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Lista | Friends – As Temporadas Ranqueadas

por Iann Jeliel
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Friends 
  • SPOILERS! Confira a crítica completa da série por Luiz Santiago aqui. E aqui, veja qual é nossa opinião sobre o melhor personagem de Friends! Friends Temporadas

No clima do lançamento próximo de Friends: Reunion, o especial da HBO MAX que reunirá o elenco da série depois de 20 anos para conversar sobre o legado da série, preparamos um material com o mesmo intuito, começando pela ordenação qualitativa de todas as 10 temporadas da sitcom favorita de muitos, inclusive minha.

Diferente da próxima lista que será sobre melhores episódios, não houve muito critério para a montagem, listei as temporadas em ordem de preferência pessoal – sendo o único colunista responsável pela lista – com comentários longos e gerais sobre o que acho de cada uma. Serão quase como mini críticas, uma vez que não temos críticas por temporada no site, este espaço de ranking meio que servirá como uma para cada. Ao final, fiquem à vontade para comentarem a ordem de vocês e opinarem sobre meus comentários. Espero que gostem!
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10° Lugar: 9ª Temporada (2002 – 2003)

A capacidade de reinvenção de Friends acabou aqui, pois já não havia para onde levar esses personagens. No máximo, era a oportunidade perfeita para fechar todos os arcos de forma confortável e coesa. Coesão que vai se perdendo no decorrer de escolhas claramente enrolativas e sem sentido com toda a construção narrativa dos demais anos, criando fetiches de “casais inesperados” para tentar agradar fanfics, ao invés de procurar contornar outros problemas pendentes. Para não ser injusto, o início é como sempre, muito promissor nas mesmas características. Era o melhor momento para ter resolvido Ross (David Schwimmer) e Rachel (Jennifer Aniston), principalmente se apostasse mais na presença do babá homem como possível quebrador da tóxica masculinidade insegura de Ross, adentrando na paternidade como um fator de união principal, e o triângulo com Joey (Matt Le Blanc) como um mantra para desconstruir de vez o estereótipo do galã inconquistável para um cara mais sensível nos relacionamentos dali em diante.

 

Infelizmente, o roteiro opta por resolver, por exemplo, a falta de personagens negros na série, introduzindo Charlie (Aisha Tyler) como “coincidentemente” uma paleontóloga, sinônimo de inteligência e ao mesmo tempo zoação por ser algo “chato”, para que possa formar um casal perfeito junto ao Ross, e assim faça sentido a união de Joey e Rachel, reintroduzida por meio de um sonho junto de uma assistida a uma cena de novela. Ao colocá-la com Joey no início, fica muito evidente a forçada de barra por vir no desmonte do quarteto amoroso, finalizando a temporada no arco mais sem noção narrativa da série, que de brinde só reforça uma de suas maiores falhas na falta de inclusão racial.

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9° Lugar: 10ª Temporada (2003 – 2004)

É um misto de pressa para o fim e indecisão, assim nada nessa temporada é genuinamente construído, as coisas mais acontecem porque tinham que acontecer, já que tudo iria acabar. Portanto, em termos de regularidade, muito se perde pela falta de racionalidade dos roteiristas, que ao menos decidiram se desvincular de ideias mirabolantes e sem sentido e afunilaram tudo no óbvio com uma boa dosagem de emoção para disfarçar o claro desespero de falta de ideias. Por incrível que pareça, o que mais os ajudou foi o implante de duas dessas resoluções anteriormente, Phoebe (Lisa Kudrow) e seu casamento e a busca de adoção de Chandler (Matthew Perry) e Monica (Courteney Cox), que consequentemente geraria a despedida pelo desapego.

Na iminência de uma separação de todos, as pendências tinham que ser resolvidas na sinceridade. Afinal, Friends sempre circundou as mesmas ideias, não fazia sentido se desapegar do lugar de conforto se não, metalinguisticamente, esvaziar o coração do público como o apartamento ao saber que era a última vez que aqueles personagens estariam juntos. Assim, o final é bem preparado, previsível, mas resguarda um enorme respeito a toda essa mitologia da simplicidade cômica que tanto conquistou o mundo. Nem tudo se resolveu, é verdade, contudo não foram elementos que necessariamente faziam falta na proposta ordinária de Friends. O que fez falta mesmo foi um último ano digno do seu legado, algo que ficou muito para o final mesmo, ao menos foi suficiente para ser satisfatório.

