Home Colunas Lista | Oscar 2022: Ranking dos Candidatos a Melhor Filme

Lista | Oscar 2022: Ranking dos Candidatos a Melhor Filme

Nossa ordem de preferência sobre quem deveria ganhar esse Oscar.

por Ritter Fan e Iann Jeliel
4,K views

  • IMPORTANTE: Esse artigo não reflete nas nossas apostas para o Oscar! Fizemos isso nesse espaço aqui, e, se querem ver a lista completa dos indicados, cliquem aqui.

Às vésperas da 94ª cerimônia de entrega do Oscar, a equipe do Plano Crítico reuniu-se para elaborar mais um de nossos tradicionais rankings. Dessa vez, praticamente finalizando nossa cobertura da premiação, classificamos os 10 longas-metragens indicados ao Oscar de Melhor Filme, do pior ao melhor.  Participaram dessa lista, eu, colunista que vos falo, Iann Jeliel, junto ao parceiro de perfil e saliente editor deste maravilhoso site Ritter Fan e colaborações dos demais amigos escritores: Handerson Ornelas, Rodrigo Pereira, Fernando Campos, Michel Gutwilen e Gabriel Zupiroli.

Antes da ordem, vale destacar algumas observações:

  • Foi imprescindível que todos os colunistas tivessem assistido aos 10 filmes indicados para participar, sem exceção.
    .
  • Cada participante elaborou seu ranking individual, e, em cada ranking, os filmes ganharam uma certa quantidade de pontos, adquiridos de forma inversamente proporcional à sua colocação. Exemplificando: O 1º lugar levou 10 pontos, o 2° lugar, 9 pontos, e assim sucessivamente até o último e 10° lugar, levando apenas 1 ponto;
    .
  • Com a soma simples dos pontos, chegamos à primeira versão da lista, uma vez que houve um empate. Para desempatar, o filme que teve mais melhores colocações em rankings individuais, levou vantagem;
    .
  • A classificação final pode não refletir na avaliação das críticas, visto que algumas delas foram escritas por colunistas que não participaram da lista, além do que os colunistas presentes, obviamente, terem divergências nas opiniões entre si;
    .
  • Os comentários curtos abaixo das posições serão feitos por mim (Iann) e pelo Ritter, representando parte da nossa opinião, mas levando em conta a impressão conjunta dos escritores envolvidos;
    .
  • Haverá links para cada crítica nos títulos. Não deixe de ler os comentários e acessar os textos completos (sem e com spoilers, dependendo do caso) após o ranking.

Por fim, esta, como qualquer outra lista, não possui caráter definitivo. Concorda? Discorda? Ótimo! Deixe sua opinião sobre a nossa ordem com respeito nos comentários, além de colocar a sua ordem para a gente debater. Vamos lá então!

.

♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦
.

10° Lugar: Belfast 

(14 Pontos)

Ritter Fan: De todos os 10 candidatos ao Oscar de Melhor Filme em 2022, incluindo King Richard só para ninguém ter dúvida, Belfast, autobiografia de seu diretor Kenneth Branagh, é o que mais calculadamente foi feito para ser o puçá de estatuetas. Tremendamente vazio, esquivando-se de qualquer abordagem minimamente mais comprometida e cheio de artifícios espertos para parecer mais do que realmente é – e aí eu incluo o fotografia em preto e branco, a presença de grandes e veteranos atores, diálogos em meias palavras metidos a inteligentes e, claro, uma criança simpática para encantar -, o longa é um enfeite, um penduricalho audiovisual que, em um mundo mais justo, sem essa maldita coisa chamada democracia, jamais deveria estar concorrendo a absolutamente nada que não fossem prêmios técnicos como seu irmão mais velho também em preto e branco, também biográfico e também com título que é uma cidade europeia… King Richard, apesar de sofrer de quase todos os mesmos problemas, pelo menos é mais honesto…  Colocação justa, portanto.

.

9° Lugar: King Richard: Criando Campeãs 

(24 Pontos)

Iann Jeliel: O famoso caso de uma biografia com estrutura tradicional executada com segurança o suficiente para ser isca de estatuetas. Pelo menos, o jogo seguro da direção não impede que o roteiro explore a ambivalência do protagonista (Will Smith). Nem é um drama que destaca esse homem completamente como herói, tampouco vilaniza suas ações ao ponto de deixar a impressão de que as William ‘s aconteceram “apesar de suas interferências”. Há humanidade na observação de sua resiliência quase abusiva, posicionando aquela personalidade controladora como um reflexo do seu meio de criação. Faltou ao filme destacar isso em contraponto ao sentimento das filhas. Não que o filme precisasse ser sobre elas. A escolha de recorte era para ser focada no pai. Contudo, as vozes femininas  deveriam ser mais usadas para implicar amplitude dramática, nem que fosse para a potencializar a estrutura clássica de filme de esporte que podia ser executada com mais esmero – falta emoção no jogo derradeiro. De todo modo, é um filme razoável, bem menos apelativo do que poderia ser e que seria mais simpático aos olhos cinéfilos caso nem indicado fosse.

