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Lista | Fritz Lang – Os Filmes Ranqueados

por Luiz Santiago
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IMPORTANTE: Cada indicação abaixo usa apenas um parágrafo da respectiva crítica! É só clicar nos links para ler os textos completos!

Eis aqui a nossa lista ranqueando todos os longa-metragens realizados pelo cineasta alemão Fritz Lang, abarcando as obras de suas duas fases europeias e também de sua fase americana.

Vocês conhecem a filmografia desse grande diretor? Já assistiram a todos os 42 filmes do cineasta ou apenas a alguns deles? O que acham dessas obras e qual das fases do diretor vocês gostam mais? Não deixe de comentar abaixo a sua experiência com esses filmes e qual é a sua classificação pessoal para os longas que você já viu! Segue, agora, a nossa lista, que além da minha participação, contou com a participação dos meus colegas Ritter Fan e Iann Jeliel.

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42º Lugar: Guerrilheiros das Filipinas

2 pontos

Sintetizemos melhor. Fritz Lang é um grande cineasta que possui uma noção enorme do que faz. Ao fazer um filme de propaganda patriótica pós-guerra, poderia claramente construir uma obra cujas formulações narrativas transmitissem esse ideal eficientemente, de maneira que o discurso estivesse em consonância com a mise-en-scène. Mas, por se tratar de um filme cuja feitura se deu, dizia Lang, unicamente em função de fazer algum dinheiro, a obra soa vazia, apática, contrastante em muitos momentos – como na parte final, que abandona tudo que foi feito anteriormente para seguir caminhos totalmente opostos. Assim, Guerrilheiros das Filipinas é um filme fraco, sem alma, que torna compreensível sua própria ausência em qualquer página da Wikipédia sobre o diretor.

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41º Lugar: A Volta de Frank James

2 pontos

Depois do estrondoso sucesso de Jesse James – Lenda de Uma Era Sem Lei (1939), não é de espantar que Darryl F. Zanuck quisesse lucrar ainda mais em cima da obra, por isso, encomendou uma sequência da história, entregando a direção a um cineasta famoso e mantendo mais ou menos o mesmo elenco e equipe técnica, uma forma de tentar dar ao público um material o mais próximo possível da película anterior — além de ceder corda a um enigma: o que aconteceu com Frank James depois do assalto frustrado no First National Bank, em Northfield? O azarado diretor a receber a cartilha pronta foi o mestre Fritz Lang, que, além do projeto pré-definido, tinha alguns “inconvenientes” do momento: Frank James era o seu primeiro western e o seu primeiro filme em cores.

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40º Lugar: Correspondente Especial

4 pontos

Dois nomes muito importantes da história do cinema estão associados à Correspondente Especial, mesmo que isso não se expresse muito no que está sendo visto em cena. O primeiro é o do grande diretor alemão Fritz Lang, que conduziu o longa por seis dias até ser demitido e ser substituído por Archie Mayo, o cineasta creditado no longa. O segundo é o de Samuel Fuller, que colaborou com o roteiro muito antes de se tornar conhecido por seus singulares filmes de guerra, como The Steel Helmet, o primeiro a falar sobre a guerra da Coréia.

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39º Lugar: O Sepulcro Indiano

5 pontos

O drama segue a mesma linha de argumento deixada no primeiro longa. O narrador faz uma retomada breve dos acontecimentos da obra anterior e dá rapidamente o tom de emboscada e caça a um inimigo, estando, de um lado, o Marajá Chandra (Walther Reyer), lutando contra seus demônios e procurando infligir em Seetha e Harald (Paul Hubschmid) uma punição que o faça se ver livre da vergonha da rejeição e, inconscientemente, que sublime o desejo guardado pela dançaria do templo. Existe uma tensão erótica na obra, que se estrutura na prática como um estranho triângulo amoroso, mas o roteiro se esparrama por tantos lados possíveis que o espectador não consegue aproveitar bem as sugestões mais instigantes do enredo.

