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Lista | Clint Eastwood – Os Filmes Ranqueados (Direção)

por Ritter Fan
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Clint Eastwood tem uma carreira invejável e versátil. Começou muito discretamente atuando em pontas em filmes como A Revanche do Monstro (1955) e Crimes Vingados (1956) e papeis esporádicos em séries como Highway Patrol e Maverick, finalmente conseguindo um papel fixo como Rawdy Yates em Rawhide, o que lhe serviu de trampolim para sua breve, mas ilustre carreira italiana encarnado o mítico Homem Sem Nome da Trilogia dos Dólares de Sérgio Leone. Quando retornou para Hollywood, seu status era outro e ele começou a ter peso para buscar papeis mais relevantes e também espaço como produtor e diretor, cadeira em que sentou pela primeira vez em 1971, com Perversa Paixão.

A partir desse ponto, apesar de ele ter continuado também como ator, Eastwood nunca mais largou a direção, lançando nada menos do que 38 longas metragens e dois episódios de TV nessa posição, sendo laureado com inúmeros prêmios, dentre eles três Globos de Ouro e dois Oscar de Melhor Direção até o momento de publicação da presente lista. E isso sem contar com seu trabalho de composição de trilhas sonoras, claro. Para comemorar seus 90 anos em 2020, montamos um ranking com TODOS os seus trabalhos cinematográficos de direção, tendo ele atuado ou não no respectivo filme. Participaram dessa lista os seguintes redatores do site: Ritter Fan, Luiz Santiago, Iann Jeliel, Rodrigo Pereira e Kevin Rick.

As regras:

1- Só filmes dirigidos por Clint Eastwood entraram, tendo ele também atuado ou não neles;

2 – Como corolário, filmes em que ele só atuou não constaram da lista;

3 – Excluímos da lista seus dois únicos trabalhos para a televisão, quais sejam, Histórias Maravilhosas – 1X12: Vanessa in the GardenThe Blues – Uma Jornada Musical: Piano Blues.

4 – Os textos que precedem as imagens são apenas trechos ilustrativos das respectivas críticas que podem ser conferidas na integralidade clicando-se no título de cada obra, valendo notar que nem sempre a posição do filme na lista baterá com a análise particular do crítico, obviamente.

Vamos à lista e mandem as de vocês para trocarmos figurinhas!
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38º Lugar: Rota Suicida

Numa primeira camada, podemos falar de Rota Suicida como uma “estressante terapia” para Shockley, que apenas nesse momento de crise, onde sua vida está em risco, é que ouve de alguém o que ele realmente é… e o motivo pelo qual foi escolhido para esta missão destinada a dar errado. Não significando nada para a polícia, sendo um policial dispensável, bêbado, pouco relacionável, sua morte seria apenas uma “fatalidade da profissão“, mas não tiraria o sono de ninguém. E essa colocação opera algo nos sentimentos de Shockley, tanto em relação à bebida, quanto em relação à mulher que o confrontou com essa exposição da realidade.

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37º Lugar: Rookie: Um Profissional do Perigo

A proposta é simples e já foi feita um milhão de vezes, mas é sempre na execução que um filme realmente prova seu valor. Através de algumas sequências de ação bem executadas, principalmente nos primeiros minutos do longa, onde Eastwood entrega uma das perseguições mais frenéticas e exageradas do cinema, o filme já começa promissor. E exagerado é um adjetivo mais do que apropriado para esse filme, o que dá certo charme a algumas cenas em que a suspensão de descrença do espectador deve ser bem resistente. Mas não é sempre que essa ação de duas horas consegue se safar, o que rende diversas situações desconfortáveis, diálogos risíveis e o desperdício de um ótimo elenco.

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36º Lugar: Raposa de Fogo

O roteiro de Alex Lasker e Wendell Wellman (o primeiro em seu primeiro texto e, o segundo, em seu único) não sabe muito bem o que fazer e investe tempo demais nesse jogo de gato e rato que, porém, carece não só de verossimilhança, como não consegue criar tensão alguma. Eastwood, na direção, também não parece saber construir uma narrativa sólida e deixa o filme correr solto entre perseguições noturnas a pé e de carro e uma infiltração na base soviética que ocorre tão facilmente que chega a ser engraçada. É como se toda a equipe técnica não estivesse muito interessada nos momentos anteriores ao roubo do avião, mas precisava esticar o filme já que o orçamento não permitiria muito tempo de perseguições aéreas.

