Avaliação da temporada
(não é uma média)
- Há spoilers.
Dexter: Ressurreição começou bem. Não sensacionalmente bem, mas bem o suficiente para chamar atenção e para semear uma colheita de coisas diferentes que poderiam vir por aí na reentrada oficial de Dexter Morgan no mundo dos vivos depois de seu autoexílio de anos. Essa semente não demorou a germinar e logo Clyde Phillips, usando uma premissa bizarra, mas estranhamente sedutora que envolvia um clube de serial killers patrocinado por um bilionário sociopata em que Dexter esbarra ao livrar-se de um assassino de motoristas de aplicativo enquanto tentava se reaproximar de seu filho Harrison que então ainda achava que ele havia matado o pai. E isso com Ángel Batista vindo especialmente da ensolarada Miami para caçá-lo impiedosamente enquanto uma detetive particularmente eficiente investigava um assassinato cometido por Harrison que, apesar de todas as precauções tomadas por ele, precauções essas ensinadas pelo pai zeloso, ela insistia que todas as pistas apontavam para o rapaz.
A combinação de uma série de atores famosos convidados para viver os novos serial killers, seu benfeitor e a guarda-costas do benfeitor com um mergulho sem nenhum medo de ser feliz por parte do showrunner nessa pegada bizarra de clube de assassinos que enveredou perigosamente pela “eliminação semanal de vilões por Dexter”, mas que conseguiu escapar dessa armadilha com engenhosidade e uma boa – e inevitável – dose de conveniência narrativa, e, principalmente, a dedicação de um espaço considerável para deixar que pai e filho se relacionassem de maneira genuína, tornou o miolo da temporada, mais ou menos do terceiro ao oitavo episódios, uma jornada de valor, apontando para um encerramento que seguiria essa mesma linha. Mas foi na chegada que Phillips se acovardou e tirou o pé do acelerador, ao mesmo tempo em que voltou à superfície, entregando saídas fáceis e banais que não só desperdiçaram Ángel, como foram desserviço ao personagem, com um episódio final que esvaziou a ousadia do que vinha sendo feito.
E, com isso, o voo que Dexter: Ressurreição tinha todo o potencial de ter alçado foi curto, ainda que por vezes repleto de excelentes manobras aéreas que conseguiram elevar o resultado final a algo que seu encerramento não derrubou por completo, mas sem dúvida fez as asas de cera derreterem mais rápido do que deveriam na tentativa de chegar ao sol. Mesmo assim, o recomeço real de uma nova fase para o serial killer mais adorado da TV merece destaque, ainda que seu futuro carregue o peso de um final fraco que não parece prometer mais do que apenas mais do mesmo em uma segunda temporada. Mas, claro, não há razão alguma para não darmos outra chance para Clyde Phillips em seu projeto de vida – e de muitas mortes – para Dexter Morgan.
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Como fazemos em toda série ou minissérie que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês. Qual foi seu preferido? E o que menos gostou? Mandem suas listas e comentários!
10º Lugar:
Tocado por um Anjo
1X09
Obviamente, eu preferiria que Clyde Phillips tivesse encontrado uma saída engenhosa para evitar a morte de Ángel Batista, fugindo da regra quase absoluta na franquia Dexter que reza que aqueles que descobrem quem o protagonista realmente é acabam morrendo de uma maneira ou de outra. No entanto, sabendo que era muito improvável que Dexter: Ressurreição seguisse por esse caminho mais ousado e complexo, esperava que Tocado por um Anjo, no mínimo dos mínimos, oferecesse uma morte nobre ao ex-chefe de polícia de Miami que decidiu se aposentar para caçar Dexter Morgan, o que infelizmente não aconteceu. Na verdade, passou bem longe de acontecer, como se o showrunner tivesse se ausentado da sala de roteiristas exatamente na hora que essa questão foi decidida pelo estagiário que estava ali servindo o cafezinho.

