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Lista | Primal – 1ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

por Ritter Fan
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Avaliação da temporada:
(não é uma média)

Poucas animações realmente são desafios criativos auto impostos por seus idealizadores. E não, não falo do padrão da indústria que é basicamente entupir episódios de personagens bizarros, escatologia, referências e tudo mais para fazer cérebros geeks e nerds explodirem. Falo de pessoas como o russo Genndy Tartakovsky que, depois de seu Samurai Jack, volta para o Adult Swim para uma série quase que integralmente sem diálogos, com apenas dois personagens e que se passa em sua própria versão do mundo pré-histórico. E, é claro, doses gigantescas de violência explícita, porque ninguém é de ferro.

E é essa combinação inusitada que faz de Primal um verdadeiro triunfo técnico. Não só a animação é refrescante, dinâmica, com os designs desse universo primordial magníficos, como os enganosamente simples roteiros lidam sensacionalmente com a relação umbilical entre Spear, um homem da caverna e Fang, um tiranossauro fêmea unidos pelo desespero e pela dor da perda. Some-se a isso uma trilha sonora poderosa e uma engenharia de som exemplar e pronto, eis uma das melhores animações televisivas da década (e não, não estou exagerando).

A temporada foi ao ar em dois momentos. Os cinco primeiros episódios foram ao ar em dias consecutivos em outubro de 2019 e os cinco últimos foram ao ar semanalmente entre outubro e novembro de 2020, com apenas um deles indo especialmente ao ar pela primeira vez em 1º de abril de 2020 como parte do 1º de abril do Adult Swim. Com isso, aqui no site fizemos uma cobertura híbrida: a primeira parte ganhando uma crítica única e, a segunda, uma crítica por episódio e, agora, apresentamos nosso ranking dos episódios. Vamos lá?

10º Lugar: Coven of the Damned

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Na verdade, a dupla protagonista é quase que completamente uma mera espectadora em Coven of the Damned. Nada que eles fazem ou deixam de fazer interfere na história que gira em torno das reminiscências da vovó bruxinha que reacende a bondade em seu coração e mais nada. Spear permanece quase o tempo todo amarrado no totem de oferenda e Fang hipnotizado, isso quando os dois não estão completamente congelados de forma que a bruxa possa passear por seus respectivos passados, além do dela, claro.

9º Lugar: Terror Under the Blood Moon

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Terror Under the Blood Moon coloca a dupla fugindo de uma manada de ágeis dromeossauros (esses aí da imagem de destaque) quando, em um eclipse, eles têm que enfrentar criaturas ainda mais assustadores. E e aí que o segundo problema da temporada começa a aparecer. Sim, tenho plena consciência que Primal se passa em um mundo pré-histórico que saiu da cabeça de Genndy Tartakovsky e que só pelo fato de juntar homem e dinossauro (algo irresistivelmente sexy, até porque, quando bem pequeno, quando descobri que nunca coexistimos com os monstrões, fiquei desapontado…) ele já demonstra isso com todas as letras. No entanto, exatamente por ele não precisar obedecer as regras geológicas e palentológicas, o cineasta russo-americano poderia ter feito uso de qualquer ser pré-histórico que já tenha existido, de qualquer era. Mas não. Ele elegeu trazer, nesse episódio, outros monstros desconectados de um mínimo de ciência e isso é algo que reduziu um pouco minha imersão na experiência feroz que é a série.

8º Lugar: Rage of the Ape-Man

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E ele repete a dose – ainda que de forma diferente – em Rage of the Ape-Men, o derradeiro episódio, quando estabelece um quê de magia (ou super-anabolizantes de efeito imediato). O resultado é magnificamente violento e explícito, com a técnica de animação chegando a seu auge e colocando no chinelo as de tão bem-quistas obras de animação para TV ou lançadas diretas em vídeo (*cof *cof DC Animated *cof *cof) que tanto vemos por aí, mas a pegada mais para o lado sobrenatural é algo que me incomodou tanto quanto os monstrões do episódio anterior.

7º Lugar: Slave of the Scorpion

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O 10º episódio da temporada inaugural não apela para o sobrenatural, mas muda todo o panorama do que sabíamos sobre esse universo ao introduzir Mira (Laetitia Eido-Mollon), uma mulher em tese pré-histórica, só que infinitamente mais evoluída que Spear. Não só ela é alta e esguia, como fala uma língua complexa, cozinha a comida e sabe usar ferramentas para muito além da tosca lança do protagonista. Para todos os efeitos, ela é uma homo sapiens sapiens, ainda que esse tipo de classificação não faça sentido mais no cenário de Tartakovsky.