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35º Lugar: Escalado para Morrer

Com isso, o cineasta, fazendo uso das belas paisagens naturais do Monument Valley, nos EUA, onde os grandes faroestes foram filmados (a poesia de ter Eastwood, o grande pistoleiro dos western spaghetti, usando essa locação é inescapável) e, depois, no monte Eiger, consegue diferenciar sua obra, algo que é amplificado pelo já mencionado fato de que, em muitos momentos, é o próprio Eastwood quem faz as escaladas. Obviamente, isso acontece em ambiente mais do que controlado, ainda que o risco seja presente em razão da idade do ator e, claro, do fato de que ele não era escalador profissional. Se vemos uma outra dupla escalar o estupendo Totem Pole, isso não retira o valor de Eastwood e também de Kennedy, que foram baixados de helicóptero para o pico, permanecendo lá sem equipamento de apoio.

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34º Lugar: O Destemido Senhor da Guerra

Toda a mecânica de treinamento é clichê até a raiz do cabelo, mas certamente divertida e bem comandada pela direção de Eastwood que sabe tirar proveito de sua “fama de mal” e do desfile de estereótipos ambulantes que é o grupo de soldados indisciplinados, ainda que o único deles que efetivamente tenha alguma construção maior do que ter um nome seja mesmo o esculhambado Stitch Jones. Sem dúvida, porém, o diretor poderia ter economizado nas repetições e na minutagem das cenas, entregando um filme mais curto e acelerado.

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33º Lugar: 15h17′ – Trem Para Paris

Clint Eastwood adora esses heróis e, mesmo que não sejam os heróis de muitas outras pessoas, personagens que, para certos grupos, no qual me incluo consideravelmente, poderiam ser encarados até mesmo como antagonistas – o caso do Sniper Americano é muito claro -, os símbolos são recriados através de um esmero imagético interessantíssimo. O que quer que seja o que o cineasta, atualmente, esteja encarando como verdadeiros exemplos da magnanimidade humana, 15h17 – Trem Para Paris é um clímax cinematográfico sobre as virtudes da nação americana como um protótipo da virtude do homem.

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32º Lugar: Bird

Mesmo trabalhando com um universo e personagem que admira, Eastwood opta por criar uma atmosfera melancólica e depressiva. Em diversas cenas, a fotografia investe em sombras e contraluz para ressaltar apenas a silhueta dos personagens, como se fossem serem vazios por dentro, e evocar a tristeza que sentem. A opção combina com a trilha de jazz, reforçando a sensação melancólica, e mostra como o brilhante Parker via a vida com uma ótica pessimista.

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31º Lugar: Perversa Paixão

Dirigido com firmeza, o suspense ganha notoriedade pela direção de fotografia de Bruce Surtee, responsável por manter às vezes o distanciamento e não interferir tanto nas ações dos seus personagens, bem como pela trilha de Dee Barton, bem característica dos anos 1970. Todos estes segmentos, por sua vez, funcionam bem graças ao roteiro que dosa a tensão com equilíbrio, sem recorrer aos possíveis excessos de uma narrativa deste quilate.

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30º Lugar: Além da Vida

Clint constrói um universo alegórico, algo tão fora da curva para o diretor, propondo uma sentimental conversa sobre mortalidade e a aterrorizante dúvida do além da vida. Infelizmente, a experiência de cinema exposta é bastante tênue e maçante, sustentada pelo pobre diálogo e falta de ímpeto do cineasta, constituindo três fios discretos de emocionantes fábulas absorvidas por um desconfortável ritmo. O produto final está longe de ser ruim, mas fica aquém do aniquilador estudo dramático de outros filmes de Clint.