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38º Lugar: Corações em Luta

8 pontos

Ainda que esteja longe de ser uma obra-prima, Corações em Luta integra o início da carreira de um dos gigantes do cinema e, mais importante, já carrega muito da genialidade de Fritz Lang. Sua confusa narrativa inicial toma forma aos poucos, é maximizada pela técnica e resulta em uma obra bastante interessante que aborda tanto a questão da desconfiança quanto a pouca voz feminina naquele período, mesmo em assuntos que lhe diziam respeito diretamente.

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37º Lugar: O Homem Que Quis Matar Hitler

9 pontos

Foi uma época em que Lang aceitou muitos projetos de estúdio, sendo esse possivelmente um dos que se encaixaram mais no objetivo comercial que o contexto exigia do que numa obra com intenções autorais por parte do diretor, ou mesmo um texto com brechas (que apesar de tudo, houve, e não foram correspondidas) para que ele deixasse sua assinatura com a substância que normalmente entregava. Em outros filmes mais à frente também com caráter de denúncia à crescente fascista da Segunda Guerra, como Os Carrascos Também Morrem e Quando Desceram as Trevas, isso foi melhor correspondido. Infelizmente, em O Homem Que Quis Matar Hitler não, consolidando um dos filmes mais fracos do gigantesco cineasta alemão.

O Homem que Quis Matar Hitler

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36º Lugar: As Aranhas – Parte 2: O Barco de Diamantes

10 pontos

Mesmo com o bom trabalho de direção (atrapalhado fortemente pela montagem) e de arte, O Barco de Diamantes falha como sequência e falha também como obra isolada. O gosto do diretor por culturas e elementos exóticos se mantém nesta película e são abundantemente expostos na tela, gerando cenas de grande impacto visual. Mas à parte esse aspecto, ficamos com uma história que, de algo realmente bom, só tinha a grande promessa. Uma promessa que Fritz Lang, pelo menos dessa vez, não cumpriu como deveria e sabia fazer.

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35º Lugar: Os Carrascos Também Morrem

11 pontos

No final das contas, Os Carrascos Também Morrem passa com louvor as mensagens de deseja passar e, portanto, como filme de propaganda, funciona muito bem. Mas, como obra audiovisual, especialmente uma que vem das mentes brilhantes de Lang e Brecht, o longa deixa a desejar em seus aspectos mais basilares, ainda que, dos filmes-propaganda de Lang, este seja sem dúvida o melhor.

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34º Lugar: Brumas

11 pontos

Apesar de no grosso, a personagem feminina ser um mero acessório para a construção dramática do masculino – nunca sabemos o que estava levando-a a se matar e isso é basicamente ignorado mesmo – funciona porque fornece uma identificação sugerida entre os dois e essa personalidade retraída, uma boa base conflituosa para que o caminho deles juntos não se torne tão fácil, logo, tenha sustância para enquanto telespectador torcemos por a separação dos desafios. Nada mais justo, só sabemos alguma coisa do lado masculino, justamente pelo aleatório, o que faz a ponte perfeita para a junção desses personagens misteriosos. Os dois que fazem Brumas ser interessante, apesar de não deixar de ser um filme artesonado por um outro professor. Archie foi esse cara naquela Hollywood, substituiu até filmes do John Ford. Não tinha tanta identidade como cineasta – Brumas é carente de uma –, mas sabia executar a de terceiros com competência.

Brumas

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33º Lugar: Os Espiões

13 pontos

Um elegante espião tentando realizar seu dever patriótico, um vilão com pretensões globais e uma bela garota apaixonada que muda de lado para ajudar o herói. Poderia ser a sinopse de qualquer filme de James Bond, mas trata-se de Os Espiões, filme do lendário diretor alemão Fritz Lang. Apesar de não ter inaugurado o gênero, que só se tornaria realmente popular na década de 60 com o 007 protagonizado por Sean Connery, a obra foi uma das primeiras a apresentar o arquétipo do espião no cinema. Baseado no livro Spies de Thea Von Harbou, que também escreveu Metropolis, aqui o protagonista também é chamado por número, sendo o agente 326.