.

8° Lugar: Não Olhe Para Cima 

(31 Pontos)

Iann Jeliel: De todos os filmes dessa era mais política de Adam McKay, Não Olhe Para Cima, sem dúvidas, é o que melhor se encaixa com o humor besteirol e afetado característico dos primeiros filmes do diretor. O intrigante é que aqui, o diretor opta por  estar bem mais contido, justamente para fazer uma contraposição reveladora da natureza do negacionismo científico do qual debocha. Há quem questione o quão superficial são as críticas realizadas pela natureza boba da comédia, mas existe um valor proposital disso quando pensamos na estrutura repetitiva como um simulacro da realidade, que precisa repetir o óbvio a todo momento em que se criam desvios de assuntos completamente irrelevantes para a questão principal. O filme meio que adere sua forma visual para a forma do comentário e isso acaba cansando algumas pessoas, mesmo as alinhadas com os pensamentos do filme. Contudo, é um projeto que mereceu sua indicação pela urgência e tom necessários para destacar o limbo retroativo que se tornou o mundo na era do “pós-verdade”.

.

7° Lugar: O Beco do Pesadelo 

(35 Pontos)

Iann Jeliel: Nesse remake do clássico de 1947, Guillermo Del Toro busca alinhar a jornada de autodestruição do protagonista com reflexões atuais acerca da vulnerabilidade da verdade nas mãos dos ambiciosos. O cineasta possui uma destreza única na construção detalhista da atmosfera que nos guiará nesse arco cíclico da monstruosidade. Há uma valorização cautelosa de cada plano, trazendo traços característicos do noir vigente no  material original, mas sem um caráter tão implícito de suas premissas temáticas. Del Toro quer dizer algo a mais nesse estudo psicanalítico do seu personagem e, infelizmente, acaba demorando muito para chegar aonde quer na sua extensa duração. Nessa demora, o filme se torna um pouco mais didático do que ele gostaria para o mistério implementado, perdendo, no andamento, um tanto da imersão buscada pela ambientação. Por mais que se retome a força num primoroso clímax, é ainda um Del Toro abaixo do que ele costuma ser na fantasia. Quem sabe, se essa releitura flertasse mais com a dúvida do lado sobrenatural, não poderia ser um “filmaço” a brigar pelo pódio.

.

6° Lugar: Duna

(36 Pontos)

Ritter Fan: Duna é o segundo sci-fi do grande Denis Villeneuve que concorre ao prêmio mais importante da Sétima Arte, um feito considerável, já que é notório o preconceito da Academia com o gênero. Apesar de ter gostado muito do filme e de achar que ele merece a indicação, sou o primeiro a reconhecer que esteja talvez seja o menos excelente trabalho do diretor em sua fase hollywoodiana e por dois principais fatores, o primeiro dele por ser a metade – ou um terço, talvez – de um filme completo e o segundo pela escolha consideravelmente ousada em focar na jornada pessoal de Paul Atreides, o que limitou o escopo épico da fita. Seja como for, merecendo ou não estar aqui nesta categoria (e sim, ele merece), ele é certamente melhor do que os filmes nos 8º, 9º e 10º lugares desta lista, o que, convenhamos, não é difícil, e pari passu com a elegante obra de Guillermo Del Toro e com a ótima Sessão da Tarde que vem logo à sua frente e que eu teria trocado de lugar com Arrakis se não tivesse que me submeter à democracia…

.

5° Lugar: No Ritmo do Coração 

(47 Pontos)

Iann Jeliel: Um feel good movie com clima de sessão da tarde (remake de outro feel good movie com clima de sessão da tarde: o francês, A Família Bélier), mas com uma compostura madura e sensibilidade emocional diferenciada. O grande lance aqui são as premissas dramáticas com contrastes interessantíssimos desde sua base, quando acoplada a uma realidade de surdos. O fato de a protagonista querer ser uma cantora e não ter sua voz ouvida pela própria família, que precisa de sua ajuda e acaba inevitavelmente se coloca à frente dos passos de seu sonho, por si só, já carrega uma ambivalência preciosa aos clichês narrativos presentes no desenvolvimento da história. Ao passo que o roteiro evita  colocar os deficientes auditivos como totalmente veneráveis para dar voz de razão a Ruby (Emilia Jones) nos conflitos internos com a família, compreende-se a aproximação humana dos personagens com a importância devida dos sacrifícios para a equidade daquelas pessoas em sociedade. Desse modo, a representatividade não só soa natural, como fundamental para a potencialização comovente da resolução. A cena do teste de audiência é um dos momentos mais especiais do cinema nos últimos anos. Seria meu top 1 do Oscar, mas a forte concorrência na democracia acabou o puxando para o meio da lista.