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29º Lugar: Bronco Billy

De certa forma, trata-se de um filme solene. Por mais que o humor tenha uma grande atenção do texto e o romance entre Bronco Billy e Antoinette Lily costure a narrativa, é na amizade dessa família meio maluca e muito fiel onde tudo repousa, e as dificuldades do mundo moderno servem como uma ponte dramática para mostrar o que sobrou e o que se pode reconstruir no presente. Escolhe-se aqui os momentos em que a convivência, o respeito e uma série de outros valores pessoais e familiares eram pedras angulares dos relacionamentos, da vida em sociedade. E a preocupação de Bronco Billy com as crianças mais a forma como ensina a elas tais valores faz dele um elo importante entre as raízes da América e o futuro.

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28º Lugar: Honkytonk Man – A Última Canção

Dos muitos destinos que o roteiro explora — encaminhando para diferentes lugares os estereótipos das velhas famílias do Oeste –, temos o drama do avô que vive se lembrando de grandes eventos do passado e quer morrer na sua cidade natal; temos o drama da família que, mais uma vez, busca uma “terra dos sonhos” para começar uma nova vida e, de forma paralela, o drama do artista até então itinerante, lembrando consideravelmente o tipo de homem que o cineasta vivera em Bronco Billy, mas dessa vez com muito mais rudeza e preocupação, enfrentando sem medo o seu sabido destino final, ao mesmo tempo que deixa registrado o seu talento e passa adiante aquilo que ele tem de melhor.

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27º Lugar: Sniper Americano

O que nos chama a atenção em primeiro lugar é fato de que um diretor do porte de Clint Eastwood, que já havia mostrado o lado americano com alto nível de crítica para uma série de questões e em diversas ocasiões históricas ou políticas como em Os Imperdoáveis (1992), A Conquista da Honra (2006), Gran Torino (2008) e J. Edgar (2011), produz e dirige um longa que, mesmo que siga um ponto de vista X, é inteiramente alheio ao ambiente em que se passa. O texto de Sniper Americano é estúpido e reducionista, reproduzindo às claras os clichês dos medianos longas de guerra e valendo-se do contexto emotivo/ideológico do público, da exemplar montagem de Joel Cox e Gary Roach, e da ótima interpretação de Bradley Cooper para cavar algum significado terceirizado, algum sentido um pouco mais profundo que o próprio filme não consegue se dar.

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26º Lugar: J. Edgar

Isso pois, muito longe de querer construir um retrato elogioso dessa figura polêmica, mas tão indissociável da história dos Estados Unidos enquanto país, ou de pintá-lo como um monstro, Clint Eastwood retrata Hoover como um homem completamente desconectado de si mesmo. Uma pessoa tão apegada a certos ideais que o levam a entrar em dissonância com o seu íntimo. É, ao seu modo, uma desconstrução do homem responsável por um dos grandes símbolos dos EUA, o FBI, e também um dos filmes que mais coloca pra baixo a ideia de Clint Eastwood como um cineasta americanófilo ou puramente conservador, suas obras sempre são bem mais complexas do que alguns críticos lhe dão crédito.

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25º Lugar: Jersey Boys: Em Busca da Música

Com isso, a conta gotas, o diretor vai apresentando os grandes sucessos da banda, começando com Sherry, composta literalmente “nas coxas” até a balada das baladas, Can’t Take My Eyes Off You. Há um bom arco de desenvolvimento da banda como um todo, começando humilde em Nova Jersey, tomando os EUA de assalto com seu primeiro hit, a queda e a reconstrução. O que faltou nesse quesito foi um aprofundamento da dimensão do sucesso do The Four Seasons ao longo dos anos.

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24º Lugar: A Mula

E também é o “epitáfio” de Clint Eastwood. O cineasta continua ativamente celebrando o cinema, com décadas de carreira, e realizando mais e mais obras, apesar da sua idade já ser avançada. Quando lançou Gran Torino, em 2008, disse que não mais atuaria. Retornou a um papel em 2012 e, agora, a um outro, justamente o de protagonista em um projeto que comenta tanto sobre o que mais poderia ter sido feito na vida de um horticultor. Ser um criminoso pela primeiríssima vez? Além disso, o que mais poderia acontecer na vida de um cineasta que tanto interpretou personagens com morais questionáveis? Eastwood retoma o seu anti-heroísmo costumeiro, recorrentemente subvertido, agora como o propósito, não mais o meio para alcançar sua salvação.

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23º Lugar: Cowboys do Espaço

Estruturalmente, a narrativa é bem simples, direta e linear. Apresentam-se a premissa, os personagens, o treinamento para a missão e a missão. Sem muito esperneio ou mirabolância, a direção conduz o desenvolvimento com um timing preciso que valoriza cada cena e relação sobreposta na história.  A química do elenco junto à montagem dinamiza espontaneamente os acontecimentos em um ritmo ideal, evitando elipses bruscas, mas não postergando interações demasiadamente. É um filme com uma ótima noção de transição entre seus atos, sabendo como preencher cada um deles de modo organizado com a crescente de transformações no tom.

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22º Lugar: Sully: O Herói do Rio Hudson

Apesar destas problemáticas intrínsecas do protagonista serem interessantes dentro do quadro de cinismo que Clint quer construir, a película passa uma atmosfera de extensão forçada de um conto magnífico, porém com longevidade efêmera. A obra só não cai no abismo enfadonho graças a direção econômica e segura de Clint, que substitui a falta de tensão proveniente do conhecido desfecho acidental pelo aumento dramático decorrente dos investigadores de segurança manipularem fatos para desacreditá-lo e a mídia tornar sua vida insuportável ao tentar celebrá-lo, e, claro, o sempre confiável Tom Hanks.

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21º Lugar: Impacto Fulminante

Dito isso, Eastwood compensa os problemas de roteiro com a direção mais preocupada com a imagem de seu personagem de todos os filmes até agora. Usando muito contraluz, muitos ângulos baixos para tornar Harry mais ameaçador do que já é, e carregando a progressão narrativa de um número significativamente maior de mortes variadas, o cineasta consegue criar momentos realmente memoráveis que, mesmo sete anos após o filme anterior da franquia, conseguem amplificar ainda mais a mística ao redor de seu policial truculento. Além disso, ele não se furta de deixar os holofotes mirados em Locke que, mesmo nunca tendo se provado um atriz mais do que mediana, convence em seu papel duplo de vítima e algoz.

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20º Lugar: Invictus

O cineasta poderia, por exemplo, direcionar-se ao caso pelo seu término, enxergando, primeiramente, o garoto correndo para, então, mostrar, apenas com imagens, o objeto que recusou com extremo asco. O sentimentalismo imerge em considerações pobres e a emoção parece ser manipulada, embora, para uma questão com essa, a humanidade está justamente em nossas percepções menores, mas mais relevantes. As sugestões somem completamente, originando os comentários mais vastos – contudo, mais vagos – sobre tangentes da temática-cerne.

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19º Lugar: Interlúdio de Amor

A direção de Eastwood é muito hábil em criar cenas de intimidade – não necessariamente relacionadas com o sexo – que respeitam a diferença das idades sem tornar estranha ou desconfortável a conexão entre Breezy e Frank. Ao contrário, há uma naturalidade muito grande nas sequências, com uma fotografia cada vez mais quente de Frank Stanley (que voltaria a trabalhar com o ator Eastwood no mesmo ano em Magnum 44 e, depois, com o diretor e ator Eastwood em Escalado para Morrer) que sinaliza, com cores cada vez mais alegres, as barreiras emocionais de Frank ruindo na medida em que Breezy torna-se cada vez mais contagiante em sua inocência e joie de vivre.

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18º Lugar: O Caso Richard Jewell

Seguindo a mesma linha conservadora, porém autocrítica, de seus últimos filmes — como em A Mula — Clint ataca diretamente duas das grandes instituições norte-americanas. Para isso, ele personifica as figuras do FBI em Tom Shaw (Jon Hamm) e a mídia em Kathy Scruggs (Olivia Wilde), personagens propositalmente unidimensionais que representam tal falência institucional. Assim, o que importa para eles é conseguir o furo jornalístico ou achar um culpado, mesmo sem a convicção de estar fazendo o justo, apenas para uma própria validação.

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17º Lugar: A Troca

Narrado por meio da montagem de Joan Cox e Gary Roach, o filme acerta na direção de fotografia assinada por Tom Stern, eficiente ao retratar bem os elementos organizados pela belíssima direção de arte de James J. Murakami, atenta ao tempo histórico em questão. Fotografias, paleta de cores e sombras bastante significativas dão o tom da união certeira de ambos os setores. A música, assinada pelo versátil Clint Eastwood soa intrusiva em alguns trechos, forçada demais, num exercício pobre artisticamente, algo que nos surpreende, afinal, foi realizado por um cineasta tão experiente e anteriormente mais eficaz.

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16º Lugar: Dívida de Sangue

Clint parece confortável na frente da câmera, e atrás é exatamente o mesmo com sua direção econômica dirigindo o caminho. Aparentemente, o filme foi filmado em apenas 38 dias, e já estava em cartaz 4 meses após a fotografia estar completa. O suspense arrojado está bem localizado e cronometrado entre um pano de fundo corajoso e um esquema de cores sombrio. A trilha sonora de blues suavemente saborosa de Lennie Niehaus, a cinematografia nitidamente pastel de Tom Stern e a edição rápida fortalecem a produção já profissionalmente competente.

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15º Lugar: Crime Verdadeiro

Basta ver este ponto na própria relação de Crime Verdadeiro com o racismo. Como se todo filme de Clint Eastwood já não gerasse interpretações variadas quanto ao seu ativismo político, esta temática também não gera respostas fáceis ao espectador. Desde o momento que Everett assume a investigação, ele já pergunta se “as testemunhas eram brancas ou negras?”, deixando claro sua total desconfiança frente à Justiça do sistema e se mostrando como um homem engajado.

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14º Lugar: A Conquista da Honra

Mas, diferente do que se pode imaginar lendo a premissa e as imagens publicitárias, A Conquista da Honra não está interessado exatamente em mostrar a feroz batalha de Iwo Jima ou mesmo lidar com os detalhes de bastidores da bela fotografia com que Joe Rosenthal, da Associated Press, ganhou o prêmio Pulitzer. Ainda que haja belas sequências de batalha e o roteiro levante questões sobre quem exatamente estava na foto, esse não é todo o foco da obra. Isso é particularmente importante, pois, hoje, o filme encontra-se factualmente errado, já que o personagem que podemos chamar de protagonista, John “Doc” Bradley, vivido por Ryan Phillippe, assim como Rene Gagnon (Jesse Bradford), não estavam na famosa imagem conforme determinações feitas em 2016 e 2019 respectivamente.

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13º Lugar: Gran Torino

A intenção do diretor é clara: mostrar que nem sempre aquilo que julgamos conhecer realmente é o que parece (a velha máxima de não julgar um livro pela capa). Algo ainda melhor, no entanto, vem da honestidade de Eastwood em não “vender” Kowalski ou sua visão de mundo como melhor que as outras. Ele faz exatamente o contrário quando a personagem lentamente percebe que tem muito mais em comum com a família asiática que tanto desprezou (por conta, por exemplo, do respeito às tradições e aos mais velhos perpetuados entre eles) do que com sua própria família, tornando-se cada vez mais próximo de Thao, Sue e seus familiares do que jamais poderia imaginar. Como se também propusesse para si refletir sobre suas convicções.

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12º Lugar: Poder Absoluto

Tomado por essa sensação de injustiça, Clint Eastwood decide contar a história de Luther Whitney (interpretado pelo próprio Eastwood), um experiente ladrão, que ao invadir uma mansão em Washington acaba presenciando, através de seu esconderijo, o presidente dos Estados Unidos (Gene Hackman) com sua amante. O que começa como surpresa, logo se transforma em uma tragédia, quando o presidente briga com a mulher e faz com que seus seguranças atirem nela.

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11º Lugar: Josey Wales, o Fora da Lei

A produção do filme, no entanto, não teve um início pacífico. As filmagens começaram em 6 de outubro de 1975, sob a direção de Philip Kaufman. Divergências criativas e pessoais (ligadas ao flerte que ambos faziam à atriz Sondra Locke) resultaram na demissão de Kaufman 18 dias depois de iniciadas as filmagens, e quem assumiu a direção foi a estrela do filme, Clint Eastwood. A ação foi tão mal vista em Hollywood, que o Sindicato dos Diretores aprovou uma regra apelidada de “the Eastwood Rule“, proibindo que qualquer produtor ou membro da equipe demitisse um diretor contratado para um projeto e assumisse a cadeira de direção em seu lugar. E mesmo com todo esse inferno inicial, Eastwood ainda conseguiu criar uma fantástica história de vingança, maturidade e reconstrução de uma vida após uma grande tragédia.

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10º Lugar: Coração de Caçador

Em Coração de Caçador, temos uma decente obra metalinguística baseada no livro White Hunter Black Heart, de Peter Viertel. O livro remete às filmagens do clássico dos anos 1950, Uma Aventura na África, e seus desafios durante a produção. Esses desafios estão ligados, claro, às condições logísticas e climáticas de se filmar na África naquela época, mas especialmente em relação ao diretor John Huston, famoso por filmes como O Falcão Maltês O Tesouro de Sierra Madre. Nos bastidores, no entanto, Huston era conhecido pelo gênio difícil e pela dificuldade dos produtores e atores ao lidarem com uma figura tão única.

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9º Lugar: Um Mundo Perfeito

Um Mundo Perfeito não só demonstra as ambivalências de seu protagonista, fora da lei, mas capaz de representar a figura paterna que o menino nunca teve, como as contradições da própria unidade familiar. Se alguém correlaciona esse filme a algum vestígio de síndrome de Estocolmo, certamente não poderia haver interpretação mais canhestra. O que ocorre de fato nessa história é a restituição daquilo que faltava para Philip e para Butch. O criminoso consegue inclusive adentrar no mundo do menino, dialogando com os seus elementos com uma naturalidade surpreendente. Philip se sente à vontade para contar seus medos para Butch, que se torna parte de seu universo, deixando-o à vontade até para usar sua máscara de fantasma em sua presença. Note-se que, na cena de abertura, a mãe de Philip o afasta de seus colegas fantasiados para a festa de Halloween.

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8º Lugar: Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal

Inicialmente, este aparenta ser um dos filmes mais diferentes de Clint Eastwood enquanto diretor. Logo de cara o realizador cria uma atmosfera estranha quando o protagonista John chega à cidade. Parece que o repórter está sempre sendo observado por alguém, como se os moradores do pacato local estivessem tramando algo contra ele. Após o assassinato de Billy, entretanto, essa impressão desaparece e o filme toma um rumo completamente diferente àquele de mistério e conspiração inicial, seguindo pelo caminho do crime e da investigação da morte e revelando o que acredito ser o principal ponto proposto por Eastwood: aparências.

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7º Lugar: O Cavaleiro Solitário

Mais ainda do que um faroeste elegante e de altíssima categoria, O Cavaleiro Solitário é uma prova cabal de que o uso de clichês não é, por si só, algo ruim como muita gente costuma apregoar. O clichê – ou seja, aquele artifício ou caracterização usada infinitas vezes nas mais variadas obras das mais diferentes naturezas – pode ser a base, a fonte de inspiração para a criação de obras cinematográficas de peso, bastando, para isso, que haja cuidado no roteiro e na direção, além de nas demais peças que fazem uma obra audiovisual funcionar de maneira azeitada.

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6º Lugar: O Estranho Sem Nome

Mesmo o roteiro sendo simples, moldando, na forma dos três “antagonistas” principais, unidimensionalidade, o trabalho contra intuitivo da direção é um enorme acerto. Apesar disso, nota-se o célebre fato do cargo de xerife ser dado a Mordecai (Billy Curtis), personagem que, durante o atentado contra a vida de Jim Duncan, traído pela sua cidade, estava escondido, sem ter participação no ato. Mordecai, dessa forma, é poupado da vingança, mas o filme pouco dá ao personagem algo que não um pequeno alívio cômico de momentos pontuais, além do carisma natural. Para um ator como Billy Curtis, acostumado a papeis estereotípicos, a maioria sem nem direito ao ganho de créditos, em decorrência de seu nanismo, é interessante essa maior relevância dada a ele em O Estranho Sem Nome.