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32º Lugar: O Segredo da Porta Fechada

15 pontos

Acontece, que o terço final adentra num caráter mais metafórico que honestamente não parecia caber durante a história. Por mais que Freud fosse citado e a dubiedade do personagem se sustente no drama psicanalítico de uma experiência traumática maturada, houve muito pouco desenvolvimento do casal enquanto casal e dos indivíduos em separado para que seja crível a última virada. Não só descarta os caminhos interessantes levantados, quanto utiliza alguns de forma preguiçosa a forjar um novo clímax que reintegra um romance que na prática nunca aconteceu de fato e nem foi levado durante o filme pela teoria. Sem dúvidas, é uma conclusão bem aquém da construção até ela – ótimista demais? –, mas que não chega a decepcionar mais do que o ótimo sentimento de envolvimento do caminho, tornando O Segredo da Porta Fechada um filme ainda bem notável na carreira do diretor alemão.

O Segredo da Porta Fechada

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31º Lugar: Coração Vadio

15 pontos

Não sou contra a proposta de redenção, e muito menos da ideia de desconstrução da imagem masculina do período — que acho interessantíssima, especialmente pensando no período que o filme foi concebido —, porém, a narrativa termina por romantizar o abuso doméstico no momento que a filha toma para si o tapa como um ato de amor, e a balança salva Liliom. Pode-se dizer que a escolha do desfecho tem o intuito de expor o amor da filha como momento de remição e perdão, ou/e do propósito inicial de demonstrar os atos criminosos de Liliom na desculpa esfarrapada que ele não sabe como ser melhor, mas esses argumentos não me vendem o final, que, particularmente, vejo como uma quebra da linguagem fílmica certeira de desconstruir o estereótipo ao mesmo tempo que o pune. Ainda que venha com um final agridoce, considero o saldo positivo, principalmente pela direção e engenhosidade de Fritz, e do próprio roteiro corajoso que, infelizmente, se perde logo antes de acabar. Apesar dos problemas, Coração Vadio é, sem sombra de dúvidas, uma obra interessante na extensa filmografia do genial cineasta.

Coração Vadio

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30º Lugar: As Aranhas – Parte 1: O Lago Dourado

16 pontos

Cronologicamente, As Aranhas – Parte 1: O Lago Dourado foi o terceiro filme de Fritz Lang, mas ao fazer essa afirmação não devemos nos esquecer de que as quatro primeiras produções do diretor datam todas do mesmo ano (1919), chegando aos cinemas na seguinte ordem: Halbblut (com estreia em 3 de abril), Der Herr der Liebe (com estreia em setembro), As Aranhas – Parte 1 (com estreia em 3 de outubro) e Harakiri (com estreia em 18 de dezembro). O que observamos aqui é que Lang não teve apenas um ano extremamente movimentado e criativo, mas que sua breve passagem pela função de roteirista em obras de outros diretores (ao todo, três filmes, todos em 1917) deram-lhe a desenvoltura necessária para assumir um projeto ousado, algo que os chefões da Decla já haviam percebido, tanto que entregaram ao recém-chegado diretor uma tarefa que normalmente caberia aos profissionais mais antigos da casa. Lang foi cotado para guiar um seriado cinematográfico.

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29º Lugar: Casamento Proibido

18 pontos

No mesmo sentido, a belíssima sequência em que eles passam a lua-de-mel “viajando o mundo”, ao irem para restaurantes típicos de outros países (Alemanha, França, China..), corrobora nesse sentido de que mesmo diante da impossibilidade física de viajar (por causa da condicional), eles ainda assim conseguem se libertar de tal imposição, ainda que no imaginário. No fim, Casamento Proibido é justamente sobre isso. Uma lição de moral (ou fábula) sobre as tentações que o Capital provoca no homem, prendendo-lhe em um ciclo sem fim, mas que podem ser superadas pelo amor. Afinal, há certos sentimentos que o dinheiro não pode comprar.

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28º Lugar: Quando Desceram as Trevas

19 pontos

Quando Desceram as Trevas pode não ser tão lembrado quanto outros trabalhos do famoso diretor de Metrópolis, especialmente por ser tratar de uma história muito comum aos filmes da época, como O Estranho, de Orson Welles, que similarmente contava história de uma infiltração nazista, foi lançado dois anos depois, e Confissões de um Espião Nazista, de Anatole Litvak, quatro anos antes, todos parte do esforço de Hollywood em combater o nazismo usando o audiovisual. Um esforço nobre elevado pelo olhar do experiente diretor.

