavorantes na primeira e na terceira parte, trechos de tensão que parecem escritos por autores diferentes, tamanha a mudança de estilo e ritmo na abordagem dos acontecimentos. Com tradução de Bruno Dorigatti, eficiente na associação com a linha de pensamento das gerações mais atuais, a edição traz notas de rodapé que vão além da mera conceituação de vocábulos transportados para o nosso idioma, dando ao livro um importante material de estudos para o campo da tradução. Ele é minucioso e cuidadoso nas expressões, bem como em pontos geográficos que precisam de maior explicitação para que adentremos no clima pretendido por Frank Baker, ao longo das 298 páginas do livro.
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7º – Os Ratos

Dyonélio Machado – Brasil, 1935

Ratos são ótimas criaturas para alegorias aterrorizantes. O escritor Dyonélio Machado, associado ao movimento modernista brasileiro, sabia bem dessa possibilidade e após receber o convite de Érico Veríssimo para escrever algo e submeter a um concurso literário, concebeu o romance Os Ratos, publicado em 1935, narrativa inquietante sobre o cotidiano angustiante de um homem engolido pelas demandas da modernidade e das exigências capitalistas da vida urbana em uma metrópole. Acoplado no que a crítica literária convencionou a chamar de Segunda Fase do Modernismo, a história ganhadora do Prêmio Machado de Assis oferta ao leitor uma linguagem direta, simples, sem preocupações com muita formalidade e um tom demasiadamente objetivo em seus 28 capítulos enxutos, bastante intrínsecos entre si. A tese do autor, isto é, a sua crítica central aqui é a forma como o dinheiro se tornou a mola propulsora de mão única nas relações sociais.
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6º – O Gato do Brasil 

Arthur Conan Doyle – Inglaterra, 1898

Na trama, passada numa época em que não existia automóvel e que os meios de comunicação sequer imaginavam a progressão atual, afinal, estamos falando de algum ano da década de 1890, um jovem ambicioso, chamado Marshall King, decide visitar o seu primo, Everarde King, tendo em vista estreitar as relações para conseguir ajuda financeira para os tantos débitos contraídos nos últimos tempos. O parente, recém-chegado do Brasil, o espera em Greysland, seu lar. Em sua narração em primeira pessoa, Marshall deixa claro que não pensou duas vezes em seguir para o local, pois os laços lhe permitiriam condições favoráveis futuramente. Ao chegar, é recebido com a frieza comum ao familiar, bem como à sua esposa, uma brasileira que aparentemente tem algo a dizer, mas que deixa tudo nas entrelinhas com seus olhares, sempre distantes.
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5º – A Aranha-Negra 

Jeremias Gotthelf – Suíça, Alemanha, 1842

Chamamos de ominoso tudo aquilo que traz mau agouro, tons funestos e nefastos, somado pelo ideal indesejado por qualquer um: a infelicidade. A Aranha-Negra, de Jeremias Gotthelf, é um romance dentro desta linha. Intensa, apavorante e atmosférica, a edição de 2017 da Editora 34, traduzida por Marcus Vinícius Mazzari, Mestre em Literatura Alemã pela USP, responsável por impregnar a publicação de rigor nas notas de rodapé e textos complementares, pode ser considerada a versão ideal para o leitor. Com projeto de capa idealizado pela Bracher & Malta Produções Gráficas, as 168 páginas do livro são encobertas por um invólucro já bastante eficiente neste estabelecimento de “clima”, pois a xilogravura de Bruno Gentinetta, de 1966, consegue expressar por meio da tradução intersemiótica, o conteúdo do texto estruturado pelo escritor suíço, eficiente ao fazer uso de lendas medievais, ilações bíblicas e narrativa ao estilo de As Mil e Uma Noites e Decamerão, contos populares árabes e conjunto de novelas de Giovani Boccaccio, respectivamente, para contar a sua história sobre a chegada de uma entidade demoníaca, transfigurada por meio de uma aterrorizante alegoria aracnídea.
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4º – Anaconda 

