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Lista | Akira Kurosawa – Os Filmes Ranqueados

por Luiz Santiago
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Um dos diretores japoneses mais conhecidos do público, Akira Kurosawa foi autor de uma obra ímpar, pontuada por longos e inesquecíveis filmes, a maioria, de grande influência para o Ocidente (e também por ele influenciados). Essa troca de influências trouxe uma grande riqueza para as obra deste Mestre japonês, considerado “o mais Ocidental dos diretores japoneses”, que filmava as questões próprias de seu país mas não se furtava em utilizar modelos narrativos ou em evocar correntes cinematográficas de outras terras.

Aqui, eu, Luiz “Dodeskaden” Santiago e Ritter “Yojimbo” Fan enfrentamos a hercúlea tarefa de classificar a obra desse grande diretor. O resultado está logo abaixo. Não se esqueça de comentar quais são os seus filmes favoritos do diretor, quais ainda não viu ou tem curiosidade e, vai saber, quais deles você viu, mas não gostou. Vamos lá!

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31º Lugar: A Mais Bela

A Mais Bela é o filme mais fraco de Akira Kurosawa, uma propaganda de guerra cuja utilidade é apenas histórica e cujo valor cinematográfico reside em apenas algumas sequências, a verdadeira salvação da fita. Se me permitissem esquecer por completo a imagem de alguma obra de um diretor que vejo como impecável, não resta dúvidas de que esta seria a minha primeira opção.

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30º Lugar: Canção do Cavalo

Cheio de grandes imagens, mas com uma mudança brusca e nada interessante de temática ao longo do processo, Canção do Cavalo é mais uma prova de que fazer algo forçado não era mesmo a praia de um grande diretor como Kurosawa. O filme é, no todo, uma boa produção, mas está muito longe de ser algo que realmente pareça ter vindo das mãos de um dos maiores cineastas da História do Cinema. Sua sessão, porém, serve como visão histórica, para conhecer a única produção televisiva que Kurosawa dirigiu em sua vida.

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29º Lugar: A Saga do Judô 2

A partir desse filme, Kurosawa estaria livre de encomendas políticas e imposições ideológicas para seus roteiros, o que o faria mergulhar numa fase próxima ao neorrealismo italiano já em seu filme seguinte — talvez um reflexo desse primeiro momento da carreira, cuja única exceção é Os Homens Que Pisaram na Cauda do Tigre –, e de Um Domingo Maravilhoso em diante, apresentaria um cinema visivelmente autoral, esculpindo a cada obra o seu merecido status de Mestre e gênio do cinema.

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28º Lugar: Não Lamento Minha Juventude

O espectador encontra aqui elementos vivos do neorrealismo italiano e da montagem (assinada pelo próprio Kurosawa) que remete ao espetáculo revolucionário do cinema soviético. A sobreposição de jornais, as marchas nas ruas, o arrozal destruído, todos os elementos de luta e suas metáforas são abstraídas pelo espectador com uma força emotiva muito forte, embora sempre fique um ranço de estranheza, como se estivesse faltando algo para completar o todo ou como se o filme tivesse apresentado coisas demais antes de mostrar sua verdadeira motivação.

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27º Lugar: Os Homens Que Pisaram na Cauda do Tigre

Os Homens Que Pisaram na Cauda do Tigre é uma crônica de suspense e ousadia que traz alguns dos temas mais caros a Kurosawa: o cumprimento de um dever, uma viagem para longe, a fuga de um perigo qualquer, a amizade e o perigo, todos elementos que permeiam a história e que se mixam em um ótimo conceito do que é a existência humana: uma mistura de momentos de extrema tensão e confraternização, o perigo de mãos dadas com a felicidade e o (possível) infortúnio.

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26º Lugar: Duelo Silencioso

Vencedor do Mainichi Film Concours de Melhor Ator para Takashi Shimura (também recebido por sua atuação em Cão Danado, 1949), Duelo Silencioso é um filme sobre um homem que se fecha para uma parte do mundo porque não consegue lidar com uma situação pessoal adversa. Mais um Raio-X da alma humana realizado pelo Mestre Kurosawa.