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8° Lugar: 6ª Temporada (1999 – 2000)

Para uma série de dez temporadas batizadas em uma mesma forma, é natural que uma decaída ocorra em algum momento. A sexta temporada não consegue disfarçar barrigas pela falta de criatividade na orquestração de intrigas narrativas mais únicas, dependendo exclusivamente de algumas situações isoladas funcionais para justificar sua existência e focando em firulas para preencher a cota de vinte e cinco episódios na temporada, ou em decisões mais arbitrárias segundo o agrado do público. A enrolação reside muito em Ross (David Schwimmer) e Rachel (Jennifer Aniston), há pelos menos três possíveis retornos que se resolvem da mesma maneira, deixando-os em stand by. Por mais que a manipulação de expectativa funcione, falta senso consequencial evolutivo, o que torna essas repetições exaustivas.

Contudo, ainda são os dois que rendem os melhores momentos da temporada, como no arco da ilustre participação de Bruce Willis, dentre outros episódios isolados muito engraçados do Ross, como o dos dentes, Unagi e aquele em que ele fica “doidão”. Ademais, a temporada cria enrolações ainda mais graves, há uma sequência de dois episódios que reimaginam os amigos, caso determinados elementos do passado não mudassem, que são completamente avulsos e mal-encaixados com os demais. O que deveria ser o foco, que é a relação de Chandler (Matthew Perry) e Monica (Courteney Cox), acaba ficando a dever também pelas resoluções pouco corajosas. Existem princípios dramáticos eficientes, tanto para o arco deles morarem juntos quanto para o arco do pedido de casamento, mas que acabam indo para o caminho mais bonitinho e ordinário dentro da estrutura sitcom. O que é frustrante, pois normalmente Friends costumava proporcionar intrigas mais complexas para justamente fermentar seu aspecto social atemporal que a faz ser discutida até hoje.

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7° Lugar: 1ª Temporada (1994 – 1995)

Impulsionados por Seinfeld, que trouxe a sitcom para níveis mainstream, a primeira temporada de Friends evolui a premissa de “amigos e suas rotinas amorosas em Nova York” a níveis mais representativos, mais equilibrado em gênero e natural na abordagem de temas diversos. Não à toa, logo nos primeiros episódios, temos uma trama divertidíssima do Ross (David Schwimmer) “perdendo” a esposa quando ela se “descobre” homossexual, abandonando-o mesmo estando grávida dele, já demostrando a perspicácia do roteiro em adentrar em tabus de forma cotidiana e usá-los comicamente com inteligência.

A estrutura inicial é ainda bem experimental, mas consciente de seus experimentos. O piloto nem apresenta os personagens, já adentra na repetição corriqueira porque sabe que, com o tempo, vamos nos acostumar ao carisma característico de cada um, e por meio do humor inconsequente, eles são desenvolvidos sem nem ao menos a gente perceber. A ideia de um não protagonista ajuda muito neste desenvolvimento escondido, pois o foco não direcionado, mesmo que renda diversas cenas vazias e inúteis na temporada, faz com que não tenhamos um polo de emoções guiado, e assim podemos nos identificar com o personagem que mais combina com nossa personalidade.

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6° Lugar: 7ª Temporada (2000 – 2001)

Com a perda considerável de qualidade da temporada anterior, Friends decide mudar um pouco sua estrutura, transferindo o polo dramático da linha de condução principal para diversos subnúcleos isolados, adentrando a comédia, antes responsável por esse setor mais aleatório, no evento principal, até pela aura mais fantasiosa que carrega. Afinal, a única certeza narrativa que eles tinham para essa temporada era o tão esperado casamento de Monica (Courteney Cox) e Chandler (Matthew Perry), já consumados como o casal da galera. A princípio, essa decisão é bem assertiva, pois consegue construir e distribuir equilibradamente novas camadas a todos os personagens, por outro lado, cada uma dessas situações criadas normalmente irá se resolver no mesmo capítulo, o que deixa a temporada com um caráter muito mais episódico que de costume.

