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Lista | Ousmane Sembène: Os Filmes Ranqueados

por Luiz Santiago
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IMPORTANTE: Cada indicação abaixo usa apenas um parágrafo da respectiva crítica! É só clicar nos links para ler os textos completos!

Esta lista ranqueia os filmes do diretor senegalês Ousmane Sembène, do “pior” para o melhor. É importante lembrar que temos críticas para cada um dos filmes listados. Fica aqui o convite para conversas mais detalhadas a respeito de cada obra, na caixa de comentários desses filmes.

Quantos trabalhos desse diretor você já assistiu? Quais são os seus favoritos? Quais os que mais mudaram de qualidade, para você, ao longo dos anos? Deixe seu comentário e faça também a sua lista ranqueando os filmes que assistiu do diretor!

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11º Lugar: Faat Kiné

Faat Kiné é uma comédia dramática de Ousmane Sembène, o penúltimo e até então mais leve filme de sua carreira. A obra, que estreou no Pan African Film Festival em fevereiro de 2001, também veio após outro longo hiato na carreira do diretor, desde o lançamento de Guelwaar, em 1992. Aqui, mais ciente de como trabalhar questões de valores sociais e motivos ideológicos em um enredo, o diretor optou por um tom mais leve, ao ambientar sua trama na Dacar dos dias modernos e ter como centro das atenções a poderosa Faat Kiné (Venus Seye).

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10º Lugar: O Carroceiro

O cineasta fez a sua estreia no cinema com um documentário chamado O Império Songai (L’empire Sonhrai, 1963), curta que aparentemente está perdido. Sua obra seguinte foi este icônico O Carroceiro, onde acompanhamos um dia na vida de um homem (Ly Abdoulay) que começa o filme fazendo as suas orações, saindo depois para trabalhar. Ele tenta trazer o sustento para dentro de casa, mas não consegue dinheiro algum (e inclusive é privado de sua ferramenta de trabalho), situação que lhe tira a perspectiva de vida. No caminho para casa, ele se preocupa com o que dirá para a esposa, e conclui: “agora só me resta morrer“. A base narrativa aqui é muito simples, mas o resultado alcançado pelo diretor é tremendamente poderoso.

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9º Lugar: Garota Negra ou A Negra De…

Os conceitos relacionados ao colonialismo podem ser visto de várias formas no decorrer do filme, sempre mostrado sob a dualidade preto/branco e com o conflito de valores, onde pululam as ambiguidades, o que ajuda-nos a suportar as atuações pouco louváveis da dupla Anne-Marie Jelinek (Madame) e Robert Fontaine (Monsieur). A obra ainda tropeça na edição e mixagem de som, e também na montagem, especialmente no miolo, mas o desfecho surpreendente nos faz esquecer os erros. Aliás, a forma que quase clama uma maldição para o patrão de Diouana, através da máscara com que o garotinho o persegue, é extremamente propícia àquele momento e nos deixa a dúvida: há algo parecido com culpa, medo ou vergonha por parte de alguma metrópole após ver esgotadas todas as riquezas de suas colônias?

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8º Lugar: Niaye

Lançado um ano depois de O Carroceiro e um ano antes de A Negra De…Niaye (1964) não é um filme fácil de se ver. O drama nos traz uma situação que infelizmente ainda é bastante real em nossos dias, e também infelizmente não é um problema específico da sociedade senegalesa, mesmo nesse recorte que o diretor e roteirista Ousmane Sembene dá ao seu enredo, filmado em 16mm e tendo a participação dos habitantes da vila de Keur Haly Sarrata.

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7º Lugar: Guelwaar

Obra do final da carreira de Ousmane Sembène, lançada 4 anos depois de Campo de Thiaroye, que foi o retorno do diretor ao cinema, após um hiato de 11 anos, Guelwaar usa de um motivo comicamente lúgubre para levantar uma discussão sobre a corrupção em instituições governamentais e a prolongada relação de dependência econômica do Senegal (mas aí podemos ver a realidade de todos os países periféricos), eternamente mantidos com a ajuda alimentar vinda de outras nações, instituições interessadas no país por algum motivo ou ‘celebridades benfeitoras’.