6º Lugar: Plague of Madness

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No episódio, Genndy Tartakovsky, que já havia mostrado saber fazer muito com muito pouco em Scent of Prey, que quase não contou com Fang, literalmente lida com uma perseguição completamente sem história e mais nada. O roteiro de David Krentz nem pode ser chamado de roteiro de verdade (e não é mesmo, pois não há créditos para roteiro e sim para storyboard e história), já que o que vemos na tela é apenas o desenrolar de uma premissa simples: um argentinossauro (saurópode sul americano parente do diplódoco e do braquiossauro) é contaminado por uma doença que o transforma em um zumbissauro enlouquecido e que, depois de massacrar seus colegas gigantescos, passa a inclementemente perseguir Spear e Fang que, sem querer, cruzam seu caminho. Só isso.

5º Lugar: Spear and Fang

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Mas tudo bem. Pelo menos Primal existe e não foi podada pelo Cartoon Network por ter hectolitros de sangue e tripas, além de uma desconcertante – mas saudável! – quantidade de violência pré-histórica explícita. Porque Primal é justamente isso, uma espetacular pancadaria pré-histórica que anacronicamente reúne um homem das cavernas (Spear) com um tiranossauro rex fêmea (Fang) depois que os dois passam por terríveis tragédias pessoais logo no triste primeiro episódio (Spear and Fang) que pega emprestado a boa e velha estrutura de amizade entre seres humanos e animais e calibra-a para algo adulto, frenético e visualmente impactante.

4º Lugar: Scent of Prey

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Ao longo de quase toda a duração do episódio, o que vemos é Tartakovsky desafiando-se, pois, agora, ele precisava contar uma história em que Fang não participa ativamente, tendo Spear como único efetivo personagem com a dificuldade inata de se defender sei lá quantas toneladas de dinossauro desfalecido. E, como não tinha dúvida que aconteceria, Tartakovsky triunfa mais uma vez, desta vez valendo-se de um roteiro extremamente simples, mas muito eficiente de Bryan Andrews que também foi o responsável pelos tão valiosos storyboards que estabelecem uma cadência perfeita, sem jamais permitir que um segundo sequer de duração seja desperdiçado e sem aliviar a tensão que  é construída pelo desespero de Spear em salvar Fang a todo custo.

3º Lugar: River of Snakes

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Não só Spear, apesar de seu tamanho abrutalhado, tem expressões corporais e faciais que traduzem à perfeição o que ele sente, como Fang, mesmo sendo um gigantesco “lagarto” bípede, ganha econômicas, mas precisas reações “antropomorfizadas” que garantem completa expressividade e uma conexão direta com seu amigo humano. Mas Tartakovsky, apesar da pequena quantidade de episódios, não facilita as coisas e dedica o segundo episódio inteiro (River of Snakes) na sedimentação dessa conexão entre seus dois personagens primais, estabelecendo uma certa concorrência entre eles e uma estrutura narrativa que por muitas vezes circunda o conceito básico de sobrevivência diária, com a caça sendo o centro das atenções de ambos os protagonistas.

2º Lugar: The Night Feeder

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Bebendo da escola Evil Dead de transformar movimento de câmera com trilha sonora evocativa em ameaça demoníaca pela floresta, Tartakovsky estabelece, da maneira mais violenta possível, a existência de uma criatura poderosíssima que, como o título bem indica, só sai para alimentar-se à noite. O espectador não a vê quase até o final, mas é justamente esse o charme do episódio, algo amplificado por outros animais pré-históricos sendo trucidados a cada noite que passa. Paralelamente, acompanhamos os protagonistas ouvindo o literal show de horrores à distância, com o terror de Spear e Fang crescendo a cada novo rugido ou guincho de morte de outras criaturas.

1º Lugar: A Cold Death

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Quando o relacionamento de Spear e Fang está consolidado, o autor então parte para o mais belo episódio de sua curta 1ª temporada, A Cold Death, que coloca a dupla caçando um mamute idoso e machucado em meio a um mortal e congelante ambiente. Aqui, a conjugação da narrativa de sobrevivência com a lírica melancolia do círculo da vida é absolutamente perfeita e, diria, emocionante, capaz até, se o espectador se descuidar, de fazer com que uma lágrima furtiva escorra (claro que não aconteceu comigo, mas só estou avisando, pois sou camarada…).

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