.

4° Lugar: Drive My Car

(47 Pontos) – Desempate Por Mais Segundas Colocações

Iann Jeliel: A riqueza do drama japonês de Ryusuke Hamaguchi talvez esteja mais nos questionamentos implícitos nas imagens ao longo de sua ampla duração, do que propriamente a execução particular das dramáticas envolvendo os personagens em questão. Tanto que o cineasta não se importa muito  com plot envolvendo a montagem da peça de teatro, sendo ela muito mais um veículo para as premissas dramáticas acontecerem (também foi o que deve ter chamado a atenção da Academia: falar sobre o fazer cinema ou teatro) em grande amplitude temática. Drive My Car essencialmente fala sobre a cíclica do ressentimento. Do não ser possível esquecer certas mágoas e de como elas são muitas vezes produtos da forma como escolhemos lidar com elas. O carro funciona como uma metaforização da inércia imutável de nossos sentimentos. A repetição dos ensaios, uma analogia de que sempre nossa vida vai nos fazer voltar a pensar nas mesmas questões. A realização da peça, uma forma de expurgá-las através da arte – metalinguagem? O filme ainda encontra espaço em seus finalmentes para brilhantemente assimilar a fria melancolia circular da proposta com as nossas angústias em tempos pandêmicos. Mesmo sendo propositadamente distante em sua atmosfera (e enfadonho em alguns momentos), Drive My Car é um filme acolhedor e universal sobre as dificuldades do “seguir em frente”.

.

3° Lugar: Ataque dos Cães

(48 Pontos)

Ritter Fan: O mais recente filme de Jane Campion, um slow western de elenco impecável, direção de arte de cair o queixo e roteiro adaptado do mais alto gabarito que só erra em sua conclusão corrida, é um grande estudo de personagens e uma rara e necessária desconstrução de todo um gênero, seguindo por caminhos pouco óbvios, mas sempre delicados e muito bem conduzidos pela neozelandesa. Vivendo irmãos opostos em tudo, Benedict CumberbatchJesse Plemons têm as melhores atuações de suas carreiras até agora, com Kodi Smit-McPhee e Kirsten Dunst surpreendendo como coadjuvantes, especialmente Dunst, cujo trabalho nunca realmente se destacou para mim, o que imediatamente captura a atenção do espectador, conduzindo-o a um recorte narrativo que desafia ao mesmo tempo que encanta.

.

2° Lugar: Amor, Sublime Amor

(51 Pontos)

Ritter Fan: Pessoalmente meu favorito dentre os concorrentes – mas cuja colocação, aqui em 2º lugar, é justíssima também – Amor, Sublime Amor destaca-se por ser uma nova adaptação cuja primeira versão audiovisual era, até 2021, um clássico imbatível. Mas Steven Spielberg, que embarcou não só em seu primeiro musical, mas também em seu primeiro remake de sua extensa e vitoriosa carreira como parte de um projeto pessoal seu, fez algo impossível: um clássico moderno que consegue ser melhor do que o clássico original. Um casal protagonista melhor, uma revelação impressionante na figura de Ariana DeBose, contextualização sócio-política mais relevante e números musicais ainda mais próximos do material fonte, Spielberg conseguiu o que ninguém acreditava. E olha que não só eu sempre reviro os olhos para remakes, como eu adoro o longa de 1961. Estava esperando o pior. O que vi foi o melhor.

.

1° Lugar: Licorice Pizza 

(52 Pontos)

Ritter Fan: Que Paul Thomas Anderson é um dos melhores diretores da atualidade, ninguém em sã consciência pode duvidar, mas Licorice Pizza, um filme essencialmente sobre as memórias de infância do diretor (viu como se faz, Branagh?) que não exatamente conta uma história classicamente estruturada e que coloca em evidência dois atores estreantes como o casal protagonista simplesmente não podia ser tão bom como é, não é mesmo? E não é mesmo. É melhor ainda. Licorice Pizza é, na falta de uma expressão técnica mais apropriada, uma delícia de filme, uma obra que, quando os créditos começam a rolar, o espectador permanece olhando atônito para a tela, querendo ver mais de Alana Haim e Cooper Hoffman e da onírica Los Angeles da década de 70 que o diretor recria. Um primeiro lugar merecido que exige a pergunta: quando é que a Academia vai se tocar e entregar a estatueta de Melhor Diretor para PTA, hein?

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais