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Lista | Richard Linklater – Os Filmes Ranqueados

Um diretor de amadurecimentos.

por Kevin Rick
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Aproveitando o lançamento de Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial, decidimos fazer um Especial sobre o cineasta Richard Linklater, trazendo as críticas de todos os seus trabalhos de direção, com exceção, apenas, de seus curtas, alguns trabalhos na televisão e o filme It’s Impossible to Learn to Plow by Reading Books, primeiro longa-metragem do diretor que simplesmente não encontramos. Como usualmente fazemos em especiais de diretores, eis nosso tradicional ranking dos filmes.

Trata-se de uma lista feita exclusivamente por mim, Kevin Rick, o único redator do site que viu todos os filmes do Linklater recentemente. Aliás, eu nem chamei outros colunistas para participarem porque a minha opinião é a única que importa hahahaha. Tenham isso em mente nos comentários!!

No mais, temos na lista trechos das críticas completas das obras, que poderão ser facilmente acessadas através de seus respectivos links. Vamos lá então? Mandem seus rankings, independente de quantos longas tenham assistido, e comentem o que acham do trabalho do Linklater!

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20º Lugar: Sujou… Chegaram os Bears 

Sujou… Chegaram os Bears é um daqueles remakes que não deveria ter saído do papel. A história é muito genérica, pouco criativa em relação aos momentos de humor e não acerta na escalação de Billy Bob Thornton, um artista mais adequado para psicopatas do que para personagens que necessitam de carisma. Por parte da direção, Richard Linklater não tem um material exatamente versátil, então seu trabalho é relativamente simples, também faltando engenhosidade do cineasta para capturar a essência do beisebol como homenageou o rock em Escola de Rock. Em última instância, recomendo assistir a obra original e a fantástica performance de Matthau do que sua cópia barata.

19º Lugar: Newton Boys – Irmãos Fora-da-Lei

Em suma, Newton Boys – Irmãos Fora-da-Lei é uma obra perdida em tom. Linklater não sabe se está fazendo uma comédia juvenil com assaltos ou um drama de crime, faltando rigor do diretor para as sequências de roubos e mais substância do roteiro para seus personagens e diálogos, além de uma montagem estranha para indicar passagens do tempo. É, sem dúvidas, uma história com carisma, muito por conta dos atores (Hawke e McConaughey em especial), mas é também uma história sem ritmo, pouco dinâmica e genérica, e que não propõe uma experiência com o espectador para além dos ótimos figurinos e design de produção. Linklater parece estar querendo sair da zona de conforto ao mesmo tempo que traz sua identidade mundana e espontânea para a famosa gangue Newton, mas não consegue nos envolver neste universo com o mesmo entusiasmo que fez em seus outros filmes juvenis.

18º Lugar: Slacker

Quando a obra acaba numa filmagem bagunçada e quase-metalinguística de um grupo de slackers apenas vivendo e se divertindo às margens das normas sociais, podemos refletir que aprendemos e rimos sobre um grupo de pessoas, geração ou seja lá como queira caracterizá-los. Enfim, Slacker não é aleatório, mas definitivamente é experimental. Mesmo gostando da proposta e do direcionamento técnico de Linklater, é meio difícil ver a obra como uma grande experiência em seu vasto amadorismo ou ter algum tipo de sentimento e envolvimento em suas casualidades e anedotas narrativas. Sinto especialmente uma falta de conexão e carisma com os diferentes rostos que acompanhamos, atrapalhando bastante o ritmo da fita que gradualmente se torna repetitiva. Dito isso, podemos ver um artista fantástico em formação, dando os primeiros indicativos de trabalhos posteriores melhores executados, e se posicionando como o grande expoente slacker que Linklater se tornou.

17º Lugar: Amargo Reencontro

A partir do momento que a personagem se junta aos dois amigos, Amargo Reencontro se transforma. A narrativa ganha um corpo de suspense e camadas dramáticas em meio à situação constrangedora e o acontecido terrível. Uma Thurman domina cada frame que aparece, criando uma experiência cheia de tensão e questionamentos em torno do que realmente aconteceu, como será sua reação e quais são as intenções dos personagens – a decupagem de Linklater se torna essencial neste segundo bloco, tornando tudo extremamente real e espontâneo. Não é o suficiente para elevar a produção como um todo, mas o filme tem uma reta final muito boa. No fim, Amargo Reencontro se mostra uma história sobre feridas abertas, muito egoísmo e lutas verbais.