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25º Lugar: A Saga do Judô

A Saga do Judô superou as minhas expectativas. Eu já sabia que ele havia sido picotado pela censura, então esperava um produto bastante inferior, já que esse tipo de interferência geralmente desconfigura toda a obra. Mas fiquei espantado do quanto foi mantido e de como já é possível, neste filme, perceber elementos muito caros a Kurosawa, coisas que ele manipularia com perfeição alguns anos depois. Embora não figure na lista de seus melhores filmes, A Saga do Judô é um início interessante, o primeiro passo de uma gloriosa carreira.

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24º Lugar: Sanjuro

Com esses lampejos de criatividade, a impressão que fica, ao final de Sanjuro, é que, se Kurosawa tivesse se concentrado em um roteiro original, teria feito outra obra-prima. Como se baseou em roteiro dele próprio, mas que apresentava outros componentes bem diferentes e que teve que ser modificado algumas vezes, a genialidade completa escapou por entre os parágrafos e o resultado foi um filme ainda de altíssimo gabarito, mas que definitivamente não merece estar no panteão de suas melhores obras.

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23º Lugar: Donzoko: Ralé

Kurosawa soube trazer com bastante veracidade esse espírito de busca, esperança e reconstrução de vidas que encontramos na obra de Górki. Todos os personagens lutam para conseguir sair do abismo social e mesmo pessoal em que se encontram, e Ralé é uma crônica sobre esse patético processo. Trata-se, talvez, de uma daquelas obras “ame ou odeie”. De qualquer forma, é a penúltima obra do diretor nos anos 1950, e a sua primeira e última incursão no teatro russo, portanto, há motivos de sobra para vê-la.

22º Lugar: O Idiota

A ciranda de amores e desamores que pontua a narrativa do filme é dividida em duas partes e mostra de forma quase épica as modificações sentimentais pelas quais todos passam. Alguns negam o que sentem, outros correm em busca do que lhes é impossível ter, outros ainda doam o que normalmente pegariam para si. Kurosawa encontrou muitas semelhanças entre os personagens de Dostoiévski e os seus próprios, uma vez que a busca por algo, o desejo incontido e a hostilidade do mundo contra os sentimentos verdadeiros são pontos presentes tanto na obra do japonês, quanto na obra do mestre russo.

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21º Lugar: Um Domingo Maravilhoso

Como a Sinfonia Inacabada, a história de Um Domingo Maravilhoso não termina. Por ser apenas a visão de um único dia na vida de Yuzo e Masako, temos a projeção de diversas possibilidades para o futuro, e embora possamos juntar elementos do próprio filme para acreditarmos em algo pleno de realizações, não podemos afirmar com certeza, porque o próprio filme também nos mostra como coisas aparentemente certas podem se tornar impossíveis de se concretizar.

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20º Lugar: Sonhos

Sonhos é um Kurosawa pessoal, sem dúvida alguma, mas é um Kurosawa de grande qualidade, sendo ou não um projeto de vaidade. Um filme que encanta, assusta, emociona e enraivece em proporções iguais. Uma visão rara para dentro de uma mentes mais incríveis da Sétima Arte.

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19º Lugar: O Escândalo

Em O Escândalo, vemos uma segurança plena do Mestre em trabalhar várias frentes narrativas, em dirigir diferentes gerações de atores e em dar ao longa um significado bastante emotivo, independente do tema que está sendo exposto. Talvez pela grandiosidade das obras seguintes e não apenas de Rashomon, esse filme tenha sido posto de lado e até considerado um “filme menor” de Kurosawa. Mas a força dos sentimentos trabalhados e a coragem do cineasta em escancarar crises morais e éticas nas instituições japonesas desmentem isso e fazem de O Escândalo um incontestável grande filme.

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18º Lugar: Rapsódia em Agosto

Rapsódia em Agosto sem dúvida é polêmico e as reclamações americanas procedem em parte, se interpretarmos o filme de maneira mais direta e simplista e esquecermos que é a visão de civis sobre atos de guerra, bem diferente da visão militar, obviamente (“a culpa é da guerra”, Kane deixa claro). Mas tenho para mim que essa forma de se ver a penúltima obra de Kurosawa é injusta e glosa a beleza inegável do relacionamento humano que ele deixa como parte de seu legado incomparável.

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17º Lugar: Kagemusha – A Sombra de um Samurai

Kagemusha está entre um dos mais incríveis contos históricos sobre este intenso período da história do Japão. Um grande filme sobre o poder de uma figura política, sua representação e as consequências que a sua saída de cena pode trazer para todos. Um épico sobre personalidade, sobre a arte da guerra e sobre o legado de alguém.

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16º Lugar: O Anjo Embriagado

O Anjo Embriagado foi um grande sucesso de público à época de seu lançamento, e ainda vencedor do prêmio de Melhor Filme no Kinema Junpo Awards e dos prêmios de Melhor Fotografia, Filme e Trilha Sonora no Mainichi Film Concours. Embora traga pequenas falhas em sua realização, a obra já pode ser caracterizada como o início de independência e domínio pleno de Kurosawa sobre a direção geral de seus filmes, algo que já chegaria de forma madura em Cão Danado (1949), e despontaria nas obras-primas da década seguinte.

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15º Lugar: Madadayo

Madadayo não constitui um final apoteótico para a obra de Kurosawa, mas seria injusto não dar à obra o seu e alto devido valor. Contextualizando o seu surgimento e o que movia o mestre naquele momento da vida, é muito natural que o filme tenha seguido por um caminho bastante distinto de colocações como as que vimos em Sonhos, onde tínhamos em tela uma explosão de brilhantismo técnico. Madadayo é um grande filme, com uma falha chateante em seu miolo. O canto do cisne de um dos maiores cineastas da História do Cinema.

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14º Lugar: Dodeskaden – O Caminho da Vida

Na constante fuga da realidade, os habitantes desse lugar esquecido reúnem as inquietações e sofrimentos do Japão e do próprio diretor à época. Notem que os horrores da guerra e o desastre de Hiroshima e Nagasaki aparecem aqui como pontos de criação de um “momento terrível” na História do país, sendo este horror a mais forte conexão que os habitantes têm entre si. E mesmo neste meio vemos diferentes personalidades ganharem destaque na tela, um desfile de bondade e maldade, empatia e rejeição, vida e morte.

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13º Lugar: O Barba-Ruiva

Em icônica entrevista cedida a Donald Richie, Akira Kurosawa disse que concordava com as análises então feitas sobre o seu Barba Ruiva, quando apontavam que este longa era o “fim de uma Era” para ele. Foi o décimo sexto e último longa realizado com seu então amigo e — ao lado de Takashi Shimura –, ator favorito, Toshiro Mifune. Último filme preto e branco que assinaria. Último suspiro de claro humanismo na filmografia do diretor, que foi incisivo ao dizer que, com este filme, tinha dito tudo o que tinha para dizer nesta seara, e que em produções seguintes falaria de outras coisas, mostraria um outro lado de seu espírito, de sua visão de mundo.

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12º Lugar: Cão Danado

Com mesclas do noir americano e uma bela referência a um filme de King Vidor (Aleluia, de 1929), Cão Danado (1949) aparece como a (discutível) primeira grande obra de Akira Kurosawa, um penúltimo passo (se excluirmos O Escândalo, seu filme seguinte) antes de sua também discutível obra-prima primeva, Rashomon. Esta construção relativa, porém, não se aplica a muitos leitores e fãs do “Luminoso”, como era chamado. No meu caso, ela é bastante clara, pois contemplo Cão Danado como um verdadeiro filme-trampolim para o Kurosawa Mestre dos anos 1950, e entendo-o realmente como a primeira grande obra do cineasta japonês.

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11º Lugar: Homem Mau Dorme Bem

Homem Mau Dorme Bem é um filme que se aplica às muitas situações de escândalo que temos hoje em dia, e claro, aos muitos crimes impunes na galeria dos colarinhos brancos que parecem só crescer, com os anos.