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27º Lugar: O Grande Segredo

20 pontos

Muita coisa surpreende em O Grande Segredo, tanto em conteúdo quanto em forma, mesmo que seus aspectos mais complexos tenham sido reduzidos em favor de um tom mais otimista e com maior aceitação ao público, mas os toques de Fritz Lang, o diretor que ousou gerar empatia com um serial killer já nos anos 30 com M – O Vampiro de Dusseldorf, se fazem sentir, já que nesse longa de espionagem, temos um discurso anti-nuclear que só viria fazer parte do cinema com força novamente algumas décadas mais tarde.

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26º Lugar: Os Conquistadores

21 pontos

A despeito das tragédias, a grande empresa nacional prospera e as linhas de telégrafo são, por fim, instaladas. O final de Os Conquistadores é basicamente a versão humana de uma das mais belas e simbólicas cenas do filme, quando vemos a carcaça de um animal em primeiro plano e, na profundidade de campo, cavalos passando diante da câmera e fios de telégrafo sendo instalados. A morte de alguns, o fogo, a fome e a bandidagem ao redor são apenas “acidentes de percurso” nesse trajeto da tecnologia que pretende diminuir as distâncias de comunicação no país. É aquela história do Velho Oeste onde a vitória, assim como em muitas ocasiões na vida, é amarga demais para ser inteiramente aproveitada. Mas a despeito disso, o mundo segue dizendo a cruel e ao mesmo tempo real e necessária frase: “a vida continua“.

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25º Lugar: Harakiri

22 pontos

Mesmo com seus problemas, Harakiri mantem-se íntegro em seu propósito, criando uma personagem forte e trágica que revela a qualidade da atuação de Dagover e a clara percepção de Lang sobre sua atriz. Além disso, o suntuoso design de produção é sem dúvida um destaque, além da cuidadosa e quase kubrickiana distribuição cenográfica que o cineasta faz a cada nova sequência. Esse talvez seja um dos poucos casos em que uma duração um pouco maior tivesse curado as falhas mais óbvias em termos de desenvolvimento de personagens, elevando a obra a algo mais do que um dos “filmes-teste” do começo de carreira de Fritz Lang.

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24º Lugar: Um Retrato de Mulher

23 pontos

Um Retrato de Mulher, porém, não é perda total. Robinson e Bennett fazem uma improvável, mas eficiente dupla na linha do que Humphrey Bogart consegue fazer com qualquer outra atriz bonita e a fotografia em preto e branco de Milton R. Krasner merece destaque, especialmente nas sequências “externas dentro de estúdio”, com uma iluminação noturna muito bonita a partir de reflexos com o bom e velho truque do chão molhado e um jogo de chiaroscuro discreto que marca algumas poucas sequências em interiores, como no primeiro encontro entre os protagonistas. Mas a beleza do longa não é suficiente para manter sua história em pé ou para tornar a narrativa mais convincente. Ao contrário, ela até acentua os problemas de um roteiro didático e de uma direção que segue exatamente a mesma linha.

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23º Lugar: Depois da Tempestade (A Imagem Errante)

24 pontos

O final do filme talvez seja o seu maior ponto fraco, mesmo que consideremos perdido o ponto de ligação entre o retiro do personagem dado como morto e sua “volta à vida”. A tragédia, elemento essencial da obra até aquele momento, é pincelada com uma cor que não combina com o todo e, mesmo que não tenha o poder de estragar a obra, termina por dar-lhe um ar extremamente chavão que não aceitamos com facilidade, principalmente porque todo o restante do filme foi construído como uma densa história de essência e existência humanas, algo definitivamente nada raso.

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22º Lugar: A Mulher na Lua

29 pontos

Tenho uma certa dificuldade em discernir a ficção científica da fantasia em filmes como A Mulher na Lua. Afinal, os preceitos científicos aqui não só estão somente para evidenciar questões humanistas dos personagens como também para possibilitar uma fantasia em que essa humanidade possa prosperar em harmonia. Esse é o segundo filme de Fritz Lang com sua esposa Thea von Harbou, nos ramos da ficção científica, sendo o primeiro o reverenciado clássico Metropolis. Ambos os longas partilham de uma mesma ideia de universo conflituoso politicamente por conta de avanços tecnológicos específicos, conceitualmente imaginativos em uma projeção do que poderia acontecer à humanidade.