Em vários dos episódios, há um potencial frutífero de conflitos complexos, que poderiam ser mais densos se tivessem o tempo para se desenvolverem em outros momentos da temporada – obviamente, há exceções. Diferentemente da última, a habilidade dos roteiristas consegue contornar a falta consequencial de conflitos entre Chandler e Mônica com soluções criativas que amadurecem os dois, algo que vale para cada núcleo. É uma temporada que não se reinventa, mas marca esse amadurecimento intrínseco do sexteto diante de vários ótimos episódios espalhados, mantendo o nível de qualidade da série.

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5° Lugar: 4ª Temporada (1997 – 1998)

Adota-se a estrutura de mescla entre situações cômicas promissoras com um arco central fixo, mas de uma forma mais desordenada, até pela falta de perspectiva. Como muito já foi aproveitado dos dois principais personagens, a série tenta estabelecer esse foco em outros, até para variar mais os conflitos. Pelo menos, esse é o objetivo da primeira metade, que vai direcionar esse foco em um triângulo amoroso entre Joey (Matt Le Blanc), sua nova namorada e Chandler (Matthew Perry), que está apaixonado por ela. A princípio, é de muito agrado essa substituição, porque é recorrente da dinâmica já extremamente funcional do bromance entre eles, que é posto em xeque, mesmo que por mais uma facilitação narrativa do surgimento de uma personagem qualquer com sentimentos apressadamente colocados com os dois, para propor a divisão da amizade.

Tudo se resolve em um excelente episódio de Dia de Ação de Graças, e deixa-se em aberto o arco para mais conflitos tardios, caso necessário, partindo então para o outro arco teste, que é a barriga de aluguel da Pheobe (Lisa Kudrow). Inevitavelmente, a dinâmica principal naturalmente volta a Ross (David Schwimmer) e Rachel (Jennifer Aniston), só que em romances separados e tratados assim, ao menos no início. Conforme Ross vai se empolgando com o seu e o levando para frente, e Rachel não, volta a surgir o clima de um possível retorno, dessa vez alavancado por Rachel no meio de um possível casamento de Ross com sua pretendente. Nos entrelaces dessa dicotomia, a temporada recupera o fôlego e retira uma resolução emblemática da cartola: o icônico “Eu aceito Rachel”. Só por esse gancho, essa temporada se torna ótima.

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4° Lugar: 8ª Temporada (2001 – 2002)

Ainda com deslizes, é impressionante a regularidade e a capacidade de reinvenção dos roteiristas de Friends, ao nível de conseguirem fazer a série ganhar um Emmy em sua oitava temporada. Não que esta seja sua melhor temporada, há ainda muitas escolhas controversas, dentre outros problemas de enrolação já causados pelo desgaste da fórmula nos anos anteriores, mas no mínimo os riscos corridos garantiram um respiro diferente, não episódico e bastante reflexivo nas dualidades dramáticas.

No drama, é interessante colocar a paternidade de Ross (David Schwimmer) em conflito com sua dor íntima pelo passado com Rachel (Jennifer Aniston), especialmente quando Joey (Matt Le Blanc) aparece como um novo elemento para formar um triângulo amoroso estranho no princípio, mas que serve ao propósito da complexidade do arco. Na comédia, especialmente, gera dois dos melhores episódios da série. A forma como essa paixão de Joey é introduzida também amadurece muito seu personagem – há ótimos momentos íntimos dele, uma pena que não sejam correspondidos depois –, além de trazer uma força motriz de tensão interna interessante ao grupo, o que culmina num ótimo e incerto final de temporada.

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3° Lugar: 5ª Temporada (1998 – 1999)

Fatalmente, Chandler (Matthew Perry) e Monica (Courteney Cox) repercutiram bem entre os fãs, dando brecha para os criadores poderem compensar os telespectadores mais ocasionais, em busca de entretenimento, com uma pausa de intrigas mais complexas, e adentrar num romance mais doce, meigo e oportunista pela improbabilidade. Eles souberam muito bem aproveitar o gancho épico de Ross (David Schwimmer) trocando o nome de Emily (Helen Baxendale) por Rachel (Jennifer Aniston) para sustentar o poderio dramático da temporada e poder transferi-lo gradualmente ao cômico, proporcionado pelo fator oculto do outro relacionamento a se formar. Com o principal foco dramático resolvido, era hora de resolver a pendência do namoro escondido, além de desenvolver a dinâmica desse relacionamento.