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6º Lugar: Campo de Thiaroye

Campo de Thiaroye tem uma nuance épica que não apenas mostra a perpetuação de uma opressão sobre um povo, como investiga muito de perto como essas relações se dão. O final do filme é devastador, tanto pelo massacre quanto pelo toque lírico, solene e também crítico que vemos na cena em que novos recrutas estão embarcando para lutarem na guerra de seus dominadores. A prova máxima de como a força econômica e militar geram uma ideologia que faz com que o dominado defenda e passe a crer piamente nos interesses daqueles que os oprimem. Ao longo de 2h30, Sembène e Faty Sow afasta esse manto e nos mostra uma perigosa, mas necessária, possibilidade de resistência.

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5º Lugar: Mandabi

Em seu segundo longa-metragem, o diretor Ousmane Sembène apresenta um tema que seria um dos focos centrais de sua filmografia a partir de então: o olhar para as sequelas da descolonização, a força dos problemas sociais que travam a convivência e o desenvolvimento de toda uma sociedade, que imita os males aprendidos com os colonos e, como acontece em toda cultura, cria os seus próprios horrores, afetado principalmente os mais fracos e os mais necessitados. Falado parcialmente em francês e principalmente em wolof, o filme traz uma abordagem cultural que não só representa um recorte honesto do povo senegalês, como também um “estilo verdadeiramente africano” de se fazer cinema, marcando um importante passo para a escola senegalesa que despontaria como uma das mais interessantes do mundo durante a década de 1970, mesmo com sua pequena produção, se comparada com a de outras nacionalidades.

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4º Lugar: Xala

Xala é uma palavra do idioma wolof que designa uma “maldição” muito peculiar: quando o homem sofre de impotência. Neste quarto longa-metragem do diretor senegalês Ousmane Sembène, temos uma sátira que se constrói a partir dos eventos sociais e dos dissabores que assolaram El Hadji (Thierno Leye), um respeitado membro da Câmara de Comércio que está prestes a casar-se com sua terceira esposa, dando imediatamente uma demonstração de excesso e de “masculinidade”, exibindo a jovem como um prêmio social.

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3º Lugar: Ceddo

Embora os ceddo que vemos neste filme não sejam uma “etnia fictícia”, como muitos articulistas apontam, é fácil entender o por quê dessa conclusão. O escritor e diretor Ousmane Sembène cria aqui uma plataforma de denúncia e também de reflexão sobre um grupo de indivíduos marginalizados que resistem à opressão, ao domínio de outro povo (significado amplo do termo “ceddo“, em língua pulaar, às vezes também usado como sinônimo de “intrusos” ou “não-muçulmanos“) e a dinâmica social, política, religiosa e cultural que o filme retrata nos traz à memória uma porção de ações semelhantes contra diversas etnias subjugadas ao redor do mundo.

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2º Lugar: Moolaadé

Moolaadé foi o canto do cisne do diretor senegalês Ousmane Sembène. Em alguns aspectos (mais sobre isso adiante) a obra se assemelha ao seu longa anterior, Faat Kiné, mas em vez de colocar a força e os enfrentamentos sociais cotidianos de uma mulher na Dacar dos dias modernos, o artista lança o seu olhar para uma vila Bamana em Burkina Faso — o idioma da fita é o bambara, com poucas frases em francês –, dando atenção para um tema muitíssimo relevante e com discussões que formam pautas frequentes em nosso tempo: a mutilação genital feminina e a pedofilia (nesse último caso, para casamentos arranjados entre homens maiores de idade e crianças de 9, 10, 11 anos…).

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1º Lugar: Emitaï

Em Emitaï (1971), Sembène trabalha com a questão do alistamento senegalês forçado pela França, transformando os nativos em inimigos de seu próprio povo, fazendo-os reprimir, prender e atirar em qualquer rebelde. O filme aborda o período de transição do governo de Pétain para De Gaulle e as políticas internas de imposições fiscais e colonização em Senegal. No filme, o Exército solicita aos cidadãos o pagamento de imposto per capita pela produção de arroz, ordem que é desobedecida pelas mulheres, que resolveram resistir, escondendo toda a colheita. A narrativa em tom de crônica nos apresenta o cotidiano da vila de Casamance, com o seu Conselho de Anciãos, o plantio e colheita do arroz, a resistência das mulheres e o final que critica veementemente a repressão colonial aos africanos. Emitai está repleto de motivos cinematográficos tipicamente africanos, o que dá uma maior força antropológica e realista à obra.

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