16º Lugar: Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial

Como eu disse antes, Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial é um filme honesto. Dá para sentir isso assistindo. Mas eu diria que em sua sinceridade, o cineasta não é necessariamente natural, criando uma obra mais verbal do que orgânica. Uma execução mais informacional do que cinematográfica, o que detrai bastante da nossa conexão emocional com a história de Stan e seu pequeno milagre espacial. O diretor Richard Linklater sempre teve uma qualidade genial para tornar a audiência nostálgica por momentos não vivenciados, e é possível sentir elementos disso ao longo de Apollo 10 e Meio, mas o filme, mesmo que por caminhos diferentes, acaba se tornando outro exemplar de algumas das obras semi-autobiográficas citadas no começo da crítica: esteticamente encantador, mas essencialmente vazio e esquecível.

15º Lugar: Cadê Você, Bernadette?

Em suma, Cate Blanchett precisa convencer como uma personagem excêntrica, mas, ao mesmo tempo, extremamente depressiva – uma caracterização que, em certos casos, por parte de outros cineastas, recai para o campo da caricatura. A artista, por sua vez, desenvolve sua personagem com nuances que a torna crível, como, por exemplo, quando ela enfim demonstra um conforto perante o ambiente ao seu redor. De alguém extremamente constrangida em estar em meio a pessoas ou agressiva frente a outras que querem a ajudar ou querem ajuda dela, Blanchett cresce em conjunto com Linklater, que é um cineasta conhecido por sustentar conversas entre pessoas. Por sinal, os monólogos de Cate, mesmo que reiterados algumas vezes e estruturados pela ótica da verborragia, capturam parte do excelente processo de construção da personagem. Linklater retira o cerne do seu longa de conversas conduzidas com extrema precisão por ele, tanto num âmbito particular a Bernadette, no que se refere a exemplificar os sentimentos dela, quanto no contexto familiar complexo, permeado por um desencontro entre pessoas que moram, na verdade, juntas. Num pequeno filme, que não ganhará o espaço de outros projetos de Linklater e nem de Blanchett, o diretor repete o que tão bem propiciou em demais momentos de sua carreira. Cate Blanchett – como se isso fosse alguma novidade – é um monstro, mas Richard Linklater também é.

14º Lugar: Bernie: Quase um Anjo

Bernie: Quase um Anjo acaba ficando em muitos meios-termos. Não é um estudo de personagem, não é uma narrativa de crime, e não é exatamente um documentário. Também tenho problemas em como os coadjuvantes aparecem de maneira esparsa demais e, claro, a escolha por entrevistas não é um sucesso total, se tornando repetitiva à medida que a história avança. Ainda assim, a mistura de Linklater tem ingredientes suficientes para nos dar um experiência bacana, com uma premissa bizarra, um roteiro engraçado, tom de humor mórbido, muita ironia no estilo de mocumentário e uma tremenda atuação de Jack Black.

13º Lugar: A Melhor Escolha

Todavia, é com o trio de atores principais que A Melhor Escolha encontra o respiro de vida necessária para a sua espirituosidade. Laurence Fishburne, como o pastor revitalizado de um passado de pecados, e Bryan Cranston, como o dono de bar que afoga seus ressentimentos com álcool, dão performances divertidíssimas, que nos encantam também graças a um texto muitas vezes afiado. Reitera-se, porém, a grande redundância de muitas linhas de diálogo, que contrapõem os personagens constantemente, sem adicionar nada ao conflito. Dessa vez, contudo, acredita-se que a intenção do roteiro tenha sido da busca pela trivialidade. A relação dos dois vai a algum lugar, de qualquer forma. No meio de tanta dor, o espaço para a alegria que se abre é surpreendente, mas funcional. Alguns encontros denotam uma extensa verdade, até mesmo nas piadas mais imundas do mundo. A única vez que Steve Carell sai da contenção repressora de suas lágrimas internalizadas, uma escolha interpretativa que definitivamente funciona, mas que não abre o leque para outros investimentos no ramo, é em uma incorporação frenética da risada de seu personagem em O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy. Dessa forma, é inegável o caráter mais amistoso do filme, espirituoso por assim dizer, empregado por uma direção que sabe tirar leite de uma repetitividade cansativa e a sensação de inércia perante a hipótese de uma obra mais provocativa. O ressentimento, no final das contas, é de que A Melhor Escolha trabalha com as escolhas mais fáceis, não em relação a narrativa, mas em relação ao que se tem para falar sobre um pós-guerra americano.

12º Lugar: Nação Fast Food – Uma Rede de Corrupção

Com exceção dos didatismos, diria que meu único problema com o filme está na sensação de que algumas críticas ficam numa superfície segura. Talvez seja subjetivo demais, mas fiquei com a impressão de que Linklater poderia ter ido mais fundo, cutucado mais a ferida. Mas a polêmica, provavelmente, não é tão importante para a produção quanto o lado humano neste meio. E, bem, assistir Nação Fast Food – Uma Rede de Corrupção e não sentir imediato nojo de hambúrgueres é praticamente impossível, então a obra atinge seu objetivo principal.

11º Lugar: Eu e Orson Welles

Eu e Orson Welles é, como o título bem diz, o encontro entre um desconhecido e uma lenda. Uma história sobre o choque do ordinário com o fantástico. Samuels está sempre sorridente e estupefato com a oportunidade de trabalhar com um grande artista em uma grande peça, assim como qualquer fã de arte estaria em sua posição. Zac Efron não tem habilidade para trazer dimensão ou nuances ao personagem, mas Linklater conduz uma produção que celebra o teatro e encena seus bastidores, dentro de uma história cheia de encanto e delicadeza entre os clichês de jornadas de amadurecimento.

10º Lugar: O Homem Duplo

Em última análise, O Homem Duplo é um filme lutando entre forma e conteúdo. O estilo da obra exterioriza tão bem a essência do material de Dick e seu retrato do abismo do vício e da paranoia tecnológica, mas o roteiro de muitas explicações e de pouca conexão humana às vezes falha em acompanhar a mesma profundidade e expressividade da parte técnica. Ainda assim, Linklater é bastante criativo na maneira que conta a história, desde sua criatividade cinematográfica até sua condução narrativa de características alienantes e melancólicas que pintam o quadro simbólico e emocional da obra, ganhando contornos morais/éticos depois da ótima reviravolta do ato final. Por fim, Linklater teve sucesso na adaptação do que Philip K. Dick queria transpor, deixando a sensação de que vimos um pesadelo, mas com uma percepção assustadoramente próxima da realidade.

9º Lugar: SubUrbia

De muitas formas, SubUrbia é a antítese de Jovens, Loucos e Rebeldes na filmografia de Richard Linklater. É até curioso que o cineasta tenha filmado as obras quase em sequência, considerando a diferença entre os filmes para o olhar juvenil e o subgênero de coming-of-age. Saísse a filosofia de vida espontânea e livre da geração setentista para termos uma versão sombria, ansiosa e depressiva sobre alguns jovens suburbanos refletindo suas vidas e a sociedade numa “esquina” do lado de uma loja de conveniência. Como sempre, Linklater se utiliza de pequenos eventos, algumas horas, cenários simples e situações ordinárias que representam uma geração, um grupo e/ou uma forma de pensamento do seu período.

8º Lugar: Acordar para a Vida (Waking Life)

Waking Life nada com uma trilha sonora maravilhosa de Glover Gill, interpretada pela Tosca Tango Orchestra — é o casamento perfeito entre música e animação. Mas mesmo quando não há música tocando em Waking Life, o lirismo do filme é sustentado pela forma como parece e sente. Waking Life certamente não é para todos, mas, em grande parte por causa de sua nova abordagem e de seus discursos infinitamente fascinantes, acaba ficando com você muito tempo depois que as imagens animadas se dissolveram da tela. A verborragia da obra pode deixá-lo louco às vezes — provavelmente vai –, mas eu prefiro pensar nisso como um truque, um teste, para ver quão completamente despertos e conscientes estamos. As palavras são importantes, mas a vida é também confiar nos recursos visuais. A verdade está aí, nas coisas que podemos ver com nossos próprios olhos. Nosso trabalho é simplesmente ter certeza de que olhamos da forma correta.

7º Lugar: Escola de Rock

Escola de Rock é uma experiência que exala carisma e cura o tédio. Toda vez que revejo, não consigo tirar o sorriso bobo do rosto durante todo o longa. A diversão da obra vem da sua carta de amor ao rock, contendo o espírito do gênero musical através de um olhar infantil de aprendizado e rebeldia, e também de uma trilha sonora cheia de homenagens clássicas (incluindo “Immigrant Song” do Led Zeppelin, uma banda que normalmente não gosta de permitir o uso de suas canções no Cinema). Mas a diversão também vem da conexão entre este professor substituto maluco e seus alunos, sobre os momentos de autenticidade singela que as lentes espontâneas de Linklater capturam, e sobre a progressão dramática a toque de acordes simples e familiares até notarmos que estávamos vendo a preparação para um show de rock infantil inesquecível.