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10º Lugar: Rashomon

Rashomon é um filme sobre verdade e mentira, sobre a memória e a veracidade de acontecimentos recentes; sobre várias versões para uma mesma história. Particularmente tenho ressalvas para algumas coreografias de luta e mesmo para o que acontece após o último enfrentamento vindo na segunda versão da história do lenhador, mas isso não é nada comparado à grandeza da fita, portanto, não diminuem a importância que vejo na obra e muito menos a sua qualidade. Rashomon é um dos filmes essenciais para qualquer cinéfilo e foi uma belíssima catapulta de mercado para Akira Kurosawa.

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9º Lugar: Anatomia do Medo

Kurosawa passa então da loucura como refúgio para o silêncio como realidade. Quem vive melhor? O louco protegido em seu mundo ou os outros, sempre ameaçados? A resposta não poderia ser mais aterradora: o profundo silêncio. Numa cena bastante simbólica, uma personagem sobe e outra desce a rampa do hospício. Parece que a vida se resume a isso mesmo. E como se não bastasse a angústia, nada mais é dito. O filme acaba. Anatomia do Medo é uma obra para ser revisitada de tempos e tempos, especialmente hoje, quando os Senhores da Guerra teimam em fazer da destruição a “eterna novidade” dos nossos dias na Terra.

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8º Lugar: A Fortaleza Escondida

A Fortaleza Escondida pode não constar em muitas listas de filmes favoritos de Kurosawa para um grande número de cinéfilos, mas certamente é um daqueles filmes cativantes e antológicos que conquistam a maior parte dos espectadores à primeira vista e que deram inúmeros frutos por cinematografias ao redor do mundo. Uma obra digna de um mestre.

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7º Lugar: Ran

Seja pelas belíssimas batalhas coreografadas por Kurosawa, seja pela intensidade dos sentimentos que o filme faz aflorar, Ran é uma obra inesquecível e essencial para qualquer cinéfilo que se preze.

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6º Lugar: Céu e Inferno

Nas mãos precisas de Akira Kurosawa, uma obra literária menor de Ed McBain acabou se transformando em um dos mais respeitados filmes policiais de todos os tempos que merece ser saboreado minuciosamente por todo cinéfilo que assim se considere.

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5º Lugar: Trono Manchado de Sangue

Trono Manchado de Sangue mistura fantasia e todos os elementos de uma tragédia clássica, expondo na tela, de maneira grandiosa e escrupulosamente bem dirigida, uma das histórias mais intrigantes da dramaturgia.

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4º Lugar: Yojimbo – O Guarda-Costas

São segundos iniciais preciosos, que falam mais sobre o detalhismo da técnica de Akira Kurosawae da atuação de Mifune que muitos filmes anteriores. O tom do longa é estabelecido pelos movimentos corporais do personagem Sanjuro Kuwabatake, um ronin que perambula pelo Japão à procura de algum contrato. Nós o vemos apenas pelas costas durante toda a abertura e a música que segue a tal coçadinha rima perfeitamente com ela: tem um tom sério, mas ao mesmo tempo cômico, relaxado, de paz com a vida.

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3º Lugar: Viver

Viver consegue articular uma visão crítica sobre o mundo, sobra a humanidade e sobre o sentido da vida, e o faz de maneira poética e política, uma dupla que raramente consegue se apresentar no cinema, mas quando acontece, o resultado é daqueles que marcam para sempre o espectador, como esta belíssima obra-prima de Akira Kurosawa.

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2º Lugar: Dersu Uzala

Dersu Uzala é um dos filmes mais bonitos já feitos e mostrou a todos que, mesmo desiludido, traído e desesperançoso, Kurosawa foi um dos maiores diretores que já existiram.

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1º Lugar: Os Sete Samurais

Entre as espadas nos túmulos e a cantoria dos camponeses, percebemos que a luta pela vida continua. Não há espaço para se dizer mais nada. Como em um haikai lido pausadamente, o filme termina dizendo muito em poucas palavras. Kurosawa chega ao fim de sua eterna obra-prima com uma conclusão antibelicista: a despeito da vitória de um lado, não há vencedores em uma guerra.

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