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5º Lugar: As Pontes de Madison

Todos esses detalhes começam a criar um ambiente único entre os dois, quase como um sonho ou um universo particular, algo muito bem pensado pelo diretor. Isso porque acompanhamos essa inesperada história de amor através das lentes das versões adultas de Caroline (Annie Corley) e Michael (Victor Slezak), os filhos de Francesca, que têm contato com os relatos deixados por sua recém falecida mãe em livros, onde ela confessa todos os detalhes daqueles dias. Toda vez que entramos na história de amor proibido de Francesca e Robert, é como se fôssemos transportados para um conto de fadas, um mundo onde nada além do desenrolar do relacionamento importa.

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4º Lugar: Cartas de Iwo Jima

O que quero dizer com isso é que, diferente do que muitos apregoam, não é necessário um diretor da nacionalidade da história sendo contada para que ela seja respeitada em seus mínimos detalhes. O que é necessário mesmo, de verdade, é um trabalho árduo de pesquisa, atenção e reverência ao material fonte, um olhar técnico cuidadoso e, claro, um elenco que transmita a verossimilhança exigida. E Eastwood, diretor tradicional americano de posições políticas controversas e vistos como muitos como conservador, fez isso em Cartas de Iwo Jima como pouquíssimas produções conseguiram de verdade na História do Cinema, o que incluiu a contratação de Iris Yamashita, roteirista nipo-americana, e de um elenco quase que integralmente feito de japoneses nativos encabeçado por Ken Watanabe, o único nome realmente conhecido e, acima de tudo isso, a eleição da língua nipônica para todos os diálogos.

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3º Lugar: Sobre Meninos e Lobos

Os personagens expostos em Sobre Meninos e Lobos não possuem contornos óbvios, explicados com expositividade narrativa. Do contrário, são mais movidos pelas emoções, inexoráveis ao homem, do que pelas lógicas, quase inumanas diante de cenários de desolação interminável. São meninos tornando-se e enfrentando lobos, às vezes lobos de si mesmos, seus piores pesadelos e ameaças. Uma obra muito humana, mas sobre muitas desumanidades. Certas explicações mais improváveis ilusionam, ao espectador, um sentimento de impotência diante do que aconteceu e do que acontecerá. Uma investigação emerge. Mas Sean, vivido por Kevin Bacon, na contramão de seus melhores amigos, mostra-se como o menos complexo dos personagens, indo ao encontro de figuras extremamente reconhecíveis do gênero policial, ou seja, personalidades que são genéricas.

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2º Lugar: Menina de Ouro

O relacionamento entre Frankie e Maggie, que as lentes de Eastwood carinhosamente constrói, não é amoroso, porém. Tampouco é algo que se poderia chamar de pai e filha, mesmo que haja contornos inegáveis disso. Há algo mais profundo ainda ali, uma co-dependência difícil de explicar, mas que Maggie sintetiza ao dizer, depois que os dois visitam a asquerosa da mãe dela (vivida por Margo Martindale), com um simples “você é tudo que tenho”. Maggie vê em Frankie sua liberdade, liberdade de ter a chance de perseguir uma vida que não seja a de uma garçonete que, sem dúvida alguma, acabaria exatamente como sua mãe, morando em um trailer e vivendo de ajuda governamental. Frankie, por sua vez, carregando uma culpa nos ombros relacionada a Scrap que mesmo sua visita diária à Igreja por 23 não consegue expiar, tem em Maggie uma espécie de salvação espiritual, mas não exatamente de absolvisão, e sim algo como sua última chance de sorrir e respirar aliviado, provavelmente por ter conseguido ter feito algo de sua vida.

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1º Lugar: Os Imperdoáveis

A sequência de abertura de Os Imperdoáveis diz tudo o que precisamos saber sobre o filme. Vemos, ao longe, a silhueta de um homem cavando uma cova embaixo de uma árvore e próximo a uma casa enquanto o sol se põe ao fundo, em um belíssimo, mas melancólico contraste. É, para todos os efeitos, o fim de uma era, o fim de um tipo de vida desregrada e sem lei que dominou o chamado Velho Oeste e que, agora, está se tornando mais civilizado e mais domado. William Muny (Eastwood) é o pistoleiro e assassino que largou tudo para erigir uma família seguindo os valores cristãos de sua esposa, o que significa filhos, distância da bebida e uma vida modesta em uma fazendo de criação de porcos no Kansas.

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