A Mulher na Lua

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21º Lugar: Desejo Humano

30 pontos

Desejo Humano é um filme que se usa de uma roupagem tradicional de suspense para adentrar nas dimensões psicológicas do sujeito. Lang filma de maneira muito consciente e, ainda que em alguns momentos pareça perder aquilo que está em mente, encarna todo seu passado de cineasta consagrado para criar ótimos momentos. Um dos últimos filmes de sua carreira nos EUA, mas ainda apresentando um grande diretor.

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20º Lugar: O Tigre da Índia (O Tigre de Bengala)

31 pontos

O Tigre da Índia é uma aventura romântica muito divertida e realidade com grande apuro visual. Eu já citei a aparência banal da história narrada, mas o modo como a vemos faz com que se mantenha em alta conta, mesmo se considerarmos uma incômoda linha de pensamento que destaca a superioridade dos europeus frente aos hindus. De qualquer forma, o filme marca com graça a fase final da carreira de Fritz Lang e, embora não traga os elementos críticos tão presentes em suas obras anteriores, nos brinda com uma concepção visual deslumbrante, fazendo-nos voltar no tempo, para os cenários grandiosos utilizados pelo diretor do díptico dos Nibelungos ou em Metropolis. O mesmo homem, a mesma mão poderosa na direção e concepção de um filme, um outro tempo. Impossível não querer ver um fruto dessa fase.

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19º Lugar: O Tesouro de Barba Rubra

32 pontos

Portanto, parece residir nesta pureza e inocência do olhar; neste relacionamento de uma criança com um fora-da-lei sem julgamento morais; no contexto de busca paternal e passado em um universo muito próprio (portanto, deslocado da verossimilhança, ainda que jamais apresente explicitamente elementos mágicos) que existe as explicações para que O Tesouro do Barba Rubra seja uma obra languiana tão especial. Por mais que o próprio diretor tenha dito que ficou insatisfeito com a cena final do filme, desejando que a narrativa acabasse com o jovem se despedindo de Fox na beira do mar, permito-me discordar de Lang. No fim, é preciso que haja última reafirmação do olhar imaculado: as portas permanecerão sempre abertas, pois menos importa a certeza da despedida e sim que a esperança do retorno permaneça viva. Afinal, uma criança precisa sonhar.

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18º Lugar: Os Nibelungos – A Vingança de Kriemhilde

39 pontos

Mesmo tendo muito para observar e elogiar, o trabalho de Lang na direção não consegue compensar o roteiro que estica a narrativa por muito mais tempo que necessário, transformando o que poderia ter sido essencialmente um epílogo de A Morte de Siegfried em um longa que parece enamorado demais com si mesmo para acabar quando poderia. Claro que ainda é um feito técnico notável e uma história que efetivamente leva a um movimento circular para todo o arco épico de Siegfried, mas A Vingança de Kriemhilde parece ser filme de mais para história de menos.

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17º Lugar: Os Mil Olhos do Dr. Mabuse

42 pontos

Os Mil Olhos do Dr. Mabuse é um filme com um forte tom de desalento em sua conclusão. Ele deixa claro que o padrão de ação empregado pelo vilão, no passado e no presente, jamais morrerá de fato. Assim como as ideias nazistas, igualmente levantadas no decorrer do filme e com as quais podemos contextualmente fazer ligações aqui, sempre haverá um sucessor para manter os mais miseráveis atos humanos em andamento (me vem à mente, agora, Ele Está de Volta), conseguindo arrastar muita gente para executar parte do massacre e eventualmente ser interrompido por uma situação de desgaste, o que não significa muita coisa, a longo prazo. Os mil olhos sempre estarão à espreita. Mantê-los longe de trazer o fim para muito mais gente inocente é uma luta necessariamente constante de qualquer sociedade. Ignorar isso é abrir espaço para o caos.