6º Lugar: Boyhood: Da Infância à Juventude

Uma verdadeira experiência cinematográfica, Boyhood: Da Infância à Juventude é um filme que precisa ser assistido no cinema. Tocante, divertido, dramático e imersivo, trata-se de uma narrativa que não terá problemas em nos prender, evocando nossas mais diversas memórias da juventude. Com precisão cirúrgica Richard Linklater nos traz o que certamente se configura como um dos melhores filmes do ano.

5º Lugar: Jovens, Loucos e mais Rebeldes!!

São poucas as vezes, especialmente nos dias atuais, que um filme nos deixa com aquela velha e quase esquecida frase na cabeça: “pera aí, mas já acabou?”. Jovens, Loucos e Mais Rebeldes consegue fazer exatamente isso, ficamos com aquele gosto de quero mais após assistir um longa que não passa voando, mas que consegue nos imergir de tal forma que esquecemos da realidade à nossa volta, revivendo nossas próprias memórias e vivendo junto com esses jovens que acabaram de entrar na faculdade. Richard Linklater consegue acertar em cheio novamente, nos trazendo uma obra verdadeiramente apaixonante que, desde já, se define como um dos melhores filmes do ano.

4º Lugar: Antes do Pôr-do-Sol

Passaram-se nove anos e, com o lançamento do livro, que conta justamente a história da noite de 1994, mostrada em Antes do Amanhecer, Celine e Jesse – este último, o escritor do dito livro – se reencontram para mais horas de incansáveis diálogos e um pouco menos de romance em Antes do Pôr-do-Sol. Seguem pelas ruas de Paris dessa vez e não há aquela cara de guia turístico do anterior, apesar de a intenção ser mostrada por Richard Linklater em alguns momentos – diga-se, a cena do barco turístico –, em um tempo contado, e cada vez mais burlado, para a chegada de Jesse a tempo ao aeroporto e sua conseguinte volta aos EUA, que acaba também reduzindo o tempo desse filme em relação ao seu antecessor – gostaria de dizer que Pôr-do-Sol recebeu uma aceitação maior por parte da crítica americana justamente por que não tiveram que assumir o compromisso de prestar atenção em tanto tempo de diálogo, mas não é bem aí que mora essa aceitação, ela está pontualmente onde esse fica abaixo do primeiro, que é menor nível em que os diálogos se encontram dessa vez.

3º Lugar: Antes da Meia-Noite

Antes da Meia-Noite se encerra como um tapa na cara do público, obrigados a encarar questão tão reais que raramente nos permitimos refletir sobre elas. Apesar da crueza, da falta de glamour e da ausência de concessões, o filme se encerra e ainda assim é capaz de nos deixar com um enorme sorriso no rosto. É a arte não imitando, mas retratando a vida como ela é. E não há nada mais difícil de se encarar do que a verdade nua e crua à nossa frente.

2º Lugar: Antes do Amanhecer

No primeiro capítulo de sua Trilogia do Antes – antes de eles finalmente calarem a boca –, Richard Linklater prova sua sensibilidade estabelecida em Jovens, Loucos e Rebeldes (1993) e a valoriza em um filme menos dinâmico, porém profundo, com diálogos a níveis fetichistas nos quais qualquer artista gostaria de entrar com a pessoa amada 24 horas por dia. Antes do Amanhecer é uma obra, antes de tudo, de extremo pulso artístico e filosófico – ao menos para o nível que vemos na era pós-moderna –, que, além das divagações óbvias sobre o amor, fala sobre culturas diferentes e existencialismo.

 

1º Lugar: Jovens, Loucos e Rebeldes

De muitas formas, Jovens, Loucos e Rebeldes é extremamente realista em sua falsa despretensão, e surpreendentemente profundo nas interações de um bando de jovens querendo diversão sincera, ainda dispondo de um desfecho praticamente catártico quando a juventude anda em direção ao nascer do sol para uma vida que está deixando de ser tão fácil. Mas no agora, nesse momento, tudo continua sendo um passeio alegre, continua sendo a juventude livre e inconsequente ao som de rock’n’roll enfrentando o mundo adulto. Linklater envolve o espectador nessa vibe, melhor descrita pelas palavras icônicas do personagem de McConaughey: “alright, alright, alright”. 

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