Por mais fanfic que seja esse romance, isso fica bem evidente quando se tenta estabelecer uma possível intenção da criação dele desde o início por flashbacks, os roteiristas tinham habilidade para contornar a desculpa em uma situação cômica promissora, pautada na reação dos personagens ao descobrirem o caso – no que para muitos é o melhor episódio da série: Aquele que todos descobrem. Sem dúvidas, é o auge cômico de Friends, sendo a temporada que melhor faz proveito cômico das situações isoladas que cria, além de ser a mais equilibrada em polos dramáticos e na distribuição de subtramas interessantes para cada personagem.

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2° Lugar: 3ª Temporada (1996 – 1997)

Esta temporada vai pegar muito do que funcionou nas outras duas, organizando situações mais propositalmente aleatórias para explorar o timing cômico melhorado de seu elenco, ao mesmo tempo em que desenvolve conflitos em um foco principal, rendendo até diversas discussões muito relevantes pela sensibilidade temática a respeito de interpretações de gênero. Diferentemente da última, esta não chega a ser marcada de tantos momentos centrais marcantes, mas por esses momentos isolados fora do macro da história principal. A partir do décimo episódio, a temporada começa a adentrar em territórios mais direcionados, quando Rachel (Jennifer Aniston) pede demissão do emprego e consegue arranjar um novo nas mãos de Mark (Steven Eckholdt), desafiando a insegurança de Ross (David Schwimmer) que viria a se tornar uma bola de neve ciumenta a explodir na sequência icônica do episódio Aquele onde Rachel e Ross dão um tempo.

É formidável como todas as pistas até este momento foram bem implantadas a ponto de justificar cada uma de suas atitudes, sem levar lados, deixando o término com muito mais camadas do que simplesmente um conflito clichê necessário para a trama não cair em repetição. Há um claro subtexto machista no personagem de Ross, e é isso que o torna tão fascinante, ele é produto de um meio e principalmente de sua vivência, construindo nele um machismo inconsequente de sua insegurança na vida amorosa frustrada. Friends aqui se prova uma aula de como estabelecer relacionamentos e estudá-los em uma camada a mais, sem perder o brilhantismo cômico já característico.

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1° Lugar: 2ª Temporada (1995-1996)

A acomodação do casting talvez seja um dos grandes fatores para esta ser a melhor temporada, são nítidos a evolução e amadurecimento do elenco, muito mais à vontade e naturalmente com um timing melhor, consequentemente elevando o humor geral da série a um patamar muito mais assertivo. O contexto geral é elaborado para que linhas criativas utilizem o trivial com inteligência, a fim de render situações hilárias isoladas que contribuem com o macro da história principal. Tudo gira em torno do caso entre Rachel (Jennifer Aniston) e Ross (David Schwimmer), e a partir daí, serão criadas várias excelentes subtramas dramáticas entre os amigos que nunca perdem a via cômica, só adicionam a ela uma camada mais sarcástica. Como o ótimo bromance entre Chandler (Matthew Perry) e Joey (Matt Le Blanc), que vivem um conflito de ego constantemente engraçado, alavancado pela mudança de apartamento de Chandler, além dos dramas individuais de Phoebe (Lisa Kudrow) e Monica (Courteney Cox) em busca de seu leito paterno, profissional e romântico.

Entretanto, é no principal arco que a temporada voa, pois já havia uma excelente prévia de construção da paixão entre Ross e Rachel, como na virada de Rachel ao percebê-lo logo após Ross ter achado finalmente alguém que o valorizasse. Os entrelaces angustiam o público ao torcer para que ambos deem certo logo. E como se o roteiro não entregasse isso de maneira altamente satisfatória, desconstrói de forma ainda melhor, duas vezes na temporada, tanto para o bem quanto para o mal, usando a definição mais literal do humor possível. Quebrando a expectativa com intrigas complexas, compreensíveis para ambos os lados da moeda, e nos momentos decisivos virando a chave da comédia para o drama de forma apoteótica, tornando-os inesquecíveis. Foi esta temporada que elevou Friends a uma prateleira de obras obrigatórias para qualquer ser humano.

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