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16º Lugar: Vive-se Uma Só Vez

46 pontos

Vive-se Uma Só Vez é um Fritz Lang em contato com a América. Visivelmente moldando seus filmes, o austríaco chega, desta vez, em um longa-metragem que poderia ser mais denso, mas que não chega a ser raso. Com alguns problemas de conduta e de divisão no peso das circunstâncias, a obra não se delimita apenas a estereótipos reparados nos demais longas-metragens noir, aglomerando fatores já manipulados, mas os ajustando de maneira particular, tal qual o tema bandido versus segurança. Organicamente aderido, o enredo se detém a não criticar diretamente alguma das partes envolvidas na história, e sim fazer delas uma unicidade que não comprometa seu desenvolvimento e seu objetivo de atingir um suspense imersivo. E isto pode ser algo que o trabalho de Lang consegue obter, não retirando o mérito de seu bom desdobrar de uma trama básica e, mesmo assim, promissora no que diz respeito à tensão. Pode não ter sido o melhor feito do diretor, mas certamente é um daqueles escapismos que em nada importa quem é vilão ou mocinho.

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15º Lugar: O Diabo Feito Mulher

47 pontos

O bloco de ação muda, do início para o fim do filme, indo de uma caçada humana individual, passando por uma seara de diversos crimes rasteiros e terminando e um confronto direto após a descoberta da grande verdade, a vingança que tudo motivou. O roteiro deixa para o final a retomada de consciência do protagonista, e joga na mulher o maior preço a se pagar pela paixão e “por se meter com quem não deveria”. Em vez de optar por um casal, o texto optou por dois viúvos que, agora, deixam  no ar a pergunta se vão seguir praticando roubos ou se vão voltar para casa. A dúvida moral e comportamental que não raro nos assoma ao fim de muitos westerns.

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14º Lugar: Fúria

49 pontos

Fúria, o primeiro filme americano de Fritz Lang, tem seus problemas, mas a mensagem que passa é poderosa e, mais ainda, tão atual hoje quanto na época em que foi lançado. Afinal, se há um aspecto negativo nas tão adoradas redes sociais é a fácil e imediata criação do chamado Tribunal da Opinião Pública em que atos banais ou graves e, pior ainda, que foram ou não cometidos por determinada pessoa tornam-se verdades absolutas se um grupo grande e vocal o suficiente condená-lo, destruindo vidas no processo. Fazemos – sim, todos nós! – isso todos os dias, com consequências reais para muita gente com base no que “achamos” ou “ouvimos dizer” e nós nunca nos importamos com a verdade dos fatos ou temos a hombridade de assumir a culpa caso nossa verdade não seja a verdade.

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13º Lugar: Almas Perversas

52 pontos

A experiência de assistir Almas Perversas logo depois de Um Retrato de Mulher, ambos de Fritz Lang e que estrearam em anos consecutivos, é uma experiência no mínimo curiosa. Afinal, além do mesmo diretor, os longas compartilham a mesma trinca principal de atores – Edward G. RobinsonJoan Bennett e Dan Duryea – em papeis muito semelhantes em roteiros tematicamente quase idênticos, com fotografia e estilo noir impressos pelo mesmo diretor de fotografia, Milton R. Krasner. Almas Perversas, porém, foi curiosamente baseado em romance do francês Georges de La Fouchardière, o que quase dá a entender que Um Retrato de Mulher foi uma adaptação não-autorizada e não creditada da obra original, pois é coincidência demais para simplesmente ter acontecido do nada.

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12º Lugar: No Silêncio de Uma Cidade

54 pontos

No entanto, o ponto da película, que é a caracterização dos jornalistas como pessoas capazes de tudo por um furo – talvez haja injusta aí, mas diria que não tanto se formos sinceros -, inclusive, mas não se limitando a correr com notícias não confirmadas que poderiam levar à prisões errôneas, ponto do romance de Einstein e do caso real do Assassino do Batom, é perfeitamente trabalhado em No Silêncio de uma Cidade. Lang não hesita nesse enquadramento e seu filme serve como um constante lembrete tanto para os jornalistas em si, quanto para nós, que dependemos deles para sermos alimentados de notícias.