Horácio Quiroga – Uruguai, 1922 – 1924

Escrito numa época de reflexões ecológicas em diversos campos da atividade intelectual humana, Anaconda, coletânea de contos do uruguaio Horácio Quiroga, reúne 19 histórias rodeadas de conflitos que trazem a natureza como elemento central ou tangente, força pulsante que mexe com o comportamento de personagens acossados pelas situações insanas a que são submetidos em suas trajetórias. Com temas voltados para os mistérios da floresta amazônica, em especial, a serpente que nomeia o conjunto, influenciadora o tempo inteiro, mesmo que de maneira subjetiva e alegórica, os contos flertam com desmatamento, energia nuclear, poluição, além da pulsão de morte do autor, figura respeita no campo da literatura que cometeu suicídio diante das pressões pessoais que o circundavam, reforçadas por seu passado de perdas e frustrações.
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3º – Contos da Selva 

Horácio Quiroga – Uruguai, 1922 – 1924

Lançado em 1921, Contos da Selva é uma coletânea que nos apresenta flamingos, jacarés, papagaios, onças, tartarugas, veados e outros bichos da selva em situações contornadas por humor e aventura. Algumas mais leves, outras mais soturnas. Aqui o homem flerta com o lado selvagem em paralelo com sua humanidade, numa reflexão consigo mesmo ou com a selva, quando é colocado diante dos animais. É a alteridade em simbiose com o fantástico que retrata percursos em meio aos abundantes elementos da flora sul-americana, frondosa e misteriosa, palco para os acontecimentos distribuídos nas oito histórias. O escritor, expoente do realismo fantástico e com uma jornada biográfica peculiar, tal como exposto nas críticas de Cartas de Um Caçador e Anaconda, desenvolve nas produções selecionadas em Contos da Selva, o seu olhar mais brando e menos violento dos embates ecológicos das fábulas que vão além do moralismo.
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2º – Cartas de Um Caçador 

Horário Quiroga – Uruguai, 1922 – 1924

Quando lido e interpretado em nosso contexto atual, Cartas de Um Caçador se revela assustador e politicamente incorreto. A coletânea de contos do escritor uruguaio Horácio Quiroga reúne 10 histórias embasadas em conflitos entre o narrador-personagem, Dum-Dum, homem em contato com as forças da natureza. Ele é quem escreve as tais cartas do título, enviadas para os filhos, numa espécie de postura de mentor que ensina para os seus jovens a maneira como um homem deve ser, bravo e imponente, principalmente a figura do caçador, conhecida por seu caráter destemido. Contemplado apenas pelo aspecto sincrônico, os contos assustam pela barbaridade do caçador diante de animais que estão apenas em circulação em seus espaços naturais. Essa é a leitura sincrônica. Quando apostamos na diacronia, conseguimos entender melhor o conteúdo e até aceita-lo, pois precisamos compreender que mesmo indevidas, as posturas presentes em cada passagem espelham um contexto histórico específico.
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1º – Never Sleep Again – A Hora do Pesadelo 

Thommy Huston – Estados Unidos, 2010

Um livro fascinante. Com a publicação, somos informados milimetricamente sobre os acontecimentos em torno de A Hora do Pesadelo. A cena da morte de Tina é uma referência ao clássico musical com Fred Astaire dançando num cenário giratório? Não no tema, mas na estratégia de filmagem utilizada. O maquiador buscava encontrar um formato definitivo para Freddy em vários livros sobre vítimas de queimaduras, mas foi durante uma pausa para o lanche que a ideia lhe chegou, por meio de uma epifania enquanto comia uma pizza de calabresa, visual que lhe remeteu ao rosto do antagonista. Krueger se manteve firme na memória cultural com posto mais privilegiado por causa da estrutura de seu roteiro, mais amarrado e com desenvolvimento de uma história menos convencional que os modelos da década de 1980? Sim, quando comparado aos tantos mascarados do período. Informações recheadas de fotos e depoimentos. Incrível!


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