9º Lugar:
E Justiça para Todos
1X10
Depois de um episódio decepcionante, E Justiça para Todos encerra o primeiro ano de Dexter: Ressurreição com uma resolução completamente padrão, ou by the book como dizem os americanos, focada única e exclusivamente em como o protagonista consegue escapar do cofre de troféus na cobertura de Leon Prater, onde ele foi trancado juntamente com o corpo de Ángel Batista, personagem injustamente desperdiçado, com uma morte tonalmente deslocada. Clyde Phillips, que se ausentara da sala dos roteiristas durante Tocado por um Amjo, voltou por cinco minutos a tempo de evitar o desastre total nesse aqui. Foi um prazer ver o retorno de Christian Camargo como Brian Moser naqueles minutos de tensão? Sem dúvida alguma, mas mesmo esse momento do “diabinho no ombro esquerdo” com base em nostalgia, mas nostalgia boa, com sentido, foi célere demais, descartado na correria, sem realmente criar dúvidas ou mesmo um filete de drama real para Dexter.

8º Lugar:
Anticâmera
1X02
Com isso, e mais a presença de Harry Morgan (James Remar) como o “Grilo Falante” de Dexter, em mais uma conexão direta com a série original, a convergência narrativa é estabelecida e reiterada no segundo episódio, Anticâmera que, porém, não se contenta em lidar com o que está bem à sua frente, ou seja, a desconfiança de Angel de um lado e os problemas muito reais de Harrison de outro, com a sherlockiana detetive Claudette Wallace (Kadia Saraf) aproximando-se a passos largos do assassino do hotel.

7º Lugar:
Um Coração Batendo
1X01
E Um Coração Batendo, escrito por Phillips ao lado de Scott Reynolds, dedica-se com vigor a Dexter acordando de seu coma depois de 10 semanas entre a vida e a morte, de forma a dar aos espectadores todo o tipo de resposta a pergunta que possamos ter. Afinal, temos que lembrar que o protagonista fora baleado à queima roupa por seu filho com uma espingarda de caça em um lugar isolado, sem possibilidade de socorro imediato e que sua identidade como o Açougueiro de Bay Harbor fora descoberta por sua namorada e chefe de polícia Angela. Como reverter essa situação? Ora, muito fácil se os espectadores não ligarem muito para verossimilhança e aceitarem o que é exposto sem arguir, ou seja, simplesmente aceitando que um tiro daqueles em um ambiente muito frio leva a uma perda de sangue menor e a batimentos cardíacos reduzidos que deram tempo aos paramédicos chegarem para ministrar os primeiros socorros e que Angela resolveu presentar seu ex-namorado assassino assumindo boa parte da culpa do que ocorreu, evitando sua prisão.

6º Lugar:
Me Chame de Red
1X04
Apesar de meus comentários negativos, não considero Me Chame de Red um episódio ruim ou mesmo apenas mediano. A qualidade que vimos nos dois primeiros episódios foi mantida principalmente pela cor trazida pelo elenco vilanesco, com os atores todos muito claramente se divertindo em seus papeis e prometendo mortes no mínimo inusitadas se a facilidade com que Lowell foi morto não se repetir. Além disso, ele finalmente marca a convergência total das linhas narrativas, algo que não será conciliável de forma trivial sem transformar Harrison ou Dexter em algo que eles não são. Falando nisso, mesmo que tenha sido alvissareira a revelação final ao jovem, tenho para mim que será mais saudável para a série se não houver uma interpenetração muito grande entre “Dexter no seio de sua comunidade” e “Harrison investigado por assassinato”. Veremos!

5º Lugar:
Copiloto Palpiteiro
1X03
Apesar de meus temores sobre a série que mencionei em minha crítica anterior, sou o primeiro a admitir que o terceiro episódio de Dexter: Ressurreição lida exemplarmente com a multiplicidade de linhas narrativas, mesmo a mais extravagante de todas que se refere ao ainda não mostrado personagem de Peter Dinklage, o chefe de Charley (Uma Thurman) que, pelo visto, tem como hobby financiar serial killers com o objetivo de colecionar seus troféus. O que Copiloto Palpiteiro (ah, como eu detesto copilotos palpiteiros!!!) faz de melhor, na verdade, é não enrolar, não atrasar desenvolvimentos narrativos para manter mistérios bobalhões. Ao contrário, seria até perfeitamente aceitável dizer que o capítulo corre até demais.

4º Lugar:
Ajuste de Curso
1X07
Por outro lado, eu gosto que os roteiros têm sido criativos na forma como Dexter elimina seus alvos. Tivemos Red morto pelo método… hummm… tradicional, Lowell pela versão corrida do método tradicional, Mia sendo entregue à polícia para também servir de culpada pelo assassinato cometido por Harrison, Gareth no total improviso, com direito à troca de taças com tranquilizante, de forma a servir de trampolim para a “chocante” revelação de que ele tem um irmão gêmeo e, agora, o irmão gêmeo sendo assassinado de dia, literalmente à céu aberto e diante de todo mundo (ok, todo mundo como ele) e com uma taça de vinho quebrada enfiada no pescoço, mas sem esquecer do troféu, com o bônus de isso funcionar para colocar a culpa da morte de Lowell no recém falecido. Claro, continua sendo tudo muito fácil e muito rápido, com direito à conveniência máxima que é Leon Prater derreter-se pela forma como Dexter fingindo ser Red fingindo ser Dexter se abre para o grupo, criando um rapport que nos leva à origem do bilionário sociopata que fez amizade com o serial killer que matou seus pais e ficou triste quando ele morreu e praticamente elevando Dexter ao seu novo assassino em série favorito da vida. O que realmente importa no final das contas, porém, é que o saldo dessa abordagem quase surreal acaba sendo positivo.

3º Lugar:
A Sala de Matança Onde Acontece
1X08
Não há nada mais bacana a sensação de ver um personagem reaproveitado na cada vez maior onda da nostalgia ganhar uma série que consegue ir além do mero caça níquel como é a regra hoje em dia. New Blood foi uma reinício bem interessante, mas falho, e Pecado Original, que teve a renovação para uma segunda temporada cancelada, apoiou-se demais na bengala da nostalgia para realmente ficar de pé sozinha. Mas Ressurreição, que começou de forma sólida, mas sem realmente mostrar a que veio, não demorou a se provar como um grande acerto de Clyde Phillips, que tem conseguido transformar sua premissa estranha sobre um bilionário que coleciona serial killers em uma obra que abraça com vontade esse artifício e que, a partir dele, desenvolve uma narrativa sobre vingança e reconexão real de pai e filho com uma pitada de thriller investigativo que, em um crescendo, subverte a expectativa simplista criada pelas mortes fáceis infligidas por Dexter Morgan quase na base de um psicopata por capítulo.

2º Lugar:
Tesão pra Matar
1X05
Mais do que isso, o roteiro tece uma cadeia lógica de acontecimentos que leva um pai com um psicológico difícil ultrapassar a barreira da insensibilidade que sempre o marcou, mas que vem ruindo vagarosamente desde a série original, para ajudar o filho custe o que custar, algo que o providencial relógio do finado estuprador instrumentaliza em uma daquelas conveniências marotas, mas ao mesmo tempo inteligentes de roteiro que faz de Mia a “vítima” ideal das maquinações de Dexter. Afinal, não só a personagem de Ritter revela-se (ainda bem!) como uma serial killer de verdade e não uma versão feminina de Dexter, como ela passa a ter sede de matar (ok, tesão…) justamente quando Dexter precisa, com direito até mesmo a uma proposta encantadora de ménage à trois assassino e boas estocadas na visão masculina padrão sobre o papel das mulheres na sociedade, mesmo as que têm tendência ao homicídio precedido de tortura.

1º Lugar:
Gato & Rato
1X06
Mas a beleza do episódio – assim como a do anterior – não é exatamente o ritual dexteriano de reduzir o número de psicopatas no mundo enquanto seu Passageiro Sombrio se alimenta do êxtase do momento e nem mesmo a subversão dele, como foi com a prisão e não assassinato de Lady Vingança e, agora, a passada de perna em Dexter com a existência de um segundo assassino Gemini. O que realmente tem distanciado Dexter: Ressurreição do lugar-comum e de ser mais uma série que só existe par fazer uso da bengala da nostalgia como foram os casos de New Blood e Pecado Original é a qualidade do trabalho dramático da dupla central e dos atores que gravitam imediatamente ao redor deles, além de, é claro, o espaço que tem sido dado a eles para realmente trabalharem seus personagens. Phillips não encontrou esse equilíbrio desde o começo da série, mas, agora, ele parece ter compreendido muito bem que o campeonato de mata-mata não era suficiente, sozinho, para sustentar a narrativa, nem mesmo casado com as bizarrices introduzidas na série, como é o caso de Prater e seu colecionismo de serial killers e da detetive sherlockiana fã dos Bee Gees.