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11º Lugar: A Gardênia Azul

57 pontos

A Gardênia Azul acaba se revelando como um trabalho menor de Fritz Lang, de fato. O baixo orçamento e o curtíssimo tempo de produção não permitiram uma composição visual mais acurada, mas ainda assim, o diretor consegue construir uma atmosfera magnética que tornam o longa envolvente. O elenco carismático, por sua vez, consegue suprir as deficiências de desenvolvimento que os personagens apresentam no 3º ato, fechando a narrativa com dignidade. Ainda que não seja muito memorável, A Gardênia Azul ainda é um trabalho interessante, plantando sementes na filmografia de Lang que seriam mais bem exploradas em trabalhos seguintes, especialmente no que diz respeito ao papel do jornalismo em coberturas criminais.

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10º Lugar: Suplício de uma Alma

57 pontos

Apesar de não assinar o roteiro, Lang nas entrelinhas da elaboração da imagem, assim como Austin, reescreve o real para o benefício da narrativa que quer contar em Suplício de uma Alma. Não atoa, a desculpa do personagem principal em topar os riscos do experimento inicialmente era por conta da inspiração criativa, uma pequena ponte metalinguística a dar verossimilhança a manipulação assumidamente instável e coincidente das reviravoltas, absolutamente frustrantes por ir de encontro ao que a construção emocional inicialmente implementava, mas eficientes em provar o ponto de que nós estamos acomodados em acreditar na primeira aparência dita como verdade.

Suplício de uma Alma

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9º Lugar: Maldição

60 pontos

Culpe o homem pela sujeira, não o rio”, menciona o escritor Stephen Bryce (Louis Hayward) durante uma conversa. Essa rápida e sugestiva linha de diálogo acontece logo nos primeiros minutos de uma das obras mais obscuras da filmografia de Fritz Lang, quando o diretor esteve em sua fase de produções norte-americanas, com um orçamento mais modesto do que o que estava acostumado, e essa fala inicial funciona como um presságio para a intensa jornada das personagens, assim como a do espectador.

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8º Lugar: Só a Mulher Peca

61 pontos

A trama de Só a Mulher Peca pode não ser algo comumente associado ao nome de Fritz Lang, já que seu nome é quase sinônimo de noir, com obras voltadas para o mundo da espionagem e afins. Mas esse drama pouco deixa a dever a esses outros trabalhos, conseguindo ser tão, ou até mais, tenso em certos pontos do que as diversas histórias envolvendo nazistas que compõem a carreira do diretor.

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7º Lugar: A Morte Cansada

70 pontos

A Morte Cansada ainda é um trabalho de um diretor relativamente inexperiente e que ainda realizaria suas obras mais de maior destaque, mas que ainda assim, demonstra o grande talento de Fritz Lang. Visualmente impressionante e extremamente influente (Luis Buñuel apontaria o longa-metragem como o filme que o fez querer ser cineasta) A Morte Cansada propõe discussões um pouco mais existencialistas que outras obras do Expressionismo Alemão, mas é indiscutivelmente uma importante parte do movimento que marcou a História do Cinema.

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6º Lugar: O Testamento do Dr. Mabuse

74 pontos

O Testamento do Dr. Mabuse é um alerta para o gigantesco perigo que é o fato de ninguém jamais poder matar uma ideia. Seja ela boa ou ruim, continuará dando frutos e criando seguidores, muitos dispostos a fazer qualquer coisa para trilhar o caminho de um líder, ideólogo ou instituição doutrinária e exterminar aqueles que pensarem em sair das regras impostas pelo Império que criaram. É um filme sobre a passagem de um mal para as mãos de um sucessor, que após ser vencido pelas “forças do bem” daquela conjuntura histórica, é tido como louco e incapaz de responder pelos seus crimes. Até que a admiração em torno de suas ideias e ações cresçam mais uma vez e o ciclo de perpetuação de suas desgraças permaneça vivo.

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5º Lugar: M, O Vampiro de Dusseldorf

77 pontos

A macabra canção infantil que abre M, o Vampiro de Dusseldorf é o prenúncio de uma narrativa sobre terríveis assassinatos, sobre a ineficiência e corrupção das forças policiais, sobre a elevação da máfia a uma espécie de poder paralelo e sobre a união da paranoia social com o forte desejo de se fazer justiça com as próprias mãos. Fritz Lang aplicou aqui um modelo reduzido daquilo que a sociedade alemã via crescer naquele início da década de 1930, e M mostra de maneira muito eficiente como um verdadeiro e aterrorizante problema social pode ser utilizado como mola para adicionar novos elos na cadeia de poder local e também para trazer à tona o que há de mais colérico e assassino em cada um dos honrados e pacíficos cidadãos de bem.

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4º Lugar: Os Corruptos

77 pontos

Sydney Boehm, que escreveu o roteiro de Os Corruptos baseado em obra publicada em folhetim por William P. McGivern, não inventou o filme sobre vingança e nem mesmo o filme sobre o policial incorruptível que sofre as consequências por investigar o que não deveria investigar, mas o texto de seu trabalho aqui é absolutamente impecável. E, como se isso não bastasse, Fritz Lang pega o material e cria o que eu poderia muito facilmente afirmar que é a obra audiovisual prototípica a partir da premissa que mencionei, com nada, nenhum quadro, nenhum close-up, nenhum figurino fora de lugar. É como assistir o desenrolar da história perfeita, uma de várias provas de que o filme feito puramente para entreter pode ser sim fora de série.

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3º Lugar: Dr. Mabuse, o Jogador

78 pontos

Escrito por Fritz Lang e sua esposa Thea von Harbou, o roteiro de Dr. Mabuse foi baseado na obra de Norbert Jacques, e teve uma meta dramática simples: apresentar a história do doutor do título, um psicanalista, apostador, manipulador criminoso e hipnotizador que usava de suas habilidades para enganar outros apostadores, controlar ações na Bolsa de Valores, induzir seus inimigos ao suicídio ou mandar matá-los. Homem de negócios, cidadão comum, viciado em jogos de azar ou doente mental, esse “homem das mil faces” é ao mesmo tempo uma representação de todos os controladores sociais e vítima patética de seus próprios jogos.

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2º Lugar: Os Nibelungos – A Morte de Siegfried

84 pontos

Como fez com diversas outras obras, Adolf Hitler apropriou-se do poema épico germânico Nibelungenlied (Canção dos Nibelungos) e suas mais famosas adaptações da época para avançar suas ideias de superioridade da “raça ariana” e seus impulsos genocidas, o que de certa forma afeta negativamente a análise de Os Nibelungos, obra dirigida por Fritz Lang e co-escrita por ele e sua então esposa Thea von Harbou e lançada dois anos depois de Dr. Mabuse, o Jogador. Dividida em duas partes que chegaram aos cinemas com poucos meses de diferença, a monumental saga fantástica de Lang pode ser vista tanto como a precursora de obras como O Senhor dos Aneis e Game of Thrones, quanto uma abordagem que tinha o objetivo declarado – pelo próprio Lang – de levantar a moral germânica depois do fim da Primeira Guerra Mundial e seus devastadores efeitos amplificados pelo Tratado de Versalhes e uma das primeiras encarnações audiovisuais do übermensch de Friedrich Nietzsche.

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1º Lugar: Metrópolis

86 pontos

Quando filmou Metrópolis (1927), Fritz Lang já tinha grande importância para a então jovem história do cinema, com longas como As Aranhas (1919 – 1920), A Morte Cansada (1921), Dr. Mabuse, o Jogador (1922) e Os Nibelungos (saga dividia em A Morte de Siegfried e A Vingança de Kriemhilde, ambos de 1924). Após o lançamento da segunda parte de Os Nibelungos, Lang foi enviado para os Estados Unidos pela UFA (estúdio para o qual trabalhava), ao lado do produtor Erich Pommer e de uma pequena equipe técnica, para aprender técnicas de produção e comprar equipamentos modernos – estamos falando de 1924. Enquanto Lang viajava, sua esposa, Thea von Harbou, desenvolvia o roteiro para uma ideia sobre a qual os dois haviam pensado em filmar, uma história baseada num cenário ditatorial futurístico onde as máquinas dominavam as pessoas e também o seu modo de vida. Emprestando motivos de Frankenstein (Mary Shelley, 1818) e When The Sleeper Wakes (H. G. Wells, 1899), Harbou e Lang terminaram o roteiro ainda em 1924, e o remeteram à UFA, que confiante na reputação de Lang e na eficiência do período que ele passou nos Estados Unidos (visitando também Hollywood), aprovou o alto orçamento para a produção do filme.

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